De Pueblos Indígenas en Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
Noticias
Crise do governo afeta solução para questão Yanomami
11/01/2024
Fonte: Valor Econômico, Brasil, p. A7
Crise do governo afeta solução para questão Yanomami
Falta de recursos ao longo de 2023 e outras dificuldades reverberam na difícil solução para o problema do garimpo
Por Murillo Camarotto - De Brasília
11/01/2024
O rebote da crise humanitária na terra indígena Yanomami tem como pano de fundo uma crise interna no governo. Desde a intervenção realizada nos primeiros dias de 2023, quando imagens de crianças desnutridas ganharam o mundo, o trabalho de resgate de doentes e expulsão de garimpeiros foi perdendo fôlego ao longo do ano, dando origem a trocas de acusações entre os ministérios sobre as atribuições de cada um.
Em reunião ministerial realizada na terça-feira, 9, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não é possível "perder a guerra" para o garimpo ilegal e prometeu utilizar toda a máquina pública para expulsar os invasores. Acusado por colegas de não ter centralizado a coordenação dos trabalhos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou a criação de uma "casa do governo" na região.
A avaliação de alguns ministros, entretanto, é de que a missão continuará sendo muito complicada, inclusive sob o ponto de vista político. Há clareza de que praticamente todas as principais lideranças políticas da região têm ligações com o garimpo e que será necessária negociação mais ampla em torno do alcance da atividade, com grande peso na economia local.
Outro entrave é a demanda por recursos. O atendimento ao território exigiu o uso intensivo de aeronaves durante todo o ano passado, o que nem sempre foi suficiente. Segundo o Valor apurou, aviões tiveram que ser retirados de operação para manutenção, o que comprometeu o envio de alimentos, remédios, profissionais e equipamentos ao longo do ano.
As interrupções no atendimento foram prontamente denunciadas por lideranças indígenas e as queixas respingaram principalmente no Ministério da Defesa e na Casa Civil. Para tentar contornar a crise, o governo anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão em políticas públicas. Uma das prioridades é fazer com que órgãos federais intensifiquem as ações de proteção ao povo indígena Yanomami e de combate ao garimpo ilegal.
Fiscalização e repressão também enfrentam contratempos. O Ibama não está conseguindo enviar para o território número de servidores planejado originalmente. Os fiscais têm alegado preocupações com segurança ao rejeitarem a ida à terra Yanomami.
Responsável pela segurança, a Polícia Federal também tem alertado para a complexidade do trabalho. Seu diretor-geral, Andrei Lopes, disse nesta quarta-feira à agência Reuters que o contingente da corporação não garante a expulsão dos garimpeiros ilegais.
Localizado entre Roraima e Amazonas, o território Yanomami abrange oito municípios e conta com aproximadamente 30 mil indígenas. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), os povos Yanomami começaram a ocupar o território entre as cabeceiras dos rios Orinoco e Parimpa, próximo da margem direita do Rio Branco, há um milênio.
De acordo com o Ministério Público Federal em Roraima, há registros de subnutrição infantil no território desde 2009. Ainda assim, segundo o próprio MPF, o quadro começou a se agravar em 2017, chegando ao ápice em 2022, último ano do governo do então presidente Jair Bolsonaro. Entre 2021 e 2022, cerca de 300 crianças Yanomami com sinais de desnutrição precisavam ser transferidas para atendimento médico em Boa Vista.
"A propagação da malária vinha crescendo gradualmente desde a década passada, mas era considerada controlada, até dar um salto, há cinco anos, acompanhando a evolução da devastação. O volume de casos dobrou entre 2018 e 2021, passando de cerca 10 mil para mais de 20 mil por ano, patamar inédito", informa o ISA.
No início de 2023, com a troca de governo, foi instituído o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE- 6 Yanomami), coordenado pelo Ministério da Saúde, para ações emergenciais de enfrentamento da crise. No ano passado, segundo o governo, mais de 13 mil atendimentos foram realizados aos indígenas encontrados em grave situação de abandono.
Também houve o controle do espaço aéreo do território, para combater voos clandestinos e, assim, estrangular a principal via de suprimento do garimpo. A Polícia Federal deflagrou 13 operações ao longo de 2023, resultando em 114 mandados de busca e apreensão, 175 prisões em flagrante e R$ 589 milhões em bens apreendidos.
Em entrevista ao portal G1, o procurador da República em Roraima Alisson Marugal disse ver algum avanço na assistência aos indígenas no último ano, mas que o quadro geral é de "inércia". Ele ressaltou, ainda, que a falta de atitude pode colocar o governo Lula sob investigação por genocídio, determinada pelo próprio governo para apurar as condutas da gestão Bolsonaro.
