De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
Índios alugam monomotor para negociar os diamantes
25/04/2004
Fonte: FSP, Brasil, p.A4
Índios alugam monomotor para negociar os diamantes
Pedras extraídas em reserva são vendidas a contrabandistas
Hudson Corrêa
Da Agência Folha, em Espigão dOeste (RO)
Índios cintas-largas alugam aviões Cessna monomotores para entregar diamantes extraídos da terra indígena Roosevelt a contrabandistas em aeroportos de cidades próximas, segundo relatos da Polícia Federal, de moradores da região e de garimpeiros. A Agência Folha apurou que o custo de cada vôo é de R$ 1.500.
As aeronaves partem de uma pista na aldeia, construída e mantida pelos índios com dinheiro da venda das pedras, o que é ilegal.
Uma das cidades que recebem os vôos dos índios é Cacoal, onde não há posto fixo da PF. Cacoal tem 73.568 habitantes (Censo de 2000) e fica a cerca de 200 km da entrada da terra Roosevelt, num percurso com 80 km de asfalto e 120 km de estrada de terra (três horas de viagens de carro).
O contato com o piloto do avião é feito pelo índio Pandere Cinta Larga, gerente do garimpo, por um globalstar (telefone via satélite). Um celular comum é inútil a partir de 100 km da reserva.
Desde o conflito entre índios e garimpeiros na área indígena, no dia 7 passado, que resultou na morte de ao menos 29 garimpeiros, a Agência Folha tenta sem sucesso contato com Pandere e os demais chefes da tribo.
No final do ano passado, a reportagem esteve na aldeia. Na ocasião, Pandere chamou o avião pelo telefone duas vezes. Na primeira, uma índia com problemas de saúde foi levada a Cacoal. Na segunda, ele mesmo embarcou a fim de tratar de negócios fora da aldeia, como contou à época.
Na mesma visita, Pandere mostrou uma máquina -comprada por R$ 400 mil- usada para retirar a terra, desmatar, abrir buracos e deixar à mostra o cascalho no fundo onde está o diamante.
De lá para cá, os negócios cresceram, aparentemente. O delegado federal Mauro Sposito disse ter sobrevoado a região e observado ao menos cinco máquinas iguais às mostradas em dezembro.
Um servidor público, que mora em Pimenta Bueno (515 km de Porto Velho), disse que os índios recebem maletas de dinheiro. Segundo ele, que pediu para não ser identificado, há dois tipos de contrabandistas: o intermediário que negocia com os índios e o comprador. Segundo o superintendente da PF no Estado, Marcos Aurélio Moura, os compradores enviam as pedras para Europa, principalmente Bélgica, e EUA.
Prisões
Nos últimos anos, contrabandistas, incluindo policiais civis e federais e funcionário da Funai, foram presos. Em outubro de 2002, houve 14 prisões. Um ano depois, mais quatro foram detidos, e sete pessoas foram indiciadas pela PF. Em março último, foram 15 prisões.
Entre os presos no mês passado, está o empresário Marcos Glikas, recluso em Porto Velho, acusado de ser o principal contrabandista de diamantes na terra indígena.
Segundo a PF, Glikas usava a pista na reserva para buscar diamantes e os levava para Juína, cidade em Mato Grosso também próxima à reserva. De lá, as pedras passavam por Cuiabá e Guarulhos (SP), antes de seguir para o exterior. Essa teria sido a rota usada pelo casal Eupídio Amaro Filho de Lima, 51, e Joana Amaro de Lima, 49, presos em novembro de 2003 no aeroporto de Várzea Grande (10 km de Cuiabá) com 400 gramas de diamantes, avaliados em R$ 3 milhões. Glikas teria vendido um lote para a Bélgica no valor de R$ 5,4 milhões.
Em Juína está localizada uma parte da reserva indígena dos cintas-largas. A área total de 2,7 milhões de ha ainda inclui os municípios de Pimenta Bueno, Vilhena e Espigão d'Oeste, em Rondônia. A região equivale a 18 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Uma alternativa à rota aérea para Cacoal é o uso de camionetes. Na terça-feira, a PF montou barreiras em três pontos da entrada da reserva. Até sexta-feira, não houve nenhuma prisão.
