De Pueblos Indígenas en Brasil
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Noticias
Centro para documentação de línguas indígenas é criado em São Paulo
24/05/2025
Fonte: Portal Amazonia - https://portalamazonia.com
Foi lançado, com investimento de R$ 14,5 milhões da FAPESP, o Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas do Brasil, no dia 20 de maio. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Museu da Língua Portuguesa e o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e busca pesquisar, documentar e difundir a diversidade linguística e cultural dos povos originários do Brasil.
Durante o evento, representantes da FAPESP e do Ministério dos Povos Indígenas assinaram um Protocolo de Intenções para fortalecer a cooperação em pesquisas e a difusão de conhecimento sobre os povos indígenas do Brasil.
Na ocasião, a ministra Sônia Guajajara ressaltou que o centro representa resistência e reconhecimento da importância dos povos indígenas, destacando que suas línguas são "bibliotecas vivas", uma cosmovisão, e que seu desaparecimento significa a perda de um universo de conhecimento.
"Hoje é um dia de celebrar e agradecer, pois marca não apenas o lançamento de um centro de documentação, mas o florescer de uma memória viva, de um compromisso com o futuro", afirmou Guajajara.
"O centro nasce do encontro de instituições que compreendem o valor que os povos indígenas carregam. Língua não é só estrutura gramatical. É território, é identidade, é forma de viver e sentir o mundo. Por isso, este centro nasce como semente que vai germinar conhecimento, políticas públicas, materiais pedagógicos e, acima de tudo, reconhecimento", completou a ministra.
Leia também: Língua de povo indígena na Amazônia é considerada a mais difícil do mundo
Embora seja reconhecido como um país com dimensões continentais e uma única língua, o português, o fato é que o Brasil é um dos lugares mais multilíngues do mundo. Os mais de 300 povos indígenas que habitam o país falam 274 línguas - das quais, estima-se, cerca de 20% nunca foram estudadas e correm o risco de desaparecer.
Dessa forma, o novo centro busca documentar não apenas as palavras, mas também registrar o uso desses termos no contexto das culturas indígenas.
Leia também: Conheça cinco línguas indígenas extintas na Amazônia
A ideia, portanto, é catalogar - por meio de textos, áudios e vídeos - as artes verbais indígenas, como os processos de fabricação de objetos, as práticas de ocupação territorial, manejo agroflorestal e de produção de alimentos, por exemplo.
"A ciência e a tecnologia têm um papel estratégico na preservação e difusão de línguas indígenas. A antropologia e a linguística, entre outras áreas do conhecimento, associadas às tecnologias digitais e de comunicação, possibilitarão que a sociedade conheça e valorize as línguas e os conhecimentos tradicionais, blindando as culturas originárias do risco do esquecimento", disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.
Nesse sentido, o projeto atuará em três frentes: pesquisa e documentação, construção de um repositório digital de acesso gratuito e comunicação cultural. Com um plano de trabalho de cinco anos, o objetivo é que o repositório digital seja mais do que um arquivo: um espaço de constante compartilhamento entre a comunidade acadêmica e os povos indígenas. Vale destacar que o protagonismo ficará com as comunidades indígenas, visto que caberá aos próprios povos originários escolher sobre os conteúdos e decidir se o material poderá ou não ser acessado publicamente.
Presente no evento, a artista visual Daiara Tukano enfatizou que o projeto representa uma conquista democrática e uma construção coletiva, reforçando que "a cultura indígena não é relíquia, mas pulsação, presente e futuro".
"Quando eu nasci, nós éramos considerados incapazes sob a tutela do Estado para defender a possibilidade de termos direitos. E hoje estamos aqui com a nossa ministra dos Povos Indígenas lançando um centro sobre a cultura indígena com o protagonismo indígena. Isso é uma caminhada da construção da nossa democracia, da nossa capacidade de construirmos um Brasil juntos, porque somos frutos desta terra - como diz o Davi Kopenawa. Nós fazemos parte de uma árvore de muitos conhecimentos. A língua é nosso espírito, é a continuidade de nossos povos", disse Tukano.
