De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
Os oceanos e a COP30
08/07/2025
Autor: OMETTO, Jean; ARAUJO, Moacyr
Fonte: Valor Econômico - https://valor.globo.com
Os oceanos e a COP30
No geral, subestima-se a importância dos oceanos como regulador da vida no planeta e seu potencial para a adaptação à mudança do clima
08/07/2025
Jean Ometto
Vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador científico da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima)
Moacyr Araujo
Jean Ometto é pesquisador sênior no Inpe e membro do IPCC.
Dentre os assuntos a serem discutidos na COP30 em Belém, cresce a expectativa de que o tema Oceano tenha destaque. De fato, foi necessário esperar quase 10 anos após a assinatura do Acordo de Paris (COP21) para que os oceanos pudessem ser oficialmente citados no Global Stocktake, o relatório que avalia os progressos do acordo de 2015. Isso só ocorreu em 2023, na COP28, de Dubai. Mesmo no Brasil, que tem o sétimo maior litoral do mundo (excluindo os países formados por arquipélagos), o tema não tem sido tratado na proporção de sua importância para a economia e proteção da biodiversidade. Isso pode mudar com a aprovação de políticas nacionais elaboradas recentemente, com destaque para a Lei do Mar (PL6969/13).
Os oceanos são responsáveis pela captura e armazenamento de mais de um terço do total de carbono lançado pela ação humana, impedindo uma concentração ainda maior de CO2 na atmosfera. Ainda assim, persiste uma visão limitada sobre sua importância como regulador da vida no planeta e seu potencial para a adptação à mudança do clima. No Brasil, a situação não é diferente. Com cerca de 8,5 mil quilômetros de costa, o país ainda não reconhece a importância do Oceano Atlântico como pilar estratégico para seu desenvolvimento socioeconômico.
Hoje observamos que as zonas costeiras em todo o mundo têm se transformado em um verdadeiro palco no qual se apresentam quase diariamente efeitos da mudança do clima. E é na zona costeira que vivem cerca de 2,15 bilhões de pessoas, ou seja, 37% da população mundial. Uma parcela significativa, estimada em 634 milhões de pessoas, vive em áreas costeiras a menos de 10 metros do nível médio do mar. Estas áreas são particularmente vulneráveis.
Ondas de calor fortalecidas por um oceano excessivamente quente atingem nossas cidades e a saúde das populações. Eventos atípicos de precipitação produzem inundações e deslizamentos de encostas, e, não menos grave, a elevação contínua do nível do mar corrói progressivamente as linhas de costa. As populações vulnerabilizadas que habitam as zonas costeiras, como comunidades que vivem da pesca tradicional, ribeirinhos e caiçaras, entre outras, são as mais afetadas.
Considerando a tendência inequívoca de continuarmos aquecendo o planeta para além do 1,5oC estabelecido no Acordo de Paris, é de se esperar que os eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes e intensos. No Brasil, como em outros países, esses efeitos já atingem cerca de 40% da zona costeira, podendo afetar mais de 50 milhões de pessoas. Portos estratégicos como os de Santos, Rio de Janeiro e Suape, em Pernambuco, estão em risco com o aumento do ritmo de tempestades e inundações, comprometendo a infraestrutura e o comércio doméstico e internacional.
Como agravante, a elevação do nível do mar torna a infraestrutura costeira ainda mais vulnerável a danos causados pelos eventos climáticos extremos. A realidade é que não só os níveis globais do mar estão subindo, mas a velocidade com que isso ocorre está aumentando. Essa aceleração resulta, principalmente, da ação combinada de dois processos principais: a expansão térmica da água, à medida que ela se aquece, e a adição de água doce ao oceano pelo derretimento de calotas de gelo terrestres e geleiras.
Segundo o Sexto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, 2023), a taxa média de elevação do nível do mar foi de 1,3 mm/ano entre 1901 e 1971, aumentando para 3,7 mm/ano entre 2006 e 2018. Ou seja, a velocidade média de aumento do nível do mar praticamente triplicou nos últimos dez anos se comparado com o que tivemos no século passado. Com os oceanos superaquecidos em 2024, o nível global do mar subiu ainda mais rápido do que o esperado. De acordo com uma análise liderada pela Agência Espacial dos Estados Unidos, a Nasa, a taxa de aumento em 2024 foi de 5,9 mm/ano, bem maior do que a expectativa prevista de 4,3 mm/ano, sendo a expansão térmica da água do mar um fator preponderante.
