De Pueblos Indígenas en Brasil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
Noticias
PF investiga atuação de milícias do garimpo na Amazônia
08/06/2025
Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/
PF investiga atuação de milícias do garimpo na Amazônia
Operações identificaram grupos suspeitos de envolvimento com pistolagem, escolta de ouro e tortura; levantamento do MP aponta o envolvimento de policiais, entre eles cem PMs com a atividade de mineração ilegal
08/06/2025
Eduardo Gonçalves
Em fevereiro de 2023, na zona rural de Caracaraí (RR), a 140 quilômetros de Boa Vista, dois policiais civis do Amazonas abordaram um agricultor pedindo que ele indicasse o local onde havia ocorrido um tiroteio. Era uma emboscada. Ao virar a esquina, ele foi rendido pela dupla, que exibia o distintivo e estava armada com pistolas, submetralhadora e espingarda. Os agentes buscavam uma carga roubada de 18 toneladas de cassiterita (o 'ouro negro" da Amazônia), extraída ilegalmente da Terra Yanomami e avaliada em cerca de R$ 1 milhão.
Segundo o Ministério Público de Roraima, o agricultor foi algemado e torturado com tapas e choques para revelar o paradeiro da carga. Depois, três homens que se identificaram como integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de Roraima se juntaram ao grupo acompanhados do suposto dono do minério e continuaram o interrogatório. Após concluírem que o homem não havia roubado o material, ele foi liberado sob ameaça de morte caso denunciasse o ocorrido. A vítima, no entanto, era irmã de um policial, e o caso foi levado ao MP e à Polícia Federal.
No fim do mês passado, a PF realizou uma operação para desarticular o grupo formado por agentes de segurança que faziam a escolta e transporte ilegal do metal retirado da reserva indígena. Seis pessoas foram presas, entre elas os dois policiais civis do Amazonas envolvidos no suposto sequestro, o delegado chefe deles e um policial militar de Roraima.
Procurada, a Polícia Civil do Amazonas disse que "está à disposição para prestar todas as informações necessárias e colaborar com o total esclarecimento dos fatos". A PM de Roraima afirmou que a Corregedoria apura o caso e que não "compactua com condutas ilícitas eventualmente praticadas por seus membros".
Operações como essa se tornaram frequentes em diferentes regiões da Amazônia Legal - pelo menos dez delas foram deflagradas nos últimos dois anos. O GLOBO analisou mais de 700 páginas de decisões judiciais, relatórios da PF e do Ministério Público que apontam a existência de milícias a serviço da mineração ilegal. A atuação dos grupos envolve segurança privada, lavagem de dinheiro, pistolagem e fornecimento de armas e munições a garimpeiros. Em um dos casos, os policiais passaram até a ser donos de áreas de exploração ilegal de ouro dentro de uma reserva indígena.
- Chamo isso de milicianização do garimpo, já que há agentes do Estado a serviço desses grupos. É resultado do volume de recursos da atividade ilegal, que alimenta toda uma rede de corrupção de agentes públicos - afirmou Aiala Colares Couto, pesquisador da Universidade do Estado do Pará e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Um levantamento feito pelo MP de Roraima aponta o envolvimento de pelo menos cem policiais militares com a atividade de mineração ilegal no estado. O número se baseia em denúncias e relatórios de inteligência recebidos pela Promotoria nos últimos cinco anos. Para um investigador, a quantidade deve ser maior, já que garimpeiros em áreas ilegais muitas vezes não denunciam as extorsões.
Um desses casos foi revelado em março, quando a PF fez uma operação mirando um major aposentado da Polícia Militar de Roraima que supostamente fornecia armas e combustível para garimpos ilegais na Terra Yanomami. Na mesma área de exploração ilegal, o ex-PM Gilson Viana, conhecido como Mutum, foi assassinado a tiros após uma briga em um bar do garimpo, em dezembro de 2024 - na época, ele estava foragido da Justiça. As autoridades o consideravam um dos pistoleiros mais temidos da região, responsável pela morte de dez pessoas no Estado.
'Dono' de garimpos
Já no sul do Pará, a PF descobriu a atuação de uma milícia que controlava garimpos na Terra Indígena Kayapó por meio da cobrança de taxas e ameaças. Em setembro de 2024, quatro agentes de segurança pública foram presos: um delegado e um escrivão da Polícia Civil e dois sargentos da Polícia Militar.
Segundo as investigações, o delegado foi apontado como 'dono' de uma área de exploração em Santa Maria das Barreiras (PA) e cobrava taxas de até R$ 500 mil para deixar garimpeiros extraírem ouro dos garimpos Moça Bonita e Santile, situados na reserva indígena, além de prometer "inibir a ação da PF na região".
