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Ribeirinhos do Velho Chico denunciam vazão desordenada e graves impactos. Depois de 76 anos, Chesf acabou e agora é Axia
06/11/2025
Autor: Cristian Góes
Fonte: Mangue Jornalismo -https://manguejornalismo.org/
Ribeirinhos do Velho Chico denunciam vazão desordenada e graves impactos. Depois de 76 anos, Chesf acabou e agora é Axia
Amanhã, sexta-feira, dia 7, às 9 horas, pescadores, quilombolas e comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco vão ocupar a Assembleia Legislativa de Sergipe e participar de uma audiência pública convocada pela deputada Linda Brasil (Psol). Eles vão denunciar a desastrosa gestão da então Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), responsável pela vazão das águas do Velho Chico, que tem produzido graves impactos ambientais e sociais em toda região do Baixo São Francisco.
"Pesca quase não existe e até a água está impossível de beber. Muita gente está passando necessidade", afirmou Maria Aparecida, presidenta da Associação de Pescadores e Pescadoras Ribeirinhas de Saramém/Resina, em Brejo Grande/SE. "Essa redução da vazão e os seus reflexos a gente que mora aqui na beira do rio vê todo dia", confirma Damião Rodrigues, agente de saúde em Poço Redondo/SE e do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).
Em outubro do ano passado, a Mangue Jornalismo publicou uma reportagem exclusiva mostrando que o Rio São Francisco está secando. A pesquisa, coordenada pelos professores Humberto Barbosa e Catarina Buriti, alerta que a vazão anual do São Francisco diminuiu 60%, em média, nas últimas três décadas. O estudo também revela que, apenas entre os anos 2012-2020, houve uma perda de 15% de cobertura vegetal nessa bacia hidrográfica.
Na audiência na Assembleia Legislativa, as organizações vão denunciar os impactos da constante vazão desordenada da Chesf no Rio São Francisco, que afeta milhares de famílias ribeirinhas, pescadores, quilombolas e pequenos comerciantes. Segundo o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, as variações na vazão do rio têm provocado o desaparecimento de espécies nativas de peixes, comprometendo a pesca artesanal e a segurança alimentar.
Além disso, a desregulação do fluxo do rio gera bancos de areia e intensifica a seca, afetando o equilíbrio ecológico e o acesso à água de qualidade. Essas mudanças também resultam em prejuízos socioeconômicos para essas comunidades, que enfrentam perdas e incertezas diante da imprevisibilidade da vazão.
Nos últimos anos, a instabilidade na vazão da Usina Hidrelétrica de Xingó tem sido alvo de denúncias e mediações. No ano passado, por exemplo, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) precisou intervir para mediar conflitos entre comunidades e a empresa.
O Ministério Público Federal (MPF) também recomendou à Chesf que informasse previamente a população sobre as alterações repentinas de vazão. Mesmo diante dessas recomendações, segundo os ribeirinhos, a Chesf mantém uma postura de pouca transparência e desconsideração com as comunidades afetadas.
Além disso, estudos apontam que o volume de água do Rio São Francisco foi reduzido em mais da metade nos últimos anos, agravado pelas mudanças climáticas e pela má gestão dos recursos hídricos. O cenário afeta diretamente o modo de vida de quem vive da pesca, planta e sobrevive da força e da generosidade do Velho Chico.
Para o padre Isaías Nascimento, que atua em várias comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco em Sergipe, a baixa vazão do rio apresenta várias consequências, como "o acelerado assoreamento, o fim do peixe e a poluição da água. Ou seja, a vida na sua integralidade está ameaçada", afirma Isaías.
"Os empreendimentos de energia e a carcinicultura têm ditado o ritmo da degradação do Velho Chico e do agravamento da vulnerabilidade socioambiental das comunidades tradicionais espalhadas nas margens do rio", avalia o biólogo Leandro Pel, que também colabora com o Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe.
Depois de 76 anos, Chesf acabou e agora é Axia Energia
Talvez, para piorar a situação, na última semana a marca Chesf deixou de existir depois de 76 anos de criada. Com a privatização da Eletrobras em 2022 pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a Chesf e outras subsidiárias vinculadas holding Eletrobras (Eletrosul, Eletronorte e Furnas) passaram a se chamar de Axia Energia.
