De Pueblos Indígenas en Brasil
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As aldeias, dentro da rede
28/02/2006
Fonte: A Rede, v.1, nº. 11, fev. 2006, p. 32-33
As aldeias, dentro da rede
Pipocam pelas aldeias do país os primeiros telecentros indígenas, sempre à base de antena via satélite e energia solar. E as aldeias não se acanham, pegam no mouse com fé e entram com tudo no mundo virtual.
Lino Bocchini
Um desjejum com suculentos nacos de carne de paca deu as boas-vindas aos técnicos na chegada à pequena aldeia Ashaninka, no Acre, perto da fronteira peruana. Povo guerreiro e de descendência finca, os Ashaninka vivem no -Brasil e no Peru. E estão conectados à intemet desde 2003. Foi o segundo ponto da Rede Povos da Floresta. Hoje uma ONG, a rede nasceu de uma parceria do CDI (Comitê para Democratização da Informática) com a Star One, empresa de satélite da Embratel, e é apoiada pela Comissão Satélite do Acre. Antes dos Ashaninka, os técnicos já haviam enfrentado dias de canoa até a aldeia dos Yawanawa, também em território acreano, onde está o primeiro ponto do projeto.
Instalar um telecentro em uma aldeia completamente isolada não é tarefa simples. Além das dificuldades para levar o equipamento, a energia tem que ser solar e a conexão só é possível via satélite. Aliás, nesse aspecto, foi decisiva a proliferação de antenas do Gesac (Governo Eletrônico - Serviço de Atendimento ao Cidadão), iniciativa do Ministério das Comunicações presente em quase todas as tribos plugadas. Depois, vem a capacitação dos índios que vão gerir o telecentro, ensinamentos para toda aldeia e, ainda, a manutenção dos micros em local de umidade e calor extremo. Mas esses obstáculos não impedem os projetos de prosperar. A Rede Povos da Floresta, por exemplo, já tem cinco pontos funcionando, e novos pontos devem ser instalados em 2006.
Maracá do branco
Outro projeto, coincidentemente de nome semelhante, é a Rede Floresta Topawa Ka'á (rede floresta no dialeto parakanã). Patrocinado pela Eletronorte, já tem quatro pontos em operação, todos geridos pelos próprios índios. A gestão na mão das tribos, aliás, é uma constante em projetos de inclusão social em áreas indígenas. É o caso também, por exemplo, do telecentro mantido pelo ISA (Instituto Sócio-Ambiental) junto aos Baniwa, tribo da Terra Indígena do Alto Rio Negro.
Para chegar até os Baniwa, só de barco, em uma viagem de 700 quilômetros que dura três dias a partir do município mais próximo, São Gabriel da Cachoeira. E São Gabriel, por sua vez, está a cerca de 800 km de Manaus, isso subindo contra a correnteza do Rio Negro. Ou seja, isolado é pouco. E mesmo assim os Baniwa estão conectados à rede mundial. "São quase cem alunos na escola indígena que tem computador e internet. Aproveitamos o que a rede nos traz de bom, informações de plantas, pesca, ecologia, tudo que for útil para a comunidade", conta André Fernando Baniwa, escolhido pelo seu povo como emissário junto ao homem branco. André Fernando mora em São Gabriel, e é vice-presidente do Foirn, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.
Ali, no noroeste amazônico brasileiro, existem cerca de 750 aldeias ocupando uma área de 108.000 kmz, vastidão onde habitam mais de 30 mil índios pertencentes a 22 grupos étnicos. "Hoje só temos dois computadores, mas todo mundo usa. A partir de 13, 14 anos já está usando", conta o Baniwa. "Na tribo, chamamos a internet de Maracá de branco. Maracá é o instrumento que o pajé usa em rituais para enxergar e analisar o mundo inteiro. Então, a internet é o maracá do branco".
Iniciativas como essa não estão presentes apenas na região amazônica. Em Aracruz, no Espírito Santo, duas aldeias já têm laboratórios de informática cedidos pelo Banco do Brasil e gerenciados pelo Cepec (Centro de Práticas Sociais, Educacionais e de Cidadania). Os índios das tribos Caieiras Velha e Pau-Brasil agora aguardam internet, que chegará em março, fornecida pela prefeitura local. "Há muitos anos eles tinham vontade de ter acesso, e agora vão ter", fala Jucelino José dos Santos, do Cepec. Os 2 mil índios da região usam Windows. "Tentamos o Linux, mas não deu certo, o banco só nos forneceu uma versão em espanhol", diz José dos Santos.
