De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
'Nossa mensagem é Amazônia em pé': como o The Town visa levar sustentabilidade para o público
05/09/2025
Fonte: OESP - https://www.estadao.com.br/
Nossa mensagem é Amazônia em pé': como o The Town visa levar sustentabilidade para o público
Ações da organização do festival, de fornecedores e de patrocinadores tentam diminuir impacto ambiental e avançar frente a gargalos
05/09/2025
Luis Filipe Santos e Shagaly Ferreira
Reunir milhares de pessoas diante de artistas famosos em cinco dias de shows pode também ser uma oportunidade de buscar conscientização. É nisso que a organização do The Town aposta para a edição deste ano do festival, que visa passar a mensagem de preservação ambiental, de "Amazônia em pé".
Para isso, é necessário fazer o trabalho de casa, e garantir que o próprio festival tenha os seus impactos ambientais minimizados. E ter uma narrativa consistente, que envolva fornecedores, patrocinadores e, principalmente, o público.
Segundo Roberta Medina, vice-presidente executiva da Rock World, empresa que organiza o The Town e o Rock in Rio, os eventos estão numa jornada, iniciada no Rock in Rio Lisboa de 2006, com diversos avanços, como a contabilização de emissões de gases do aquecimento global. Outras modificações pretendidas esbarraram em limitações técnicas ou na colaboração de partes interessadas.
Para este ano, o festival planeja reforçar a agenda em prol da Floresta Amazônica com mensagens sendo transmitidas em telões, a realização do leilão beneficente "Fans for Change" e o show "Amazônia Live - Hoje e Sempre". Também pede a ajuda de fornecedores, patrocinadores e demais empresas presentes para os estandes, ativações e demais ações nessa empreitada.
Para essas companhias, o The Town é uma oportunidade de falar com o público para mostrar o trabalho ambiental feito nas operações diárias. Entre as empresas ouvidas pelo Estadão, as principais ações citadas são a tentativa de reduzir os impactos relacionados ao evento e a distribuição de brindes ecológicos, com utilidade real para não serem descartados posteriormente.
"Nossos eventos são ambientes onde as pessoas querem se divertir, o que dá uma oportunidade mais aberta da pessoa te ouvir. É um caminho onde as pessoas estão interessadas, querem saber, cobram ações da gente. A conversa flui", afirma Medina.
Para Heiko Spitzeck, diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC), o The Town traz algumas boas ações, mas ainda poderia avançar em outras, como a construção de uma narrativa consistente junto ao público.
Para o especialista, a sustentabilidade em festivais precisa se atentar para cinco pontos principais:
Gestão de resíduos, com menor geração de lixo e reciclagem do que for possível;
Redução das emissões de CO₂ e outros gases;
Bom fornecimento de água e saneamento básico;
Consumo responsável - no caso de eventos no Brasil, de bebidas alcoólicas;
Engajamento do público com as causas que se quer apoiar.
Na edição atual do The Town, o "Fans For Change" leiloará itens autografados pelos artistas, ingressos, acessos aos bastidores e experiências gastronômicas. O dinheiro arrecadado será destinado ao Instituto Socioambiental (ISA) para o plantio e acompanhamento de uma área de 4 mil hectares na Floresta Amazônica e para a Ação de Cidadania, organização que combate a fome no Brasil.
A Rock World também organizará os shows "Live Amazônia - Hoje e Sempre", que será um projeto realizado em Belém nos dias 17 e 20 de setembro, como evento pré COP-30. O espetáculo contará com shows de Mariah Carey e Ivete Sangalo, além de artistas paraenses como Dona Onete, Gaby Amarantos e Joelma.
Avanços e gargalos
O engajamento do público deve ser fundamental para que as intenções de um festival mais "verde" se tornem realidade. Com a dependência robusta de transportes aéreos e rodoviários, tanto para a montagem das estruturas quanto para o translado dos artistas, o The Town tem trabalhado com o incentivo ao uso do transporte metroviário para a mobilidade dos participantes ser menos agressiva ao meio ambiente.