Pedras financiam armas, jóias e camionetes
Da Agência Folha, em Espigão dOeste (RO)
A lista é ampla: camionetes Toyotas Hilux ou Mitsubishi L 200, jóias, armas de fogos como espingardas calibre 12, imóveis em Cacoal (480 km de Porto Velho) e pá-carregadeiras.
Todos esses bens foram comprados pelos índios cintas-largas com o dinheiro obtido pela venda de diamantes a contrabandistas. Mas não termina por aí: o líder João Cinta Larga construiu uma pequena hidrelétrica na reserva com o lucro do garimpo e um depósito para óleo diesel.
Segundo ele, a usina gera energia para a aldeia.
Nas cidades vizinhas, os índios estão entre os grandes consumidores. Costumam também freqüentar casas de prostituição, de acordo com o relato de moradores e comerciantes.
Em entrevista à Agência Folha em dezembro do ano passado, o índio Pandere Cinta Larga, gerente do garimpo na terra Roosevelt, disse que os índios resolveram assumir em agosto de 2003 o controle da exploração de diamante devido à falta de recursos da Funai (Fundação Nacional do Índio) para as aldeias.
Em 2002, a Funai apontou em relatório a falta de verbas para atender os índios.
Pandere afirmou na época que a intenção da etnia é legalizar o garimpo. Eles querem vender as pedras para a Caixa Econômica Federal, mas isso depende de o governo aprovar legislação para regularizar a atividade de extração em terra indígena.
Na versão de Pandere, a extração de diamantes beneficia todas as aldeias dos cintas-largas. Como a atividade não é legalizada, segundo a argumentação dos índios, eles não teriam tido outra alternativa e passaram a negociar com os contrabandistas.
Uma parte dos recursos obtidos com a venda das pedras -Pandere não revela quanto- vai para a expansão da mineração.
Em dezembro, o gerente planejava construir um alojamento na área do garimpo. Segundo a Polícia Federal, que sobrevoou a área na semana passada, as casas já foram construídas.
FSP, 25/04/2004, p.A4
Pedras extraídas em reserva são vendidas a contrabandistas
Hudson Corrêa
Da Agência Folha, em Espigão dOeste (RO)
Índios cintas-largas alugam aviões Cessna monomotores para entregar diamantes extraídos da terra indígena Roosevelt a contrabandistas em aeroportos de cidades próximas, segundo relatos da Polícia Federal, de moradores da região e de garimpeiros. A Agência Folha apurou que o custo de cada vôo é de R$ 1.500.
As aeronaves partem de uma pista na aldeia, construída e mantida pelos índios com dinheiro da venda das pedras, o que é ilegal.
Uma das cidades que recebem os vôos dos índios é Cacoal, onde não há posto fixo da PF. Cacoal tem 73.568 habitantes (Censo de 2000) e fica a cerca de 200 km da entrada da terra Roosevelt, num percurso com 80 km de asfalto e 120 km de estrada de terra (três horas de viagens de carro).
O contato com o piloto do avião é feito pelo índio Pandere Cinta Larga, gerente do garimpo, por um globalstar (telefone via satélite). Um celular comum é inútil a partir de 100 km da reserva.
Desde o conflito entre índios e garimpeiros na área indígena, no dia 7 passado, que resultou na morte de ao menos 29 garimpeiros, a Agência Folha tenta sem sucesso contato com Pandere e os demais chefes da tribo.
No final do ano passado, a reportagem esteve na aldeia. Na ocasião, Pandere chamou o avião pelo telefone duas vezes. Na primeira, uma índia com problemas de saúde foi levada a Cacoal. Na segunda, ele mesmo embarcou a fim de tratar de negócios fora da aldeia, como contou à época.
Na mesma visita, Pandere mostrou uma máquina -comprada por R$ 400 mil- usada para retirar a terra, desmatar, abrir buracos e deixar à mostra o cascalho no fundo onde está o diamante.
De lá para cá, os negócios cresceram, aparentemente. O delegado federal Mauro Sposito disse ter sobrevoado a região e observado ao menos cinco máquinas iguais às mostradas em dezembro.
