De Pueblos Indígenas en Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.

Noticias

Mercúrio contamina a natureza por tempo indeterminado

16/02/2023

Autor: CASTRO, Rodrigo

Fonte: DW Brasil - https://www.dw.com/pt-br/



Mercúrio contamina a natureza por tempo indeterminado
Especialista afirma que Yanomamis são duplamente vulneráveis à intoxicação pelo metal. Única maneira de combater a contaminação é agir contra o garimpo ilegal

Evandro Almeida Júnior

16/02/2023

DW - A atual crise vivida pelos Yanomami evidenciou os impactos do garimpo ilegal sobre o povo indígena. Estima-se que mais de 20 mil invasores tenham se acumulado no território yanomami nos últimos anos, trazendo consigo violência, doenças e mortes. Os garimpeiros utilizam mercúrio líquido para encontrar ouro no sedimento escavado dos rios da Amazônia. O depósito desse mercúrio no ambiente natural polui as áreas normalmente utilizadas pelos yanomami para caçar, pescar e colher, além de resultar na devastação de amplas regiões de floresta.

A DW ouviu o doutor em ecologia e recursos naturais Rodrigo Castro, sobre o impacto do derramamento de mercúrio no meio ambiente e em populações indígenas. Membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e diretor da Fundação Solidaridad no Brasil, ele explica que o metal fica na natureza por tempo indeterminado.

"Para combater a contaminação, se não for 'direto na fonte', - os garimpos ilegais -, não se consegue tirar o mercúrio da cadeia alimentar", afirma. O especialista aponta que o efeito do metal no corpo humano é "devastador". "O corpo não consegue lidar com o acúmulo nem expelir o mercúrio. Em casos extremos, tem levado à morte."

Confira a entrevista

Quão prejudicial é a poluição de mercúrio nos rios?

O mercúrio é altamente tóxico e afeta o metabolismo humano de forma severa. Ele ataca o sistema nervoso, afeta o sistema motor e todos os órgãos internos. Nos rins e pulmões, seu impacto é devastador.

No caso dos indígenas yanomami, o garimpo clandestino fez com que a contaminação aumentasse nos últimos anos. O processo para encontrar ouro ocorre nas margens de rios, e o mercúrio usado na extração é despejado nelas.

Até onde essa contaminação pode chegar?

Esses rios onde garimpeiros despejam mercúrio são afluentes de outros rios maiores, e em algum momento isso também pode chegar ao mar. Esse mercúrio vai para rios maiores, caudalosos, e deixa um rastro de poluição pelo caminho. O resultado é devastador, e o grau de contaminação, gravíssimo.

Por quanto tempo o mercúrio fica no leito do rio e em sua extensão?

Quando o mercúrio entra na cadeia alimentar do rio, ele fica ali por tempo indeterminado. Ele segue na natureza e vai se acumulando nos organismos dos animais. Por exemplo, peixes menores acabam consumindo o elemento químico, que se acumula em seus organismos. Sucessivamente, peixes maiores, também se contaminam.

O mercúrio fica no ambiente até que esses animais estejam lá. Por isso, para combater a contaminação, se não for "direto na fonte" - os garimpos ilegais -, não se consegue tirar o mercúrio da cadeia alimentar.

Como o mercúrio entra e age no corpo humano?

A partir de ingestão de água ou peixe contaminado já há sintomas leves. A alimentação dos indígenas depende da pesca e da água dos rios. Por isso, essa população é duplamente vulnerável.

O corpo não consegue lidar com o acúmulo nem expelir o mercúrio. O metal causa tremores e, em casos extremos, tem levado à morte. Quando o mercúrio entra no sangue das crianças, o efeito é avassalador, com a concentração do metal gerando um impacto muito maior do que em adultos. Elas são menores, estão em fase de desenvolvimento. Após a contaminação, seu crescimento ósseo e físico e seus órgãos ficam comprometidos, e elas não se desenvolvem normalmente.

Um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Socioambiental (ISA) realizado na reserva yanomami, em Roraima, confirmou o alto grau de contaminação. O levantamento, feito em 2016, mostrou que em algumas aldeias mais de 92% da população estava contaminada por mercúrio.

A atual crise yanomami evidencia como o povo foi tratado. O apoio de órgãos de saúde foi reduzido ou descontinuado, e o resultado foi o agravamento do envenenamento da população indígena.

Existem ações que podem ser adotadas de imediato para conter a contaminação?

Tem que proibir e combater de imediato os garimpos, com toda a força disponível. A omissão, o apoio e o incentivo à ilegalidade levou a esse quadro que vivemos hoje.

A grilagem de terra não foi combatida fortemente nos últimos quatro anos, e isso contribuiu para que os garimpos crescessem no território amazônico, numa situação descontrolada e desorganizada. Não só a grilagem e o garimpo, mas também o comércio ilegal de madeira cresceu. Esse conjunto de atividades ilegais tem afetado e muito o meio ambiente, e o impacto social ficou muito visível (com a crise yanomami).

É difícil reverter a calamidade causada. Só no caso da Terra Indígena Yanomami, são mais de 90 mil quilômetros quadrados de área. É um território gigantesco, com 300 aldeias e 27 mil indígenas, por isso é essencial o acompanhamento remoto por satélite - que já está implantado. O governo federal tem as ferramentas necessárias para o monitoramento. É um desafio permanente. Tem que acabar com a ocupação ilegal de todas as terras indígenas, principalmente quando ela ocorre devido à mineração.

https://www.dw.com/pt-br/merc%C3%BArio-do-garimpo-contamina-a-natureza-por-tempo-indeterminado/a-64688777
 

Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.