As coleções digitais serão constituídas a partir da pesquisa e documentação linguística, com foco nos territórios indígenas localizados em Rondônia e na Região das Guianas, importantes áreas multilíngues do país. "Essas são as duas maiores regiões multilíngues do Brasil em termos de números de línguas e de diversidade de famílias linguísticas. São também áreas que estão sofrendo pressões de forças econômicas, como a exploração de petróleo, que, sabemos, devem gerar deslocamentos e mudar as configurações socioambientais", afirmou Maria Luisa Lucas, responsável pela área de antropologia do novo centro.
Eduardo Góes Neves, diretor do MAE-USP, afirmou não ter conhecimento de outras instituições no mundo que lidem com linguagem e cultura indígenas na mesma magnitude que o novo centro fará. Ele também destacou outras inovações da iniciativa. "Geralmente, somos nós os pesquisadores que procuramos a FAPESP com uma ideia de projeto. Nesse caso, foi a FAPESP que nos procurou. Inicialmente a ideia do professor Zago era criar um centro de documentação de línguas. Mas a gente pensou que seria importante fazer também o registro do conhecimento associado a essas línguas, afinal não existe língua sem cultura", contou.
Leia também: Tecnologia social: conheça a plataforma com sete Dicionários para Línguas Indígenas
A partir daí, surgiu a parceria do MAE-USP com o Museu da Língua Portuguesa, algo também inédito. "O Museu da Língua Portuguesa tem um trabalho fantástico de comunicação e de exposições impressionantes. Já o MAE tem um acervo muito rico. Acredito que essa combinação vai trazer muitos resultados", comemorou Neves.
Renata Motta, diretora-executiva do Museu da Língua Portuguesa, ressaltou a capacidade de registro e difusão do conhecimento indígena que o centro terá. "Trata-se de uma iniciativa inovadora, sediada em dois museus, que articula pesquisa, documentação e difusão cultural com o objetivo de fortalecer as línguas e os conhecimentos dos povos indígenas, no espírito da Década Internacional das Línguas Indígenas, instituída pela Unesco. Diante do desafio de memórias historicamente inviabilizadas, que não podemos acessar, respondemos com o compromisso de, como diz poeticamente o artista indígena Gustavo Caboclo: plantar terreiros digitais", comentou Motta.
"Estamos em plena Década Internacional das Línguas Indígenas e o lançamento do centro ecoa esse chamado global. É o Brasil assumindo o seu compromisso com a diversidade, com a justiça linguística e com a dignidade dos povos indígenas. Seguimos assim resistentes reflorestando as palavras e os corações para descolonizar os saberes e reafirmar que a cultura indígena não é relíquia, é pulsação, é presente e é futuro", concluiu a ministra.
https://portalamazonia.com/educacao/centro-documentacao-linguas-indigenas/
O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP
Durante o evento, representantes da FAPESP e do Ministério dos Povos Indígenas assinaram um Protocolo de Intenções para fortalecer a cooperação em pesquisas e a difusão de conhecimento sobre os povos indígenas do Brasil.
Na ocasião, a ministra Sônia Guajajara ressaltou que o centro representa resistência e reconhecimento da importância dos povos indígenas, destacando que suas línguas são "bibliotecas vivas", uma cosmovisão, e que seu desaparecimento significa a perda de um universo de conhecimento.
"Hoje é um dia de celebrar e agradecer, pois marca não apenas o lançamento de um centro de documentação, mas o florescer de uma memória viva, de um compromisso com o futuro", afirmou Guajajara.
"O centro nasce do encontro de instituições que compreendem o valor que os povos indígenas carregam. Língua não é só estrutura gramatical. É território, é identidade, é forma de viver e sentir o mundo. Por isso, este centro nasce como semente que vai germinar conhecimento, políticas públicas, materiais pedagógicos e, acima de tudo, reconhecimento", completou a ministra.
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Embora seja reconhecido como um país com dimensões continentais e uma única língua, o português, o fato é que o Brasil é um dos lugares mais multilíngues do mundo. Os mais de 300 povos indígenas que habitam o país falam 274 línguas - das quais, estima-se, cerca de 20% nunca foram estudadas e correm o risco de desaparecer.
Dessa forma, o novo centro busca documentar não apenas as palavras, mas também registrar o uso desses termos no contexto das culturas indígenas.
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A ideia, portanto, é catalogar - por meio de textos, áudios e vídeos - as artes verbais indígenas, como os processos de fabricação de objetos, as práticas de ocupação territorial, manejo agroflorestal e de produção de alimentos, por exemplo.
