De Pueblos Indígenas en Brasil
Noticias
Dia doido
11/09/2009
Autor: Egon Dionísio Heck
Fonte: Adital - http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=41064
Lembranças mil povoavam as mentes e dementes por esse mundo afora em mais um 11 de abril. As torres gêmeas ao chão lembram os pés de barro do capitalismo. O covarde assassinato de Allende lembra a heróica teimosia na construção de um novo projeto político e econômico para o continente e o mundo.
Para a história da resistência e afirmação do povo Guarani Kaiowá esse será um dia de muita força simbólica, de memória da grandeza e dignidade de um povo diante da covardia do poder encastelado em mantos sujos da justiça e do poder das armas. Laranjeira Nhanderu entrará para o livro da resistência secular, não como mais um ato de crueldade contra uma comunidade Guarani, mas como reveladora ao mundo de uma situação de barbárie abominável.
Tudo, aos poucos foi sendo mudado, no vai e vem permanente. As crianças não perdem sua alegria e simpatia contagiante em meio à desarrumação e arrumação dos barracos. Patos, galinhas, porquinhos, cachorros, coelhos, papagaio, tudo vai aos poucos chegando para a beira da estrada. Vem para um espaço sofrido e espremido, com riscos de morrerem atropelados. É a vida e a resistência mudando de espaço, no ritmo e no compasso Guarani Kaiowá.
A hora da verdade virá
Final de tarde. Escoltado por policiais federais fortemente armados, e pelo oficial de justiça que veio lavrar a ata da desocupação (oh céus quanta ignomínia sob o sol e balança da justiça!) lá chega o "português", como é conhecido o pretenso senhor daquelas terras. Nada mais expressivo para mostrar a continuidade da secular colonização e extermínio indígena. Em coro e ritmadamente os Guarani gritam contra seu algoz e o desafiam a vir para o outro lado da cerca, para deixar de ser mentiroso e safado! Neste quadro patético de zombaria e cinismo, uma liderança da comunidade mostrava para uma das policiais federais que ostentava uma bomba de gás lacrimogêneo em sua cintura, dizendo "veja só, aquela é filha do que se diz dono da terra da qual estamos sendo expulsos".
Um guerreiro Guarani, agitado em sua ira, carregando seu arco e flecha, disparou apenas uma frase "a hora da verdade virá". E não está muito longe. Está ao alcance da flecha da certeza de que donde estão sendo expulsos voltarão.
O mundo solidário
Se por um lado soava humilhante passar dois dias fazendo centenas e centenas de viagens a pé, de charrete, de moto e principalmente de bicicleta (que deveria ser declarada a grande estrela da guerra silenciosa!), por outro lado havia a firme convicção de que o vai e vem doído, carregando e descarregando os poucos pertences de sobrevivência eram apenas passos de mais uma batalha na luta de retomada e reconquista do território Guarani.
Representantes indígenas de regiões do país, desde o alto Rio Negro, no Amazonas até representantes de organizações indígenas de outros países sul americanos estiveram trazendo sua solidariedade à comunidade de Laranjeira Nhanderu. Também os movimentos sociais do Mato Grosso do Sul novamente estiveram aí com caravanas de solidariedade, de Campo Grande e Dourados. Em suas falas, já no final da tarde, todos mostraram sua perplexidade e revolta pelo que presenciaram e ao mesmo tempo externaram sua admiração pela maneira tranqüila e digna com que a comunidade enfrentou mais esse despejo. "Estou aqui para testemunhar esse sofrimento é injustiça demais. Esse trauma que estão enfrentando um dia vai acabar. A justiça virá. Estou triste", enfatizou Higino Tuyuca, liderança do alto Rio Negro-AM. Não conteve as lágrimas com que selou seu compromisso de estar denunciando essa situação em todos os lugares do Brasil e do mundo, onde se fizer presente. Avelina, do povo Naza, do Cauca, Colômbia lembrou que "a luta pela terra , já há 38 anos custou o assassinato de mais de 500 lideranças. Não tenhamos medo na luta. Podemos perder muitas batalhas, mas sempre nascerão crianças que continuarão a luta". Externou seu compromisso de escrever ao presidente da República do Brasil pedindo a demarcação urgente das terras Kaiowá Guarani.
