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COM A OMISSÃO DO GOVERNO FEDERAL, GARIMPO ILEGAL SE ESTRUTURA E AMEAÇA COMUNIDADES INDÍGENAS DA T.I RAPOSA SERRA DO SOL
08/08/2025
Fonte: CIR - https://www.cir.org.br
Estrutura criminosa avança sobre território indígena com uso de maquinário pesado, financiamento externo e aliciamento de jovens. Lideranças denunciam omissão do Estado e sofrem ameaças.
Quatro anos após a primeira denúncia feita pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) sobre a presença de garimpeiros na Serra do Atola (https://www.cir.org.br/post/favela-de-garimpeiros-se-forma-na-ti-raposa-serra-do-sol), localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, município de Normandia, o cenário é de violenta escalada da destruição e da impunidade. A região, que abrange comunidades como Raposa I, Raposa II, Napoleão e Tarame, está sob intensa pressão de uma atividade ilegal que se sofisticou e expandiu.
Mesmo após operações das forças de segurança, o garimpo ilegal persiste na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Moradores da comunidade Raposa II denunciam que os invasores retornam rapidamente após as ações, expondo a fragilidade das medidas de combate e a necessidade urgente de um plano permanente de proteção territorial.
"Após a ação, os garimpeiros ainda continuam. Inclusive, as pessoas que foram detidas estão voltando. A explosão parou, mas a movimentação permanece", relata uma liderança da comunidade. Segundo ela, são os próprios moradores que denunciam a continuidade da atividade ilegal, demonstrando a indignação com os impactos da mineração. "Hoje, o que vemos são verdadeiras crateras onde antes havia floresta. As águas dos nossos igarapés estão sujas, a pesca já não existe", relata uma liderança da Raposa II.
Estrutura e financiamento do garimpo
Apesar de algumas operações pontuais para retirada de invasores, a ausência de um plano permanente do governo federal para impedir a entrada e o retorno dos garimpeiros, que muitas vezes aliciam indígenas das próprias comunidades, tem favorecido a continuidade da exploração ilegal. O garimpo está localizado a apenas sete quilômetros da comunidade Raposa II, mas a operação criminosa se expande. Há relatos de garimpeiros que transportam as pedras extraídas da Serra para uma residência próxima da comunidade, onde a atividade segue de forma escancarada, sem qualquer fiscalização ou presença da lei.
A situação se agravou com o envolvimento de empresários que, segundo os relatos, estariam financiando e organizando a exploração ilegal. À noite, é comum ver movimentação intensa de carros e motos na área. A comunidade teme que o avanço do garimpo resulte em conflitos, destruição cultural e danos irreversíveis ao território.
"A nossa comunidade é contra o garimpo. Queremos que isso pare. O garimpo evoluiu, está mais estruturado. Por isso, ações permanentes são importantes. Polícia Federal, Exército, é preciso combater sempre", conclui.
Com a chegada de maquinário pesado, como escavadeiras hidráulicas, motores e geradores, o garimpo passou a operar como uma verdadeira empresa clandestina. Estimativas de tuxauas locais apontam que cerca de 500 pessoas estariam envolvidas diretamente na atividade, incluindo mulheres e jovens aliciados pelas promessas de dinheiro rápido.
Em junho, o CIR recebeu uma denúncia da comunidade indígena Tarame, localizada na região da Raposa. Durante uma ação de monitoramento territorial, os moradores encontraram garimpeiros atuando na Serra do Cavalo. No local, foi identificada uma estrutura montada com motor gerador, compressor e duas caminhonetes, sendo uma delas um veículo destinado ao transporte escolar.
"A denúncia atualiza o cenário de invasão territorial e a persistência de atividade de garimpo ilegal na Serra do Cavalo. No dia 08 de junho de 2025, membros da comunidade Tarame, juntamente com o tuxaua, constataram a presença de mais não indígenas 'trabalhando' no local; foram encontrados um motor gerador, um compressor e duas caminhonetes, sendo uma delas um transporte escolar", diz um trecho da denúncia.
