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Expedição Ianomâmi: Sebastião Salgado documentou lutas da etnia indígena com O Globo
23/05/2025
Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/
Expedição Ianomâmi: Sebastião Salgado documentou lutas da etnia indígena com O Globo
Fotojornalista brasileiro morreu nesta sexta-feira, aos 81 anos
23/05/2025
Luísa Giraldo
O legado de Sebastião Salgado para o fotojornalismo e para a defesa dos povos originários no Brasil continua vivo, mesmo após dez anos de sua viagem em parceria com O Globo. Morto nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, o fotógrafo liderou uma expedição ao território Ianomâmi, parte final de um projeto grandioso que incluiu duas viagens anuais à Amazônia para documentar a vida e as lutas das principais etnias indígenas do Brasil. A experiência foi registrada na obra "Amazônia", publicada em 2021.
Em março de 2014, Salgado e o repórter Arnaldo Bloch atravessaram as terras ianomân, na Amazônia, entre as bacias do Rio Negro e do Rio Branco. Após uma viagem de quatro horas em um monomotor vindo de Manaus, os dois testemunharam a festa fúnebre de reahu na casa-aldeia de Watoriki.
A cerimônia foi feita em homenagem a um jovem caçador que morreu ao matar seu duplo animal, um mutum azul (na cosmologia ianomâmi, cada pessoa está ligada espiritualmente a um espírito protetor que vive na floresta). Eles encaram a morte com silêncio e simbolismo: o nome do falecido é proibido, seus objetos são queimados e as cinzas preservadas em urnas até o clímax do ritual.
A dinâmica transformou a aldeia por dias e noites. Pajés invocaram espíritos com gritos, danças e o uso da yakuana, um pó sagrado capaz de abrir passagem ao mundo invisível. Logo, 60 macacos assados serviram como alimento para o resto da tribo, costume ancestral de partilha e transcendência que homenageia os mortos.
"A marcha é refreada por uma visão: 60 cadáveres de macacos atados por cipó pendem em fogo baixo. De cócoras, os corpos familiares fazem pensar que os brancos poderiam estar ali: na trilha das missões e das comissões de limites, das estradas abertas pelo exército nos anos 1970 e da corrida do ouro na década seguinte, 80% dos ianomâmis morreram", escreveu Bloch sobre a experiência, na edição impressa do jornal em 29 de junho de 2014.
A vida ianomân continuou animada ao longo dos dias. Na maloca da Serra Demini, curumins brincavam e mulheres preparavam pupunha fermentada. À noite, houve cantos rituais, roncos dos anciãos e tosses de um surto de gripe que ameaça os indivíduos mais frágeis. O tempo encaminhava os ciclos da natureza e do luto, segundo o jornalista.
Os brancos foram convidados a se retirar no ápice da cerimônia. Do lado de fora, Salgado e Bloch ouviram o pranto final. As cinzas foram enterradas no ambiente interno. A dor foi liberada em um momento íntimo e sagrado da despedida: um grito coletivo que faz parecer que "o céu caiu sobre a terra".
"A terra não morre. Só a gente. A terra só morre se o branco destruir. O chão fica frio, as árvores secam e as pedras esquentam. Os xapiripë, espíritos da serra, não podem mais dançar e vão embora. Os espíritos ruins reinam e todos morrem", alertou o xamã e líder espiritual Davi Kopenawa, na ocasião.
No momento compartilhado por Salgado e Bloch, a cosmologia indígena estava perfeitamente alinhada com o discurso ambientalista. Os ianomâmis, em um mundo que cada vez mais ameaçava suas terras, apontavam para a urgência de proteção da vida humana e natural.
Expedição de Sebastião Salgado
A expedição em território Ianomâmi de Sebastião Salgado, acompanhada do jornal O Globo, marcou um capítulo importante de um projeto ambicioso: realizar duas viagens anuais à Amazônia para documentar a vida e as lutas das principais etnias indígenas do Brasil. As fotografias reunidas até o fim desse ciclo compõem o livro "Amazonia" (2021).
A jornada foi dividida em duas etapas e contou com as presenças de Jacques Bartelemy, assistente de Salgado e guia de montanhas, e do mateiro maranhense Agostinho de Carvalho. A aventura começou com uma estadia de 15 dias na aldeia Watoriki, na divisa entre Amazonas e Roraima, onde testemunhou o início da reahu. Realizado no máximo uma vez por ano, o ritual homenageia mortos que partiram em resultado a um acidente místico.
A segunda etapa foi cuidadosamente planejada. Foi uma travessia a partir da aldeia de Maturacá, aos pés do Pico da Neblina - o ponto mais alto do Brasil, com quase três mil metros de altitude. Considerada sagrada pelos Ianomâmis, a região era pressionada pela mineração ilegal e pela presença de missões religiosas e postos militares. Salgado organizou a subida à montanha com um grupo de vinte guerreiros e xamãs, em uma tentativa de registrar o reencontro espiritual dos indígenas com seu território ancestral.