A Chesf nasceu em 1948 e passou mais se sete décadas iluminando e levando energia, progresso e transformação econômica em toda região de influência do Rio São Francisco. A privatização da Eletrobras/Chesf deve também ser um dos pontos da audiência pública que será realizada amanhã na Assembleia Legislativa às 9 horas O encontro foi motivado e mobilizado pelo Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras da Bahia e Sergipe (CPP) e o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP).
Segundo nota oficial da Axia, a companhia passou a ser a maior empresa de energia renovável no Hemisfério Sul, responde por 17% da capacidade de geração nacional e 37% do total de linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN). A agora Axia possui 81 usinas, sendo 47 hídricas, 33 eólicas e uma solar. Ainda de acordo com comunicado divulgado pela empresa, Axia "vem do grego e significa 'valor', carrega a ideia de eixo - de conexão, articulação e centralidade". A companhia ressalta que a alteração de marca não implica qualquer mudança nos compromissos contratuais, empresariais ou regulatórios.
Atualmente, o chamado Grupo Governo, composto por acionistas como a União, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Banco do Nordeste, BB Asset, Caixa Asset, fundos de previdência da Petrobras (Petros) e do Banco do Brasil (Previ), detém apenas 41,4% das ações totais da Axia e somente 14% das ações preferenciais (com poder de voto).
Durante o processo de privatização, o governo permitiu que trabalhadores investissem parte do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Eletrobras, negociadas na bolsa de valores com o código (ticker) ELET. A partir de 10 de novembro, os papéis receberão o ticker AXIA.
O São Francisco é um rio totalmente brasileiro, é o 5o maior do país e forma a 3ª maior bacia hidrográfica. Ele tem 168 rios afluentes, abrange 505 municípios dos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, além de Goiás e Brasília. O Velho Chico percorre 2.863 km, grande parte no semiárido, correspondendo a 8% do território nacional até desaguar no Oceano Atlântico.
https://manguejornalismo.org/ribeirinhos-do-velho-chico-denunciam-vazao-desordenada-e-graves-impactos-depois-de-76-anos-chesf-acabou-e-agora-e-axia/
Amanhã, sexta-feira, dia 7, às 9 horas, pescadores, quilombolas e comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco vão ocupar a Assembleia Legislativa de Sergipe e participar de uma audiência pública convocada pela deputada Linda Brasil (Psol). Eles vão denunciar a desastrosa gestão da então Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), responsável pela vazão das águas do Velho Chico, que tem produzido graves impactos ambientais e sociais em toda região do Baixo São Francisco.
"Pesca quase não existe e até a água está impossível de beber. Muita gente está passando necessidade", afirmou Maria Aparecida, presidenta da Associação de Pescadores e Pescadoras Ribeirinhas de Saramém/Resina, em Brejo Grande/SE. "Essa redução da vazão e os seus reflexos a gente que mora aqui na beira do rio vê todo dia", confirma Damião Rodrigues, agente de saúde em Poço Redondo/SE e do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).
Em outubro do ano passado, a Mangue Jornalismo publicou uma reportagem exclusiva mostrando que o Rio São Francisco está secando. A pesquisa, coordenada pelos professores Humberto Barbosa e Catarina Buriti, alerta que a vazão anual do São Francisco diminuiu 60%, em média, nas últimas três décadas. O estudo também revela que, apenas entre os anos 2012-2020, houve uma perda de 15% de cobertura vegetal nessa bacia hidrográfica.
Na audiência na Assembleia Legislativa, as organizações vão denunciar os impactos da constante vazão desordenada da Chesf no Rio São Francisco, que afeta milhares de famílias ribeirinhas, pescadores, quilombolas e pequenos comerciantes. Segundo o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, as variações na vazão do rio têm provocado o desaparecimento de espécies nativas de peixes, comprometendo a pesca artesanal e a segurança alimentar.
Além disso, a desregulação do fluxo do rio gera bancos de areia e intensifica a seca, afetando o equilíbrio ecológico e o acesso à água de qualidade. Essas mudanças também resultam em prejuízos socioeconômicos para essas comunidades, que enfrentam perdas e incertezas diante da imprevisibilidade da vazão.
