De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
Em MS, índios recusam acordo proposto por juiz
10/01/2004
Fonte: OESP, Capa e Nacional, p.A1 e A7
Em MS, índios recusam acordo proposto por juiz
Eles avisam que não vão desocupar as áreas invadidas e não permitirão a entrada de funcionários
JOSÉ MARIA TOMAZELA. Enviado especial
JAPORÃ - Numa sala de audiência improvisada em um galpão rural, na Fazenda São Jorge, em Japorã (MS), quase na fronteira do Brasil com o Paraguai, ocupada desde o dia 22 de dezembro pelos caiovás-guaranis, o juiz federal Odilon de Oliveira ouviu ontem uma declaração de guerra dos índios.
Eles disseram que não vão desocupar pacificamente as 8 fazendas e 4 sítios que invadiram e também não permitirão que funcionários entrem para cuidar do gado e das lavouras. Os índios deram ainda um prazo máximo de 10 dias para que os proprietários retirem gado e bens das suas propriedades. E avisaram que não pretendem acatar uma eventual ordem de despejo.
"Nós vamos até o fim, vamos recuperar toda a terra que nos pertence", avisou o porta-voz Ambrósio Fernandes. O juiz, que foi à fazenda invadida sem segurança - três viaturas com agentes da Polícia Federal ficaram na estrada de acesso -, teve de caminhar mais de 2 quilômetros e dançar com os índios.
Depois se reuniu com advogados dos cerca de 80 fazendeiros que acompanhavam a movimentação à distância, e prometeu uma decisão rápida. "No máximo, até segunda-feira", anunciou.
Oliveira ainda sobrevoou a área de helicóptero, na companhia do superintendente da Polícia Federal, Wantuir Jacini, que foi para a região por determinação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. "Vamos mapear a área e buscar uma solução para o conflito", disse Jacini.
Tensão - A chegada do juiz e sua comitiva, que incluía o procurador da República Ramiro Rockembach da Silva, foi cercada de tensão. No dia anterior, os índios haviam retido durante mais de duas horas uma equipe de policiais militares e federais que fora até a fazenda vizinha, Chaparral. No grupo estava uma delegada da PF. Oliveira foi aconselhado pelos policiais a cancelar a audiência, mas não recuou.
Pintados para a guerra, nas cores preta e vermelha, cerca de 600 índios armados com arco e flecha, bordunas, lanças de ferro e facões, cercaram os veículos. Até desferiram flechadas contra um carro da da Justiça Federal que ficou com a porta danificada.
A tensão aumentou quando os índios se desentenderam sobre o local do encontro. O juiz e sua comitiva foram obrigados a deixar os carros na estrada e caminhar até a fazenda.
Oliveira improvisou um gabinete no galpão ocupado pelos índios. Com a ajuda de um microfone, expôs para o grupo seu objetivo de tentar uma conciliação nas ações de reintegração de posse movidas pelos donos de cinco propriedades invadidas. Uma a uma, as propostas de acordo foram sendo rejeitadas.
"É uma situação complicada, pois se os índios têm suas razões, os fazendeiros também", desabafou o juiz. "Minha preocupação é evitar o conflito, pois o risco é grande." Para ele, o problema está na Constituição que, nesse caso, não prevê o pagamento pela terra, apenas pelas benfeitorias.
Reação - Ele tentou convencer os índios a permitirem que empregados da São Jorge, de 1.600 hectares, cuidem do rebanho de 2.500 cabeças para evitar morte de bezerros. Segundo o porta-voz Fernandes, os caiovás recusaram porque já foram acusados injustamente de matar o gado.
Os fazendeiros e sitiantes reagiram com revolta diante da inflexibilidade dos índios. Depois de ensaiar o fechamento da estrada rural, eles afixaram faixas na cerca pedindo Justiça. "Fui expulso da propriedade onde vivo há 42 anos, mas quem vai pagar as minhas 85 cabeças de gado?", perguntava o sitiante José Joaquim Nascimento.
O produtor Alberi de Lima disse que está perdendo os 110 hectares de mandioca e perguntou: "Quem vai pagar o prejuízo?" O dono da Fazenda São José, Itamar Varago, acusou os índios de terem praticado violência contra ele e sua mulher.
Um grupo de fazendeiros reuniu-se no fim da tarde em Iguatemi. Eles decidiram esperar até segunda-feira por uma decisão da Justiça. "Depois, vamos agir por conta própria", ameaçou um deles.
Sem-terra tentam cobrar pedágio da comitiva
ITAQUIRAÍ - Um grupo de militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) tentou cobrar pedágio do juiz federal Odilon de Oliveira, diretor da Justiça Federal de Campo Grande, ontem, na BR-163, entre Itaquiraí e Eldorado. O veículo ocupado pelo juiz e pelo procurador da República Ramiro Rosemback da Silva chegou a ser parado pelo grupo, mas os sem-terra baixaram a corda depois que uma viatura da Polícia Federal, que o acompanhava, acionou a sirene. Os sem-terra, de um acampamento instalado na beira da rodovia, estavam parando os veículos desde o início da manhã. Portando foices e enxadas, exigiam o pagamento de valores entre R$ 1 e R$ 5 por veículo.
Alegavam que estavam sem alimentos. Assim que a caminhonete do juiz passou, os sem-terra voltaram a estender a corda na rodovia. (J.M.T.)