"A ciência e a tecnologia têm um papel estratégico na preservação e difusão de línguas indígenas. A antropologia e a linguística, entre outras áreas do conhecimento, associadas às tecnologias digitais e de comunicação, possibilitarão que a sociedade conheça e valorize as línguas e os conhecimentos tradicionais, blindando as culturas originárias do risco do esquecimento", disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.
Nesse sentido, o projeto atuará em três frentes: pesquisa e documentação, construção de um repositório digital de acesso gratuito e comunicação cultural. Com um plano de trabalho de cinco anos, o objetivo é que o repositório digital seja mais do que um arquivo: um espaço de constante compartilhamento entre a comunidade acadêmica e os povos indígenas. Vale destacar que o protagonismo ficará com as comunidades indígenas, visto que caberá aos próprios povos originários escolher sobre os conteúdos e decidir se o material poderá ou não ser acessado publicamente.
Presente no evento, a artista visual Daiara Tukano enfatizou que o projeto representa uma conquista democrática e uma construção coletiva, reforçando que "a cultura indígena não é relíquia, mas pulsação, presente e futuro".
"Quando eu nasci, nós éramos considerados incapazes sob a tutela do Estado para defender a possibilidade de termos direitos. E hoje estamos aqui com a nossa ministra dos Povos Indígenas lançando um centro sobre a cultura indígena com o protagonismo indígena. Isso é uma caminhada da construção da nossa democracia, da nossa capacidade de construirmos um Brasil juntos, porque somos frutos desta terra - como diz o Davi Kopenawa. Nós fazemos parte de uma árvore de muitos conhecimentos. A língua é nosso espírito, é a continuidade de nossos povos", disse Tukano.
As coleções digitais serão constituídas a partir da pesquisa e documentação linguística, com foco nos territórios indígenas localizados em Rondônia e na Região das Guianas, importantes áreas multilíngues do país. "Essas são as duas maiores regiões multilíngues do Brasil em termos de números de línguas e de diversidade de famílias linguísticas. São também áreas que estão sofrendo pressões de forças econômicas, como a exploração de petróleo, que, sabemos, devem gerar deslocamentos e mudar as configurações socioambientais", afirmou Maria Luisa Lucas, responsável pela área de antropologia do novo centro.
Eduardo Góes Neves, diretor do MAE-USP, afirmou não ter conhecimento de outras instituições no mundo que lidem com linguagem e cultura indígenas na mesma magnitude que o novo centro fará. Ele também destacou outras inovações da iniciativa. "Geralmente, somos nós os pesquisadores que procuramos a FAPESP com uma ideia de projeto. Nesse caso, foi a FAPESP que nos procurou. Inicialmente a ideia do professor Zago era criar um centro de documentação de línguas. Mas a gente pensou que seria importante fazer também o registro do conhecimento associado a essas línguas, afinal não existe língua sem cultura", contou.
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A partir daí, surgiu a parceria do MAE-USP com o Museu da Língua Portuguesa, algo também inédito. "O Museu da Língua Portuguesa tem um trabalho fantástico de comunicação e de exposições impressionantes. Já o MAE tem um acervo muito rico. Acredito que essa combinação vai trazer muitos resultados", comemorou Neves.
Renata Motta, diretora-executiva do Museu da Língua Portuguesa, ressaltou a capacidade de registro e difusão do conhecimento indígena que o centro terá. "Trata-se de uma iniciativa inovadora, sediada em dois museus, que articula pesquisa, documentação e difusão cultural com o objetivo de fortalecer as línguas e os conhecimentos dos povos indígenas, no espírito da Década Internacional das Línguas Indígenas, instituída pela Unesco. Diante do desafio de memórias historicamente inviabilizadas, que não podemos acessar, respondemos com o compromisso de, como diz poeticamente o artista indígena Gustavo Caboclo: plantar terreiros digitais", comentou Motta.
"Estamos em plena Década Internacional das Línguas Indígenas e o lançamento do centro ecoa esse chamado global. É o Brasil assumindo o seu compromisso com a diversidade, com a justiça linguística e com a dignidade dos povos indígenas. Seguimos assim resistentes reflorestando as palavras e os corações para descolonizar os saberes e reafirmar que a cultura indígena não é relíquia, é pulsação, é presente e é futuro", concluiu a ministra.
https://portalamazonia.com/educacao/centro-documentacao-linguas-indigenas/
O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP
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