Nesse aspecto, Aracruz é uma exceção. Nos demais projetos, o software livre é dominante. No caso da Eletronorte, a escolha buscou alinhamento à opção do governo federal para todo o setor de informática pública, e também pesou a redução de gastos. Já a rede Povos da Floresta, do CDI, opera com os dois sistemas. "Não determinamos qual é o melhor, ensinamos a usar Linux e Windows, o uso de um ou de outro não é obrigatório", explica a antropóloga Virgínia Gandres, uma das coordenadoras do projeto.
Mas como é, na prática, essa história de aparecer um computador com internet lá no meio do nada, em uma tribo a centenas de quilômetros de qualquer povoado? "É preciso muita paciência para ensinar; nas aldeias, as crianças tinham medo até de encostar no mouse'", conta Virgínia. Em todas as tribos, há restrições comuns a outros telecentros, como o acesso vetado a sues de pornografia e chats, mas não passa disso. Em geral, como muitas vezes os índios não falam nem português, o acesso é coletivo, o que inibe o mau uso. E o aprendizado é complicado. No caso dos Baniwas, foi até elaborado um glossário e um pequeno manual, todo na língua deles.
E com os horários de uso limitados pela luz solar que alimenta as placas de captação de energia, não sobra muito tempo para grandes navegadas individuais. Na época de chuvas, o horário de funcionamento dos telecentros pode cair para duas ou três horas diárias, três vezes por semana. Mas, no alto verão amazônico, o funcionamento pode ir de manhã cedo até o começo da noite, todos os dias.
Nessa discussão de uso dos computadores, vale novamente ouvir a opinião da antropóloga Virgína. "Falam que a internet pode prejudicar os índios, mas isso é besteira. Ela acaba sendo, isso sim, um fator de fortalecimento da cultura deles, uma vez que eles podem registrá-la no computador'. As tribos plugadas assinam embaixo.
www.redepovosdafloresta.com.br Rede Povos da Floresta
www.link-all.org Link-All (projeto da UE)
www.socioambiental.org ISA
www.eln.gov.br Eletronorte
A Rede, v. 1, no. 11, fev, 2006, p. 32-33
Pipocam pelas aldeias do país os primeiros telecentros indígenas, sempre à base de antena via satélite e energia solar. E as aldeias não se acanham, pegam no mouse com fé e entram com tudo no mundo virtual.
Lino Bocchini
Um desjejum com suculentos nacos de carne de paca deu as boas-vindas aos técnicos na chegada à pequena aldeia Ashaninka, no Acre, perto da fronteira peruana. Povo guerreiro e de descendência finca, os Ashaninka vivem no -Brasil e no Peru. E estão conectados à intemet desde 2003. Foi o segundo ponto da Rede Povos da Floresta. Hoje uma ONG, a rede nasceu de uma parceria do CDI (Comitê para Democratização da Informática) com a Star One, empresa de satélite da Embratel, e é apoiada pela Comissão Satélite do Acre. Antes dos Ashaninka, os técnicos já haviam enfrentado dias de canoa até a aldeia dos Yawanawa, também em território acreano, onde está o primeiro ponto do projeto.
Instalar um telecentro em uma aldeia completamente isolada não é tarefa simples. Além das dificuldades para levar o equipamento, a energia tem que ser solar e a conexão só é possível via satélite. Aliás, nesse aspecto, foi decisiva a proliferação de antenas do Gesac (Governo Eletrônico - Serviço de Atendimento ao Cidadão), iniciativa do Ministério das Comunicações presente em quase todas as tribos plugadas. Depois, vem a capacitação dos índios que vão gerir o telecentro, ensinamentos para toda aldeia e, ainda, a manutenção dos micros em local de umidade e calor extremo. Mas esses obstáculos não impedem os projetos de prosperar. A Rede Povos da Floresta, por exemplo, já tem cinco pontos funcionando, e novos pontos devem ser instalados em 2006.
Maracá do branco
Outro projeto, coincidentemente de nome semelhante, é a Rede Floresta Topawa Ka'á (rede floresta no dialeto parakanã). Patrocinado pela Eletronorte, já tem quatro pontos em operação, todos geridos pelos próprios índios. A gestão na mão das tribos, aliás, é uma constante em projetos de inclusão social em áreas indígenas. É o caso também, por exemplo, do telecentro mantido pelo ISA (Instituto Sócio-Ambiental) junto aos Baniwa, tribo da Terra Indígena do Alto Rio Negro.