Após três anos, uma operação conjunta do Exército, da Funai e do Ministério Público Federal tentou desarticular a atividade na Serra do Atola e na comunidade Napoleão. Porém, os invasores já tinham conhecimento prévio da ação e conseguiram esconder boa parte dos equipamentos. As denúncias indicam que, mesmo após a operação, as atividades ilegais estão sendo retomadas aos poucos.
"Não adianta operação isolada. Enquanto o Estado não tiver um plano permanente de fiscalização e proteção do território, o garimpo vai continuar se espalhando", afirma uma liderança da Raposa I.
Na Raposa II, os povos macuxis desenvolvem diversas atividades produtivas que sustentam a economia local e preservam os saberes tradicionais. A pecuária é uma das principais fontes de renda, com a criação de bovinos. Na agricultura, os cultivos de mandioca, feijão e milho garantem o sustento das famílias e o abastecimento da comunidade. Nos últimos anos, a piscicultura também tem ganhado espaço como alternativa econômica, contribuindo para a segurança alimentar e a geração de renda. Outro destaque é a produção artesanal de panelas de barro, mantida pelas mulheres Macuxi. A atividade, além de fortalecer a autonomia feminina, carrega um importante valor cultural. Porém, essas atividades estão sendo impactadas pelo garimpo ilegal.
Expansão para novas áreas
A situação se repete em outras regiões da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, como nas comunidades Uiramutakém e Maturuca, ao norte do território. Em junho, lideranças de Maturuca encaminharam denúncia para o Exército Brasileiro relatando a presença de balsas de garimpo no rio Maú. Embora uma operação tenha sido realizada, os garimpeiros apenas se deslocaram para outras áreas. Informações apontam que comerciantes da sede do município de Uiramutã estariam financiando essas atividades.
A comunidade indígena Uiramutakém, no município de Uiramutã, situada às margens do rio Maú, também enfrenta invasões constantes. Pessoas estranhas, sem vínculos com a comunidade ou com os parentes da Guiana, atravessam a fronteira levando alimentos, combustível e materiais de garimpo para uso em território brasileiro. Os garimpeiros permanecem do lado guianense da fronteira, mas a extração mineral acontece no território brasileiro.
Segundo o tuxaua, os garimpeiros continuam atuando no território. Ele relatou ter visto veículos, como carros e quadriciclos, transportando motores, equipamentos e combustível em direção às áreas de garimpo.
Outra liderança relatou que, após a operação realizada na área de garimpo no rio Maú, avistou um helicóptero sobrevoando a região. Segundo o tuxaua, os garimpeiros se deslocaram para outra área, localizada abaixo da Cachoeira do Sapo, passando pela Cachoeira do Caronã.
Morte e ameaças
Em julho de 2025, foi registrada a primeira morte diretamente ligada ao garimpo na região; uma mulher foi soterrada em uma área conhecida como Serra do Trovão, atualmente dominada por garimpeiros.
Diante da omissão do Estado, muitas lideranças têm assumido a linha de frente na defesa do território, muitas vezes sob ameaça. Duas lideranças da Raposa Serra do Sol estão sob proteção do Estado por conta dessas ameaças, e outras enfrentam perseguições. Muitas ainda carregam as marcas da violenta invasão da Polícia Militar em 2021, na comunidade Tabatinga, quando foram impedidas de proteger o território contra o garimpo. Essa ação violenta foi arquivada pelo Ministério Público Federal, mas o CIR recorreu por entender que houve violação de direitos das comunidades.
Política anti-indígena favorece o crime
A situação é agravada pelo apoio de parlamentares locais à mineração em terras indígenas. O senador Chico Rodrigues, que gravou vídeo defendendo o garimpo, representa uma ala política que votou a favor do PL 2.159/2021, denominado "PL DA DEVASTAÇÃO", por flexibilizar drasticamente as regras do licenciamento ambiental.
Enquanto isso, as comunidades seguem isoladas e ameaçadas, clamando por um plano real de proteção territorial e de responsabilização dos envolvidos.
