De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
Binóculos ou retrovisores
23/03/2005
Autor: AMBROSIO, Marcelo
Fonte: JB, Coisas do Brasil, p. A2
Binóculos ou retrovisores
Marcelo Ambrosio
Editor de Internacional do JB
As forças armadas brasileiras estão precavidas diante da ameaça de invasão militar estrangeira na cobiçada e imensa região amazônica. E desenvolvem ali uma estratégia da resistência. O autor da frase é o general Cláudio Barbosa Figueiredo, chefe do Comando Militar da Amazônia, cujo binóculo, como se percebe, enxerga uma tensão além-fronteiras que não existe. De concreto, reconhece, só a ação de madeireiros peruanos na reserva dos índios ashaninkas.
É engraçado como um conceito historicamente tão desgastado ainda encontra voz. Esse discurso nacionalista, que envolve a soberania do Estado sobre a região, se justificava no tempo em que o mundo se digladiava entre o expansionismo soviético e a contenção americana. Hoje, lembra o protagonista do romance O Deserto dos Tártaros, do italiano Dino Buzzatti. Na obra, o comandante de uma guarnição napoleônica perdida num fim de mundo passa a vida perscrutando o horizonte em busca de sinais de uma invasão que nunca chega. Enquanto espera, não percebe que às suas costas o mundo mudou, evoluiu. Quando finalmente a hora surge, passa a questionar se realmente vale a pena lutar por algo então já sem valor estratégico algum.
Guardadas certas diferenças, o que ocorre com a Amazônia hoje é isso. Não é preciso temer ameaças externas, porque já há ratos brasileiros demais aqui dentro roubando madeira, grilando terras, explorando garimpos em reservas protegidas, surrupiando a biodiversidade com a anuência de um Estado que se identifica nos poderes locais ou se apequena diante deles. Se aproveitam do fato de os comandantes estarem, como no livro de Buzzatti, à espera dos tártaros que nunca chegam.
Sobram exemplos dos efeitos da miopia histórica causada por uma visão mofada do sistema internacional, capaz de interpretar, por exemplo, a delimitação de uma nação indígena como ameaça à unidade nacional, especialmente se os índios vivem perto da fronteira. A verdadeira soberania é aquela que deriva da aplicação das leis a que todos os atores são submetidos. O comandante não precisa de binóculos, mas de um retrovisor.
JB, 23/03/2005, Coisas do Brasil, p. A2
Marcelo Ambrosio
Editor de Internacional do JB
As forças armadas brasileiras estão precavidas diante da ameaça de invasão militar estrangeira na cobiçada e imensa região amazônica. E desenvolvem ali uma estratégia da resistência. O autor da frase é o general Cláudio Barbosa Figueiredo, chefe do Comando Militar da Amazônia, cujo binóculo, como se percebe, enxerga uma tensão além-fronteiras que não existe. De concreto, reconhece, só a ação de madeireiros peruanos na reserva dos índios ashaninkas.
É engraçado como um conceito historicamente tão desgastado ainda encontra voz. Esse discurso nacionalista, que envolve a soberania do Estado sobre a região, se justificava no tempo em que o mundo se digladiava entre o expansionismo soviético e a contenção americana. Hoje, lembra o protagonista do romance O Deserto dos Tártaros, do italiano Dino Buzzatti. Na obra, o comandante de uma guarnição napoleônica perdida num fim de mundo passa a vida perscrutando o horizonte em busca de sinais de uma invasão que nunca chega. Enquanto espera, não percebe que às suas costas o mundo mudou, evoluiu. Quando finalmente a hora surge, passa a questionar se realmente vale a pena lutar por algo então já sem valor estratégico algum.
Guardadas certas diferenças, o que ocorre com a Amazônia hoje é isso. Não é preciso temer ameaças externas, porque já há ratos brasileiros demais aqui dentro roubando madeira, grilando terras, explorando garimpos em reservas protegidas, surrupiando a biodiversidade com a anuência de um Estado que se identifica nos poderes locais ou se apequena diante deles. Se aproveitam do fato de os comandantes estarem, como no livro de Buzzatti, à espera dos tártaros que nunca chegam.
Sobram exemplos dos efeitos da miopia histórica causada por uma visão mofada do sistema internacional, capaz de interpretar, por exemplo, a delimitação de uma nação indígena como ameaça à unidade nacional, especialmente se os índios vivem perto da fronteira. A verdadeira soberania é aquela que deriva da aplicação das leis a que todos os atores são submetidos. O comandante não precisa de binóculos, mas de um retrovisor.
JB, 23/03/2005, Coisas do Brasil, p. A2
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