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No Pará, governo monitora movimento indígena

22/08/2025

Autor: SURUÍ, Txai

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



No Pará, governo monitora movimento indígena
Agentes que deveriam proteger defensores dos direitos humanos espionaram indígenas

22/08/2025

Txai Suruí
Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé

O jornalista Adriano Wilkson, em reportagem para o Jota, revelou que o governo do Pará usou o programa de proteção de direitos humanos para espionar e vigiar lideranças indígenas.

Em janeiro deste ano, centenas de indígenas se deslocaram de diversas regiões do estado do Pará para protestar em Belém contra uma nova legislação, contra mudanças do governo que ameaçavam o ensino nas aldeias indígenas, nos quilombos e em comunidades mais isoladas e contra o então secretário de Educação, Rossieli Soares. O governo estadual usou então agentes que fazem parte do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos para espionar os manifestantes indígenas.

Dentro de pelo menos um dos ônibus dos manifestantes havia agentes infiltrados que enviavam em tempo real informações sobre os indígenas para a alta cúpula do governo. Com base nisso, produziram pelo menos dois relatórios sigilosos que identificam lideranças do movimento, aliados, suas intenções e formas de financiamento.

Essa não foi a primeira vez que as lideranças foram monitoradas. Isso de acordo com o depoimento do delegado Carlos André Viana no processo em que o MPF e a DPU acusam o governador Helder Barbalho e o estado do Pará de publicarem fake news contra os indígenas. E há meses descumprem decisão da Justiça para publicar um direito de resposta dos indígenas.

A ironia é cruel e deliberada. Um programa criado para proteger pessoas que têm suas vidas ameaçadas por serem defensores de direitos humanos foi transformado em instrumento de inteligência para servir aos interesses de um governo alinhado aos setores do agronegócio e da mineração. Os protegidos, na prática, tornaram-se mais uma vez os alvos. O escudo virou uma arma apontada contra aqueles que deveriam ser defendidos.

Os documentos obtidos pela reportagem são a prova dessa operação clandestina. Eles mostram que a equipe do programa, em vez de mapear ameaças contra os defensores, coletava informações detalhadas sobre a vida privada, os deslocamentos, as estratégias políticas e as articulações dessas lideranças.

Dados sensíveis, como agendas de viagem e participação em eventos, eram meticulosamente compilados e repassados a setores do governo.

Essa não é uma falha de gestão ou um desvio isolado. É a criminalização da resistência em um dos países que mais matam defensores de direitos humanos. Defender a terra e o modo de vida tradicional, direitos garantidos pela Constituição, é tratado como uma atividade suspeita, digna de monitoramento por órgãos de segurança. O objetivo é claro: asfixiar a resistência. Sabendo que as lideranças indígenas são a principal barreira ao avanço de projetos predatórios sobre a floresta, o Estado escolheu o caminho da intimidação e do controle, não do diálogo ou do cumprimento da lei.

A conclusão é aterrorizante: no Pará, os defensores da floresta não podem confiar no Estado. Aquele que deveria ser seu garantidor é, na verdade, seu perseguidor. Essa reportagem revela não somente um escândalo mas a operacionalização de um Estado policial contra populações indígenas e tradicionais.

Um golpe traiçoeiro contra a democracia.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2025/08/no-para-governo-monitora-movimento-indigena.shtml
 

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