"Não somos contra o desenvolvimento. Somos contra o roubo, a destruição da natureza e a morte do nosso povo", resume uma liderança.
https://www.cir.org.br/post/com-a-omissao-do-governo-federal-garimpo-ilegal-se-estrutura-e-ameaca-comunidades-indigenas-da-t-i-raposa-serra-do-sol
Quatro anos após a primeira denúncia feita pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) sobre a presença de garimpeiros na Serra do Atola (https://www.cir.org.br/post/favela-de-garimpeiros-se-forma-na-ti-raposa-serra-do-sol), localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, município de Normandia, o cenário é de violenta escalada da destruição e da impunidade. A região, que abrange comunidades como Raposa I, Raposa II, Napoleão e Tarame, está sob intensa pressão de uma atividade ilegal que se sofisticou e expandiu.
Mesmo após operações das forças de segurança, o garimpo ilegal persiste na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Moradores da comunidade Raposa II denunciam que os invasores retornam rapidamente após as ações, expondo a fragilidade das medidas de combate e a necessidade urgente de um plano permanente de proteção territorial.
"Após a ação, os garimpeiros ainda continuam. Inclusive, as pessoas que foram detidas estão voltando. A explosão parou, mas a movimentação permanece", relata uma liderança da comunidade. Segundo ela, são os próprios moradores que denunciam a continuidade da atividade ilegal, demonstrando a indignação com os impactos da mineração. "Hoje, o que vemos são verdadeiras crateras onde antes havia floresta. As águas dos nossos igarapés estão sujas, a pesca já não existe", relata uma liderança da Raposa II.
Estrutura e financiamento do garimpo
Apesar de algumas operações pontuais para retirada de invasores, a ausência de um plano permanente do governo federal para impedir a entrada e o retorno dos garimpeiros, que muitas vezes aliciam indígenas das próprias comunidades, tem favorecido a continuidade da exploração ilegal. O garimpo está localizado a apenas sete quilômetros da comunidade Raposa II, mas a operação criminosa se expande. Há relatos de garimpeiros que transportam as pedras extraídas da Serra para uma residência próxima da comunidade, onde a atividade segue de forma escancarada, sem qualquer fiscalização ou presença da lei.
A situação se agravou com o envolvimento de empresários que, segundo os relatos, estariam financiando e organizando a exploração ilegal. À noite, é comum ver movimentação intensa de carros e motos na área. A comunidade teme que o avanço do garimpo resulte em conflitos, destruição cultural e danos irreversíveis ao território.
"A nossa comunidade é contra o garimpo. Queremos que isso pare. O garimpo evoluiu, está mais estruturado. Por isso, ações permanentes são importantes. Polícia Federal, Exército, é preciso combater sempre", conclui.
Com a chegada de maquinário pesado, como escavadeiras hidráulicas, motores e geradores, o garimpo passou a operar como uma verdadeira empresa clandestina. Estimativas de tuxauas locais apontam que cerca de 500 pessoas estariam envolvidas diretamente na atividade, incluindo mulheres e jovens aliciados pelas promessas de dinheiro rápido.
Em junho, o CIR recebeu uma denúncia da comunidade indígena Tarame, localizada na região da Raposa. Durante uma ação de monitoramento territorial, os moradores encontraram garimpeiros atuando na Serra do Cavalo. No local, foi identificada uma estrutura montada com motor gerador, compressor e duas caminhonetes, sendo uma delas um veículo destinado ao transporte escolar.
"A denúncia atualiza o cenário de invasão territorial e a persistência de atividade de garimpo ilegal na Serra do Cavalo. No dia 08 de junho de 2025, membros da comunidade Tarame, juntamente com o tuxaua, constataram a presença de mais não indígenas 'trabalhando' no local; foram encontrados um motor gerador, um compressor e duas caminhonetes, sendo uma delas um transporte escolar", diz um trecho da denúncia.
Após três anos, uma operação conjunta do Exército, da Funai e do Ministério Público Federal tentou desarticular a atividade na Serra do Atola e na comunidade Napoleão. Porém, os invasores já tinham conhecimento prévio da ação e conseguiram esconder boa parte dos equipamentos. As denúncias indicam que, mesmo após a operação, as atividades ilegais estão sendo retomadas aos poucos.
