De Pueblos Indígenas en Brasil
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Em tempos de colapso, uma rede de luta ancestral
09/09/2025
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Em tempos de colapso, uma rede de luta ancestral
40 anos depois da Aliança dos Povos da Floresta, nossos corpos, saberes e cantos se unem novamente, agora pela justiça climática e pela diversidade
09/09/2025
Em 1984, eles e elas chegaram de vários caminhos. Porongas alumiando os varadouros, canoas riscando os rios, maracas ecoando e vozes se confluindo. Do encontro entre diferentes povos, nasceu a Aliança dos Povos da Floresta, que ecoou até Brasília e ajudou a inscrever na Constituição o artigo 231, que garante o direito à terra, às reservas extrativistas e ao modo de vida dos povos tradicionais.
Nós somos frutos daquela semente.
Se você parar para pensar, 40 anos passam rápido. É quase o tempo de vida de um jacaré. É o tempo de uma criança nascer, crescer e, no meio do caminho, já carregar um filho na tipoia. É o tempo de uma mangueira dar frutos ano após ano até sombrear uma casa inteira. Mas também passam devagar, porque nesse meio-tempo vimos muita coisa ser devastada. Se parte da floresta ainda está de pé, é porque houve quem a segurasse.
Não é mais possível falar em futuro distante. As consequências já estão aqui. Rios estão virando leitos secos, frutas não caem mais na água e secam no chão. Sem a fruta, o peixe perde alimento. Sem o alimento, o peixe desaprende a nadar. E, quando o peixe desaprende a nadar, o rio desaprende a correr.
Por isso, hoje, quatro décadas depois, nós, jovens descendentes desse legado, lançamos o Manifesto Aliança dos Povos pelo Clima -ou, em mebêngôkre, língua falada pelo povo Kayapó: "Me bik prõj kam, me aminejê kabem".
"Aprà kamã myjja punu mõrõ kam, gume aben kôt bakabe~n, abe~n kôt badjumari dja, gê ngô, pyka, ba, mry, me àkôro dja, myjjja kuni umari mej. Gume ajte aben kôt kangõ, ba tyj ne, ami nêje bakabe~n rã ã. Tãm ne ja, gume me~ amim myjja 'ã banotyj e ne banhi djwy badjumari mej."
Em português: em tempos de colapso climático, erguemos uma rede de luta ancestral pela Amazônia viva, pelas florestas inteiras, pelas vozes dos rios, pelo planeta e pela humanidade que nele respira. Nossa proposta é de envolvimento pela defesa da vida.
Nossos nomes carregam a continuidade, mas também a urgência do agora. A nova Aliança nasce diversa: indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, beiradeiros, pescadores artesanais. Cada um com sua voz, cada território com sua força. Juntos, levantamos o corpo coletivo que protege os biomas. A floresta fala através de nós.
O desafio agora é global. O colapso do clima que atinge nossas florestas alcança também o resto do planeta. Tudo está interligado. E são os nossos povos que sentem primeiro, no corpo, as maiores perdas. Sentimos a seca, a fumaça, a perda da roça, a morte dos rios. Não aceitamos mais o silêncio.
Aos educadores, pensadores, ativistas, jornalistas, artistas e todos que leem este artigo: abram espaço para nossas vozes, como este importante jornal do país faz agora. Assim como escolhemos publicar um trecho desse artigo em mebêngôkre, saibam que muitos dos nossos saberes que protegem a vida ainda não foram traduzidos e estão prontos para serem compartilhados. Nossa resposta é política, cultural e espiritual, escrita com palavras, mas também com cantos, rituais e memória.
Dessa forma, afirmamos que esta Aliança dos Povos pelo Clima é um chamado à união entre povos, territórios e saberes para defender os modos de vida que nos mantêm vivos neste planeta. Um pacto pela justiça climática, pela diversidade e pela dignidade ecológica.
Reflorestar, para nós, não é só plantar árvores. É criar vínculo. É ouvir e respeitar. É lembrar que a floresta não é recurso, é ser vivo, e tem seus próprios direitos. Que os povos que vivem nela não ficaram no passado; estão aqui, sustentando o presente. Por isso, fazemos aqui um convite.
