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Bando do latifúndio promove ataque armado e mata um Guarani-Kaiowá; ataque ocorreu com presença da Força Nacional na região

17/11/2025

Fonte: A Nova Democracia - https://anovademocracia.com.br



Um ataque armado realizado por cerca de vinte paramilitares contra a comunidade Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue, no município de Iguatemi, sul do Mato Grosso do Sul, resultou no assassinato do indígena Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos. A investida ocorreu na madrugada de domingo (16/11), enquanto a Força Nacional permanecia na região desde o início do mês. O indígena foi executado com um tiro na testa dentro da Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, após a comunidade ser encurralada por um cerco da pistolagem da Fazenda Cachoeira.

Segundo apurações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Repórter Brasil, além de relatos de indígenas e apoiadores presentes na área, o grupo de pistoleiros emboscou as famílias que haviam retomado parte do território tradicional dias antes. Forçados a recuar para dentro da TI já identificada pela Funai, os Guarani-Kaiowá continuaram sendo alvejados mesmo após abandonarem a área de retomada. O assassinato de Vicente ocorreu dentro da terra delimitada pelo órgão, contrariando versões que tentam apresentar o ataque como conflito "de fronteira" ou de "invasão".

Conforme o Comitê de Apoio (CdA) ao AND local, essa não é a primeira vez que a repressão policial impede a presença de apoiadores, imprensa popular e correspondentes nas retomadas do MS. Em Caarapó, uma caravana de apoio foi barrada pelo DOF (Departamento de Operações de Fronteira) e pela PM-MS, que "ficharam" todos os que tentaram entrar, determinando seu retorno imediato. O CdA afirma que, nas últimas semanas, nenhuma equipe de apoio consegue chegar às retomadas sem sofrer intimidações, bloqueios ou ameaças.

Além disso, o CdA relata que há uma crescente criminalização das organizações que atuam junto aos povos indígenas. O Cimi foi recentemente acusado por representantes de órgãos estaduais e latifundiários locais de "financiar atos de terrorismo dos indígenas", com a entidade tendo sido ilegalmente impedida de prestar apoio logístico à Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani-Kaiowá).

Representantes da Aty Guasu também enfrentam bloqueios sistemáticos e não conseguem acessar Pyelito Kue após o ataque. O governador reacionário Eduardo Riedel (PP) teria ainda chegado a fazer alguns pronunciamentos públicos utilizando publicamente o termo "terrorismo" para se referir às retomadas Guarani-Kaiowá.

Um padrão de ataques no MS e no país
O ataque deste domingo é o quarto registrado apenas no mês de novembro contra a comunidade de Pyelito Kue, que retomou parte da Fazenda Cachoeira no início do mês para ampliar seu território, atualmente reduzido a apenas 97 hectares. Nos ataques anteriores, indígenas já haviam sido feridos por balas de borracha e casas foram perfuradas por disparos de grosso calibre.

A ofensiva armada contra os Guarani e Kaiowá repete-se em outras regiões do estado. No final de outubro, indígenas da TI Guyraroká foram reprimidos pela PM após retomarem a Fazenda Ipuitã, em Caarapó. No mesmo município, retomadas de Passo Piraju e Porto Cambira sofreram ataques do DOF e despejos ilegais sem mandado judicial.

Em novembro de 2023, Neri Guarani-Kaiowá foi assassinado na TI Nhanderu Marangatu durante outra investida armada de latifundiários. Em 2024, AND chegou a publicar uma reportagem especial sobre o massacre nas retomadas da TI Panambi-Lagoa Rica, também no Mato Grosso do Sul.

A trajetória de violência em Pyelito Kue remonta a mais de uma década. Em 2012, após decisão judicial que determinava o despejo da comunidade, os indígenas divulgaram a carta que repercutiu em todo o país, denunciando que seriam mortos se retirados do território.

A Funai delimitou a TI Iguatemipeguá I em 2013, com 41,5 mil hectares, mas o processo demarcatório permanece paralisado há 12 anos. São 44 fazendas sobrepostas à TI, incluindo a Fazenda Cachoeira, arrendada por latifúndios exportadores de carne.

Atualmente, a comunidade sobrevive confinada a uma pequena área de 97 hectares definida por acordo judicial em 2014. Líderes relatam falta de espaço para plantar e situações de fome crescente, o que motivou as retomadas realizadas nas últimas semanas. As famílias permaneceram por 22 dias escondidas na mata antes de montarem o acampamento em campo aberto, completamente destruído no ataque que matou Vicente.