Ao decretar a prisão dos policiais, o juiz federal do Pará Carlos Chaves afirmou que há indícios "fortíssimos" de que o delegado "se beneficia dos crimes praticados por outros integrantes da organização criminosa" e é "pessoalmente 'dono' de garimpos e explora ilegalmente ouro, utilizando-se de seu cargo público para amedrontar rivais, em quase regime de milícia".
A mando do delegado, conforme as investigações, um PM agia como "uma espécie de xerife" e seria o responsável pelo assassinato de um rival que disputava o controle da área a bala, em 2023. O escrivão, por sua vez, cuidava da lavagem de dinheiro e movimentou em suas contas R$ 39,8 milhões em apenas sete meses, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A decisão afirma que o montante "não têm correspondência alguma com o cargo público que ocupa".
Procurada, a Polícia Civil do Pará afirmou que os agentes foram "afastados das funções" e um "Processo Administrativo Disciplinar (PAD)" continua em andamento. A PM do Pará afirmou que a Corregedoria investiga o episódio.
Para o pesquisador e professor da Universidade Federal de Roraima Rodrigo Chagas, o envolvimento dos policiais com os garimpos começa com os "bicos", serviços realizados fora do expediente:
- É normal que o bico em Roraima seja em garimpos. É uma estrutura histórica: os policiais são os operadores dos donos do garimpo que são empresários e políticos.
Outro caso foi exposto em novembro de 2024, quando a PF saiu às ruas para prender dois oficiais da Polícia Militar do Pará - um coronel e um tenente-coronel chefes de batalhões em Itaituba - e cumprir buscas contra um major, um capitão, quatro sargentos e um cabo. A decisão judicial ainda mandava o governo do Pará afastar 35 PMs do cargo. O motivo: os oficiais forneciam suporte logístico e segurança a mineradoras ilegais na região da Rodovia Transgarimpeira, onde eles eram considerados a "lei". Parte do ouro dessas empresas vinha da Terra Indígena Munduruku, segundo a PF.
De acordo com a decisão judicial, o coronel usava sua "posição hierárquica" para "deslocar praças e oficiais da instituição para atender aos interesses de mineradoras". A partir de uma interceptação telefônica, a PF identificou que uma viatura oficial foi colocada à disposição para a retirada de ouro. Segundo relatório da PF, o "apoio" da PM se dava nos dias de pagamento dos garimpeiros. Em nota divulgada na época, a PM do Pará informou que afastou os agentes e exonerou os militares que exerciam função de comando.
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/06/08/pf-investiga-atuacao-de-milicias-do-garimpo-na-amazonia.ghtml
Operações identificaram grupos suspeitos de envolvimento com pistolagem, escolta de ouro e tortura; levantamento do MP aponta o envolvimento de policiais, entre eles cem PMs com a atividade de mineração ilegal
08/06/2025
Eduardo Gonçalves
Em fevereiro de 2023, na zona rural de Caracaraí (RR), a 140 quilômetros de Boa Vista, dois policiais civis do Amazonas abordaram um agricultor pedindo que ele indicasse o local onde havia ocorrido um tiroteio. Era uma emboscada. Ao virar a esquina, ele foi rendido pela dupla, que exibia o distintivo e estava armada com pistolas, submetralhadora e espingarda. Os agentes buscavam uma carga roubada de 18 toneladas de cassiterita (o 'ouro negro" da Amazônia), extraída ilegalmente da Terra Yanomami e avaliada em cerca de R$ 1 milhão.
Segundo o Ministério Público de Roraima, o agricultor foi algemado e torturado com tapas e choques para revelar o paradeiro da carga. Depois, três homens que se identificaram como integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) de Roraima se juntaram ao grupo acompanhados do suposto dono do minério e continuaram o interrogatório. Após concluírem que o homem não havia roubado o material, ele foi liberado sob ameaça de morte caso denunciasse o ocorrido. A vítima, no entanto, era irmã de um policial, e o caso foi levado ao MP e à Polícia Federal.
No fim do mês passado, a PF realizou uma operação para desarticular o grupo formado por agentes de segurança que faziam a escolta e transporte ilegal do metal retirado da reserva indígena. Seis pessoas foram presas, entre elas os dois policiais civis do Amazonas envolvidos no suposto sequestro, o delegado chefe deles e um policial militar de Roraima.
Procurada, a Polícia Civil do Amazonas disse que "está à disposição para prestar todas as informações necessárias e colaborar com o total esclarecimento dos fatos". A PM de Roraima afirmou que a Corregedoria apura o caso e que não "compactua com condutas ilícitas eventualmente praticadas por seus membros".