Dados sobre o perfil das emissões da primeira edição do festival, em 2023, apontaram que o evento emitiu quase 14 toneladas de gases poluentes. O deslocamento correspondeu à maior parte das emissões, 90,3%. Em segundo lugar, está a geração de energia, 9,3%, seguidos de brindes/alimentos e resíduos, com 0,3% e 0,1%, respectivamente.
Neste ano, o evento irá manter a parceria com o sistema de metrô de São Paulo (Metrô, CPTM, ViaQuatro e ViaMobilidade) para funcionamento das estações mais próximas ao local do evento (Autódromo de Interlagos) por 24 horas para embarque e desembarque, e as demais apenas para desembarque. A proposta é reforçar o uso do modal, uma vez que, na primeira edição, meio milhão de pessoas precisaram se deslocar até a área do festival.
Ainda em relação aos consumidores, estará literalmente nas mãos deles parte da tarefa de reduzir em 30% a quantidade de copos utilizados no festival, dessa vez, com um incentivo financeiro. Em parceria com as marcas Eisenbahn, Coca-Cola, Red Bull e Amstel Vibes, o evento terá não só os tradicionais copos retornáveis, como dará desconto de R$ 5 para quem reutilizar o mesmo copo para comprar outra bebida ou trocar por um copo novo, independentemente da marca escolhida. O copo recebido será higienizado e retornará para a operação.
Na questão da gestão de resíduos da estrutura, a Rock World está sinalizando materiais conforme sua composição para ajudar na gestão dos materiais durante a desmontagem. No entanto, na parte de energia, ainda há gargalos na geração limpa. Os geradores dos palcos são movidos à diesel. De acordo com Medina, a alternativa encontrada ainda é a eficiência energética, diminuindo e otimizando o uso dos geradores e compensando as emissões com créditos de carbono.
Participação das empresas
O festival tem metas verdes publicadas em um plano de sustentabilidade disponibilizado no próprio site do evento. O documento enumera medidas como a já citada campanha de mobilidade sustentável, o plano de gestão de resíduos e a reutilização de materiais nos cenários. Ele também detalha o estágio de implementação das iniciativas, desde o que não foi adotado até o que já foi totalmente implementado.
As medidas, segundo Medina, são estabelecidas em contrato para fornecedores e patrocinadores. No entanto, aparecem como recomendações e não como imposições. Nesse caso, cabe às empresas a adoção voluntária das práticas orientadas, o que hoje ela considera estar mais fácil de conseguir a adesão, visto que as empresas não querem mais estar expostas por não terem boas práticas.
"Nós tínhamos muita dificuldade em receber informações dos fornecedores, para podermos calcular nosso próprio impacto. Para conseguir engajamento, desde 2008 criamos um prêmio de sustentabilidade, agora eles 'brigam' para mandar as informações completas. Mas, ainda assim, somos 'chatos' com as empresas, enchemos o saco", reforça Letícia Freire, gerente de Sustentabilidade Operacional da Rock World.
As companhias passam por uma supervisão durante o evento, principalmente em relação ao tratamento dos trabalhadores envolvidos nos serviços. Medina conta que esse esquema foi reforçado "de forma muito mais agressiva", principalmente com a presença de fiscais, após o envolvimento da edição de 2024 do Rock in Rio em denúncias de trabalho análogo à escravidão. A Rock World chegou a ser incluída na lista suja do Ministério Público do Trabalho (MPT).
Na parte ambiental, as empresas de diversos segmentos do mercado ouvidas pelo Estadão optaram por trabalhar com iniciativas sustentáveis no festival por meio de brindes. Os materiais, que costumam ser entregues ao público em ativações (dinâmicas para conexão entre marca e público), também passam por supervisão prévia.
A política relacionada aos brindes está estabelecida no plano de sustentabilidade do festival, e prevê critérios como: utilidade para evitar descarte, mensagem associada à responsabilidade ambiental, materiais reciclados ou recicláveis e entrega dos objetos ao público sem estarem envoltos em embalagens plásticas.
Dentre as empresas que irão adotar os materiais reciclados em seus brindes estão Riachuelo, Latam e Vivo.
