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COP30: Onde está a água?
20/03/2025
Autor: BRAGA, Benedito
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br
COP30: Onde está a água?
Seja na escassez, como nas crises hídricas em São Paulo, seja no excesso, caso das enchentes no Sul, recurso deve estar na linha de frente dos debates
Benedito Braga
Professor titular da Escola Politécnica da USP; ex-secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (2015-18) e ex-presidente da Sabesp
20/03/2025
A água é o recurso natural essencial à vida. O impacto da variabilidade e mudança do clima será sentido no setor dos recursos hídricos de forma mais expressiva do que em qualquer outro setor da atividade humana. As secas mais longas e as cheias mais intensas irão impactar negativamente o acesso à água potável para consumo humano, comercial e industrial; a produção de alimentos; a geração de energia renovável hidrelétrica; a navegação fluvial e o turismo e lazer.
A Conferência das Partes para as mudanças climáticas (COP) celebrará em Belém, no Pará, seu 30o aniversário (COP30), com governos nacionais concentrados em adoção de medidas para mitigar os efeitos da emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases que reforçam o efeito estufa, responsáveis pelo aumento da temperatura global.
Negociadores têm-se concentrado no tema da geração de energia por fontes fósseis porque se trata da atividade que mais emite em quase todos os países. Mas não no Brasil, que tem uma matriz energética das mais limpas do mundo. Trata-se de uma preocupação obviamente legítima, mas ainda premente é tratar da adaptação à mudança do clima.
Cito o caso da crise hídrica na região metropolitana de São Paulo em 2014-15, que quase deixou 22 milhões de pessoas sem acesso à água potável. Crise na mesma região em 2020-21, similar à de 2014-15, que foi evitada por medidas do governo paulista em entregar antecipadamente infraestrutura redundante da transposição das águas do rio Paraíba do Sul para o sistema Cantareira e a finalização da transposição das águas do rio São Lourenço da vertente oceânica para a região oeste do estado de São Paulo.
Outros exemplos relacionados ao excesso de água mostram a urgência do tema. Cito as cheias do Rio Grande do Sul no ano passado, que impactaram mais de 2 milhões de pessoas, deixaram 183 mortos e prejuízos econômicos da ordem de quase R$ 90 bilhões. Exemplos também se estendem além da nossa nação para tantos outros países que foram vítimas da falta ou do excesso de precipitação em seus territórios. Eventos de secas extremas neste ano, no Uruguai, levaram o governo a distribuir água engarrafada para a população de Montevidéu. O governo de Portugal já está implantando no sul do país uma usina de dessalinização para fazer frente à escassez hídrica.
Adaptação requer infraestrutura redundante (barragens, reservatórios, adutoras e obras correlatas) e também uma nova postura em relação ao uso da água. Consumir com parcimônia e eficiência em todos os setores da atividade humana.
Na COP 27, em Sharm-el-Sheik, no Egito, houve uma esperança de se trazer para a mesa de negociação o tema da adaptação, e por óbvio o tema da água, com a atuação firme do Ministério de Recursos Hídricos e Irrigação daquele país organizador da conferência.
O Brasil tem a oportunidade de trazer o tema da adaptação para a discussão -neste sábado (22), inclusive, comemora-se o Dia Mundial da Água. Afinal, a COP30 acontece na amazônia, que detém 70% da água doce do Brasil, que por sua vez reúne 12% da água doce do mundo.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/03/cop30-onde-esta-a-agua.shtml
Seja na escassez, como nas crises hídricas em São Paulo, seja no excesso, caso das enchentes no Sul, recurso deve estar na linha de frente dos debates
Benedito Braga
Professor titular da Escola Politécnica da USP; ex-secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (2015-18) e ex-presidente da Sabesp
20/03/2025
A água é o recurso natural essencial à vida. O impacto da variabilidade e mudança do clima será sentido no setor dos recursos hídricos de forma mais expressiva do que em qualquer outro setor da atividade humana. As secas mais longas e as cheias mais intensas irão impactar negativamente o acesso à água potável para consumo humano, comercial e industrial; a produção de alimentos; a geração de energia renovável hidrelétrica; a navegação fluvial e o turismo e lazer.
A Conferência das Partes para as mudanças climáticas (COP) celebrará em Belém, no Pará, seu 30o aniversário (COP30), com governos nacionais concentrados em adoção de medidas para mitigar os efeitos da emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases que reforçam o efeito estufa, responsáveis pelo aumento da temperatura global.
Negociadores têm-se concentrado no tema da geração de energia por fontes fósseis porque se trata da atividade que mais emite em quase todos os países. Mas não no Brasil, que tem uma matriz energética das mais limpas do mundo. Trata-se de uma preocupação obviamente legítima, mas ainda premente é tratar da adaptação à mudança do clima.
Cito o caso da crise hídrica na região metropolitana de São Paulo em 2014-15, que quase deixou 22 milhões de pessoas sem acesso à água potável. Crise na mesma região em 2020-21, similar à de 2014-15, que foi evitada por medidas do governo paulista em entregar antecipadamente infraestrutura redundante da transposição das águas do rio Paraíba do Sul para o sistema Cantareira e a finalização da transposição das águas do rio São Lourenço da vertente oceânica para a região oeste do estado de São Paulo.
Outros exemplos relacionados ao excesso de água mostram a urgência do tema. Cito as cheias do Rio Grande do Sul no ano passado, que impactaram mais de 2 milhões de pessoas, deixaram 183 mortos e prejuízos econômicos da ordem de quase R$ 90 bilhões. Exemplos também se estendem além da nossa nação para tantos outros países que foram vítimas da falta ou do excesso de precipitação em seus territórios. Eventos de secas extremas neste ano, no Uruguai, levaram o governo a distribuir água engarrafada para a população de Montevidéu. O governo de Portugal já está implantando no sul do país uma usina de dessalinização para fazer frente à escassez hídrica.
Adaptação requer infraestrutura redundante (barragens, reservatórios, adutoras e obras correlatas) e também uma nova postura em relação ao uso da água. Consumir com parcimônia e eficiência em todos os setores da atividade humana.
Na COP 27, em Sharm-el-Sheik, no Egito, houve uma esperança de se trazer para a mesa de negociação o tema da adaptação, e por óbvio o tema da água, com a atuação firme do Ministério de Recursos Hídricos e Irrigação daquele país organizador da conferência.
O Brasil tem a oportunidade de trazer o tema da adaptação para a discussão -neste sábado (22), inclusive, comemora-se o Dia Mundial da Água. Afinal, a COP30 acontece na amazônia, que detém 70% da água doce do Brasil, que por sua vez reúne 12% da água doce do mundo.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/03/cop30-onde-esta-a-agua.shtml
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