Operações como essa se tornaram frequentes em diferentes regiões da Amazônia Legal - pelo menos dez delas foram deflagradas nos últimos dois anos. O GLOBO analisou mais de 700 páginas de decisões judiciais, relatórios da PF e do Ministério Público que apontam a existência de milícias a serviço da mineração ilegal. A atuação dos grupos envolve segurança privada, lavagem de dinheiro, pistolagem e fornecimento de armas e munições a garimpeiros. Em um dos casos, os policiais passaram até a ser donos de áreas de exploração ilegal de ouro dentro de uma reserva indígena.
- Chamo isso de milicianização do garimpo, já que há agentes do Estado a serviço desses grupos. É resultado do volume de recursos da atividade ilegal, que alimenta toda uma rede de corrupção de agentes públicos - afirmou Aiala Colares Couto, pesquisador da Universidade do Estado do Pará e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Um levantamento feito pelo MP de Roraima aponta o envolvimento de pelo menos cem policiais militares com a atividade de mineração ilegal no estado. O número se baseia em denúncias e relatórios de inteligência recebidos pela Promotoria nos últimos cinco anos. Para um investigador, a quantidade deve ser maior, já que garimpeiros em áreas ilegais muitas vezes não denunciam as extorsões.
Um desses casos foi revelado em março, quando a PF fez uma operação mirando um major aposentado da Polícia Militar de Roraima que supostamente fornecia armas e combustível para garimpos ilegais na Terra Yanomami. Na mesma área de exploração ilegal, o ex-PM Gilson Viana, conhecido como Mutum, foi assassinado a tiros após uma briga em um bar do garimpo, em dezembro de 2024 - na época, ele estava foragido da Justiça. As autoridades o consideravam um dos pistoleiros mais temidos da região, responsável pela morte de dez pessoas no Estado.
'Dono' de garimpos
Já no sul do Pará, a PF descobriu a atuação de uma milícia que controlava garimpos na Terra Indígena Kayapó por meio da cobrança de taxas e ameaças. Em setembro de 2024, quatro agentes de segurança pública foram presos: um delegado e um escrivão da Polícia Civil e dois sargentos da Polícia Militar.
Segundo as investigações, o delegado foi apontado como 'dono' de uma área de exploração em Santa Maria das Barreiras (PA) e cobrava taxas de até R$ 500 mil para deixar garimpeiros extraírem ouro dos garimpos Moça Bonita e Santile, situados na reserva indígena, além de prometer "inibir a ação da PF na região".
Ao decretar a prisão dos policiais, o juiz federal do Pará Carlos Chaves afirmou que há indícios "fortíssimos" de que o delegado "se beneficia dos crimes praticados por outros integrantes da organização criminosa" e é "pessoalmente 'dono' de garimpos e explora ilegalmente ouro, utilizando-se de seu cargo público para amedrontar rivais, em quase regime de milícia".
A mando do delegado, conforme as investigações, um PM agia como "uma espécie de xerife" e seria o responsável pelo assassinato de um rival que disputava o controle da área a bala, em 2023. O escrivão, por sua vez, cuidava da lavagem de dinheiro e movimentou em suas contas R$ 39,8 milhões em apenas sete meses, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A decisão afirma que o montante "não têm correspondência alguma com o cargo público que ocupa".
Procurada, a Polícia Civil do Pará afirmou que os agentes foram "afastados das funções" e um "Processo Administrativo Disciplinar (PAD)" continua em andamento. A PM do Pará afirmou que a Corregedoria investiga o episódio.
Para o pesquisador e professor da Universidade Federal de Roraima Rodrigo Chagas, o envolvimento dos policiais com os garimpos começa com os "bicos", serviços realizados fora do expediente:
- É normal que o bico em Roraima seja em garimpos. É uma estrutura histórica: os policiais são os operadores dos donos do garimpo que são empresários e políticos.
Outro caso foi exposto em novembro de 2024, quando a PF saiu às ruas para prender dois oficiais da Polícia Militar do Pará - um coronel e um tenente-coronel chefes de batalhões em Itaituba - e cumprir buscas contra um major, um capitão, quatro sargentos e um cabo. A decisão judicial ainda mandava o governo do Pará afastar 35 PMs do cargo. O motivo: os oficiais forneciam suporte logístico e segurança a mineradoras ilegais na região da Rodovia Transgarimpeira, onde eles eram considerados a "lei". Parte do ouro dessas empresas vinha da Terra Indígena Munduruku, segundo a PF.
De acordo com a decisão judicial, o coronel usava sua "posição hierárquica" para "deslocar praças e oficiais da instituição para atender aos interesses de mineradoras". A partir de uma interceptação telefônica, a PF identificou que uma viatura oficial foi colocada à disposição para a retirada de ouro. Segundo relatório da PF, o "apoio" da PM se dava nos dias de pagamento dos garimpeiros. Em nota divulgada na época, a PM do Pará informou que afastou os agentes e exonerou os militares que exerciam função de comando.
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/06/08/pf-investiga-atuacao-de-milicias-do-garimpo-na-amazonia.ghtml
Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.