Valor Econômico, 11/01/2024, Brasil, p. A7
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/01/11/crise-do-governo-afeta-solucao-para-questao-yanomami.ghtml
Falta de recursos ao longo de 2023 e outras dificuldades reverberam na difícil solução para o problema do garimpo
Por Murillo Camarotto - De Brasília
11/01/2024
O rebote da crise humanitária na terra indígena Yanomami tem como pano de fundo uma crise interna no governo. Desde a intervenção realizada nos primeiros dias de 2023, quando imagens de crianças desnutridas ganharam o mundo, o trabalho de resgate de doentes e expulsão de garimpeiros foi perdendo fôlego ao longo do ano, dando origem a trocas de acusações entre os ministérios sobre as atribuições de cada um.
Em reunião ministerial realizada na terça-feira, 9, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não é possível "perder a guerra" para o garimpo ilegal e prometeu utilizar toda a máquina pública para expulsar os invasores. Acusado por colegas de não ter centralizado a coordenação dos trabalhos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou a criação de uma "casa do governo" na região.
A avaliação de alguns ministros, entretanto, é de que a missão continuará sendo muito complicada, inclusive sob o ponto de vista político. Há clareza de que praticamente todas as principais lideranças políticas da região têm ligações com o garimpo e que será necessária negociação mais ampla em torno do alcance da atividade, com grande peso na economia local.
Outro entrave é a demanda por recursos. O atendimento ao território exigiu o uso intensivo de aeronaves durante todo o ano passado, o que nem sempre foi suficiente. Segundo o Valor apurou, aviões tiveram que ser retirados de operação para manutenção, o que comprometeu o envio de alimentos, remédios, profissionais e equipamentos ao longo do ano.
As interrupções no atendimento foram prontamente denunciadas por lideranças indígenas e as queixas respingaram principalmente no Ministério da Defesa e na Casa Civil. Para tentar contornar a crise, o governo anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão em políticas públicas. Uma das prioridades é fazer com que órgãos federais intensifiquem as ações de proteção ao povo indígena Yanomami e de combate ao garimpo ilegal.
Fiscalização e repressão também enfrentam contratempos. O Ibama não está conseguindo enviar para o território número de servidores planejado originalmente. Os fiscais têm alegado preocupações com segurança ao rejeitarem a ida à terra Yanomami.
Responsável pela segurança, a Polícia Federal também tem alertado para a complexidade do trabalho. Seu diretor-geral, Andrei Lopes, disse nesta quarta-feira à agência Reuters que o contingente da corporação não garante a expulsão dos garimpeiros ilegais.
Localizado entre Roraima e Amazonas, o território Yanomami abrange oito municípios e conta com aproximadamente 30 mil indígenas. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), os povos Yanomami começaram a ocupar o território entre as cabeceiras dos rios Orinoco e Parimpa, próximo da margem direita do Rio Branco, há um milênio.
De acordo com o Ministério Público Federal em Roraima, há registros de subnutrição infantil no território desde 2009. Ainda assim, segundo o próprio MPF, o quadro começou a se agravar em 2017, chegando ao ápice em 2022, último ano do governo do então presidente Jair Bolsonaro. Entre 2021 e 2022, cerca de 300 crianças Yanomami com sinais de desnutrição precisavam ser transferidas para atendimento médico em Boa Vista.
"A propagação da malária vinha crescendo gradualmente desde a década passada, mas era considerada controlada, até dar um salto, há cinco anos, acompanhando a evolução da devastação. O volume de casos dobrou entre 2018 e 2021, passando de cerca 10 mil para mais de 20 mil por ano, patamar inédito", informa o ISA.
No início de 2023, com a troca de governo, foi instituído o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE- 6 Yanomami), coordenado pelo Ministério da Saúde, para ações emergenciais de enfrentamento da crise. No ano passado, segundo o governo, mais de 13 mil atendimentos foram realizados aos indígenas encontrados em grave situação de abandono.
Também houve o controle do espaço aéreo do território, para combater voos clandestinos e, assim, estrangular a principal via de suprimento do garimpo. A Polícia Federal deflagrou 13 operações ao longo de 2023, resultando em 114 mandados de busca e apreensão, 175 prisões em flagrante e R$ 589 milhões em bens apreendidos.
Em entrevista ao portal G1, o procurador da República em Roraima Alisson Marugal disse ver algum avanço na assistência aos indígenas no último ano, mas que o quadro geral é de "inércia". Ele ressaltou, ainda, que a falta de atitude pode colocar o governo Lula sob investigação por genocídio, determinada pelo próprio governo para apurar as condutas da gestão Bolsonaro.
Valor Econômico, 11/01/2024, Brasil, p. A7
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/01/11/crise-do-governo-afeta-solucao-para-questao-yanomami.ghtml
Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.