Presença da Guarda Nacional e hipocrisia do velho Estado
Em resposta ao conflito crescente no estado, o governo oportunista de Luiz Inácio (PT) criou no início de novembro um dito "Grupo de Trabalho Técnico" (GTT) para "monitorar conflitos fundiários no sul do MS". A atuação, porém, está concentrada exclusivamente nos casos de Guyraroká e Passo Piraju, já Pyelito Kue só será incluída caso houver pressão de lideranças indígenas, informou um membro do GTT.

Tanto o Ministério dos Povos Indígenas quanto outros órgãos federais limitaram-se a notas de pesar e preocupação, apesar de a Força Nacional estar na região desde o início do mês e não ter impedido o ataque. Segundo o portal Repórter Brasil: "Apesar de as autoridades federais terem sido acionadas pelos indígenas assim que houve o ataque, a FNSP (Força Nacional de Segurança Pública) só chegou ao local às 9h, quatro horas após os tiros cessarem."

O Ministério dos Povos Indígenas, que nos últimos meses vem se concentrando em suas agendas internacionais sobre "clima e governança ambiental", não atuou na reversão do Marco Temporal sob condição de manter alianças com a maioria latifundista no Congresso. A nomeada "bancada ruralista" que controla parte significativa das verbas discricionárias e pauta medidas repressivas às demarcações. Como consequência, as demarcações seguem travadas e lideranças comunitárias são excluídas das mesas de negociação que tratam do criminoso "Marco Temporal".

Em 6 de agosto de 2024, período que se intensificou os conflitos entre indígenas Guarani-Kaiowá e pistoleiros do latifúndio, a ministra dos povos indígenas Sônia Guajajara visitou a área no município de Douradina (MS). Sua missão, dada pelo governo federal, foi de dialogar com latifundiários e indígenas, no objetivo de conciliar "ambas as partes". Na visita, a ministra disse aos indígenas: "Os estados mais graves, alvos de denúncias diárias contra indígenas, são Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia. Vamos sistematizar todas essas áreas para apresentar uma proposta ao presidente Lula para destravar esses processos demarcatórios e acabar com os conflitos. As ações que suspendem os processos de demarcação precisam de solução.". No entanto, os conflitos continuaram no ano de 2024, conforme o relatório anual do CIMI.

Em setembro de 2024, durante a cerimônia que marcou o retorno do manto sagrado tupinambá ao Brasil, a liderança indígena Yakuy Tupinambá fez um discurso contundente direcionado ao governo de Luiz Inácio na presença do próprio presidente. A liderança indígena, criticou a lentidão e fragilidade das políticas de demarcação de terras. Diante de Luiz Inácio, ela afirmou que o governo estava "enfraquecido e acorrentado a alianças", incapaz de garantir plenamente os direitos dos povos originários, enquanto o Congresso e o Judiciário - que ela classificou como "o pior da história" e "egocêntrico" - contribuíam para a retirada de direitos indígenas. Yakuy também enfatizou que a devolução do manto não podia servir como gesto simbólico que ocultasse a falta de avanços concretos na demarcação e na proteção territorial, e reivindicou que o artefato fosse finalmente devolvido ao território tupinambá, na Bahia, e não mantido em instituições do velho Estado brasileiro.

Guerra no campo
Movimentos de luta pela terra afirmam que a ofensiva do latifúndio atingiu um nível que já caracteriza uma guerra aberta contra o povo pobre do campo. A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) emitiu declarações recentes conclamando a organização de grupos de autodefesa diante da escalada de ataques combinados entre pistoleiros, latifundiários e forças policiais. Organizações regionais, como a própria Aty Guasu, também denunciam que o Mato Grosso do Sul se tornou o epicentro de uma ofensiva coordenada contra os Guarani-Kaiowá e demais povos indígenas que lutam pela recuperação de seus territórios.

Sem respostas concretas do velho Estado e com a intensificação dos ataques, a comunidade de Pyelito Kue enterrou Vicente Vilhalva antes do entardecer, enquanto permanece cercada por forças policiais e pistolagem. As famílias afirmam que continuarão na luta pela retomada integral da TI, apesar das represálias.

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