A Riachuelo estará no evento com o estande Pool Jeans, que costuma estar presente em festivais de música patrocinados pela varejista de moda. Está previsto o uso de jeans reciclado para revestir o mobiliário do espaço, que deverá ter descarte correto após o The Town. O tecido também será usado em dois mil cases para celular que serão distribuídos. Também será lançada a linha de jeans com práticas circulares, Pool Loop, com distribuição de 50 jaquetas.
A Latam irá distribuir 500 necessaries produzidas a partir da reutilização de uniformes, em uma parceria com a consultoria Revoada, de Porto Alegre (RS) especializada em upcycling (reciclagem). A companhia aérea informou que pretende compensar as emissões de dióxido de carbono geradas pelos resíduos do seu estande, "em alinhamento com o compromisso global do setor da aviação de alcançar emissões líquidas zero de carbono até 2050". O formato de compensação não foi informado.
Uniformes de trabalhadores técnicos também serão utilizados pela Vivo para a produção das pochetes que serão ofertadas ao público. O estande levará chaveiros com madeira reciclada, com a mesma proposta ambiental iniciada na edição deste ano do Lollapalooza. A ação da companhia telefônica também envolveu uma ativação no final de agosto em São Paulo, no Shopping Eldorado, no qual foi realizada a troca de resíduos eletrônicos por convites para o The Town. O volume de materiais recebidos ainda não foi divulgado.
A siderúrgica Gerdau terá mais de 300 toneladas do seu aço reciclável usado na edição de 2023 do The Town reutilizadas nas estruturas fixas e temporárias do evento neste ano. Conforme a empresa, o material está sendo aplicado em "equipamentos de entretenimento, fundações de edificações e infraestrutura, incluindo as torres de retorno de som do palco principal do festival". A Gerdau terá também um espaço na área VIP, no qual irá disponibilizar uma "máquina de reciclagem", com itens que representam sucata metálica. Quem completar o desafio ganhará uma miniatura de guitarra feita em aço reciclado.
Já na parte do segmento de beleza, a People Colour, marca da Simple Organic (da Hypera Pharma), é quem está produzindo unidades de gloss licenciados para o festival. A empresa é conhecida pelo apelo sustentável na formulação de cosméticos, e produziu uma edição limitada do produto, mantendo insumos naturais e veganos. De acordo com a empresa, o cosmético estará disponível para utilização no estande da Riachuelo.
Medidas mais concretas
Para Spitzeck, diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC), apesar de o festival apresentar medidas de sustentabilidade, seria importante que o festival reforçasse a comunicação dessas iniciativas junto ao público para favorecer a construção de uma consciência ambiental. "Seria interessante demonstrar uma narrativa maior por trás. Há várias práticas, mas qual é o denominador comum? A empresa só achou legal e resolveu fazer?", questiona.
Como exemplo, ele cita a possibilidade de o consumidor conhecer o papel importante que tem na gestão de resíduos, e diz que os festivais podem educar para separação e reaproveitamento de resíduos. No entanto, elogia a ação da reutilização dos copos. As ações voltadas para a Amazônia, como o leilão, também são positivas, mas, na visão de Spitzeck, podem ser estruturadas para o longo prazo, não apenas para um único ano.
Todas as ações, propõe o especialista, devem ser planejadas a partir da reflexão de como os eventos são afetados pelos impactos ambientais que geram. Devem ser considerados os riscos, custos e oportunidades, que mexem com as receitas geradas e a reputação das marcas envolvidas. "Não se pode não deixar a sustentabilidade na mão do marketing só. É preciso olhar de maneira crítica, com começo, meio e fim, e com uma narrativa amarrada", diz.