Nos últimos anos, a instabilidade na vazão da Usina Hidrelétrica de Xingó tem sido alvo de denúncias e mediações. No ano passado, por exemplo, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) precisou intervir para mediar conflitos entre comunidades e a empresa.
O Ministério Público Federal (MPF) também recomendou à Chesf que informasse previamente a população sobre as alterações repentinas de vazão. Mesmo diante dessas recomendações, segundo os ribeirinhos, a Chesf mantém uma postura de pouca transparência e desconsideração com as comunidades afetadas.
Além disso, estudos apontam que o volume de água do Rio São Francisco foi reduzido em mais da metade nos últimos anos, agravado pelas mudanças climáticas e pela má gestão dos recursos hídricos. O cenário afeta diretamente o modo de vida de quem vive da pesca, planta e sobrevive da força e da generosidade do Velho Chico.
Para o padre Isaías Nascimento, que atua em várias comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco em Sergipe, a baixa vazão do rio apresenta várias consequências, como "o acelerado assoreamento, o fim do peixe e a poluição da água. Ou seja, a vida na sua integralidade está ameaçada", afirma Isaías.
"Os empreendimentos de energia e a carcinicultura têm ditado o ritmo da degradação do Velho Chico e do agravamento da vulnerabilidade socioambiental das comunidades tradicionais espalhadas nas margens do rio", avalia o biólogo Leandro Pel, que também colabora com o Fórum de Povos e Comunidades Tradicionais de Sergipe.
Depois de 76 anos, Chesf acabou e agora é Axia Energia
Talvez, para piorar a situação, na última semana a marca Chesf deixou de existir depois de 76 anos de criada. Com a privatização da Eletrobras em 2022 pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), a Chesf e outras subsidiárias vinculadas holding Eletrobras (Eletrosul, Eletronorte e Furnas) passaram a se chamar de Axia Energia.
A Chesf nasceu em 1948 e passou mais se sete décadas iluminando e levando energia, progresso e transformação econômica em toda região de influência do Rio São Francisco. A privatização da Eletrobras/Chesf deve também ser um dos pontos da audiência pública que será realizada amanhã na Assembleia Legislativa às 9 horas O encontro foi motivado e mobilizado pelo Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras da Bahia e Sergipe (CPP) e o Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP).
Segundo nota oficial da Axia, a companhia passou a ser a maior empresa de energia renovável no Hemisfério Sul, responde por 17% da capacidade de geração nacional e 37% do total de linhas de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN). A agora Axia possui 81 usinas, sendo 47 hídricas, 33 eólicas e uma solar. Ainda de acordo com comunicado divulgado pela empresa, Axia "vem do grego e significa 'valor', carrega a ideia de eixo - de conexão, articulação e centralidade". A companhia ressalta que a alteração de marca não implica qualquer mudança nos compromissos contratuais, empresariais ou regulatórios.
Atualmente, o chamado Grupo Governo, composto por acionistas como a União, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Banco do Nordeste, BB Asset, Caixa Asset, fundos de previdência da Petrobras (Petros) e do Banco do Brasil (Previ), detém apenas 41,4% das ações totais da Axia e somente 14% das ações preferenciais (com poder de voto).
Durante o processo de privatização, o governo permitiu que trabalhadores investissem parte do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em ações da Eletrobras, negociadas na bolsa de valores com o código (ticker) ELET. A partir de 10 de novembro, os papéis receberão o ticker AXIA.
O São Francisco é um rio totalmente brasileiro, é o 5o maior do país e forma a 3ª maior bacia hidrográfica. Ele tem 168 rios afluentes, abrange 505 municípios dos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, além de Goiás e Brasília. O Velho Chico percorre 2.863 km, grande parte no semiárido, correspondendo a 8% do território nacional até desaguar no Oceano Atlântico.
https://manguejornalismo.org/ribeirinhos-do-velho-chico-denunciam-vazao-desordenada-e-graves-impactos-depois-de-76-anos-chesf-acabou-e-agora-e-axia/
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