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Dourados: contradições de uma cidade em convulsão

01/08/2009

Autor: Nicanor Coelho

Fonte: Midiamax - http://www.midiamax.com/



A segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul nas últimas três décadas triplicou a sua população, avançou economicamente e consolidou a sua posição como uma metrópole regional que agrega em torno de si cerca de 800 mil habitantes de mais de 35 municípios da região sul do Estado.

Os problemas também cresceram assim como os desafios enfrentados por seus governantes ao longo dos anos para atender as demandas das populações dos bairros periféricos que sofrem com a falta de saneamento, habitação e outros serviços básicos como saúde e educação.

Dourados cresceu e as contradições se avolumaram. Esta metrópole hoje é uma cidade em convulsão política. Contribuiram para o estabelecimento deste estado de coisas a corrupção, o desrespeito, a luta dos índios por mais terras, dos negros pela demarcação de áreas remanescdentes de quilombos e da população urbana que também briga por mais espaço e, principalmente, por habitações dignas.

Este clima de ebulição política se agravou com a deflagração da Operação Owari da Polícia Federal que nesta semana indica quem são os possíveis culpados nos crimes de corrupção, formação de quadrilha e "coisas e loisas".

Neste contexto a ascenção de segundo deputado federal representante do municipio em Brasília e as articulações para a disputa do Governo do Estado em 2010 que, invariavelmente sempre passam por Dourados transformou a "capital do agronécio" como a ribalta desta peça de mais de um ato que demora ser desatada.

Enquanto tudo isso acontece os índios querem mais terra. Os negro também. A população urbana também. Em muitos casos, negros, índios e brancos formam um só exército na luta insandecida pela sobrevivência.

Germino Franco Martins aos 45 anos não sabe ao certo se é branco, negro ou índio. Não tendo onde morar e não sabendo como ocupar o seu espaço na sociedade, Germino vagou por muitos anos na larga avenida Marcelino Pires até encontrar a índia Guarani Irina Garcete da Silva que no alto de seus cinquenta anos enrugados também não tinha senda definida. Da mesma forma que Germino, a "india velha" chafurdava os latões de lixo da Marcelino Pires em busca de alimentos, de esperança e de um simples espaço geografico para se fixar.

Deste encontro nasceu a esperança. E desta união um espaço urbano se ergueu. Germino e Irina há um ano e três meses encontraram seu pedaço de chão entre a contradição do asfalto negro e quente e o cheiro da relva das Aldeias Jaguapiru e Bororó. O casal improvisou suas vidas em tendas de plástico na mata que margeia o Córrego Laranja Doce, divisor de águas entre a riqueza do bairro mais rico da cidade e a Reserva Indígena onde moram em estado de "miséria invisível" mais de 13 mil índios de três etnias.

Germino e Irina trabalham durante o dia inteiro para comer à noite. Por incrível que parece o casal trabalha. E muito. Empurra diariamente um carrinho para coletar papelão e outros materiais recicláveis. O sustento da casa sai deste trabalho. Eles trabalham e contribuem para o avanço econômico de Dourados, mas não tem direito de morar num local digno.

Como Robin Wood da esperança mora na mata e "rouba" a vida na cidade. Germino acredita que sua condição de "não cidadão" terá um fim. Só não sabe quando. Esta esperança é compartilhada pelo casal "Euclides e Maria" que habita o mesmo espaço silvestre que abriga as ruinas da Usina Velha. Usina que na década de cinquenta iluminou Dourados.

Outro casal até a semana passada fazia parte deste "condomínio" de miseráveis. Uma "vila" que de forma clara mostra os extremos entre os mais ricos e os mais pobres desta cidade despertando a emoção, a atenção e a ganância de interesses locais e de outras orbes.

O terceiro casal que habitava este espaço que envergonha a cidade preferiu a morte ante à vida que insistia em pregar peças. Amaro Lopes Gonçalves de 44 anos como foi estampado nos jornais locais "amanheceu morto sem sinais de violência". Talvez o frio motivou esta "eutanásia social". A amada de Amaro, não suportou a infelicidade da solidão, abandonou o "condomínio dos miseráveis" e sucumbiu ao hades uma semana depois, na casa de conhecido num bairro da periferia não menos miserável.

Germino e Irina. Euclides e Maria. Amaro e sua amada. Um triunvirato de desesperança. A esperança que Dourados tomará um novo rumo. E qause sem rumo, Germino, Euclides e suas mulheres, quando não tem trabalho na catação de papelão, vão à noite ver as luzes de mercurio da Marcelino Pires "cuidar de carros" enquanto os fiéis ouvem o padre da Igreja São José Operário. Germino algumas vezes assiste a missa. Ele é um homem de fé. Fé demais. Fede demais a casa de Germino naquele Condominio de Miseráveis que sofre com o avanço do Ecoville Dourados um condominío de luxo que se ergue ante as ruínas abandonadíssimas da Usina Velha e a mais que abandonado "Altos do Jaguapiru", onde se iniciam as tristezas dos Caiuá, Terena e Guarani. Jaguapiru significa "cachorro magro" e de cachorro e gatos ladinos, rotos e doentes, Germino e Irina entendem.

Por onde cada um dos quatro anda, por onde vai e para qualquer lugar que os dois casais remanescentes deste "quilombo miscigenado" resolvam perseguir vão atrás um gato borralheiro e quatro Jaguapiru. O gato responde pelo nome de Ximiti, não se sabe porque. Os caninos ladram pela Marcelino Pires identificados como Neguinha, Doidinha, Xilica e "Me engana".

Ximiti é positivo e mostra alegria. Neguinha tem os pelos negros. Xilica sai xilicando o lixo das casas nas calçadas e "Me Engana"? Este último Jaguapiru como o próprio nome diz e o dono confirma só sabe enganar com seu jeito maroto e sua cauda ligeira. Germino é um homem feliz. Não conhece a tristeza e no alcool encontra lenitivo para suas dores da alma e crê na inscrição latina: "In vino Veritas". A verdade no vinho! Será que o cão "Me engana" entende tudo isso. Será que ele entende os acontecimentos políticos, a corrupção a convulsão vivida não só neste "Condomínio Miserável", mas novos condomínios de luxo que eclodem em Dourados?

A fé, a alegria dos douradenses, a esperança em dias melhores não são sonhos enganadores. Germino e Irina com seus animais de estimação são a representação de Dourados, uma metrópole regional que sabe o que está acontecendo neste seu momento histórico ímpar e sabe mais que ninguém para onde vai. O mesmo porvir do cão "Me Engana". Ainda não estamos no Armagedom!
 

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