De Pueblos Indígenas en Brasil
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Noticias
Comunidade Tupi-guarani cria game indígena para reavivar língua Nhandeva
04/09/2019
Autor: Welliton Moraes
Fonte: Funai - http://funai.gov.br
Os games, especialmente aqueles criados para celulares, estão se transformando numa importante ferramenta estratégica de fortalecimento e valorização da língua Nhandeva na comunidade indígena tupi-guarani da Terra Indígena Piaçaguera, localizada em Peruíbe, litoral sul de São Paulo, onde o domínio da fala nativa tem recuado e atualmente tem se restringido, principalmente, entre anciãs e anciãos (Txeramõis e Txedjaryis).
Segundo a liderança indígena Antônia Cunhã Djupiá, "têm muita gente que desaprendeu, outros nunca aprenderam e agora todos podem aprender". Djupiá ressalta que o processo de retomada da língua dá mais vida e movimenta toda a população local, que tem participado ativamente das etapas de criação, construção e operacionalização das Oficinas de Games, organizadas para elaborar jogos digitais que fortaleçam o uso da linguagem nativa. A iniciativa conta com a parceria técnica linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp), do grupo de pesquisa Indiomas, da Organização Não Governamental Kamuri, além do apoio financeiro e logístico da Coordenação Regional Litoral Sudeste (CR-LISE) da Funai.
Ao todo são três Oficinas de Games em 2019. A primeira aconteceu em junho, na Aldeia Piaçaguera, também em Peruíbe/SP, a segunda em agosto e a terceira está programada para novembro deste ano. "Os participantes debateram quais tipos de formato melhor atenderiam as expectativas da comunidade indígena e que fossem operacionalmente viáveis. Foi escolhido o modelo de Jogo de Fases, em que o jogador precisa cumprir determinada tarefa para avançar no jogo. Caso não consiga, permanece na mesma fase do game", explica Karina Ono, chefe do Serviço de Promoção dos Direitos Sociais e Cidadania -Sedisc/CR-LISE.
Karina afirma que todo conteúdo e dinâmica do jogo foram pensados para gerar pertinência e aderência entre a comunidade indígena e o ambiente digital do jogo. "A proposta é construir uma ferramenta de transmissão de conhecimento, usando elementos socioculturais, sobretudo linguísticos do grupo, e associando-os às tecnologias de comunicação virtuais disponíveis", destaca a servidora da Funai, acrescentando que as Oficinas de Games derivam do Projeto de Revitalização Linguística da Gramática Nhandeva no litoral paulista, criado em 2015 e ainda em andamento. Segundo ela, este ano o projeto ganha mais visibilidade em razão da Unesco ter declarado 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas.
Território digital
A intenção da equipe multidisciplinar é que nesses três encontros os membros da comunidade Tupi-Guarani criem a empatia e a familiaridade necessárias para inserir o game na sua realidade e para que, estabelecido esse ambiente, consiga retratar suas individualidades e coletividades em toda a dinâmica do jogo. "Nosso objetivo é fazer com que eles atribuam sentido a essa ferramenta e vejam nela um recurso útil. Para isso, estamos usando os desenhos criados pelos participantes das oficinas, as vozes gravadas em áudios, as situações de conflitos e os recursos que o grupo utiliza para resolvê-los na prática. A comunidade não é apenas consultora, mas sim co-produtora desse projeto", enfatiza a linguista da Unicamp Mariana Gonzaga, para quem esse modelo de construção pode ser replicado em outras comunidades indígenas, desde que consideradas as especificidades da morfologia sociocultural de cada localidade.
A especialista também considera que essa metodologia, além de revigorar a identidade cultural da população adulta da aldeia e de servir como reforço didático para estudantes indígenas, também pode ser disponibilizada para escolas de não-indígenas, públicas e privadas. De modo equivalente, ainda há a possibilidade de operacionalizar esse recurso como instrumento de aproximação de parcelas da sociedade com o universo indígena, ampliando a visibilidade das questões culturais, sociais e econômicas desses grupos. Entre os temas que deverão ser abordados pelo game estão: alimentação tradicional, musicalidade, ervas medicinais, crenças, proteção territorial, situações de criação e de resolução de conflitos, assim como a fauna e a flora locais e a relação com o entorno da aldeia. Ainda fazem parte da equipe técnica do projeto a linguista Beatriz Toledo, o programador Dener Stassun e a artista visual Clarice Dellape.
Games ou Nhanhimangaá
Beatriz ressalta que o próprio processo de desenvolvimento do game é um método de fortalecimento da identidade étnica, além de potencializar o sentimento de pertencimento, contextualizando relações sociais e atualizando algumas dinâmicas. Exemplo disso pode ser observado na discussão sobre como a palavra game será traduzida para o Nhandeva, levando em conta a amplitude semântica da tradução do termo que, em português, significa jogo. Embora o termo definitivo ainda não tenha sido escolhido, temporariamente, segundo uma consulta rápida feita durante a oficina por Lenira de Oliveira, vice-diretora da Escola Estadual Indígena Nhamandu-Mirim e professora desde 2005, provisoriamente a palavra Nhandeva para designar games será Nhanhimangaá, cujo significado é brincadeira. A troca de percepção semântica, verificada ao buscar o significado em Nhandeva de uma palavra estrangeira, inserida no vocábulo brasileiro, sinaliza avanços de entendimento que podem colaborar no resgate da própria língua nativa.
