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"A vida dos povos indígenas não pode valer o preço do petróleo"

13/11/2025

Autor: Tainá Rionegro

Fonte: Coiab - https://coiab.org.br



"A vida dos povos indígenas não pode valer o preço do petróleo". Com essa afirmação, Luene Karipuna, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP), organização de base da Coiab, abriu a mesa na Zona Azul da COP30 junto a lideranças indígenas da Colômbia, Brasil, Peru e Equador, onde fez um alerta contundente sobre os impactos da expansão petroleira na Amazônia.

A extração de petróleo na região historicamente provoca contaminação de rios, perda de território, adoecimento de comunidades, conflitos internos, invasões associadas à infraestrutura das empresas e destruição de modos de vida que dependem diretamente da floresta. Em muitos casos, os estudos ambientais ignoram a presença indígena ou omitem riscos, o que aprofunda violações e fragiliza o direito à consulta prévia.

Patrícia Suárez, da Organización Nacional de los Pueblos Indígenas de la Amazonía Colombiana (OPIAC), afirmou que ouvir as comunidades afetadas é fundamental para compreender o alcance da destruição. "Temos que escutar como vivem os povos da Bacia Amazônica e como esse modelo tem arrasado suas vidas. Cada novo bloco petroleiro aprofunda desigualdades e vulnerabilidades."

Do Brasil, Luene Karipuna reforçou que discutir petróleo hoje é discutir sobrevivência. "A necessidade é eliminar a exploração de combustíveis fósseis. Já existe uma especulação imobiliária gigantesca, e nós estamos na ponta: três Terras Indígenas onde vivem quatro povos, pressionados pela criação de novos bairros e pelo avanço da indústria", relatou.

Ela denunciou que os estudos de impacto do Bloco 59, que pretende explorar petróleo na Margem Equatorial, desconsideram a presença indígena na região. A decisão se tornou ainda mais alarmante após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizar a Petrobras a perfurar um poço em alto-mar na Bacia da Foz do Amazonas, uma das áreas de maior sensibilidade ambiental e biodiversidade do planeta. A liberação ocorreu a apenas 21 dias da COP30, em Belém, e contraria as expectativas de que o Brasil assumisse uma liderança climática mais coerente com a proteção da Amazônia.

"Somos excluídos como se não existíssemos. Há sobrevoos sobre nosso território, pressão constante, e o impacto mais doloroso é quando empresas tentam dividir as lideranças. Nenhuma compensação paga o que já fizeram", afirmou Luene. Para ela, o Bloco 59 simboliza uma ameaça muito maior. "É a porta de entrada para explorar toda a Margem Equatorial, e essa é uma conta que não pode ser paga pelos povos indígenas."

Do Peru, Olivia Bisa, do Gobierno Territorial Autónomo de la Nación Chapra, questionou a falta de resultados concretos após décadas de conferências climáticas. "São 30 COPs. O que fizemos para parar a crise climática na Amazônia? Em que momento sua prata vale mais que a sua vida?" Ela lembrou que os Chapra mantêm seus recursos intactos, mas agora enfrentam uma decisão crítica. "Estamos a ponto de decidir o que será da vida da nossa gente e dos nossos filhos." Olivia defendeu a governança territorial indígena e um tratado global de não exploração de combustíveis fósseis. "Cinco petrolíferas já saíram dos nossos territórios graças à resistência. O que falta não é capacidade, é vontade política."

Também do Peru, Miguel Guimarães, vice-presidente da Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana (AIDESEP), reforçou que as comunidades indígenas seguem enfrentando a pressão petroleira sem os recursos necessários. "Apesar dos esforços locais e regionais, ainda não é suficiente. Por isso o financiamento climático é essencial. Não estamos apenas para protestar, estamos para propor soluções reais, desde os territórios."

Do Equador, Juan Bay, presidente da Nacionalidad Waorani del Ecuador (NAWE), lembrou que a luta contra o petróleo no país é marcada por violações graves. "Somos três povos que decidiram viver isolados, e nosso território, com mais de 2 milhões de hectares, é compartilhado com povos isolados que o Estado nunca protegeu." Ele denunciou que o Parque Yasuní foi criado sem consulta prévia e sem considerar os riscos às comunidades.

"O Estado equatoriano nunca fez consulta adequada e nunca atuou de forma eficaz para proteger os povos isolados diante da indústria petroleira. Não somos petroleiros, não somos ambientalistas. Somos um povo guerreiro que protege sua casa." Juan destacou que a conquista do Yasuní se tornou referência global. "Estamos mostrando, com ações territoriais e reconhecimento dos direitos da natureza na Constituição, que outro caminho é possível. Agora é o momento de unidade e luta."

https://coiab.org.br/a-vida-dos-povos-indigenas-nao-pode-valer-o-preco-do-petroleo/
 

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