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Bastos promete demarcar terras indígenas até 2006

15/08/2004

Fonte: O Globo, O País, p. 2 e 9



Bastos promete demarcar terras indígenas até 2006
Cachimbo da paz: o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dá uma baforada no longo cigarro de fumo de rolo na aldeia Camauirá, no Parque Nacional do Xingu, no último dia da festa do Quarup, que este ano homenageou quatro líderes indígenas locais e o presidente das organizações Globo, Roberto Marinho, falecido em Agosto de 2003.

Em cerimônia do Quarup, ministro disse que governo vai implementar um plano de proteção das nascentes dos rios do Xingu

Aldeia Camauirá (MT). O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, afirmou ontem que até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o governo concluirá o processo de demarcação de terras indígenas no país. Na solenidade de encerramento do Quarup, Bastos prometeu também implementar um conjunto de medidas de proteção às nascentes dos rios do Parque Nacional do Xingu, ameaçados pela expansão agrícola da região. Cinco mortos foram homenageados no Quarup deste ano: quatro líderes indígenas locais e Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, falecido em agosto de 2003.
- Até o fim do mandato do presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) nós pretendemos ter demarcado, homologado e pacificado todas as terras indígenas - disse Bastos num discurso no centro da aldeia Camauirá, palco do Quarup.

Segundo o ministro, o governo não poupará esforços para pagar a dívida secular que o Estado brasileiro tem com os índios. Bastos agradou especialmente aos índios quando anunciou que a Fundação Nacional do Índio (Funai) vai preparar e implementar um plano de proteção das nascentes dos rios do Xingu.

WWF-Brasil vai colaborar na preservação do Rio Xingu

O vice-presidente das Organizações Globo José Roberto Marinho, que também participou do Quarup, disse que o WWF-Brasil (Fundo Mundial de Proteção à Natureza), uma das mais atuantes organizações ambientalistas do país, vai colaborar com a Funai neste projeto.
- Quero oferecer à Funai apoio para a preservação do Rio Xingu - disse José Roberto, conselheiro do WWF-Brasil.

Os índios reclamam que a expansão da fronteira agrícola na região tem provocado sérios danos ambientais à maior reserva indígena do país. Eles alegam que agrotóxicos usados nas grandes plantações de soja do Mato Grosso estão contaminando o Xingu e outros rios da reserva.
- Eu sei que as plantações de soja são boas para o povo, mas eles (fazendeiros) têm que tomar cuidado porque o veneno jogado nas plantas vai para os rios quando chove - disse o cacique Aritana Yawalapiti, o principal líder dos quase cinco mil índios que vivem no Xingu.

Os agrotóxicos estariam contaminando as águas e provocando a diminuição do número de peixes. Os índios apontam o desmatamento desenfreado e a abertura de novas fazendas como responsáveis pelo começo de um perigoso processo de assoreamento de alguns rios.
As festividades do Quarup começaram há duas semanas e terminaram ontem. O último ciclo teve início na tarde de sábado, logo depois da chegada de Bastos e Marinho à aldeia. Dois índios, tocadores de flautas de quase dois metros de comprimento, passam pelas ocas convidando adolescentes para dançar. À noite, os familiares dos mortos se reúnem em volta de troncos postos no pátio central e choram pelos mortos.

Na manhã de domingo, o clima de luto desaparece e os guerreiros das várias tribos convidadas se enfrentam no Huka-Huka, uma luta tradicional dos índios da região. Depois dos combates os guerreiros se confraternizam e, a partir daí, os caciques começam a se preparar para o Quarup do ano seguinte.

'Esta homenagem nos deixou honrados'
Vice-presidente das Organizações Globo participa do Quarup que prestou tributo a Roberto Marinho

Aldeia Camauirá (MT). A decisão dos índios do Parque Nacional do Xingu de homenagear o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, falecido em agosto de 2003, no Quarup deste ano, emocionou José Roberto Marinho, filho dele e vice-presidente do grupo . Com seus três filhos e um sobrinho, José Roberto acompanhou os dois dias finais do ritual, encerrado ontem. A escolha dos índios foi elogiada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e pelo presidente da Funai, Mércio Pereira.
- Esta homenagem nos deixou honrados. Tem um significado muito especial para nossa família e para os índios. Para eles, é uma ponte para falar com o resto da sociedade e, para a gente, é uma oportunidade de conhecer um pouco da base do Brasil - disse José Roberto Marinho.

Ambientalista militante, José Roberto não teve problemas para se adaptar às normas do longo Quarup. Depois de tomar banho na lagoa da aldeia, José Roberto se deixou pintar com tintas de urucum e genipapo e sentou em silêncio em frente ao tronco que simbolizava a presença do pai morto. Mais tarde, na companhia de Bastos, deu algumas baforadas num longo cigarro de fumo de rolo oferecido por um dos índios. Compartilhar o cigarro é um gesto de boa vontade, conforme os costumes locais.

A idéia de homenagear Roberto Marinho foi do pajé Sapaim, da aldeia Camauirá. Ele disse que, embora não tenha conhecido Roberto Marinho pessoalmente, sonhou que um espírito pedia um tributo a ele.
- Eu contei o sonho paro povo e o povo disse: "Vamos fazer a homenagem para a alma dele viajar alegre". Aí, fizemos o Quarup para ele.

Darcy Ribeiro foi um dos homenageados do Quarup

A proposta foi endossada pelos caciques Aritana e Kotok, dois dos principais líderes do Xingu. Segundo Aritana, Roberto Marinho, embora não tenha sido um indigenista, ajudou a divulgar a causa.
- Ele ajudou os índios a ficarem mais conhecidos no Brasil - disse Aritana.
Segundo Thomaz Bastos, Roberto Marinho teve papel singular na história do país e, por isso, merece o reconhecimento dos índios do Xingu. Para o presidente da Funai, a homenagem a Roberto Marinho é um tributo dos índios à imprensa. Antes de Marinho, só Darcy Ribeiro, os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Bôas e Sullivam Silvestre, antropólogos e indigenistas, receberam o mesmo tratamento.

O Globo, 15/08/2004, O País, p. 2 e 9
 

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