De Pueblos Indígenas en Brasil
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Noticias
Grupos extraem madeira de reserva
04/09/2005
Fonte: Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
A qualquer hora do dia, é possível ver caminhões carregados deixando a Terra Arara do Rio Branco
A cena se repete ao longo do dia - e pela noite adentro - com espantosa freqüência: caminhões vazios, por vezes a levar como carga uma carreta extra, cruzam a porteira que marca o início da Terra Indígena Arara do Rio Branco, entre Aripuanã e Colniza. No mesmo ritmo, outros deixam a área carregados com até 20 grandes toras de madeira.
Pelo absurdo, este foi o fato que mais chamou a atenção das participantes do encontro de mulheres indígenas, realizado em uma cabana de palha erguida a menos de 200 metros da rota de exploração ilegal. O choque de realidade levantou preocupação quanto ao futuro da etnia.
"Os Arara estão entrando em um caminho sem volta. Depois da madeira, será a vez do palmito. Depois os animais irão embora. Em seu lugar, virão os invasores de terra", lamentou a advogada Maria Cecília Filipini, assessora jurídica do Cimi por 16 anos.
Com 114 mil hectares, a área destinada aos araras fica a cerca de 45 quilômetros da sede do município de Aripuanã. Seu interior abriga áreas ainda fartas em espécies de valor comercial como o ipê e o cumaru.
Para ter acesso a elas, os madeireiros se valem de estratégias que incluem o aliciamento de lideranças e até mesmo a servidão por dívida (ver matéria). Os negócios são fechados em bases francamente desfavoráveis aos índios e não resultam em benefício para a comunidade.
"Essa situação não é algo que os índios conseguem administrar. Quem recebe o dinheiro da madeira não divide com os outros. Isso é um fator de desagregação, de desestabilização e de tristeza", diz.
A afirmação tem como base o resultado de processos semelhantes ocorridos em áreas de outras etnias. Ela conta ter testemunhado como, em apenas dois anos, a entrada dos madeireiros transformou uma comunidade altiva e estável em um caldeirão de conflitos internos entre as lideranças.
Segundo Maria Cecília, durante o evento foi possível perceber claramente que vários madeireiros distintos atuam no esquema. Entre os araras, a situação é motivo de controvérsia. Lideranças se apontam mutuamente como peças da engrenagem madeireira. Outros declaram sua contrariedade de forma clara, mas relatam episódios de ameaças.
PROJETOS - A falta de apoio oficial explica em parte a opção dos índios pela venda da madeira. Não faltam projetos alternativos, mas poucos de fato são pensados a partir da ótica e da realidade indígena. "É difícil pensar um projeto a partir da lógica dos outros", avalia.
Também contribui para o insucesso das tentativas a pouca participação das mulheres no processo. Para Maria Cecília, a visão feminina poderia ser mais bem aproveitada. "Os homens têm uma natureza mais imediatista, enquanto as mulheres, por conta da criação dos filhos, tendem a pensar mais no futuro".
Ela enxerga na valorização dos os produtos da floresta - como a castanha do Brasil, a pupunha e o açaí - a chave para garantir renda e sustentabilidade às aldeias. "Um município pode se comprometer, por exemplo, a incluir a castanha na merenda escolar. Todos os anos perdemos toneladas do produto".
Até mesmo a exploração da madeira, desde que amparada por um projeto de manejo sustentável e com controles rígidos, poderia ser aproveitada. Desde que não se comprometam áreas que, sem perspectiva de ampliação, terão de abrigar as próximas gerações de povos indígenas.
"O usufruto não é apenas dessa geração. Por isso, a forma como tem sido feita a exploração dos recursos naturais não é de forma alguma legal ou ética, porque compromete a sobrevivência física e cultural das etnias".
RODRIGO VARGAS
A cena se repete ao longo do dia - e pela noite adentro - com espantosa freqüência: caminhões vazios, por vezes a levar como carga uma carreta extra, cruzam a porteira que marca o início da Terra Indígena Arara do Rio Branco, entre Aripuanã e Colniza. No mesmo ritmo, outros deixam a área carregados com até 20 grandes toras de madeira.
Pelo absurdo, este foi o fato que mais chamou a atenção das participantes do encontro de mulheres indígenas, realizado em uma cabana de palha erguida a menos de 200 metros da rota de exploração ilegal. O choque de realidade levantou preocupação quanto ao futuro da etnia.
"Os Arara estão entrando em um caminho sem volta. Depois da madeira, será a vez do palmito. Depois os animais irão embora. Em seu lugar, virão os invasores de terra", lamentou a advogada Maria Cecília Filipini, assessora jurídica do Cimi por 16 anos.
Com 114 mil hectares, a área destinada aos araras fica a cerca de 45 quilômetros da sede do município de Aripuanã. Seu interior abriga áreas ainda fartas em espécies de valor comercial como o ipê e o cumaru.
Para ter acesso a elas, os madeireiros se valem de estratégias que incluem o aliciamento de lideranças e até mesmo a servidão por dívida (ver matéria). Os negócios são fechados em bases francamente desfavoráveis aos índios e não resultam em benefício para a comunidade.
"Essa situação não é algo que os índios conseguem administrar. Quem recebe o dinheiro da madeira não divide com os outros. Isso é um fator de desagregação, de desestabilização e de tristeza", diz.
A afirmação tem como base o resultado de processos semelhantes ocorridos em áreas de outras etnias. Ela conta ter testemunhado como, em apenas dois anos, a entrada dos madeireiros transformou uma comunidade altiva e estável em um caldeirão de conflitos internos entre as lideranças.
Segundo Maria Cecília, durante o evento foi possível perceber claramente que vários madeireiros distintos atuam no esquema. Entre os araras, a situação é motivo de controvérsia. Lideranças se apontam mutuamente como peças da engrenagem madeireira. Outros declaram sua contrariedade de forma clara, mas relatam episódios de ameaças.
PROJETOS - A falta de apoio oficial explica em parte a opção dos índios pela venda da madeira. Não faltam projetos alternativos, mas poucos de fato são pensados a partir da ótica e da realidade indígena. "É difícil pensar um projeto a partir da lógica dos outros", avalia.
Também contribui para o insucesso das tentativas a pouca participação das mulheres no processo. Para Maria Cecília, a visão feminina poderia ser mais bem aproveitada. "Os homens têm uma natureza mais imediatista, enquanto as mulheres, por conta da criação dos filhos, tendem a pensar mais no futuro".
Ela enxerga na valorização dos os produtos da floresta - como a castanha do Brasil, a pupunha e o açaí - a chave para garantir renda e sustentabilidade às aldeias. "Um município pode se comprometer, por exemplo, a incluir a castanha na merenda escolar. Todos os anos perdemos toneladas do produto".
Até mesmo a exploração da madeira, desde que amparada por um projeto de manejo sustentável e com controles rígidos, poderia ser aproveitada. Desde que não se comprometam áreas que, sem perspectiva de ampliação, terão de abrigar as próximas gerações de povos indígenas.
"O usufruto não é apenas dessa geração. Por isso, a forma como tem sido feita a exploração dos recursos naturais não é de forma alguma legal ou ética, porque compromete a sobrevivência física e cultural das etnias".
RODRIGO VARGAS
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