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'Será histórica, mas precisamos fazer o que tem que ser feito', diz Txai Suruí sobre COP 30

28/08/2025

Autor: Ana Carolina Vasconcelos e Lucas Salum

Fonte: Brasil de Fato - https://www.brasildefato.com.br/



'Será histórica, mas precisamos fazer o que tem que ser feito', diz Txai Suruí sobre COP 30
Ativista indígena também comenta sobre exposição 'Paiter Suruí: Gente de Verdade', em cartaz em SP

Está em exibição até o dia 2 de novembro, em São Paulo, no Instituto Moreira Salles (IMS), a exposição Paiter Suruí: Gente de Verdade. São mais de 900 fotografias que narram a história desse povo, que vive majoritariamente em Rondônia, mas também em outras regiões amazônicas.

Txai Suruí, liderança indígena e uma das organizadoras da exposição, destaca que, na verdade, as imagens simbolizam um grande álbum de família e demonstram como é diferente quando os próprios povos tradicionais contam a sua própria história.

"As fotos contam parte da história do nosso estado, Rondônia, parte da história do Brasil, e o outro lado da colonização, mas também como nós, Paiter Suruí, nos vemos e entendemos. Por muito tempo, a história foi contada pelo olhar do outro. Nunca pelo nosso olhar. A partir das fotos também temos outro olhar sobre os povos indígenas. Nossa exposição é diferente de outras sobre povos indígenas em museus", explica, em entrevista ao programa Conversa Bem Viver, da Rádio Brasil de Fato.

Txai foi a primeira indígena brasileira a discursar em uma Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em 2021. Às vésperas do início da COP 30 em Belém, ela conta quais são as expectativas.

"Muitas vezes, é difícil acreditar em soluções nesse contexto tão difícil, mas a COP na Amazônia será histórica. Precisamos implementar, de fato, o que já sabemos que precisa ser feito. Todos sabem que as emergências climáticas são reais. E sabemos o que fazer, já existiam metas que não foram cumpridas. O que falta então? Mas eu espero bons resultados dessa COP, porque é na dificuldade que, às vezes, conseguimos algo", avalia.

Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato - Sobre o que trata a exposição?

Txai Suruí - Essa exposição surgiu há muito tempo, com uma bolsa que recebemos do IMS e da revista Zum. Começamos a montar esse acervo fotográfico em várias casas e aldeias, coletando imagens desde a época do contato, quando chegaram as primeiras câmeras trazidas por missionários e antropólogos, que nos deixaram câmeras e começamos a fotografar.

No início, acreditava-se que a fotografia roubava a alma das pessoas, reduzindo sua vida. Hoje, a câmera se tornou um instrumento de luta, para mostrarmos quem somos.

As fotos contam parte da história do nosso estado, Rondônia, parte da história do Brasil, e o outro lado da colonização, mas também como nós, Paiter Suruí, nos vemos e entendemos. Por muito tempo, a história foi contada pelo olhar do outro. Nunca pelo nosso olhar.

A partir das fotos também temos um outro olhar sobre os povos indígenas. Nossa exposição é diferente de outras sobre povos indígenas em museus. É muito mais pessoal, como um grande álbum de família, que busca se aproximar de quem está olhando. Em muitas exposições tradicionais, o indígena é mostrado de forma estereotipada, sem nome, como algo distante e exótico. Na nossa, há riso, brincadeiras, movimento e intimidade. Isso muda completamente a perspectiva. É outra forma de ver a fotografia. Tem uma foto em que estão olhando para a parede, em vez de olhar para a câmera, porque havia ali o desenho de uma cachoeira.

É muito diferente quando a gente conta a nossa própria história.

Apesar dos avanços após a Constituição de 1988, ainda vemos muito estereótipo em relação às pessoas indígenas. Como a exposição mostra a necessidade de descolonizar nosso olhar?

A mostra também traz imagens atuais. Meu primo Ubiratan Suruí, primeiro fotógrafo profissional do nosso povo, foi essencial para essa exposição. Também buscamos resgatar registros antigos feitos por missionários e antropólogos. Parte desse material ficou com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) Goiás, que as preservou. Antigamente, as pessoas entravam e fotografavam sem autorização, mas hoje não é mais assim. E a PUC sempre foi solícita, porque entendia a situação. Pedimos a devolução, porque essas fotos também fazem parte do nosso álbum de família. Hoje, conseguimos resgatar muitas e mostrar aos mais velhos, que recontaram histórias a partir delas. Tinham fotos muito antigas e sensíveis. Todas já haviam sido digitalizadas pela PUC.

