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"Hoje só tem sopa de coquinho do mato para comer"

10/11/2015

Autor: Maria Clara Vieira

Fonte: Revista CRESCER (São Paulo - SP) - www.revistacrescer.globo.com



Nice Pedzadarutu'o está grávida do sexto filho. Ela vive com as crianças e o marido em uma casa pequena e simples, de pau-a-pique, em uma aldeia longínqua, no coração do Mato Grosso.

Com o pouco que consegue coletar na mata ou produzir na roça, ela alimenta os filhos. Conheça mais sobre a história dessa brasileira, que é o retrato vivo de uma pobreza invisível e silenciosa.

"Minha filha mais nova estranha os brancos. Ela chora quando vamos para a cidade [risos]. Tenho cinco filhos. Dá muito trabalho, porque minha mãe mora longe. Não tenho ajuda dela. Eu cuido deles sozinha, e o meu marido me ajuda.

Eu aprendi como cuidar das crianças com a minha mãe. Nas aldeias, os mais velhos ensinam os mais novos. Conversam sobre como cuidar, o que dar para a criança comer...

Eu lembro de como os meus pais cuidavam de mim e dos meus irmãos. Meu pai plantava batata doce pra gente e a minha mãe plantava milho. Tem que plantar pra ter comida. Aprendi isso com eles. Eu planto para o meus filhos também, mas tem que esperar o tempo de colher.

Hoje, o que tem pra comer é sopa de coquinho, que a gente pega no mato. É bom, meus filhos gostam. Eles estão todos bem, com saúde. Mas o mais velho, Edivan, está com uma ferida na perna há muito tempo, que não sara. Ele passa pelo doutor, mas ele receita uma pomada que não resolve nada. A ferida coça muito e sangra.

Está chegando a hora de o meu bebê nascer. Já estou muito cansada. Estou de 8 meses. Fiz pré-natal ali no posto da outra aldeia. Estou tomando as vitaminas que eles dão. Fiz dois ultrassons na cidade [que fica em Paranatinga, a quase duas horas de viagem de carro por estrada de terra].

Minha irmã vai me levar para a cidade para eu ter o bebê lá. Aqui não tem ninguém para cuidar de mim. Só tive dois filhos em hospital até agora. Os outros nasceram na aldeia, quando eu tinha minha mãe por perto para ajudar. Essa que estou esperando é menina. Ainda não escolhi um nome."

Nice Pedzadarutu'o é mãe de Edivan, 9 anos, Sergio, 7, Gamaliel, 5, Darlene, 3, Mirabele, 1, e está grávida de oito meses.

http://revistacrescer.globo.com/A-mortalidade-das-criancas-indigenas/noticia/2015/11/hoje-so-tem-sopa-de-coquinho-do-mato-para-comer.html
 

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