De Pueblos Indígenas en Brasil
News
Após ataque, Suriname promete reforçar segurança de brasileiros
28/12/2009
Fonte: OESP, Nacional, p. A4
Após ataque, Suriname promete reforçar segurança de brasileiros
Padre que dirige rádio na capital relata 7 mortes, mas Itamaraty, após visita de embaixador ao local, não confirma
João Domingos e Rosa Costa
Brasília
O governo do Suriname informou ao Brasil que reforçou a segurança na cidade de Albina, a cerca de 150 quilômetros da capital, Paramaribo, para garantir a integridade física de brasileiros que vivem na região. A chanceler interina do Suriname, Jane Aarland, ligou na noite de sábado para o secretário-geral do Itamaraty, Antônio de Aguiar Patriota, para relatar as providências tomadas após o conflito ocorrido na noite de Natal.
Na ocasião, brasileiros e chineses que participavam de uma festa em Albina foram atacados por surinameses. O padre José Vergílio, diretor da Rádio Katólica, de Paramaribo, que foi ao local na sexta-feira, disse à emissora de TV a cabo Globonews que pelo menos sete pessoas haviam sido mortas. O Itamaraty não confirmou as mortes - registrou apenas a existência de quatro feridos graves, que foram levados para a capital e internados.
Ainda segundo a versão do padre, o conflito teria começado após o suposto assassinato de um morador local por um brasileiro. Veículos e casas foram queimados. Também foram registrados saques em lojas de comerciantes de origem chinesa.
O embaixador brasileiro no Suriname, José Luiz Machado e Costa, que no sábado relatou a existência de pelo menos 25 brasileiros feridos, foi ontem para Albina, cidade de cerca de 10 mil habitantes, acompanhado de autoridades do Suriname.
Na noite de ontem, o Itamaraty divulgou nota em que afirma que "não houve comprovação de mortes de brasileiros". "As declarações dos nacionais ouvidos coincidiram no sentido de que não testemunharam nenhum assassinato de brasileiro. A maioria dos relatos se referia à violência das agressões e à brutalidade do ataque, mas sem qualquer menção a mortes", diz a nota.
TESTEMUNHOS
Ao todo, diplomatas conversaram com 81 brasileiros de Albina que haviam viajado para a capital surinamesa. Apenas cinco aceitaram a oferta de voltar ao Brasil em avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
O garimpeiro Fernando Lima, atacado por um grupo de quilombolas surinameses descendentes de escravos africanos - os chamados "marrons" - desembarcou à noite em Belém. Ele levou um golpe de facão na cabeça. "Pensei que ia morrer", disse ele, abraçado a parentes e amigos.
Lima disse que, mesmo ferido, se atirou no rio que banha a cidade para escapar da fúria dos homens que o agrediam. Foi socorrido por estranhos que o levaram para um hospital. Agora, não quer mais saber de voltar para o Suriname.
Outro paraense, o também garimpeiro Antonio José Oliveira, 24, se embrenhou numa floresta da região e passou a noite escondido. "Tinha gente batendo e jogando brasileiros na água. Caí no rio e ajudei o pessoal que não sabia nadar.''
Ainda segundo o Itamaraty, as autoridades de Albina informaram que foram presos 22 surinameses suspeitos de terem participado do ataque. A polícia local disse também que o brasileiro suspeito de ter assassinado um surinamês, fato que teria precipitado o conflito, está foragido, provavelmente na vizinha Guiana Francesa.
A cônsul brasileira do país vizinho, Ana Lélia Beltrame, foi para Saint-Laurent, cidade fronteiriça com o Suriname, e encontrou nove brasileiros feridos no principal hospital da cidade.
Na lista de sobreviventes encontrados pela cônsul brasileira está Denicléa Furtado Teixeira, que estava grávida de três meses e que, no tumulto, sofreu um aborto. O padre Vergílio chegou a divulgar a informação de que ela teria sido "retalhada" por atacantes. O Itamaraty informou que ela foi ferida "com gravidade nas mãos" e que recebeu tratamento médico.