Segundo Roberta Medina, a intenção da Rock World desde o primeiro Rock in Rio, em 1985, foi de ser um mobilizador econômico, com o princípio de uma economia colaborativa. "Com o consumidor no centro, nosso primeiro pilar é o compromisso com um sistema interdependente, que só funciona se todo mundo estiver bem. Se um estiver mal, fica fragilizado", defende.
https://www.estadao.com.br/economia/governanca/mensagem-amazonia-the-town-sustentabilidade-publico/
Ações da organização do festival, de fornecedores e de patrocinadores tentam diminuir impacto ambiental e avançar frente a gargalos
05/09/2025
Luis Filipe Santos e Shagaly Ferreira
Reunir milhares de pessoas diante de artistas famosos em cinco dias de shows pode também ser uma oportunidade de buscar conscientização. É nisso que a organização do The Town aposta para a edição deste ano do festival, que visa passar a mensagem de preservação ambiental, de "Amazônia em pé".
Para isso, é necessário fazer o trabalho de casa, e garantir que o próprio festival tenha os seus impactos ambientais minimizados. E ter uma narrativa consistente, que envolva fornecedores, patrocinadores e, principalmente, o público.
Segundo Roberta Medina, vice-presidente executiva da Rock World, empresa que organiza o The Town e o Rock in Rio, os eventos estão numa jornada, iniciada no Rock in Rio Lisboa de 2006, com diversos avanços, como a contabilização de emissões de gases do aquecimento global. Outras modificações pretendidas esbarraram em limitações técnicas ou na colaboração de partes interessadas.
Para este ano, o festival planeja reforçar a agenda em prol da Floresta Amazônica com mensagens sendo transmitidas em telões, a realização do leilão beneficente "Fans for Change" e o show "Amazônia Live - Hoje e Sempre". Também pede a ajuda de fornecedores, patrocinadores e demais empresas presentes para os estandes, ativações e demais ações nessa empreitada.
Para essas companhias, o The Town é uma oportunidade de falar com o público para mostrar o trabalho ambiental feito nas operações diárias. Entre as empresas ouvidas pelo Estadão, as principais ações citadas são a tentativa de reduzir os impactos relacionados ao evento e a distribuição de brindes ecológicos, com utilidade real para não serem descartados posteriormente.
"Nossos eventos são ambientes onde as pessoas querem se divertir, o que dá uma oportunidade mais aberta da pessoa te ouvir. É um caminho onde as pessoas estão interessadas, querem saber, cobram ações da gente. A conversa flui", afirma Medina.
Para Heiko Spitzeck, diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC), o The Town traz algumas boas ações, mas ainda poderia avançar em outras, como a construção de uma narrativa consistente junto ao público.
Para o especialista, a sustentabilidade em festivais precisa se atentar para cinco pontos principais:
Gestão de resíduos, com menor geração de lixo e reciclagem do que for possível;
Redução das emissões de CO₂ e outros gases;
Bom fornecimento de água e saneamento básico;
Consumo responsável - no caso de eventos no Brasil, de bebidas alcoólicas;
Engajamento do público com as causas que se quer apoiar.
Na edição atual do The Town, o "Fans For Change" leiloará itens autografados pelos artistas, ingressos, acessos aos bastidores e experiências gastronômicas. O dinheiro arrecadado será destinado ao Instituto Socioambiental (ISA) para o plantio e acompanhamento de uma área de 4 mil hectares na Floresta Amazônica e para a Ação de Cidadania, organização que combate a fome no Brasil.
A Rock World também organizará os shows "Live Amazônia - Hoje e Sempre", que será um projeto realizado em Belém nos dias 17 e 20 de setembro, como evento pré COP-30. O espetáculo contará com shows de Mariah Carey e Ivete Sangalo, além de artistas paraenses como Dona Onete, Gaby Amarantos e Joelma.
Avanços e gargalos
O engajamento do público deve ser fundamental para que as intenções de um festival mais "verde" se tornem realidade. Com a dependência robusta de transportes aéreos e rodoviários, tanto para a montagem das estruturas quanto para o translado dos artistas, o The Town tem trabalhado com o incentivo ao uso do transporte metroviário para a mobilidade dos participantes ser menos agressiva ao meio ambiente.