Os representantes dos movimentos sociais também manifestaram sua irrestrita solidariedade e apoio à comunidade Laranjeira Nhanderu para que seja demarcada sua terra e a ela possam retornar o mais breve possível.
Mudamos de endereço e continuamos firmes
Farid, uma das lideranças do grupo, estava um tanto abatido pelo intenso trabalho da mudança, passando a noite toda carregando as "traias" (trens, pertences...) e já há dois dias praticamente sem comer. Mesmo assim não deixava de lado seu humor e expressões cortantes. No final do dia, depois de acompanhar a polícia federal na constatação da desocupação, em tom indignado e ameaçador disse "Se alguém do nosso povo morrer ali nesta estrada eu vou processar quem colocou nois aqui". E lamentou "nois estava no paraíso e agora estamos na beira dessa estrada.. Nós somos a semente do Brasil...olhem aí ao redor, nossa terra está sem roupa (desmatada). Derrubar é fácil, mas agora para fazer de novo com vida e mata é difícil e demorado".
Quem mais do que ninguém sofreu com o momento foi o pagé-nhanderu Olimpio. Enquanto amarrava algumas tabuas em sua bicicleta não cansava de repetir que Deus fez a terra para todos e não apenas para os fazendeiros. "Nós sempre vivemos nessa terra. Estou brabo, vou fazer ritual para o sol acabar, acabar com todos. Estou triste, vou acabar com minha vida..." e começou a chorar. É difícil não se emocionar e conter as lágrimas diante de uma cena dessas. Um ancião, depositário de grande sabedoria, vivência religiosa, em constante ritual e contato com o sobrenatural, chegar a uma situação de tamanha dor. É de cortar o coração e se unir ao grito silencioso das lágrimas.
Diante dos homens armados, da polícia federal, crianças, jovens e adultos, não cansavam de dançar o Guachiré e gritar "queremos nossa terra", "chega de despejo, queremos justiça", "demarcação sim, despejo não". E no ritmo da dança e dos gritos ia sendo expressa a certeza de que "do jeito que saímos um dia vamos voltar".
No final dessa primeira Assembléia à beira da estrada, professora Ilda leu a carta escrita.
Não poderia deixar de fazer esse rápido registro relembrando uma frase da música Marçal, feita em homenagem a Tupã'y "Chegará o dia em que o preço dessa covardia será cobrada pelos Guaranis".
CIMI MS
Laranjeira Nhanderu - Campo Grande, 11 de setembro de 2009
Para a história da resistência e afirmação do povo Guarani Kaiowá esse será um dia de muita força simbólica, de memória da grandeza e dignidade de um povo diante da covardia do poder encastelado em mantos sujos da justiça e do poder das armas. Laranjeira Nhanderu entrará para o livro da resistência secular, não como mais um ato de crueldade contra uma comunidade Guarani, mas como reveladora ao mundo de uma situação de barbárie abominável.
Tudo, aos poucos foi sendo mudado, no vai e vem permanente. As crianças não perdem sua alegria e simpatia contagiante em meio à desarrumação e arrumação dos barracos. Patos, galinhas, porquinhos, cachorros, coelhos, papagaio, tudo vai aos poucos chegando para a beira da estrada. Vem para um espaço sofrido e espremido, com riscos de morrerem atropelados. É a vida e a resistência mudando de espaço, no ritmo e no compasso Guarani Kaiowá.
