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Brasil terá difícil missão de evitar frustração na COP30

21/03/2025

Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/



Brasil terá difícil missão de evitar frustração na COP30
Sucesso da estratégia brasileira e da própria COP depende de encontrar uma forma intermediária para o elefante na sala climática: o fim do uso dos combustíveis fósseis

21/03/2025

Em setembro do ano passado, o presidente Lula anunciou que o Brasil, sede da COP30, teria, enfim, uma autoridade climática, sua promessa da campanha de 2022. Passados pouco mais de seis meses da declaração, feita com pompa na Amazônia, nada saiu do papel. Desde então, o mundo assistiu a uma série de notícias alarmantes sobre o aquecimento global e sofreu importantes revezes na luta para contê-lo - o mais claro deles com a volta de Donald Trump à Casa Branca. O quadro desafiador pressiona o Brasil, que tem pouca margem de erro e deve superar suas próprias ambiguidades na difícil missão de impedir reveses que já se desenham para a cúpula em Belém.

A COP30 ocorrerá em um momento em que a crise climática está se intensificando. O ano de 2024 foi o mais quente registrado na história, e 2025 já parece trilhar o mesmo caminho, com o mês de janeiro também quebrando recordes de temperatura, mesmo com a ocorrência do La Niña, fenômeno que normalmente ajuda a aliviar o calor. O nível global dos oceanos está subindo mais que o esperado, com o dobro do ritmo de elevação anual, o que surpreendeu cientistas. Eventos climáticos extremos se tornaram recorrentes. Em todos os cantos do mundo, a situação é cada vez mais alarmante.

A urgência em enfrentar o problema e os desafios criados pelo contexto geopolítico adverso não permitem ao governo ser paradoxal em suas posições ambientais, sob o risco de minar a credibilidade do país nas negociações, por mais hábeis e respeitados que sejam o embaixador André Corrêa do Lago e a economista Ana Toni, escolhas acertadas do Planalto para liderar o time brasileiro na condução do evento. E o fato de a autoridade climática ainda estar no plano das ideias é apenas um dos muitos entraves colocados pela indefinição em Brasília.

Faltando oito meses para a COP30, Belém, indicada como sede pelo simbolismo de se realizar uma cúpula climática no coração da Amazônia, continua sem a estrutura mínima para atender a um evento desse porte. Ativistas, empresas e delegações de países que virão ao Brasil lutam para tentar conseguir hospedagem na cidade, cujos preços inflacionados já se tornaram exorbitantes. Também não se sabe o rumo que o governo tomará em sua política energética, tema crucial desta cúpula. Como vamos conciliar o plano de energia limpa com transição energética e a nova frente de exploração de petróleo na Margem Equatorial? O presidente Lula é favorável à exploração, e o Brasil tem de decidir a questão, antes, ou, como defende parte dos ambientalistas, depois da COP30.

Além disso, a volta de Trump ao poder acrescentou obstáculos que vão muito além do desmantelamento da pauta ambiental americana e da saída do Acordo de Paris. Com a guinada na política externa da Casa Branca, governos antes engajados na agenda climática repensam prioridades. É o caso dos países da Europa, que agora despejarão bilhões de euros no rearmamento, dinheiro que poderia abastecer fundos para financiar ações de adaptação e mitigação climática.

O efeito Trump também tem consequências nefastas sobre o financiamento privado. Desde a posse, grandes empresas vêm recuando de investimentos em projetos verdes e abandonando a divulgação de relatórios ambientais em seus balanços. Na estreia do "drill, baby, drill", que embalou a campanha do republicano, petrolíferas retomam investimentos em projetos de combustíveis fósseis, e míngua a discussão de transição energética. Bancos americanos, por sua vez, deixaram importantes alianças que são comprometidas com o Acordo de Paris e a descarbonização da economia.

Esta miríade de retrocessos eleva o risco de a cúpula em Belém terminar sem alcançar seus dois principais objetivos. De partida, a meta de ter US$ 1,3 trilhão por ano até 2025 para ações climáticas em países em desenvolvimento fica virtualmente inviabilizada sem o apoio de americanos e com os europeus com sua atenção dividida. Da mesma forma, será uma missão difícil acelerar a implementação das metas do Acordo de Paris com a volta de Trump e seus simpatizantes, no mundo político e empresarial.

Nesse sentido, é acertada a carta de Corrêa do Lago ao convocar um "mutirão" para "virar o jogo" contra o aquecimento global. Sinaliza que o Brasil sabe que, para a batalha climática, será preciso ampliar o leque de aliados e engajar, em definitivo, a sociedade civil para explorar a lacuna aberta por negacionistas, replicando seu trabalho bem-sucedido do G20. Para que o mundo supere esse desafio, é essencial traduzir a complicada linguagem das mesas de negociação das COPs, incompreensível para a maioria da população, e combater assim discursos oportunistas, além da própria desesperança.

O sucesso dessa estratégia e da própria COP, porém, depende de encontrar uma forma intermediária para o elefante na sala climática: o fim do uso dos combustíveis fósseis. Houve determinação na COP28 para que o mundo começasse a se afastar deles, o que desapareceu na COP29. A intenção de explorar a Margem Equatorial, se concretizada antes da reunião de Belém, terá de vir com uma argumentação universal, válida para todos e fruto de muito debate. É um tema de difícil consenso, mas crucial para o futuro das conferências do clima.

https://valor.globo.com/opiniao/noticia/2025/03/21/brasil-tera-dificil-missao-de-evitar-frustracao-na-cop30.ghtml
 

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