De Pueblos Indígenas en Brasil

Noticias

'É muito simples usar rituais para conseguir benefícios'

26/04/2014

Autor: ALVARES, Alberto

Fonte: O Globo, Página 2, p. 2



'É muito simples usar rituais para conseguir benefícios'
Alberto Alvares, cineasta indígena:
'Quando a pessoa vê um índio de roupa, acha que não é índio'

Entrevista a:
Maiá Menezes
maia.manezes@oglobo.com.br

Alberto Alvares é cineasta indígena. Participou das atividades da Semana Estadual da Cultura Indígena. Também é ator, historiador e tradutor do português para o guarani, e vice-versa.
"Tenho 31 anos, quatro filhos, sou índio guarani em Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai. Aprendi primeiro a escrever em português. Só com 13 anos aprendi o guarani. Acho que ensinar em guarani é melhor para as crianças indígenas, que aprendem a oralidade em uma língua e a escrever em outra"

Conte algo que não sei.
Muitas pessoas usam esses cocares para fazer apresentação. Mas, quando você faz isso, usa essas pinturas e dança com a tanguinha, reforça ainda mais a imagem do índio de 500 anos atrás. As crianças pensam ainda que todos os índios vivem assim em suas aldeias. Mas hoje mudou. Nunca vivi assim. Mas sem nunca deixar de ser o que é ser guarani. Quando a pessoa vê um índio de roupa, acha que não é índio. Para a maioria das pessoas, o índio tem que viver nu, ou de tanguinha. Muitos usam o nome da comunidade, usam cocares, sem serem reconhecidos na aldeia.
Foi o que ocorreu na Aldeia Maracanã, onde houve confronto durante a desocupação da área?
Com certeza aconteceu, porque índios mesmo, ali, eram uns 20%. Outros falavam em nome da comunidade, sem serem reconhecidos pela comunidade. Eles fazem isso para conseguir benefícios. É muito simples usar os rituais indígenas que você estudou, ler alguns livros, e você pode aprender a dançar, mas sem saber o que está fazendo.
Você está criando uma aldeia em Maricá. Como se cria uma aldeia?
Tem que ter a comunidade. Tinha um grupo indígena no Espírito Santo que estava à procura dessas terras aqui no Estado do Rio. Como eu encontrei uma doação, falei: tenho uma terra aqui. Essa terra foi doada oficialmente. Eles vieram visitar, gostaram do lugar. A gente começa tudo do zero. Já tem quatro famílias.
Como é o nhanderekó, o modo de ser guarani?
É viver de acordo com a regra do conhecimento dentro da aldeia, respeitando as crianças, as mulheres, o adulto. O nhanderekó está ligado à cerimônia, à história, às poesias, ao canto. Cada etnia tem o seu. No Brasil, há 287 povos diferentes, e mais ou menos 187 línguas faladas. Às vezes isso é um pouco esquecido. Por exemplo, quando um estrangeiro chega ao Brasil e fala o português errado, as pessoas acham bonito. Mas, se um índio fala errado, eles querem corrigir. Para o índio, a língua portuguesa é muito difícil.
Como é a relação do índio com a língua escrita? Os mais velhos escrevem?
Temos uma tradição da oralidade. Os mais velhos não escrevem. Eles repassam os conhecimentos para os mais jovens através de uma casa de reza. Nós, os guaranis, acreditamos que há duas escolas. Uma de educação indígena e outra escola de educação guarani, tradicional. A primeira fortalece a escrita, para os alunos aprenderem a escrever sua própria história. Na escola tradicional, acontecem as rezas. Ali é o momento de contar os sonhos.
Como é essa experiência no cinema?
Em 2008, fui tradutor do filme "Vermelho, Brasil", que conta a história da chegada dos portugueses. Depois tive a ideia de fazer um documentário sobre um dos líderes guaranis, que hoje está com 105 anos. Com o apoio da UFMG, gravei mais de quarenta horas com ele.
Qual a principal ameaça às tribos brasileiras?
Existe um perigo muito grande sobre a questão da terra. Os fazendeiros estão mandando matar. O guarani quer viver naquele pedacinho que pertenceu a seus antepassados. Nós acreditamos que a terra são nossos irmãos. Tem uma certa forma de ter cuidado com aquela terra.

O Globo, 26/04/2014, Página 2, p. 2

http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/alberto-alvares-cineasta-indigena-muito-simples-usar-rituais-para-conseguir-beneficios-12310939
 

Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.