De Pueblos Indígenas en Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Notícias

Terra indígena sem índios

08/06/2013

Fonte: O Globo, País, p. 3



Terra indígena sem índios
Em relatório, Embrapa questiona dados da Funai em processos de demarcação no Paraná

JAILTON DE CARVALHO
jaltonc@bsb.oglobo.com.br

BRASÍLIA - Um relatório da Empresa Brasileira de Produção Agropecuária (Embrapa) põe em xeque dados usados pela Funai em estudos para a demarcação de terras indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná. O documento informa que não existem índios em pelo menos quatro áreas indicadas pela Funai como território indígena. A Embrapa também informou à Casa Civil da Presidência que índios vindos do Paraguai estariam ocupando terras no Paraná, em busca de demarcação de território próprio.
As informações da Embrapa ajudaram a embasar a decisão do governo de mudar as regras de demarcação de terras indígenas. A partir de agora, por decisão do Planalto, serão abertas consultas à Embrapa, ao Incra e a outras áreas do governo antes da definição dos decretos de demarcação de áreas indígenas, que antes ficavam a cargo exclusivo da Funai.
Guaíra e Terra Roxa são, hoje, palco de intensas disputas de terras entre índios e fazendeiros, e os conflitos são parecidos com os de Sidrolândia (MS), epicentro de uma das mais graves crises indígenas na História recente do país.
Índios e fazendeiros medem força na Justiça Federal pela posse de 15 áreas em Guaíra e Terra Roxa, quatro delas em áreas urbanas. As duas cidades estão na faixa de fronteira com o Paraguai e próximas ao lago da hidrelétrica de Itaipu. Estudos preliminares da Funai, que dariam base a futuras demarcações, sustentam que as áreas em disputa pertencem aos índios. Mas o relatório encaminhado pela Embrapa à Casa Civil informa que em quatro áreas reivindicadas pela Funai como áreas indígenas não existem tribos.
Em um quadro para exibição em Powerpoint, a Embrapa pergunta: "Hoje há indígenas no local?". Na mesma página, o autor do documento responde que não existem índios em quatro áreas.
Ocupação indígena a partir de 2007
No documento, a Embrapa informa, ainda, que dez áreas foram ocupadas por índios a partir de 2007. As conclusões da empresa ligada ao Ministério da Agricultura estão amparadas em imagens históricas de satélite. As imagens mostram o avanço da ocupação humana na região a cada ano. As áreas reivindicadas pelos índios estão cercadas de plantações.
Os dados sobre a entrada de índios paraguaios em Guaíra e Terra Roxa foram levantadas por servidores da Embrapa em viagens à região, segundo uma fonte do Palácio do Planalto. Quando recebeu a informação, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, teria dito que o país já tem problemas demais para resolver relacionados aos índios brasileiros, e que não seria justo se responsabilizar também por dificuldades dos índios de outro país.
O prefeito de Guaíra, Fabian Vendruscolo (PT), reforçou a acusação sobre a suposta invasão de índios paraguaios. Segundo ele, índios começaram a chegar à região há menos de dez anos. Em 2006, 50 índios reivindicavam duas áreas na cidade. Agora, o município já tem 800 índios, que disputam posse de oito áreas. Guaíra e Terra Roxa são celeiros agrícolas e têm algumas das terras mais valorizadas do Paraná.
- Em 2006, começaram a vir para cá índios de Mato Grosso do Sul, do Paraguai e de outras regiões do Paraná. A maioria dos índios vem de Mato Grosso do Sul. Mas muitos vêm do Paraguai. Nós somos da fronteira. Nós sabemos quais são os índios daqui e quais não são - disse Vendruscolo.
Segundo ele, a situação é tensa e, se não houver rápida intervenção do governo federal, são altos os riscos de confronto entre fazendeiros e índios. Ele argumenta que os proprietários rurais têm escrituras das fazendas e não vão aceitar, em hipótese alguma, perder terras para índios. Diz ainda que, na próxima sexta-feira, produtores rurais vão fechar a Ponte Ayrton Senna, no município, em protesto contra as propostas de demarcação de áreas indígenas na região. O fechamento da ponte é um dos atos de mobilização de ruralistas convocados pela Frente Parlamentar da Agropecuária da Câmara em pelo menos 14 estados, como mostrou O GLOBO na sexta-feira.
- Os produtores vão trancar as rodovias BR-163 e BR-272 e a Ponte Ayrton Senna. Se os índios resolverem fazer um protesto para se contrapor a este movimento, como é que vai ficar? Pode haver confronto - afirmou o prefeito.
Após examinar o relatório da Embrapa mês passado, Gleisi enviou o documento para o Ministério da Justiça. Até o fim do mês, a presidente Dilma Rousseff deverá assinar um decreto para estabelecer novas regras para a definição de áreas indígenas. Para a ministra Gleisi, o confronto de posições dentro do governo evitaria futuras disputas judiciais, como tem ocorrido hoje. Procurada pelo GLOBO, a Funai não respondeu às perguntas do jornal.

O Globo, 08/06/2013, País, p. 3

http://oglobo.globo.com/pais/embrapa-questiona-dados-da-funai-em-processos-de-demarcacao-no-parana-8627384
 

As notícias publicadas no site Povos Indígenas no Brasil são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos .Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.