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A economia da floresta desafia o Brasil na COP30

17/04/2025

Autor: BORGES, Bráuli; OMETTO, Jean

Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com/



A economia da floresta desafia o Brasil na COP30
Para apoiar a presidência da COP30 em sua missão, o país pode demonstrar que proteger o clima é um negócio bem mais rentável do que desafiá-lo

17/04/2025

Bráulio Borges
Economista da LCA e pesquisador do FGV-Ibre.

Jean Ometto
Pesquisador sênior no Inpe e membro do IPCC.

O mundo assiste atônito à guerra tarifária e comercial iniciada por Donald Trump. As consequências não estão claras, mas parece certo que as relações e trocas comerciais entre países não serão mais as mesmas. O Brasil, responsável este ano por conduzir as negociações internacionais para enfrentar a crise climática, tem buscado o equilíbrio, um fator de segurança neste planeta cada vez mais conturbado. Para apoiar a presidência da COP30 em sua missão, o país pode demonstrar que proteger o clima é um negócio bem mais rentável do que desafiá-lo.

Os nove países que abrigam a floresta amazônica têm uma oportunidade única para estimular a preservação, a conservação e o uso sustentável da floresta, com reflexos em outras regiões florestais do mundo. Para isso, a participação ativa das populações locais é um imperativo. Além de conhecerem a dinâmica ecológica da floresta e de sua biodiversidade, elas têm uma enorme diversidade étnica. Outro aspecto central na defesa das florestas refere-se à geração de renda associada ao turismo e à exploração sustentável de produtos florestais, como madeira, castanhas e frutos.

A preservação e a conservação das florestas são relevantes para a regulação do clima não apenas nessas regiões, mas em todo o continente. Na Amazônia, as áreas de agricultura já sofrem com regimes de chuva não regulares. A dinâmica das águas no Centro-Sul brasileiro depende da floresta "em pé" por conta dos "rios voadores", que garantem a produtividade do agronegócio. O fluxo de água que vem da Amazônia gera energia renovável e barata nas hidrelétricas, mais da metade da eletricidade no Brasil. A mesma dinâmica ocorre no Paraguai, norte da Argentina e Uruguai.

Mas, qual é o valor da floresta "em pé" para o mundo?

Uma estimativa conservadora do Banco Mundial (2023) aponta para US$ 317 bilhões por ano, pouco mais de R$ 1,8 trilhão (15% do PIB brasileiro de 2024), assumindo um custo econômico e social para o mundo de US$ 40/tonelada de CO2 e emitido. Estimativas mais recentes e realistas do Custo Social do Carbono, entre US$ 200 e US$ 300 por tonelada, elevariam o valor da floresta "em pé" para algo entre R$ 9 trilhões e R$ 13 trilhões por ano.

É importante notar que essa estimativa do valor da floresta em pé não considera receitas do mercado de carbono resultantes da redução significativa do desmatamento. Essas receitas poderiam fazer com que a floresta deixasse de ser emissora líquida de carbono para remover dióxido de carbono da atmosfera. Passaria de fonte emissora para sumidouro de carbono, além de aumentar a oferta de serviços ecossistêmicos essenciais para o mundo.

Há vários instrumentos econômicos que podem, isolada ou conjuntamente, prover recursos para a manutenção da floresta "em pé". No Brasil, o Fundo Amazônia foi criado em 2008 pelo presidente Lula e reativado em 2023 após quatro anos inativo. O Fundo tem como finalidade apoiar projetos de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento. Ele é gerido pelo Ministério do Meio Ambiente e Clima e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que capta doações de países e empresas. Em 2024, o Fundo tinha R$ 2,6 bilhões.

A COP28 anunciou uma iniciativa inovadora para manter as florestas tropicais em pé, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), desenvolvido atualmente por países com florestas tropicais e outros interessados. A meta é a de que o TFFF tenha um capital de US$ 125 bilhões (de países ricos, entidades privadas e multilaterais). Seu rendimento remuneraria os países pela preservação e recuperação de florestas. No Brasil, estima-se US$ 4 por hectare preservado, uma renda anual de quase R$ 8 bilhões.

A economia real da Amazônia é baseada na derrubada da floresta e na sua substituição por agricultura e gado de baixa produtividade. Foi o caminho percorrido pelos países ricos, e o desafio é identificar as vias de saída desse modelo econômico, com atividades que usem a floresta de forma sustentável.

Mesmo que os fundos estejam dispostos para viabilizar essa transformação da economia da Amazônia, há questões cruciais ainda sem respostas. Como estes recursos serão aplicados e quem se beneficiará de sua renda? Como eles serão aplicados para zerar e manter zerado o desmatamento? E, finalmente, como irão garantir vida digna aos 27 milhões de brasileiros na região?

Não há consenso sobre um modelo alternativo de desenvolvimento aplicável nas várias regiões amazônicas. A Amazônia é ampla e diversa, sem solução única e com cada região demandando estratégias particulares. Já temos experiências e projetos pilotos bem-sucedidos, mas há dúvidas se seriam aplicáveis em larga escala. Um deles é o Bolsa-Floresta da Fundação Amazônia Sustentável, que recompensava as populações tradicionais que assumissem o compromisso de desmatamento zero. Eram quantias módicas por família, mas que foram importantes para manter a floresta em pé. Fala-se muito da exploração da sociobiodiversidade, mas poucos acreditam que o mecanismo garanta renda decente e estável para a população.

É consenso que consolidar a presença do Estado Nacional na região demanda erradicar o crime organizado, que sustenta o garimpo ilegal e a grilagem de terras. Mais de 90% dos desmatamentos são ilegais, e essa ilegalidade tornou-se mais difícil de ser combatida por conta das políticas do governo passado. Como resultado, bilhões de reais a mais passaram a circular à margem da lei. Os novos "modelos de desenvolvimento amazônico" têm que ser inclusivos, eficientes e ágeis para quebrar a hegemonia do crime e torná-lo desvantajoso.

São desafios que toda a sociedade brasileira tem que superar rapidamente para aproveitar a disponibilidade dos fundos bilionários. Os novos modelos econômicos amazônicos, ao implementarem estratégias de preservação, conservação e proteção da população originária, estarão integrados ao desenvolvimento de nosso vasto país.

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/a-economia-da-floresta-desafia-o-brasil-na-cop30.ghtml
 

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