OESP, 10/01/2004, p. A7.
Eles avisam que não vão desocupar as áreas invadidas e não permitirão a entrada de funcionários
JOSÉ MARIA TOMAZELA. Enviado especial
JAPORÃ - Numa sala de audiência improvisada em um galpão rural, na Fazenda São Jorge, em Japorã (MS), quase na fronteira do Brasil com o Paraguai, ocupada desde o dia 22 de dezembro pelos caiovás-guaranis, o juiz federal Odilon de Oliveira ouviu ontem uma declaração de guerra dos índios.
Eles disseram que não vão desocupar pacificamente as 8 fazendas e 4 sítios que invadiram e também não permitirão que funcionários entrem para cuidar do gado e das lavouras. Os índios deram ainda um prazo máximo de 10 dias para que os proprietários retirem gado e bens das suas propriedades. E avisaram que não pretendem acatar uma eventual ordem de despejo.
"Nós vamos até o fim, vamos recuperar toda a terra que nos pertence", avisou o porta-voz Ambrósio Fernandes. O juiz, que foi à fazenda invadida sem segurança - três viaturas com agentes da Polícia Federal ficaram na estrada de acesso -, teve de caminhar mais de 2 quilômetros e dançar com os índios.
Depois se reuniu com advogados dos cerca de 80 fazendeiros que acompanhavam a movimentação à distância, e prometeu uma decisão rápida. "No máximo, até segunda-feira", anunciou.
Oliveira ainda sobrevoou a área de helicóptero, na companhia do superintendente da Polícia Federal, Wantuir Jacini, que foi para a região por determinação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. "Vamos mapear a área e buscar uma solução para o conflito", disse Jacini.
Tensão - A chegada do juiz e sua comitiva, que incluía o procurador da República Ramiro Rockembach da Silva, foi cercada de tensão. No dia anterior, os índios haviam retido durante mais de duas horas uma equipe de policiais militares e federais que fora até a fazenda vizinha, Chaparral. No grupo estava uma delegada da PF. Oliveira foi aconselhado pelos policiais a cancelar a audiência, mas não recuou.
Pintados para a guerra, nas cores preta e vermelha, cerca de 600 índios armados com arco e flecha, bordunas, lanças de ferro e facões, cercaram os veículos. Até desferiram flechadas contra um carro da da Justiça Federal que ficou com a porta danificada.
A tensão aumentou quando os índios se desentenderam sobre o local do encontro. O juiz e sua comitiva foram obrigados a deixar os carros na estrada e caminhar até a fazenda.
Oliveira improvisou um gabinete no galpão ocupado pelos índios. Com a ajuda de um microfone, expôs para o grupo seu objetivo de tentar uma conciliação nas ações de reintegração de posse movidas pelos donos de cinco propriedades invadidas. Uma a uma, as propostas de acordo foram sendo rejeitadas.
"É uma situação complicada, pois se os índios têm suas razões, os fazendeiros também", desabafou o juiz. "Minha preocupação é evitar o conflito, pois o risco é grande." Para ele, o problema está na Constituição que, nesse caso, não prevê o pagamento pela terra, apenas pelas benfeitorias.
Reação - Ele tentou convencer os índios a permitirem que empregados da São Jorge, de 1.600 hectares, cuidem do rebanho de 2.500 cabeças para evitar morte de bezerros. Segundo o porta-voz Fernandes, os caiovás recusaram porque já foram acusados injustamente de matar o gado.
Os fazendeiros e sitiantes reagiram com revolta diante da inflexibilidade dos índios. Depois de ensaiar o fechamento da estrada rural, eles afixaram faixas na cerca pedindo Justiça. "Fui expulso da propriedade onde vivo há 42 anos, mas quem vai pagar as minhas 85 cabeças de gado?", perguntava o sitiante José Joaquim Nascimento.
O produtor Alberi de Lima disse que está perdendo os 110 hectares de mandioca e perguntou: "Quem vai pagar o prejuízo?" O dono da Fazenda São José, Itamar Varago, acusou os índios de terem praticado violência contra ele e sua mulher.
Um grupo de fazendeiros reuniu-se no fim da tarde em Iguatemi. Eles decidiram esperar até segunda-feira por uma decisão da Justiça. "Depois, vamos agir por conta própria", ameaçou um deles.
Sem-terra tentam cobrar pedágio da comitiva
ITAQUIRAÍ - Um grupo de militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) tentou cobrar pedágio do juiz federal Odilon de Oliveira, diretor da Justiça Federal de Campo Grande, ontem, na BR-163, entre Itaquiraí e Eldorado. O veículo ocupado pelo juiz e pelo procurador da República Ramiro Rosemback da Silva chegou a ser parado pelo grupo, mas os sem-terra baixaram a corda depois que uma viatura da Polícia Federal, que o acompanhava, acionou a sirene. Os sem-terra, de um acampamento instalado na beira da rodovia, estavam parando os veículos desde o início da manhã. Portando foices e enxadas, exigiam o pagamento de valores entre R$ 1 e R$ 5 por veículo.
Alegavam que estavam sem alimentos. Assim que a caminhonete do juiz passou, os sem-terra voltaram a estender a corda na rodovia. (J.M.T.)
OESP, 10/01/2004, p. A7.
Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.