É nessa premissa e na capacidade lúdica dos indígenas de entender a si mesmos e o mundo a sua volta que Lenira aposta para conferir mais efetividade ao que é ensinado nas escolas da aldeia. Para a professora, as Oficinas de Games não são apenas complementares, mas são essenciais para o engajamento da comunidade em projetos socioeducacionais que possibilitem dar contornos mais nítidos ao universo étnico abarcado pela língua Nhandeva. "Trata-se do fazer prático, mas também de reflexões, de memórias e projeções sobre quem somos e como podemos enxergar nossa cosmologia pela perspectiva tecnológica da atualidade, sem perder de vista nossas origens.
Em relação aos traços e à ambientação, a artista visual Clarice frisa que a concepção visual do game também segue o mesmo comprometimento de espelhar as diversas realidades da aldeia. Dellape ressalta que o grupo recorreu às técnicas de teatralização do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, para materializar situações reais, identificar como elas são encaminhadas individual e coletivamente e depois transpor esse contexto para o ambiente virtual dos jogos. Outra iniciativa, comentada pelo programador Dener, é que a formatação e configuração do game são concebidas por meio de softwares livres, com dispositivos e marcas de programação disponíveis gratuitamente, o que, de acordo com Dener, confere autonomia, caso se queira fazer ajustes posteriores. Fora o celular, ele prevê que o game indígena também poderá rodar em outras plataformas digitais.
Vale ressaltar que a realização do Projeto de Revitalização da Gramática Nhandeva na T.I. Piaçaguera, que tem como um de seus desdobramentos as Oficinas de Games, deve-se em grande parte às reiteradas solicitações feitas por Catarina Delfina, uma das principais lideranças tupi-guarani da região. A Txedjaryi (anciã), que fala português há apenas sete anos, é categórica ao reiterar a importância do fortalecimento da língua indígena na preservação da cultura local. "Sem ela, não sabemos quem somos nem a que grupo pertencemos, tampouco de onde viemos e pra onde podemos ir", conclui Catarina, alertando que o alcance dessas ações depende também em grande do engajamento de cada um dos envolvidos.
Welliton Moraes
Coordenação Regional Litoral Sudeste
http://funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/5620-comunidade-tupi-guarani-cria-game-indigena-para-reavivar-lingua-nhandeva?start=1#
Segundo a liderança indígena Antônia Cunhã Djupiá, "têm muita gente que desaprendeu, outros nunca aprenderam e agora todos podem aprender". Djupiá ressalta que o processo de retomada da língua dá mais vida e movimenta toda a população local, que tem participado ativamente das etapas de criação, construção e operacionalização das Oficinas de Games, organizadas para elaborar jogos digitais que fortaleçam o uso da linguagem nativa. A iniciativa conta com a parceria técnica linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp), do grupo de pesquisa Indiomas, da Organização Não Governamental Kamuri, além do apoio financeiro e logístico da Coordenação Regional Litoral Sudeste (CR-LISE) da Funai.
Ao todo são três Oficinas de Games em 2019. A primeira aconteceu em junho, na Aldeia Piaçaguera, também em Peruíbe/SP, a segunda em agosto e a terceira está programada para novembro deste ano. "Os participantes debateram quais tipos de formato melhor atenderiam as expectativas da comunidade indígena e que fossem operacionalmente viáveis. Foi escolhido o modelo de Jogo de Fases, em que o jogador precisa cumprir determinada tarefa para avançar no jogo. Caso não consiga, permanece na mesma fase do game", explica Karina Ono, chefe do Serviço de Promoção dos Direitos Sociais e Cidadania -Sedisc/CR-LISE.
Karina afirma que todo conteúdo e dinâmica do jogo foram pensados para gerar pertinência e aderência entre a comunidade indígena e o ambiente digital do jogo. "A proposta é construir uma ferramenta de transmissão de conhecimento, usando elementos socioculturais, sobretudo linguísticos do grupo, e associando-os às tecnologias de comunicação virtuais disponíveis", destaca a servidora da Funai, acrescentando que as Oficinas de Games derivam do Projeto de Revitalização Linguística da Gramática Nhandeva no litoral paulista, criado em 2015 e ainda em andamento. Segundo ela, este ano o projeto ganha mais visibilidade em razão da Unesco ter declarado 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas.