Foi emocionante mostrar as fotos, porque muitos lembraram pessoas e histórias. É importante não só para apoiadores externos, mas para os próprios Paiter Suruí conhecerem sua história, entenderem como foi o contato - momento muito difícil para o nosso povo que foi quase dizimado - mas também saberem como resistimos e nos tornamos resilientes. Hoje somos referência em projetos de reflorestamento, restauração e proteção ambiental com tecnologia.

A diferença entre as terras indígenas dos Paiter Suruí, em termos de recuperação ambiental, e as dos vizinhos é visível em imagens de satélite. Como é a relação com os fazendeiros vizinhos, que muitas vezes têm visões de mundo antagônicas?

É muito difícil. Tentamos dialogar e explicar a importância de cuidar da natureza no momento em que vivemos, mas enfrentamos problemas graves, principalmente o garimpo ilegal. Fizemos um relatório com a Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz] mostrando o impacto das mudanças climáticas sobre os povos indígenas, que mostra as consequências do garimpo para o nosso povo.

Em algumas aldeias onde aconteceu a pesquisa, 100% das pessoas estavam contaminadas, em níveis prejudiciais à saúde. Essa exposição também é para chamar a atenção para isso e permitir que as pessoas vejam as consequências. Nós já reflorestamos mais de um milhão de árvores, é uma ilha de floresta, mas ainda vivemos nessa situação. Não queremos que chegue em uma situação como a que chegou a dos Yanomami. O relatório é um alerta para isso.

O garimpo traz violência, impacto na saúde, prejudica a biodiversidade, conflito interno, destruição ambiental, envenenamento dos rios, e não representa emprego para o nosso povo. Apenas 10% dos Paiter Suruí já trabalharam nisso. A maioria se dedica à agricultura familiar e a tradições próprias. Não queremos esse modelo. E muitos outros povos também não querem. Na exposição também mostramos soluções, falamos de mudanças climáticas antes mesmo de isso ser comum.

Você foi a primeira mulher indígena brasileira a discursar em uma conferência da ONU sobre o clima, na COP 26. Agora estamos às vésperas da COP 30, pela primeira vez no Brasil, em Belém. Você está mais esperançosa?

Mais esperançosa, eu não sei. Mas não podemos desacreditar. Em 2021, quando fiz a fala na COP, vivíamos um momento muito difícil, com retrocessos políticos e assassinatos de lideranças. Eu falei sobre a importância de ouvir a floresta e de estarmos nas mesas de decisões.

De lá para cá, o cenário mundial piorou, com guerras, o governo [de Donald] Trump], dos Estados Unidos, que quer explorar petróleo, e no Brasil, o Congresso defendendo o marco temporal e retrocessos ambientais, como o PL [Projeto de Lei] da Devastação. Muitas vezes, é difícil acreditar em soluções nesse contexto tão difícil, mas a COP na Amazônia será histórica. Vai ser histórica porque será na Amazônia e isso tem sim um peso, apesar das dificuldades. Será em um país democrático, com grande participação da sociedade civil, apesar de sempre ter sido difícil para nós acessarmos esses espaços.

Precisamos implementar de fato o que já sabemos que precisa ser feito. Todos sabem que não dá para negar o que está acontecendo no mundo e que as emergências climáticas são reais. Está tendo enchentes, secas, queimadas. E sabemos o que fazer, já existiam metas que não foram cumpridas. O que falta então? É a ganância? Mas eu espero bons resultados dessa COP, porque é na dificuldade que, às vezes, conseguimos algo.

Como sociedade, temos que fazer pressão e cobrar, não só na COP, mas também nas eleições. Temos que cobrar governantes, Congresso, empresas e também rever nosso consumo. O mundo precisa passar por uma transformação na forma como tratamos o nosso planeta. Já passamos do 1,5oC global, o que significa 5oC a mais em Rondônia, por exemplo.

Editado por: Monyse Ravena

https://www.brasildefato.com.br/podcast/bem-viver/2025/08/28/sera-historica-mas-precisamos-fazer-o-que-tem-que-ser-feito-diz-txai-surui-sobre-cop-30/
 

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