Dados sobre o perfil das emissões da primeira edição do festival, em 2023, apontaram que o evento emitiu quase 14 toneladas de gases poluentes. O deslocamento correspondeu à maior parte das emissões, 90,3%. Em segundo lugar, está a geração de energia, 9,3%, seguidos de brindes/alimentos e resíduos, com 0,3% e 0,1%, respectivamente.
Neste ano, o evento irá manter a parceria com o sistema de metrô de São Paulo (Metrô, CPTM, ViaQuatro e ViaMobilidade) para funcionamento das estações mais próximas ao local do evento (Autódromo de Interlagos) por 24 horas para embarque e desembarque, e as demais apenas para desembarque. A proposta é reforçar o uso do modal, uma vez que, na primeira edição, meio milhão de pessoas precisaram se deslocar até a área do festival.
Ainda em relação aos consumidores, estará literalmente nas mãos deles parte da tarefa de reduzir em 30% a quantidade de copos utilizados no festival, dessa vez, com um incentivo financeiro. Em parceria com as marcas Eisenbahn, Coca-Cola, Red Bull e Amstel Vibes, o evento terá não só os tradicionais copos retornáveis, como dará desconto de R$ 5 para quem reutilizar o mesmo copo para comprar outra bebida ou trocar por um copo novo, independentemente da marca escolhida. O copo recebido será higienizado e retornará para a operação.
Na questão da gestão de resíduos da estrutura, a Rock World está sinalizando materiais conforme sua composição para ajudar na gestão dos materiais durante a desmontagem. No entanto, na parte de energia, ainda há gargalos na geração limpa. Os geradores dos palcos são movidos à diesel. De acordo com Medina, a alternativa encontrada ainda é a eficiência energética, diminuindo e otimizando o uso dos geradores e compensando as emissões com créditos de carbono.
Participação das empresas
O festival tem metas verdes publicadas em um plano de sustentabilidade disponibilizado no próprio site do evento. O documento enumera medidas como a já citada campanha de mobilidade sustentável, o plano de gestão de resíduos e a reutilização de materiais nos cenários. Ele também detalha o estágio de implementação das iniciativas, desde o que não foi adotado até o que já foi totalmente implementado.
As medidas, segundo Medina, são estabelecidas em contrato para fornecedores e patrocinadores. No entanto, aparecem como recomendações e não como imposições. Nesse caso, cabe às empresas a adoção voluntária das práticas orientadas, o que hoje ela considera estar mais fácil de conseguir a adesão, visto que as empresas não querem mais estar expostas por não terem boas práticas.
"Nós tínhamos muita dificuldade em receber informações dos fornecedores, para podermos calcular nosso próprio impacto. Para conseguir engajamento, desde 2008 criamos um prêmio de sustentabilidade, agora eles 'brigam' para mandar as informações completas. Mas, ainda assim, somos 'chatos' com as empresas, enchemos o saco", reforça Letícia Freire, gerente de Sustentabilidade Operacional da Rock World.
As companhias passam por uma supervisão durante o evento, principalmente em relação ao tratamento dos trabalhadores envolvidos nos serviços. Medina conta que esse esquema foi reforçado "de forma muito mais agressiva", principalmente com a presença de fiscais, após o envolvimento da edição de 2024 do Rock in Rio em denúncias de trabalho análogo à escravidão. A Rock World chegou a ser incluída na lista suja do Ministério Público do Trabalho (MPT).
Na parte ambiental, as empresas de diversos segmentos do mercado ouvidas pelo Estadão optaram por trabalhar com iniciativas sustentáveis no festival por meio de brindes. Os materiais, que costumam ser entregues ao público em ativações (dinâmicas para conexão entre marca e público), também passam por supervisão prévia.
A política relacionada aos brindes está estabelecida no plano de sustentabilidade do festival, e prevê critérios como: utilidade para evitar descarte, mensagem associada à responsabilidade ambiental, materiais reciclados ou recicláveis e entrega dos objetos ao público sem estarem envoltos em embalagens plásticas.
Dentre as empresas que irão adotar os materiais reciclados em seus brindes estão Riachuelo, Latam e Vivo.
