De Pueblos Indígenas en Brasil
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Noticias

Ocupação da área não surpreende o governo

27/06/2007

Autor: LEVI VASCONCELOS

Fonte: Jornal A Tarde



O governo reagiu com tranqüilidade à ocupação em Cabrobó, onde a transposição do São Francisco está começando. Após falar com o presidente Lula e dizer que não foi surpreendido, porque alguma coisa desse tipo coisa já era esperada, o ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, mandou para a área o responsável pelo projeto, Rômulo Macedo, e acionou a Advocacia Geral da União (AGU) para pedir a reintegração da posse, mas assegurou que está aberto ao diálogo.

"Os protestos são tão legítimos quanto normais. Estamos abertos para canais de diálogos e acatar opiniões, sugestões, incorporar novas idéias, tudo que for possível, mas dentro da lei", observou. Geddel afirmou que não cogitou ir a Cabrobó, mas irá, se for necessário.

Assegurou que conversou ontem com o comandante da tropa do 2º Batalhão de Engenharia do Exército, que trabalha na área, Paulo Camacho. "Ele me garantiu que a ocupação não impede o andamento das obras".

Afirmou que leu o documento reivindicatório e pondera que, num primeiro momento, há pleitos possíveis de serem analisados e outros inviáveis, como a possibilidade de acesso total às adutoras.

Disse que acionou a AGU por uma razão elementar: "A área já foi desapropriada e pertence à União. É uma providência que cabe a mim".

E completou: "Só lamento que isso não tenha acontecido quando estive lá. Teria sido melhor para o diálogo".

ÍNDIOS - A única surpresa no episódio, segundo o ministro Geddel, foi a citação da presença de índios no movimento de ocupação. O ministro disse que na sua visita às comunidades do São Francisco foi muito bem recebido pelas comunidades indígenas, quando anunciou uma série de obras do governo e se comprometeu a dar andamento a antigas reivindicações que estavam mofando há anos nas gavetas oficiais.

Ele disse estar atento ao movimento e que vai aguardar o desenrolar dos fatos, mas que o governo não ficará refém das exigências dos manifestantes.

"Vamos tocar o projeto na medida em que Exército julgue que não há problemas a ponto de impedir o andamento das obras. Se houver impedimentos, aí já será um problema de justiça e do governo como um todo".

Ação é coordenada por comissões
No acampamento montado às margens do São Francisco, todos têm uma atividade relacionada ao movimento, e a organização está presente seguindo um roteiro: a ocupação das barracas é feita a partir da separação por caravanas de cada região.

Existem comissões de política, infra-estr utura, alimentação/ cozinha, limpeza/higiene, segurança e até mística (responsáveis pelos momentos de celebração).

Tem ainda a comissão de formação (que separa os itens a serem discutidos no dia), grupos que recebem as autoridades que chegam ao acampamento e ainda duas pessoas por dia designadas para atender à imprensa, com informações e indicações de outras pessoas para entrevistas.

José Josivaldo Alves de Oliveira é coordenador nacional do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), é do Ceará, um dos Estados a ser beneficiados com as águas do São Francisco. Para ele, que veio com outros nove militantes, levar água para onde já tem e não saber distribuir é um erro. "A certeza que temos é que as águas que sairão daqui não vão para quem morre de sede, mas para o agronegócio, a fruticultura irrigada, os criatórios de camarão. O Ceará é um dos Estados que mais produzem, e tudo vai pra exportação e não gera emprego", afirma.

No grupo de 30 pessoas que veio de Minas Gerais junto com outros 45 da Bahia, a pescadora Maria de Fátima Cardoso assegura que "o São Francisco está devastado, as cachoeiras não têm mais água como antes, e isso atrapalha o trabalho dos pescadores que ficam sem ter como sustentar as famílias e sobreviver".

LUTA INDÍGENA - Essa sobrevivência começa, para os índios trukás, com a luta pela terra, com a retomada da área que antes pertencia aos seus antepassados, conforme registro dos padres capuchinhos em 1645, garantem.

A expulsão dos índios de suas terras começou, segundo o cacique Aurivan dos Santos Barros, desde as capitanias, passando pela venda ilegal pelos fazendeiros aos brancos que ainda ganhavam índios como recompensa e provocando o afastamento dos índios para as ilhas próximas, como a Ilha da Assunção, em Cabrobó, onde vivem atualmente.

Desde então, a luta, que passou pelo reconhecimento da tribo Truká, em 1972, chega até a tentativa de readquirir as terras que foram vendidas pelo fazendeiro Antônio Russo por R$ 1,4 milhão ao governo federal e foram desapropriadas.

MANIFESTO - "Estamos aqui para conseguir de volta o que nos foi tomado", garante o cacique, que é o mais novo da tribo, com 34 anos.

O manifesto do acampamento, O Nordeste é viável sem transposição e com ética na política, exige a imediata suspensão da obra de transposição e o arquivamento do projeto, com retomada da terra para os índios trukás. A determinação tirou de casa Eci Maria dos Santos, que afirma: "Viemos para ficar e reconhecemos que o governo Lula foi uma decepção para todos nós, me sinto traída".

Esse sentimento é o mesmo e gera indignação diante dos indícios de concretização do projeto. O retrato de uma realidade que ninguém quer.

"Nossa ocupação é pacífica e fizemos questão de deixar isso claro. Mas não vamos deixar a região até que o governo federal ordene a paralisação das obras. Estamos sendo expulsos de nossas terras por essa gente que não está nem um pouco preocupada com o bem-estar do rio e da população", argumentou Neguinho Truká, líder da etnia. O grupo indígena alega ter a posse da terra onde as obras estão sendo realizadas.
 

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