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A pesquisa pelo fim da foz do Amazonas

20/10/2025

Autor: Elaíze Farias

Fonte: Amazonia Real - https://amazoniareal.com.br



Manaus (AM) - O Ibama liberou nesta segunda-feira (20) o licenciamento para a Petrobras perfurar poço e explorar petróleo na costa do Amapá, ou seja, na foz do rio Amazonas. O timing não poderia ser mais contraditório e inapropriado - a apenas alguns dias da COP 30 em Belém. Mas há uma sonda exploratória nas águas aguardando para ser operada, com contrato para expirar, e que não pode esperar.

Honestamente, não é nenhuma surpresa, diante da rendição que já vinha sendo ensaiada pelos chefes do Ibama e pela ministra Marina Silva. Havia uma crescente pressão de outras autoridades do governo federal e do próprio presidente Lula; o mesmo que falou que a demora do Ibama era "lenga-lenga". O presidente tem uma forma muito peculiar de acuar seus subordinados. Em seu primeiro mandato, para ironizar a dificuldade do licenciamento das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau (RO), Lula culpou o bagre pela demora, menosprezando esta espécie de peixe.

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) divulgou uma nota repudiando de forma "veemente" a autorização do Ibama. "Ao mesmo tempo que cobra compromissos climáticos mais sérios dos outros países, o governo brasileiro investe na exploração de combustíveis fósseis em seu território", diz trecho da nota. A organização diz também que "o governo federal e seus órgãos de controle demonstram desrespeito à autonomia e autodeterminação dos povos indígenas, além de violar o direito à consulta prévia, livre e informada".

Uma prospecção de petróleo não é um empreendimento com pouco impacto. Se é suficiente para escala comercial, se é viável financeiramente ou não, é outra história.

Observei pessoas conjecturando, na tentativa de justificar a autorização do Ibama - o discurso é de que se trata "apenas" de pesquisa para obter informações geológicas e que a exploração será em águas profundas e distantes da costa.

Quem compartilha esta mensagem desconhece a história dos grandes danos sociais e ambientais na Amazônia e nas populações locais causados por tais prospecções por parte da Petrobras: migrações forçadas para zonas urbanas e periféricas, deslocamentos de populações indígenas e ribeirinhas, impactos nos ecossistemas e na fauna aquática.

No Amapá, vai afetar drasticamente o sustento dos locais, diminuindo sua fonte de alimentação, por mais que os políticos do estado estejam em alvoroço comemorando.

Nas décadas de 70 e 80, a Petrobras realizou prospecção na Terra Indígena Vale do Javari (AM), na fronteira do Brasil com Peru, causando imensos danos naquele território, uma região notável de grupos em isolamento voluntário. Até hoje é um trauma entre os indígenas Matis, Marubo, Kulina, Kanamari, Korubo e Matsés.

No início dos anos 80, a Petrobras realizou várias perfurações na TI Andirá Marau (AM), sendo uma das principais causas do êxodo de indígenas Sateré-Mawé para Manaus; gerou muitos conflitos sociais no território, sem falar nos impactos ambientais. O mesmo território também foi impactado por operações da petrolífera francesa Elf-Aquitane.

Há pouco mais de 10 anos, a Petrobras iniciou atividades exploratórias na região do rio Tapauá, no Amazonas, atingindo terras de povos indígenas entre eles os Deni, os Paumari e os Suruwahá. Em Silves, também no Amazonas, empreendeu várias perfurações na bacia do rio Amazonas. Hoje, esta área é operada pela iniciativa privada - Eneva. O empreendimento vem sendo denunciado por indígenas Mura, Sateré-Mawé e Munduruku, pois ele avança sobre seus territórios.

No caso da foz do rio Amazonas, novamente as consequências para os povos indígenas e ribeirinhos foram ignoradas. O colapso socioambiental causado por exploração de combustíveis fósseis já está mais do que avisado e conhecido. Permanece o pensamento neocolonial de concentração de riqueza e progresso e perpetuação da desigualdade.

Para saber como a segurança alimentar já afeta os povos de Oiapoque (AP), leia a matéria "Os sons invisíveis da Amazônia", de Rudja Santos, na Amazônia Real.

https://amazoniareal.com.br/a-pesquisa-pelo-fim-da-foz-do-amazonas/
 

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