A Riachuelo estará no evento com o estande Pool Jeans, que costuma estar presente em festivais de música patrocinados pela varejista de moda. Está previsto o uso de jeans reciclado para revestir o mobiliário do espaço, que deverá ter descarte correto após o The Town. O tecido também será usado em dois mil cases para celular que serão distribuídos. Também será lançada a linha de jeans com práticas circulares, Pool Loop, com distribuição de 50 jaquetas.
A Latam irá distribuir 500 necessaries produzidas a partir da reutilização de uniformes, em uma parceria com a consultoria Revoada, de Porto Alegre (RS) especializada em upcycling (reciclagem). A companhia aérea informou que pretende compensar as emissões de dióxido de carbono geradas pelos resíduos do seu estande, "em alinhamento com o compromisso global do setor da aviação de alcançar emissões líquidas zero de carbono até 2050". O formato de compensação não foi informado.
Uniformes de trabalhadores técnicos também serão utilizados pela Vivo para a produção das pochetes que serão ofertadas ao público. O estande levará chaveiros com madeira reciclada, com a mesma proposta ambiental iniciada na edição deste ano do Lollapalooza. A ação da companhia telefônica também envolveu uma ativação no final de agosto em São Paulo, no Shopping Eldorado, no qual foi realizada a troca de resíduos eletrônicos por convites para o The Town. O volume de materiais recebidos ainda não foi divulgado.
A siderúrgica Gerdau terá mais de 300 toneladas do seu aço reciclável usado na edição de 2023 do The Town reutilizadas nas estruturas fixas e temporárias do evento neste ano. Conforme a empresa, o material está sendo aplicado em "equipamentos de entretenimento, fundações de edificações e infraestrutura, incluindo as torres de retorno de som do palco principal do festival". A Gerdau terá também um espaço na área VIP, no qual irá disponibilizar uma "máquina de reciclagem", com itens que representam sucata metálica. Quem completar o desafio ganhará uma miniatura de guitarra feita em aço reciclado.
Já na parte do segmento de beleza, a People Colour, marca da Simple Organic (da Hypera Pharma), é quem está produzindo unidades de gloss licenciados para o festival. A empresa é conhecida pelo apelo sustentável na formulação de cosméticos, e produziu uma edição limitada do produto, mantendo insumos naturais e veganos. De acordo com a empresa, o cosmético estará disponível para utilização no estande da Riachuelo.
Medidas mais concretas
Para Spitzeck, diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral (FDC), apesar de o festival apresentar medidas de sustentabilidade, seria importante que o festival reforçasse a comunicação dessas iniciativas junto ao público para favorecer a construção de uma consciência ambiental. "Seria interessante demonstrar uma narrativa maior por trás. Há várias práticas, mas qual é o denominador comum? A empresa só achou legal e resolveu fazer?", questiona.
Como exemplo, ele cita a possibilidade de o consumidor conhecer o papel importante que tem na gestão de resíduos, e diz que os festivais podem educar para separação e reaproveitamento de resíduos. No entanto, elogia a ação da reutilização dos copos. As ações voltadas para a Amazônia, como o leilão, também são positivas, mas, na visão de Spitzeck, podem ser estruturadas para o longo prazo, não apenas para um único ano.
Todas as ações, propõe o especialista, devem ser planejadas a partir da reflexão de como os eventos são afetados pelos impactos ambientais que geram. Devem ser considerados os riscos, custos e oportunidades, que mexem com as receitas geradas e a reputação das marcas envolvidas. "Não se pode não deixar a sustentabilidade na mão do marketing só. É preciso olhar de maneira crítica, com começo, meio e fim, e com uma narrativa amarrada", diz.
Segundo Roberta Medina, a intenção da Rock World desde o primeiro Rock in Rio, em 1985, foi de ser um mobilizador econômico, com o princípio de uma economia colaborativa. "Com o consumidor no centro, nosso primeiro pilar é o compromisso com um sistema interdependente, que só funciona se todo mundo estiver bem. Se um estiver mal, fica fragilizado", defende.
https://www.estadao.com.br/economia/governanca/mensagem-amazonia-the-town-sustentabilidade-publico/
Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.