De Pueblos Indígenas en Brasil

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Os 350 mil índios do Brasil têm muita luta pela frente para conquistar seus direitos.

02/09/2001

Autor: Sandra Lefcovich

Fonte: Correio Braziliense-Brasília-DF



Embora 78% dos brasileiros achem que os indígenas são bons por natureza, eles são discriminados no dia-a-dia pelos brancos e pelo Estado.

Na Aldeia Nova de Monte Pascoal, Joel Bras é cacique. Na hora de comprar passagem na rodoviária, é o último da fila. ‘‘Chega uma pessoa no guichê, é vista como um intelectual e o vendedor deixa a gente por último’’, conta ele, 40 anos e 12 filhos.
Para Joel, que está em Durban, existem dois tipos de discriminação contra os índios no Brasil: a física e a ideológica. A morte do índio Galdino Jesus dos Santos, pataxó como ele, queimado por jovens brancos num ponto de ônibus de Brasília em 1997, seria um exemplo extremo desse preconceito que ele chama da ‘‘aparência’’. ‘‘Eles vêem que a gente é índio e menosprezam o nosso povo’’, diz Joel. ‘‘Além disso, há a ideologia por trás do ato: aqueles jovens com estudo acham que somos selvagens e merecemos essa malvadeza.’’
Mas os jovens de Brasília tiveram um bom professor: o próprio Estado, que mais de uma vez tratou a questão indígena a ferro e fogo. Uma boa mostra ocorreu durante as comemorações do Quinto Centenário do Descobrimento, no ano passado. Uma verdadeira aula de discriminação. A polícia reprimiu os índios e os impediu de entrar em Porto Seguro. ‘‘Nos oprimiram para evitar que manifestemos em público os nossos sentimentos’’, reclama Joel. ‘‘As autoridades preferem que o índio não fale’’, diz.
Joel viajou a Durban acompanhado de Aguinaldo Pataxó, 34 anos e dois filhos. Um dos 82 índios eleitos vereadores no Brasil, o pataxó hã-hã-hãe diz que a comunidade indígena do Nordeste, que tem 500 anos de contato com os brancos, sofre o descaso do governo.
Embora tenha conseguido se eleger vereador em Pau Brasil (sul da Bahia), Aguinaldo reclama dos políticos. ‘‘Temos nossos vereadores, mas os prefeitos não se sentam para conversar com a gente. Não respeitam a nossa comunidade’’, diz. ‘‘Queremos que a lei seja igual para todos’’, exige. O preconceito começa no nome. Aguinaldo, batizado de Toeriê na aldeia, reclama que o seu nome nativo não foi aceito no registro civil da cidade.
Apesar dos obstáculos, Joel e Aguinaldo não desistem da briga. E têm um mártir para lembrá-los de seus deveres: ‘‘Galdino sempre está conosco na luta. Aquele ato não nos entristeceu, pois os povos se fortalecem com a morte’’, afirma Joel.
Índio quer dirigir Funai

Uma das reivindicações de alguns líderes indígenas como Marcos Terena e Azelene Kaingang é que a Fundação Nacional do Índio (Funai) seja presidida por um índio, seguindo o exemplo da Fundação Cultural Palmares, dirigida por um negro.
Mas a iniciativa não foi incorporada no documento levado pela delegação brasileira à Conferência Mundial contra o Racismo. Segundo Terena, quando Azelene sugeriu a idéia a Fernando Henrique Cardoso, a resposta foi uma risada presidencial.
O presidente em exercício da Funai, Artur Nobre Mendes, não se opõe à idéia, mas acha que um indígena no cargo não é garantia de um melhor desempenho do órgão. ‘‘É um cargo de extrema complexidade, e deve ser ocupado por alguém com capacidade, sendo índio ou não’’, afirma.
Um dos argumentos mais repetidos pelos que são contrários a tirar os brancos do poder da Funai é a falta de consenso entre os 216 povos do Brasil. A eleição de um índio de uma etnia seria motivo de protestos das outras.
A favor do governo, está a demarcação de 420 terras indígenas, em 87 milhões de hectares — 11,5% do território brasileiro. Segundo dados oficiais, entre janeiro de 1995 e abril de 2001, foram homologadas 140 terras indígenas. Ainda há cerca de 100 terras para demarcar. Além das 111 novas situações levantadas que precisam de confirmação.
As comunidades indígenas passam por um processo de ressurgimento, principalmente os guaranis nos estados do Sul. O fenômeno mostra a revalorização da identidade dos povos originários do Brasil. Há também 600 índios estudando nas universidades, número que duplica o de dois anos atrás.
Mais o governo promete mais. No documento levado à Conferência, o Estado se compromete a indicar e nomear representantes indígenas para o Conselho Federal de Educação, Conselho de Cultura, Conselho Nacional de Meio Ambiente,Conselho Nacional de Saúde e Conselho Nacional de Alimentação. (SL)
 

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