Os oceanos aquecem mais lentamente do que a atmosfera, mas em compensação acumulam mais facilmente o calor e esfriam muito lentamente, o que torna o aquecimento oceânico um processo quase irreversível. O aumento contínuo de sua temperatura, observado principalmente nos últimos 100 anos, tem também consequências importantes relacionadas à redução de sua capacidade de absorver o carbono atmosférico e de oxigenação de suas águas. Estamos perdendo progressivamente um importante aliado na luta pela redução de carbono atmosférico.
Precisamos acelerar os processos de adaptação e de fortalecimento da resiliência de nossa zona costeira. A Ciência nos indica, por exemplo, que os recifes de corais são capazes de reduzir em até 75% a energia das ondas, e que as florestas de manguezais, além de funcionarem como barreiras naturais contra a erosão, acumulam até três vezes mais carbono orgânico no seu solo do que florestas tropicais terrestres da Amazônia ou da Mata Atlântica, e até 10 vezes mais do que outros biomas, como a Caatinga ou o Cerrado. Como estratégia reconhecida mundialmente, o Brasil deveria promover com urgência a criação de Unidades de Conservação Marinhas envolvendo os sistemas coralíneos e os manguezais ao longo de toda a nossa linha de costa.
Precisamos mais do que a ajuda da natureza. A criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo-MCTI), o Planejamento Espacial Marinho do Brasil (em andamento) e o destaque ao oceano e zonas costeiras na revisão da Política Nacional de Mudança do Clima (PNMC), bem como nas Estratégias de Adaptação do Plano Clima (MMA), são ações recentes e necessárias. Por fim, o país ainda carece de base legal para garantir a continuidade das ações. Tramitando no Congresso desde 2013, a Lei do Mar (PL 6969/13), que institui a Política Nacional para a Conservação e o Uso Sustentável do Bioma Marinho Brasileiro, é um passo necessário na proteção dos oceanos e no enfrentamento da mudança do clima. Sua aprovação representaria um sinal claro do compromisso brasileiro com a proteção dos oceanos e reforçaria o protagonismo do país na COP30.
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/os-oceanos-e-a-cop30.ghtml
No geral, subestima-se a importância dos oceanos como regulador da vida no planeta e seu potencial para a adaptação à mudança do clima
08/07/2025
Jean Ometto
Vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador científico da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima)
Moacyr Araujo
Jean Ometto é pesquisador sênior no Inpe e membro do IPCC.
Dentre os assuntos a serem discutidos na COP30 em Belém, cresce a expectativa de que o tema Oceano tenha destaque. De fato, foi necessário esperar quase 10 anos após a assinatura do Acordo de Paris (COP21) para que os oceanos pudessem ser oficialmente citados no Global Stocktake, o relatório que avalia os progressos do acordo de 2015. Isso só ocorreu em 2023, na COP28, de Dubai. Mesmo no Brasil, que tem o sétimo maior litoral do mundo (excluindo os países formados por arquipélagos), o tema não tem sido tratado na proporção de sua importância para a economia e proteção da biodiversidade. Isso pode mudar com a aprovação de políticas nacionais elaboradas recentemente, com destaque para a Lei do Mar (PL6969/13).
Os oceanos são responsáveis pela captura e armazenamento de mais de um terço do total de carbono lançado pela ação humana, impedindo uma concentração ainda maior de CO2 na atmosfera. Ainda assim, persiste uma visão limitada sobre sua importância como regulador da vida no planeta e seu potencial para a adptação à mudança do clima. No Brasil, a situação não é diferente. Com cerca de 8,5 mil quilômetros de costa, o país ainda não reconhece a importância do Oceano Atlântico como pilar estratégico para seu desenvolvimento socioeconômico.
Hoje observamos que as zonas costeiras em todo o mundo têm se transformado em um verdadeiro palco no qual se apresentam quase diariamente efeitos da mudança do clima. E é na zona costeira que vivem cerca de 2,15 bilhões de pessoas, ou seja, 37% da população mundial. Uma parcela significativa, estimada em 634 milhões de pessoas, vive em áreas costeiras a menos de 10 metros do nível médio do mar. Estas áreas são particularmente vulneráveis.