"Não adianta operação isolada. Enquanto o Estado não tiver um plano permanente de fiscalização e proteção do território, o garimpo vai continuar se espalhando", afirma uma liderança da Raposa I.
Na Raposa II, os povos macuxis desenvolvem diversas atividades produtivas que sustentam a economia local e preservam os saberes tradicionais. A pecuária é uma das principais fontes de renda, com a criação de bovinos. Na agricultura, os cultivos de mandioca, feijão e milho garantem o sustento das famílias e o abastecimento da comunidade. Nos últimos anos, a piscicultura também tem ganhado espaço como alternativa econômica, contribuindo para a segurança alimentar e a geração de renda. Outro destaque é a produção artesanal de panelas de barro, mantida pelas mulheres Macuxi. A atividade, além de fortalecer a autonomia feminina, carrega um importante valor cultural. Porém, essas atividades estão sendo impactadas pelo garimpo ilegal.
Expansão para novas áreas
A situação se repete em outras regiões da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, como nas comunidades Uiramutakém e Maturuca, ao norte do território. Em junho, lideranças de Maturuca encaminharam denúncia para o Exército Brasileiro relatando a presença de balsas de garimpo no rio Maú. Embora uma operação tenha sido realizada, os garimpeiros apenas se deslocaram para outras áreas. Informações apontam que comerciantes da sede do município de Uiramutã estariam financiando essas atividades.
A comunidade indígena Uiramutakém, no município de Uiramutã, situada às margens do rio Maú, também enfrenta invasões constantes. Pessoas estranhas, sem vínculos com a comunidade ou com os parentes da Guiana, atravessam a fronteira levando alimentos, combustível e materiais de garimpo para uso em território brasileiro. Os garimpeiros permanecem do lado guianense da fronteira, mas a extração mineral acontece no território brasileiro.
Segundo o tuxaua, os garimpeiros continuam atuando no território. Ele relatou ter visto veículos, como carros e quadriciclos, transportando motores, equipamentos e combustível em direção às áreas de garimpo.
Outra liderança relatou que, após a operação realizada na área de garimpo no rio Maú, avistou um helicóptero sobrevoando a região. Segundo o tuxaua, os garimpeiros se deslocaram para outra área, localizada abaixo da Cachoeira do Sapo, passando pela Cachoeira do Caronã.
Morte e ameaças
Em julho de 2025, foi registrada a primeira morte diretamente ligada ao garimpo na região; uma mulher foi soterrada em uma área conhecida como Serra do Trovão, atualmente dominada por garimpeiros.
Diante da omissão do Estado, muitas lideranças têm assumido a linha de frente na defesa do território, muitas vezes sob ameaça. Duas lideranças da Raposa Serra do Sol estão sob proteção do Estado por conta dessas ameaças, e outras enfrentam perseguições. Muitas ainda carregam as marcas da violenta invasão da Polícia Militar em 2021, na comunidade Tabatinga, quando foram impedidas de proteger o território contra o garimpo. Essa ação violenta foi arquivada pelo Ministério Público Federal, mas o CIR recorreu por entender que houve violação de direitos das comunidades.
Política anti-indígena favorece o crime
A situação é agravada pelo apoio de parlamentares locais à mineração em terras indígenas. O senador Chico Rodrigues, que gravou vídeo defendendo o garimpo, representa uma ala política que votou a favor do PL 2.159/2021, denominado "PL DA DEVASTAÇÃO", por flexibilizar drasticamente as regras do licenciamento ambiental.
Enquanto isso, as comunidades seguem isoladas e ameaçadas, clamando por um plano real de proteção territorial e de responsabilização dos envolvidos.
"Não somos contra o desenvolvimento. Somos contra o roubo, a destruição da natureza e a morte do nosso povo", resume uma liderança.
https://www.cir.org.br/post/com-a-omissao-do-governo-federal-garimpo-ilegal-se-estrutura-e-ameaca-comunidades-indigenas-da-t-i-raposa-serra-do-sol
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