Para chegar até os Baniwa, só de barco, em uma viagem de 700 quilômetros que dura três dias a partir do município mais próximo, São Gabriel da Cachoeira. E São Gabriel, por sua vez, está a cerca de 800 km de Manaus, isso subindo contra a correnteza do Rio Negro. Ou seja, isolado é pouco. E mesmo assim os Baniwa estão conectados à rede mundial. "São quase cem alunos na escola indígena que tem computador e internet. Aproveitamos o que a rede nos traz de bom, informações de plantas, pesca, ecologia, tudo que for útil para a comunidade", conta André Fernando Baniwa, escolhido pelo seu povo como emissário junto ao homem branco. André Fernando mora em São Gabriel, e é vice-presidente do Foirn, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.
Ali, no noroeste amazônico brasileiro, existem cerca de 750 aldeias ocupando uma área de 108.000 kmz, vastidão onde habitam mais de 30 mil índios pertencentes a 22 grupos étnicos. "Hoje só temos dois computadores, mas todo mundo usa. A partir de 13, 14 anos já está usando", conta o Baniwa. "Na tribo, chamamos a internet de Maracá de branco. Maracá é o instrumento que o pajé usa em rituais para enxergar e analisar o mundo inteiro. Então, a internet é o maracá do branco".
Iniciativas como essa não estão presentes apenas na região amazônica. Em Aracruz, no Espírito Santo, duas aldeias já têm laboratórios de informática cedidos pelo Banco do Brasil e gerenciados pelo Cepec (Centro de Práticas Sociais, Educacionais e de Cidadania). Os índios das tribos Caieiras Velha e Pau-Brasil agora aguardam internet, que chegará em março, fornecida pela prefeitura local. "Há muitos anos eles tinham vontade de ter acesso, e agora vão ter", fala Jucelino José dos Santos, do Cepec. Os 2 mil índios da região usam Windows. "Tentamos o Linux, mas não deu certo, o banco só nos forneceu uma versão em espanhol", diz José dos Santos.
Nesse aspecto, Aracruz é uma exceção. Nos demais projetos, o software livre é dominante. No caso da Eletronorte, a escolha buscou alinhamento à opção do governo federal para todo o setor de informática pública, e também pesou a redução de gastos. Já a rede Povos da Floresta, do CDI, opera com os dois sistemas. "Não determinamos qual é o melhor, ensinamos a usar Linux e Windows, o uso de um ou de outro não é obrigatório", explica a antropóloga Virgínia Gandres, uma das coordenadoras do projeto.
Mas como é, na prática, essa história de aparecer um computador com internet lá no meio do nada, em uma tribo a centenas de quilômetros de qualquer povoado? "É preciso muita paciência para ensinar; nas aldeias, as crianças tinham medo até de encostar no mouse'", conta Virgínia. Em todas as tribos, há restrições comuns a outros telecentros, como o acesso vetado a sues de pornografia e chats, mas não passa disso. Em geral, como muitas vezes os índios não falam nem português, o acesso é coletivo, o que inibe o mau uso. E o aprendizado é complicado. No caso dos Baniwas, foi até elaborado um glossário e um pequeno manual, todo na língua deles.
E com os horários de uso limitados pela luz solar que alimenta as placas de captação de energia, não sobra muito tempo para grandes navegadas individuais. Na época de chuvas, o horário de funcionamento dos telecentros pode cair para duas ou três horas diárias, três vezes por semana. Mas, no alto verão amazônico, o funcionamento pode ir de manhã cedo até o começo da noite, todos os dias.
Nessa discussão de uso dos computadores, vale novamente ouvir a opinião da antropóloga Virgína. "Falam que a internet pode prejudicar os índios, mas isso é besteira. Ela acaba sendo, isso sim, um fator de fortalecimento da cultura deles, uma vez que eles podem registrá-la no computador'. As tribos plugadas assinam embaixo.
www.redepovosdafloresta.com.br Rede Povos da Floresta
www.link-all.org Link-All (projeto da UE)
www.socioambiental.org ISA
www.eln.gov.br Eletronorte
A Rede, v. 1, no. 11, fev, 2006, p. 32-33
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