Ondas de calor fortalecidas por um oceano excessivamente quente atingem nossas cidades e a saúde das populações. Eventos atípicos de precipitação produzem inundações e deslizamentos de encostas, e, não menos grave, a elevação contínua do nível do mar corrói progressivamente as linhas de costa. As populações vulnerabilizadas que habitam as zonas costeiras, como comunidades que vivem da pesca tradicional, ribeirinhos e caiçaras, entre outras, são as mais afetadas.
Considerando a tendência inequívoca de continuarmos aquecendo o planeta para além do 1,5oC estabelecido no Acordo de Paris, é de se esperar que os eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes e intensos. No Brasil, como em outros países, esses efeitos já atingem cerca de 40% da zona costeira, podendo afetar mais de 50 milhões de pessoas. Portos estratégicos como os de Santos, Rio de Janeiro e Suape, em Pernambuco, estão em risco com o aumento do ritmo de tempestades e inundações, comprometendo a infraestrutura e o comércio doméstico e internacional.
Como agravante, a elevação do nível do mar torna a infraestrutura costeira ainda mais vulnerável a danos causados pelos eventos climáticos extremos. A realidade é que não só os níveis globais do mar estão subindo, mas a velocidade com que isso ocorre está aumentando. Essa aceleração resulta, principalmente, da ação combinada de dois processos principais: a expansão térmica da água, à medida que ela se aquece, e a adição de água doce ao oceano pelo derretimento de calotas de gelo terrestres e geleiras.
Segundo o Sexto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, 2023), a taxa média de elevação do nível do mar foi de 1,3 mm/ano entre 1901 e 1971, aumentando para 3,7 mm/ano entre 2006 e 2018. Ou seja, a velocidade média de aumento do nível do mar praticamente triplicou nos últimos dez anos se comparado com o que tivemos no século passado. Com os oceanos superaquecidos em 2024, o nível global do mar subiu ainda mais rápido do que o esperado. De acordo com uma análise liderada pela Agência Espacial dos Estados Unidos, a Nasa, a taxa de aumento em 2024 foi de 5,9 mm/ano, bem maior do que a expectativa prevista de 4,3 mm/ano, sendo a expansão térmica da água do mar um fator preponderante.
Os oceanos aquecem mais lentamente do que a atmosfera, mas em compensação acumulam mais facilmente o calor e esfriam muito lentamente, o que torna o aquecimento oceânico um processo quase irreversível. O aumento contínuo de sua temperatura, observado principalmente nos últimos 100 anos, tem também consequências importantes relacionadas à redução de sua capacidade de absorver o carbono atmosférico e de oxigenação de suas águas. Estamos perdendo progressivamente um importante aliado na luta pela redução de carbono atmosférico.
Precisamos acelerar os processos de adaptação e de fortalecimento da resiliência de nossa zona costeira. A Ciência nos indica, por exemplo, que os recifes de corais são capazes de reduzir em até 75% a energia das ondas, e que as florestas de manguezais, além de funcionarem como barreiras naturais contra a erosão, acumulam até três vezes mais carbono orgânico no seu solo do que florestas tropicais terrestres da Amazônia ou da Mata Atlântica, e até 10 vezes mais do que outros biomas, como a Caatinga ou o Cerrado. Como estratégia reconhecida mundialmente, o Brasil deveria promover com urgência a criação de Unidades de Conservação Marinhas envolvendo os sistemas coralíneos e os manguezais ao longo de toda a nossa linha de costa.
Precisamos mais do que a ajuda da natureza. A criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (Inpo-MCTI), o Planejamento Espacial Marinho do Brasil (em andamento) e o destaque ao oceano e zonas costeiras na revisão da Política Nacional de Mudança do Clima (PNMC), bem como nas Estratégias de Adaptação do Plano Clima (MMA), são ações recentes e necessárias. Por fim, o país ainda carece de base legal para garantir a continuidade das ações. Tramitando no Congresso desde 2013, a Lei do Mar (PL 6969/13), que institui a Política Nacional para a Conservação e o Uso Sustentável do Bioma Marinho Brasileiro, é um passo necessário na proteção dos oceanos e no enfrentamento da mudança do clima. Sua aprovação representaria um sinal claro do compromisso brasileiro com a proteção dos oceanos e reforçaria o protagonismo do país na COP30.
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/os-oceanos-e-a-cop30.ghtml
Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.