De Pueblos Indígenas en Brasil
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Noticias
Momento representa 'adolescência'
24/02/2002
Autor: RODRIGO VARGAS
Fonte: Diário de Cuiabá-MT
Para antropóloga da Universidade Federal, processo fará índios confiarem em pessoas erradas
O cacique João Arrezomae, ex-presidente da associação Halitinã, dos índios paresi: "estamos tentando, procurando a saída"
É doloroso, mas necessário deixar que os índios tomem suas próprias decisões e corram o risco de errar. Para a antropóloga Maria Fátima Roberto Machado, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o momento vivido pelos paresi representa uma espécie de adolescência: muitas e sedutoras possibilidades, pouca percepção dos riscos envolvidos em cada uma delas.
"É doloroso, mas é uma experiência válida. Eles têm de passar por essa experiência, aprender a distinguir quem são os seus aliados. Muitas vezes, quem diz aquilo que queremos ouvir não é um bom amigo. Pode ser o contrário", alerta a antropóloga, que estuda grupos específicos da etnia desde 1984 e é totalmente avessa à idéia do asfaltamento da estrada Nova Fronteira. "Nesse processo de aprendizado, eles vão fatalmente confiar em pessoas erradas".
Segundo ela, a idéia da auto-determinação dos povos indígenas há muito tem sido confundida com o abandono puro e simples dessa população à própria sorte. No caso da estrada e o controvertido "pedágio", o que chama a atenção é o fato de não haver alternativa concreta ao alcance dos índios.
"Nós não temos condição nenhuma de julgar o comportamento dos índios. Temos é a obrigação de compreender por que eles estão agindo assim e lamentar que o Brasil não tenha uma política indigenista coerente", diz Fátima. "E olha que temos um presidente sociólogo".
Ela não concorda com o argumento de que o pedágio representou melhora na condição de vida dos índios. "O que foi feito até hoje com esse dinheiro? Melhoraram apenas o alcoolismo e os conflitos internos. Se o objetivo for esse, então o pedágio deve continuar como única saída", diz.
A legitimidade das lideranças que estão capitaneando a ação popular pela rodovia também é questionada. A antropóloga diz que muitas vezes "basta ser índio para ser líder". "Será que estas lideranças têm realmente o respaldo de toda a comunidade? Será que a comunidade tem consciência do que seus líderes propõem? Hoje a situação é muito mais complexa: estas lideranças têm de ter legitimidade de fato".
Outra opinião em defesa do asfaltamento é o fato de a estrada existir há 18 anos, tendo seus os impactos negativos já ocorridos. "O risco é que quem vai trafegar nesta estrada não tem o mínimo preparo para lidar com o grupo humano que vive naquela área. Isso vai aumentar a fragilidade cultural e a exploração destes povos".
A história de trezentos anos de contato entre brancos e índios paresi também explica o comportamento atual. A antropóloga diz que a escravidão cunhou o medo na alma dessa população. "A relação cultural que eles têm com o dominador é muito complicada. É uma submissão histórica da qual eles ainda não conseguiram se livrar".
Vai levar tempo, afirma Fátima, e alguns fracassos para que a etnia possa de fato decidir seu destino e impor sua vontade. "Quando eles tiverem rompido com essa história de dominação, a sua vontade é o que vai mandar. E não a vontade do branco travestida como sua", diz a antropóloga. "Até que esse dia chegue, é importante que os liderados cobrem e fiscalizem as suas lideranças. Eles também têm contas a prestar".
O cacique João Arrezomae, ex-presidente da associação Halitinã, dos índios paresi: "estamos tentando, procurando a saída"
É doloroso, mas necessário deixar que os índios tomem suas próprias decisões e corram o risco de errar. Para a antropóloga Maria Fátima Roberto Machado, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o momento vivido pelos paresi representa uma espécie de adolescência: muitas e sedutoras possibilidades, pouca percepção dos riscos envolvidos em cada uma delas.
"É doloroso, mas é uma experiência válida. Eles têm de passar por essa experiência, aprender a distinguir quem são os seus aliados. Muitas vezes, quem diz aquilo que queremos ouvir não é um bom amigo. Pode ser o contrário", alerta a antropóloga, que estuda grupos específicos da etnia desde 1984 e é totalmente avessa à idéia do asfaltamento da estrada Nova Fronteira. "Nesse processo de aprendizado, eles vão fatalmente confiar em pessoas erradas".
Segundo ela, a idéia da auto-determinação dos povos indígenas há muito tem sido confundida com o abandono puro e simples dessa população à própria sorte. No caso da estrada e o controvertido "pedágio", o que chama a atenção é o fato de não haver alternativa concreta ao alcance dos índios.
"Nós não temos condição nenhuma de julgar o comportamento dos índios. Temos é a obrigação de compreender por que eles estão agindo assim e lamentar que o Brasil não tenha uma política indigenista coerente", diz Fátima. "E olha que temos um presidente sociólogo".
Ela não concorda com o argumento de que o pedágio representou melhora na condição de vida dos índios. "O que foi feito até hoje com esse dinheiro? Melhoraram apenas o alcoolismo e os conflitos internos. Se o objetivo for esse, então o pedágio deve continuar como única saída", diz.
A legitimidade das lideranças que estão capitaneando a ação popular pela rodovia também é questionada. A antropóloga diz que muitas vezes "basta ser índio para ser líder". "Será que estas lideranças têm realmente o respaldo de toda a comunidade? Será que a comunidade tem consciência do que seus líderes propõem? Hoje a situação é muito mais complexa: estas lideranças têm de ter legitimidade de fato".
Outra opinião em defesa do asfaltamento é o fato de a estrada existir há 18 anos, tendo seus os impactos negativos já ocorridos. "O risco é que quem vai trafegar nesta estrada não tem o mínimo preparo para lidar com o grupo humano que vive naquela área. Isso vai aumentar a fragilidade cultural e a exploração destes povos".
A história de trezentos anos de contato entre brancos e índios paresi também explica o comportamento atual. A antropóloga diz que a escravidão cunhou o medo na alma dessa população. "A relação cultural que eles têm com o dominador é muito complicada. É uma submissão histórica da qual eles ainda não conseguiram se livrar".
Vai levar tempo, afirma Fátima, e alguns fracassos para que a etnia possa de fato decidir seu destino e impor sua vontade. "Quando eles tiverem rompido com essa história de dominação, a sua vontade é o que vai mandar. E não a vontade do branco travestida como sua", diz a antropóloga. "Até que esse dia chegue, é importante que os liderados cobrem e fiscalizem as suas lideranças. Eles também têm contas a prestar".
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