O padre também divulgou a versão de que cerca de 20 mulheres haviam sido estupradas durante o confronto. A nota oficial não faz referência a essa informação.
Colaborou Carlos Mendes
Repressão 'exporta' garimpeiros
Vannildo Mendes
Reprimidos por leis ambientais cada vez mais duras, combinadas com ações da Polícia Federal e forte reação de povos indígenas, os garimpeiros brasileiros passaram nos últimos anos a atravessar a linha de fronteira.
Segundo levantamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), têm sido comuns as escaramuças na fronteira com Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela, além das Guianas, frequentemente invadidas por brasileiros. Em 1º de dezembro, a Venezuela expulsou cerca de mil garimpeiros ilegais, entre eles mais de 100 brasileiros.
O governo não tem dados precisos, mas estima-se que eles somam 200 mil, o equivalente ao efetivo do Exército. São nordestinos retirantes, sulistas aventureiros, trabalhadores sem-terra, desempregados urbanos e até foragidos da Justiça.
Estudo da Funai mostra que os garimpeiros praticam um modelo econômico altamente predatório. Após explorar os recursos minerais, deixam um cenário de terra arrasada, com núcleos remanescentes assolados por alta criminalidade, doenças, alcoolismo e prostituição. Sem contar a destruição ambiental.
Os conflitos com os povos locais são inevitáveis e, às vezes, sangrentos. Em abril de 2004, cansados de tentativas infrutíferas de impedir a destruição de sua reserva, guerreiros da etnia cinta-larga, em Rondônia, mataram 29 garimpeiros que invadiram a Reserva Roosevelt, em busca de diamantes.
O governo acaba de enviar ao Congresso projetos, como o Estatuto dos Povos Indígenas e mudanças na lei de extração mineral, que devem agravar esse quadro porque tornam ainda mais inviável o garimpo predatório.
OESP, 28/12/2009, Nacional, p. A4
Padre que dirige rádio na capital relata 7 mortes, mas Itamaraty, após visita de embaixador ao local, não confirma
João Domingos e Rosa Costa
Brasília
O governo do Suriname informou ao Brasil que reforçou a segurança na cidade de Albina, a cerca de 150 quilômetros da capital, Paramaribo, para garantir a integridade física de brasileiros que vivem na região. A chanceler interina do Suriname, Jane Aarland, ligou na noite de sábado para o secretário-geral do Itamaraty, Antônio de Aguiar Patriota, para relatar as providências tomadas após o conflito ocorrido na noite de Natal.
Na ocasião, brasileiros e chineses que participavam de uma festa em Albina foram atacados por surinameses. O padre José Vergílio, diretor da Rádio Katólica, de Paramaribo, que foi ao local na sexta-feira, disse à emissora de TV a cabo Globonews que pelo menos sete pessoas haviam sido mortas. O Itamaraty não confirmou as mortes - registrou apenas a existência de quatro feridos graves, que foram levados para a capital e internados.
Ainda segundo a versão do padre, o conflito teria começado após o suposto assassinato de um morador local por um brasileiro. Veículos e casas foram queimados. Também foram registrados saques em lojas de comerciantes de origem chinesa.
O embaixador brasileiro no Suriname, José Luiz Machado e Costa, que no sábado relatou a existência de pelo menos 25 brasileiros feridos, foi ontem para Albina, cidade de cerca de 10 mil habitantes, acompanhado de autoridades do Suriname.
Na noite de ontem, o Itamaraty divulgou nota em que afirma que "não houve comprovação de mortes de brasileiros". "As declarações dos nacionais ouvidos coincidiram no sentido de que não testemunharam nenhum assassinato de brasileiro. A maioria dos relatos se referia à violência das agressões e à brutalidade do ataque, mas sem qualquer menção a mortes", diz a nota.
