De Pueblos Indígenas en Brasil

News

Saúde e medicina indígena ainda são desafio para o SUS

16/04/2025

Autor: Juliana Passos e Nara Lacerda

Fonte: Brasil de Fato - brasildefato.com.br



Saúde e medicina indígena ainda são desafio para o SUS - Brasil de Fato
16.abr.2025 às 10h27 Juliana Passos e Nara Lacerda
6-9 minutos

A criação do Ministério dos Povos Indígenas e a crescente participação de representantes das populações originárias na formulação de políticas públicas do país representaram um marco histórico sem precedentes no poder público brasileiro. A mudança inédita causa reflexos em diversos setores, inclusive na saúde pública.

Desde 2023, a atual gestão federal tem intensificado ações, mobilizado forças-tarefa e ampliado o financiamento destinado ao fortalecimento da saúde indígena. Essa conjuntura também inaugura no Brasil uma perspectiva igualmente inédita: a possibilidade concreta de integrar as medicinas indígenas ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Com a iniciativa, o Brasil passa a reconhecer e valorizar saberes ancestrais, incorporando práticas tradicionais que têm se mostrado eficazes ao longo de gerações. No entanto, apesar do entusiasmo e da criação de um grupo de trabalho (GT) dedicado ao tema há mais de um ano, a concretização definitiva da pauta ainda não é realidade.

Em janeiro do ano passado, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, formalizou a criação do GT para elaborar a proposta de estabelecimento de um programa nacional de emprego da medicina indígena no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi-SUS).

A diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena (DAPSI), Putira Sacuena, conversou com o podcast Repórter SUS sobre o tema e afirmou que um dos próximos passos será o lançamento de um guia de terminologias da medicina indígena. Na conversa, ela ressaltou a expectativa para a concretização da política.

"Por que nós estamos falando especialista e não pajé? Por que tiramos o tradicional e estamos usando indígena? O que é interculturalidade na saúde? Por meio dela, temos um entendimento a partir da educação e não só da saúde. Estamos construindo isso e é uma proposta muito muito boa para as pessoas conhecerem. Mas temos também o sonho de o nosso ministro (da saúde) anunciar que, agora, as medicinas indígenas fazem parte do SUS."

Segundo Putira Sacuena, o modo indígena de lidar com a vida e a saúde tem muito a contribuir com o SUS e pode trazer avanços ao pensamento exclusivamente acadêmico. "Respeitar e valorizar não é o suficiente para falarmos de uma saúde diferenciada. A sociedade brasileira precisa reconhecer quem ela é, precisa reconhecer outras ciências além dessa ciência que existe, que é ocidental, que não é nossa."

A especialista também ressaltou a importância dos territórios nessa mudança. "Começamos a ter o entendimento de quanto o SUS precisa avançar nas políticas públicas de saúde a partir dos territórios. Não só os territórios indígenas, mas também os territórios nacionais, populações tradicionais e assim em diante."
Obstáculos e avanços

Mesmo com os avanços dos últimos anos, outros aspectos da promoção da saúde indígena também ainda enfrentam inúmeros desafios e a desigualdade estrutural do Brasil resume todos eles. Da destruição dos biomas à falta de acesso, a saúde pública voltada para as populações originárias ainda tem um longo caminho a percorrer.

Publicado no ano passado pelo Núcleo Ciência pela Infância, o estudo "Desigualdades em saúde de crianças indígenas" revela dados alarmantes. Segundo o levantamento, a taxa de mortalidade entre bebês indígenas é 55% superior à de não indígenas e o número de mortes de crianças indígenas de até 4 anos é mais que o dobro do registrado em outras populações.

Na lista de principais causas para esse cenário estão doenças infecciosas e intestinais, além de complicações decorrentes da gestação, parto ou puerpério. A dificuldade de acesso a territórios, as barreiras culturais e a alta rotatividade de profissionais de saúde são obstáculos significativos.

Apesar dos desafios, o governo federal tem investido em ações para mitigar essas desigualdades. Por meio do Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), foram aprovados projetos com um incremento de orçamento de R$ 34,5 milhões para a saúde indígena.

O investimento visa melhorias assistenciais no cuidado integrado e na articulação da rede em relação às linhas de atenção ao câncer de colo do útero e atenção à saúde materna e infantil. Outros projetos preveem orçamento para implementação de soluções digitais de atendimento e o desenvolvimento de uma plataforma de integração de dados de saneamento, qualidade da água e saúde.

No âmbito da participação social, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) divulgou, em fevereiro, diretrizes e objetivos para o trabalho em saúde do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do SUS (Sasisus). Elas levam em consideração princípios como reconhecimento e respeito à autonomia, interculturalidade, diversidade cultural e territorial dos povos indígenas.

Além disso, o texto do CNS tem foco na necessidade de respeito aos sistemas indígenas de saúde, entendidos como as práticas de promoção, proteção e recuperação da saúde orientadas por saberes e lógicas internas das comunidades originárias.

A resolução define ainda a necessidade de formação e qualificação das trabalhadoras e dos trabalhadores da saúde indígena, com inclusão de conhecimentos sobre a cultura e os costumes locais e o intercâmbio entre as "equipes técnicas e os doutores indígenas".

Tanto a garantia de atendimento, cuidados e acesso quanto a inclusão das medicinas indígenas no SUS exigem uma visão diferenciada de saúde e da sociedade, que reconheça a pluralidade de saberes e a importância da superação de preconceitos.

"Estamos mudando o entendimento sobre as medicinas indígenas. Saímos daquele contexto de 'tradicionais' - onde o processo colonizatório nos colocou todos juntos, povos indígenas, quilombola, ribeirinho, extrativista - dissemos, 'nossa medicina indígena!' É um contexto que traz um reconhecimento mais forte. É algo extraordinário. Estamos criando o primeiro programa nacional de medicinas indígenas, ou seja, o primeiro programa originário, de fato, do Brasil."

https://www.brasildefato.com.br/podcast/reporter-sus/2025/04/16/saude-e-medicina-indigena-ainda-sao-desafio-para-o-sus/
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source