Um servidor público, que mora em Pimenta Bueno (515 km de Porto Velho), disse que os índios recebem maletas de dinheiro. Segundo ele, que pediu para não ser identificado, há dois tipos de contrabandistas: o intermediário que negocia com os índios e o comprador. Segundo o superintendente da PF no Estado, Marcos Aurélio Moura, os compradores enviam as pedras para Europa, principalmente Bélgica, e EUA.
Prisões
Nos últimos anos, contrabandistas, incluindo policiais civis e federais e funcionário da Funai, foram presos. Em outubro de 2002, houve 14 prisões. Um ano depois, mais quatro foram detidos, e sete pessoas foram indiciadas pela PF. Em março último, foram 15 prisões.
Entre os presos no mês passado, está o empresário Marcos Glikas, recluso em Porto Velho, acusado de ser o principal contrabandista de diamantes na terra indígena.
Segundo a PF, Glikas usava a pista na reserva para buscar diamantes e os levava para Juína, cidade em Mato Grosso também próxima à reserva. De lá, as pedras passavam por Cuiabá e Guarulhos (SP), antes de seguir para o exterior. Essa teria sido a rota usada pelo casal Eupídio Amaro Filho de Lima, 51, e Joana Amaro de Lima, 49, presos em novembro de 2003 no aeroporto de Várzea Grande (10 km de Cuiabá) com 400 gramas de diamantes, avaliados em R$ 3 milhões. Glikas teria vendido um lote para a Bélgica no valor de R$ 5,4 milhões.
Em Juína está localizada uma parte da reserva indígena dos cintas-largas. A área total de 2,7 milhões de ha ainda inclui os municípios de Pimenta Bueno, Vilhena e Espigão d'Oeste, em Rondônia. A região equivale a 18 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Uma alternativa à rota aérea para Cacoal é o uso de camionetes. Na terça-feira, a PF montou barreiras em três pontos da entrada da reserva. Até sexta-feira, não houve nenhuma prisão.
Pedras financiam armas, jóias e camionetes
Da Agência Folha, em Espigão dOeste (RO)
A lista é ampla: camionetes Toyotas Hilux ou Mitsubishi L 200, jóias, armas de fogos como espingardas calibre 12, imóveis em Cacoal (480 km de Porto Velho) e pá-carregadeiras.
Todos esses bens foram comprados pelos índios cintas-largas com o dinheiro obtido pela venda de diamantes a contrabandistas. Mas não termina por aí: o líder João Cinta Larga construiu uma pequena hidrelétrica na reserva com o lucro do garimpo e um depósito para óleo diesel.
Segundo ele, a usina gera energia para a aldeia.
Nas cidades vizinhas, os índios estão entre os grandes consumidores. Costumam também freqüentar casas de prostituição, de acordo com o relato de moradores e comerciantes.
Em entrevista à Agência Folha em dezembro do ano passado, o índio Pandere Cinta Larga, gerente do garimpo na terra Roosevelt, disse que os índios resolveram assumir em agosto de 2003 o controle da exploração de diamante devido à falta de recursos da Funai (Fundação Nacional do Índio) para as aldeias.
Em 2002, a Funai apontou em relatório a falta de verbas para atender os índios.
Pandere afirmou na época que a intenção da etnia é legalizar o garimpo. Eles querem vender as pedras para a Caixa Econômica Federal, mas isso depende de o governo aprovar legislação para regularizar a atividade de extração em terra indígena.
Na versão de Pandere, a extração de diamantes beneficia todas as aldeias dos cintas-largas. Como a atividade não é legalizada, segundo a argumentação dos índios, eles não teriam tido outra alternativa e passaram a negociar com os contrabandistas.
Uma parte dos recursos obtidos com a venda das pedras -Pandere não revela quanto- vai para a expansão da mineração.
Em dezembro, o gerente planejava construir um alojamento na área do garimpo. Segundo a Polícia Federal, que sobrevoou a área na semana passada, as casas já foram construídas.
FSP, 25/04/2004, p.A4
Las noticias publicadas en el sitio Povos Indígenas do Brasil (Pueblos Indígenas del Brasil) son investigadas en forma diaria a partir de fuentes diferentes y transcriptas tal cual se presentan en su canal de origen. El Instituto Socioambiental no se responsabiliza por las opiniones o errores publicados en esos textos. En el caso en el que Usted encuentre alguna inconsistencia en las noticias, por favor, póngase en contacto en forma directa con la fuente mencionada.