TESTEMUNHOS
Ao todo, diplomatas conversaram com 81 brasileiros de Albina que haviam viajado para a capital surinamesa. Apenas cinco aceitaram a oferta de voltar ao Brasil em avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
O garimpeiro Fernando Lima, atacado por um grupo de quilombolas surinameses descendentes de escravos africanos - os chamados "marrons" - desembarcou à noite em Belém. Ele levou um golpe de facão na cabeça. "Pensei que ia morrer", disse ele, abraçado a parentes e amigos.
Lima disse que, mesmo ferido, se atirou no rio que banha a cidade para escapar da fúria dos homens que o agrediam. Foi socorrido por estranhos que o levaram para um hospital. Agora, não quer mais saber de voltar para o Suriname.
Outro paraense, o também garimpeiro Antonio José Oliveira, 24, se embrenhou numa floresta da região e passou a noite escondido. "Tinha gente batendo e jogando brasileiros na água. Caí no rio e ajudei o pessoal que não sabia nadar.''
Ainda segundo o Itamaraty, as autoridades de Albina informaram que foram presos 22 surinameses suspeitos de terem participado do ataque. A polícia local disse também que o brasileiro suspeito de ter assassinado um surinamês, fato que teria precipitado o conflito, está foragido, provavelmente na vizinha Guiana Francesa.
A cônsul brasileira do país vizinho, Ana Lélia Beltrame, foi para Saint-Laurent, cidade fronteiriça com o Suriname, e encontrou nove brasileiros feridos no principal hospital da cidade.
Na lista de sobreviventes encontrados pela cônsul brasileira está Denicléa Furtado Teixeira, que estava grávida de três meses e que, no tumulto, sofreu um aborto. O padre Vergílio chegou a divulgar a informação de que ela teria sido "retalhada" por atacantes. O Itamaraty informou que ela foi ferida "com gravidade nas mãos" e que recebeu tratamento médico.
O padre também divulgou a versão de que cerca de 20 mulheres haviam sido estupradas durante o confronto. A nota oficial não faz referência a essa informação.
Colaborou Carlos Mendes
Repressão 'exporta' garimpeiros
Vannildo Mendes
Reprimidos por leis ambientais cada vez mais duras, combinadas com ações da Polícia Federal e forte reação de povos indígenas, os garimpeiros brasileiros passaram nos últimos anos a atravessar a linha de fronteira.
Segundo levantamento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), têm sido comuns as escaramuças na fronteira com Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela, além das Guianas, frequentemente invadidas por brasileiros. Em 1º de dezembro, a Venezuela expulsou cerca de mil garimpeiros ilegais, entre eles mais de 100 brasileiros.
O governo não tem dados precisos, mas estima-se que eles somam 200 mil, o equivalente ao efetivo do Exército. São nordestinos retirantes, sulistas aventureiros, trabalhadores sem-terra, desempregados urbanos e até foragidos da Justiça.
Estudo da Funai mostra que os garimpeiros praticam um modelo econômico altamente predatório. Após explorar os recursos minerais, deixam um cenário de terra arrasada, com núcleos remanescentes assolados por alta criminalidade, doenças, alcoolismo e prostituição. Sem contar a destruição ambiental.
Os conflitos com os povos locais são inevitáveis e, às vezes, sangrentos. Em abril de 2004, cansados de tentativas infrutíferas de impedir a destruição de sua reserva, guerreiros da etnia cinta-larga, em Rondônia, mataram 29 garimpeiros que invadiram a Reserva Roosevelt, em busca de diamantes.
O governo acaba de enviar ao Congresso projetos, como o Estatuto dos Povos Indígenas e mudanças na lei de extração mineral, que devem agravar esse quadro porque tornam ainda mais inviável o garimpo predatório.
OESP, 28/12/2009, Nacional, p. A4
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source