O mundo precisa se reflorestar. Isso se faz junto, com gente, canoa, poronga, agogô e coragem. A floresta tem voz e fala em muitas línguas. É nessa escuta que nos aliançamos.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/09/em-tempos-de-colapso-uma-rede-de-luta-ancestral.shtml
40 anos depois da Aliança dos Povos da Floresta, nossos corpos, saberes e cantos se unem novamente, agora pela justiça climática e pela diversidade
09/09/2025
Em 1984, eles e elas chegaram de vários caminhos. Porongas alumiando os varadouros, canoas riscando os rios, maracas ecoando e vozes se confluindo. Do encontro entre diferentes povos, nasceu a Aliança dos Povos da Floresta, que ecoou até Brasília e ajudou a inscrever na Constituição o artigo 231, que garante o direito à terra, às reservas extrativistas e ao modo de vida dos povos tradicionais.
Nós somos frutos daquela semente.
Se você parar para pensar, 40 anos passam rápido. É quase o tempo de vida de um jacaré. É o tempo de uma criança nascer, crescer e, no meio do caminho, já carregar um filho na tipoia. É o tempo de uma mangueira dar frutos ano após ano até sombrear uma casa inteira. Mas também passam devagar, porque nesse meio-tempo vimos muita coisa ser devastada. Se parte da floresta ainda está de pé, é porque houve quem a segurasse.
Não é mais possível falar em futuro distante. As consequências já estão aqui. Rios estão virando leitos secos, frutas não caem mais na água e secam no chão. Sem a fruta, o peixe perde alimento. Sem o alimento, o peixe desaprende a nadar. E, quando o peixe desaprende a nadar, o rio desaprende a correr.
Por isso, hoje, quatro décadas depois, nós, jovens descendentes desse legado, lançamos o Manifesto Aliança dos Povos pelo Clima -ou, em mebêngôkre, língua falada pelo povo Kayapó: "Me bik prõj kam, me aminejê kabem".
"Aprà kamã myjja punu mõrõ kam, gume aben kôt bakabe~n, abe~n kôt badjumari dja, gê ngô, pyka, ba, mry, me àkôro dja, myjjja kuni umari mej. Gume ajte aben kôt kangõ, ba tyj ne, ami nêje bakabe~n rã ã. Tãm ne ja, gume me~ amim myjja 'ã banotyj e ne banhi djwy badjumari mej."
Em português: em tempos de colapso climático, erguemos uma rede de luta ancestral pela Amazônia viva, pelas florestas inteiras, pelas vozes dos rios, pelo planeta e pela humanidade que nele respira. Nossa proposta é de envolvimento pela defesa da vida.
Nossos nomes carregam a continuidade, mas também a urgência do agora. A nova Aliança nasce diversa: indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, beiradeiros, pescadores artesanais. Cada um com sua voz, cada território com sua força. Juntos, levantamos o corpo coletivo que protege os biomas. A floresta fala através de nós.
O desafio agora é global. O colapso do clima que atinge nossas florestas alcança também o resto do planeta. Tudo está interligado. E são os nossos povos que sentem primeiro, no corpo, as maiores perdas. Sentimos a seca, a fumaça, a perda da roça, a morte dos rios. Não aceitamos mais o silêncio.
Aos educadores, pensadores, ativistas, jornalistas, artistas e todos que leem este artigo: abram espaço para nossas vozes, como este importante jornal do país faz agora. Assim como escolhemos publicar um trecho desse artigo em mebêngôkre, saibam que muitos dos nossos saberes que protegem a vida ainda não foram traduzidos e estão prontos para serem compartilhados. Nossa resposta é política, cultural e espiritual, escrita com palavras, mas também com cantos, rituais e memória.
Dessa forma, afirmamos que esta Aliança dos Povos pelo Clima é um chamado à união entre povos, territórios e saberes para defender os modos de vida que nos mantêm vivos neste planeta. Um pacto pela justiça climática, pela diversidade e pela dignidade ecológica.
Reflorestar, para nós, não é só plantar árvores. É criar vínculo. É ouvir e respeitar. É lembrar que a floresta não é recurso, é ser vivo, e tem seus próprios direitos. Que os povos que vivem nela não ficaram no passado; estão aqui, sustentando o presente. Por isso, fazemos aqui um convite.
O mundo precisa se reflorestar. Isso se faz junto, com gente, canoa, poronga, agogô e coragem. A floresta tem voz e fala em muitas línguas. É nessa escuta que nos aliançamos.
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2025/09/em-tempos-de-colapso-uma-rede-de-luta-ancestral.shtml
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