A expedição dá continuidade ao projeto iniciado em 2013, quando Salgado fotografou os Awás, povo indígena isolado do Maranhão. Na ocasião, a incursão dele com a jornalista Míriam Leitão resultou em uma série de reportagens publicadas nO Globo e, posteriormente, em uma ação das autoridades. O Exército e a Funai expulsaram madeireiros e fazendeiros que ocupavam ilegalmente as terras awás.
https://oglobo.globo.com/blogs/voce-viu-essa-foto/noticia/2025/05/23/expedicao-ianomami-sebastiao-salgado-documentou-lutas-da-etnia-indigena-com-o-globo.ghtml
Fotojornalista brasileiro morreu nesta sexta-feira, aos 81 anos
23/05/2025
Luísa Giraldo
O legado de Sebastião Salgado para o fotojornalismo e para a defesa dos povos originários no Brasil continua vivo, mesmo após dez anos de sua viagem em parceria com O Globo. Morto nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, o fotógrafo liderou uma expedição ao território Ianomâmi, parte final de um projeto grandioso que incluiu duas viagens anuais à Amazônia para documentar a vida e as lutas das principais etnias indígenas do Brasil. A experiência foi registrada na obra "Amazônia", publicada em 2021.
Em março de 2014, Salgado e o repórter Arnaldo Bloch atravessaram as terras ianomân, na Amazônia, entre as bacias do Rio Negro e do Rio Branco. Após uma viagem de quatro horas em um monomotor vindo de Manaus, os dois testemunharam a festa fúnebre de reahu na casa-aldeia de Watoriki.
A cerimônia foi feita em homenagem a um jovem caçador que morreu ao matar seu duplo animal, um mutum azul (na cosmologia ianomâmi, cada pessoa está ligada espiritualmente a um espírito protetor que vive na floresta). Eles encaram a morte com silêncio e simbolismo: o nome do falecido é proibido, seus objetos são queimados e as cinzas preservadas em urnas até o clímax do ritual.
A dinâmica transformou a aldeia por dias e noites. Pajés invocaram espíritos com gritos, danças e o uso da yakuana, um pó sagrado capaz de abrir passagem ao mundo invisível. Logo, 60 macacos assados serviram como alimento para o resto da tribo, costume ancestral de partilha e transcendência que homenageia os mortos.
"A marcha é refreada por uma visão: 60 cadáveres de macacos atados por cipó pendem em fogo baixo. De cócoras, os corpos familiares fazem pensar que os brancos poderiam estar ali: na trilha das missões e das comissões de limites, das estradas abertas pelo exército nos anos 1970 e da corrida do ouro na década seguinte, 80% dos ianomâmis morreram", escreveu Bloch sobre a experiência, na edição impressa do jornal em 29 de junho de 2014.
A vida ianomân continuou animada ao longo dos dias. Na maloca da Serra Demini, curumins brincavam e mulheres preparavam pupunha fermentada. À noite, houve cantos rituais, roncos dos anciãos e tosses de um surto de gripe que ameaça os indivíduos mais frágeis. O tempo encaminhava os ciclos da natureza e do luto, segundo o jornalista.
Os brancos foram convidados a se retirar no ápice da cerimônia. Do lado de fora, Salgado e Bloch ouviram o pranto final. As cinzas foram enterradas no ambiente interno. A dor foi liberada em um momento íntimo e sagrado da despedida: um grito coletivo que faz parecer que "o céu caiu sobre a terra".
"A terra não morre. Só a gente. A terra só morre se o branco destruir. O chão fica frio, as árvores secam e as pedras esquentam. Os xapiripë, espíritos da serra, não podem mais dançar e vão embora. Os espíritos ruins reinam e todos morrem", alertou o xamã e líder espiritual Davi Kopenawa, na ocasião.
No momento compartilhado por Salgado e Bloch, a cosmologia indígena estava perfeitamente alinhada com o discurso ambientalista. Os ianomâmis, em um mundo que cada vez mais ameaçava suas terras, apontavam para a urgência de proteção da vida humana e natural.
Expedição de Sebastião Salgado
A expedição em território Ianomâmi de Sebastião Salgado, acompanhada do jornal O Globo, marcou um capítulo importante de um projeto ambicioso: realizar duas viagens anuais à Amazônia para documentar a vida e as lutas das principais etnias indígenas do Brasil. As fotografias reunidas até o fim desse ciclo compõem o livro "Amazonia" (2021).
A jornada foi dividida em duas etapas e contou com as presenças de Jacques Bartelemy, assistente de Salgado e guia de montanhas, e do mateiro maranhense Agostinho de Carvalho. A aventura começou com uma estadia de 15 dias na aldeia Watoriki, na divisa entre Amazonas e Roraima, onde testemunhou o início da reahu. Realizado no máximo uma vez por ano, o ritual homenageia mortos que partiram em resultado a um acidente místico.
A segunda etapa foi cuidadosamente planejada. Foi uma travessia a partir da aldeia de Maturacá, aos pés do Pico da Neblina - o ponto mais alto do Brasil, com quase três mil metros de altitude. Considerada sagrada pelos Ianomâmis, a região era pressionada pela mineração ilegal e pela presença de missões religiosas e postos militares. Salgado organizou a subida à montanha com um grupo de vinte guerreiros e xamãs, em uma tentativa de registrar o reencontro espiritual dos indígenas com seu território ancestral.
A expedição dá continuidade ao projeto iniciado em 2013, quando Salgado fotografou os Awás, povo indígena isolado do Maranhão. Na ocasião, a incursão dele com a jornalista Míriam Leitão resultou em uma série de reportagens publicadas nO Globo e, posteriormente, em uma ação das autoridades. O Exército e a Funai expulsaram madeireiros e fazendeiros que ocupavam ilegalmente as terras awás.
https://oglobo.globo.com/blogs/voce-viu-essa-foto/noticia/2025/05/23/expedicao-ianomami-sebastiao-salgado-documentou-lutas-da-etnia-indigena-com-o-globo.ghtml
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