Território digital
A intenção da equipe multidisciplinar é que nesses três encontros os membros da comunidade Tupi-Guarani criem a empatia e a familiaridade necessárias para inserir o game na sua realidade e para que, estabelecido esse ambiente, consiga retratar suas individualidades e coletividades em toda a dinâmica do jogo. "Nosso objetivo é fazer com que eles atribuam sentido a essa ferramenta e vejam nela um recurso útil. Para isso, estamos usando os desenhos criados pelos participantes das oficinas, as vozes gravadas em áudios, as situações de conflitos e os recursos que o grupo utiliza para resolvê-los na prática. A comunidade não é apenas consultora, mas sim co-produtora desse projeto", enfatiza a linguista da Unicamp Mariana Gonzaga, para quem esse modelo de construção pode ser replicado em outras comunidades indígenas, desde que consideradas as especificidades da morfologia sociocultural de cada localidade.
A especialista também considera que essa metodologia, além de revigorar a identidade cultural da população adulta da aldeia e de servir como reforço didático para estudantes indígenas, também pode ser disponibilizada para escolas de não-indígenas, públicas e privadas. De modo equivalente, ainda há a possibilidade de operacionalizar esse recurso como instrumento de aproximação de parcelas da sociedade com o universo indígena, ampliando a visibilidade das questões culturais, sociais e econômicas desses grupos. Entre os temas que deverão ser abordados pelo game estão: alimentação tradicional, musicalidade, ervas medicinais, crenças, proteção territorial, situações de criação e de resolução de conflitos, assim como a fauna e a flora locais e a relação com o entorno da aldeia. Ainda fazem parte da equipe técnica do projeto a linguista Beatriz Toledo, o programador Dener Stassun e a artista visual Clarice Dellape.
Games ou Nhanhimangaá
Beatriz ressalta que o próprio processo de desenvolvimento do game é um método de fortalecimento da identidade étnica, além de potencializar o sentimento de pertencimento, contextualizando relações sociais e atualizando algumas dinâmicas. Exemplo disso pode ser observado na discussão sobre como a palavra game será traduzida para o Nhandeva, levando em conta a amplitude semântica da tradução do termo que, em português, significa jogo. Embora o termo definitivo ainda não tenha sido escolhido, temporariamente, segundo uma consulta rápida feita durante a oficina por Lenira de Oliveira, vice-diretora da Escola Estadual Indígena Nhamandu-Mirim e professora desde 2005, provisoriamente a palavra Nhandeva para designar games será Nhanhimangaá, cujo significado é brincadeira. A troca de percepção semântica, verificada ao buscar o significado em Nhandeva de uma palavra estrangeira, inserida no vocábulo brasileiro, sinaliza avanços de entendimento que podem colaborar no resgate da própria língua nativa.
É nessa premissa e na capacidade lúdica dos indígenas de entender a si mesmos e o mundo a sua volta que Lenira aposta para conferir mais efetividade ao que é ensinado nas escolas da aldeia. Para a professora, as Oficinas de Games não são apenas complementares, mas são essenciais para o engajamento da comunidade em projetos socioeducacionais que possibilitem dar contornos mais nítidos ao universo étnico abarcado pela língua Nhandeva. "Trata-se do fazer prático, mas também de reflexões, de memórias e projeções sobre quem somos e como podemos enxergar nossa cosmologia pela perspectiva tecnológica da atualidade, sem perder de vista nossas origens.
Em relação aos traços e à ambientação, a artista visual Clarice frisa que a concepção visual do game também segue o mesmo comprometimento de espelhar as diversas realidades da aldeia. Dellape ressalta que o grupo recorreu às técnicas de teatralização do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, para materializar situações reais, identificar como elas são encaminhadas individual e coletivamente e depois transpor esse contexto para o ambiente virtual dos jogos. Outra iniciativa, comentada pelo programador Dener, é que a formatação e configuração do game são concebidas por meio de softwares livres, com dispositivos e marcas de programação disponíveis gratuitamente, o que, de acordo com Dener, confere autonomia, caso se queira fazer ajustes posteriores. Fora o celular, ele prevê que o game indígena também poderá rodar em outras plataformas digitais.
Vale ressaltar que a realização do Projeto de Revitalização da Gramática Nhandeva na T.I. Piaçaguera, que tem como um de seus desdobramentos as Oficinas de Games, deve-se em grande parte às reiteradas solicitações feitas por Catarina Delfina, uma das principais lideranças tupi-guarani da região. A Txedjaryi (anciã), que fala português há apenas sete anos, é categórica ao reiterar a importância do fortalecimento da língua indígena na preservação da cultura local. "Sem ela, não sabemos quem somos nem a que grupo pertencemos, tampouco de onde viemos e pra onde podemos ir", conclui Catarina, alertando que o alcance dessas ações depende também em grande do engajamento de cada um dos envolvidos.
Welliton Moraes
Coordenação Regional Litoral Sudeste
http://funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/5620-comunidade-tupi-guarani-cria-game-indigena-para-reavivar-lingua-nhandeva?start=1#
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