A hora da verdade virá
Final de tarde. Escoltado por policiais federais fortemente armados, e pelo oficial de justiça que veio lavrar a ata da desocupação (oh céus quanta ignomínia sob o sol e balança da justiça!) lá chega o "português", como é conhecido o pretenso senhor daquelas terras. Nada mais expressivo para mostrar a continuidade da secular colonização e extermínio indígena. Em coro e ritmadamente os Guarani gritam contra seu algoz e o desafiam a vir para o outro lado da cerca, para deixar de ser mentiroso e safado! Neste quadro patético de zombaria e cinismo, uma liderança da comunidade mostrava para uma das policiais federais que ostentava uma bomba de gás lacrimogêneo em sua cintura, dizendo "veja só, aquela é filha do que se diz dono da terra da qual estamos sendo expulsos".
Um guerreiro Guarani, agitado em sua ira, carregando seu arco e flecha, disparou apenas uma frase "a hora da verdade virá". E não está muito longe. Está ao alcance da flecha da certeza de que donde estão sendo expulsos voltarão.
O mundo solidário
Se por um lado soava humilhante passar dois dias fazendo centenas e centenas de viagens a pé, de charrete, de moto e principalmente de bicicleta (que deveria ser declarada a grande estrela da guerra silenciosa!), por outro lado havia a firme convicção de que o vai e vem doído, carregando e descarregando os poucos pertences de sobrevivência eram apenas passos de mais uma batalha na luta de retomada e reconquista do território Guarani.
Representantes indígenas de regiões do país, desde o alto Rio Negro, no Amazonas até representantes de organizações indígenas de outros países sul americanos estiveram trazendo sua solidariedade à comunidade de Laranjeira Nhanderu. Também os movimentos sociais do Mato Grosso do Sul novamente estiveram aí com caravanas de solidariedade, de Campo Grande e Dourados. Em suas falas, já no final da tarde, todos mostraram sua perplexidade e revolta pelo que presenciaram e ao mesmo tempo externaram sua admiração pela maneira tranqüila e digna com que a comunidade enfrentou mais esse despejo. "Estou aqui para testemunhar esse sofrimento é injustiça demais. Esse trauma que estão enfrentando um dia vai acabar. A justiça virá. Estou triste", enfatizou Higino Tuyuca, liderança do alto Rio Negro-AM. Não conteve as lágrimas com que selou seu compromisso de estar denunciando essa situação em todos os lugares do Brasil e do mundo, onde se fizer presente. Avelina, do povo Naza, do Cauca, Colômbia lembrou que "a luta pela terra , já há 38 anos custou o assassinato de mais de 500 lideranças. Não tenhamos medo na luta. Podemos perder muitas batalhas, mas sempre nascerão crianças que continuarão a luta". Externou seu compromisso de escrever ao presidente da República do Brasil pedindo a demarcação urgente das terras Kaiowá Guarani.
Os representantes dos movimentos sociais também manifestaram sua irrestrita solidariedade e apoio à comunidade Laranjeira Nhanderu para que seja demarcada sua terra e a ela possam retornar o mais breve possível.
Mudamos de endereço e continuamos firmes
Farid, uma das lideranças do grupo, estava um tanto abatido pelo intenso trabalho da mudança, passando a noite toda carregando as "traias" (trens, pertences...) e já há dois dias praticamente sem comer. Mesmo assim não deixava de lado seu humor e expressões cortantes. No final do dia, depois de acompanhar a polícia federal na constatação da desocupação, em tom indignado e ameaçador disse "Se alguém do nosso povo morrer ali nesta estrada eu vou processar quem colocou nois aqui". E lamentou "nois estava no paraíso e agora estamos na beira dessa estrada.. Nós somos a semente do Brasil...olhem aí ao redor, nossa terra está sem roupa (desmatada). Derrubar é fácil, mas agora para fazer de novo com vida e mata é difícil e demorado".
Quem mais do que ninguém sofreu com o momento foi o pagé-nhanderu Olimpio. Enquanto amarrava algumas tabuas em sua bicicleta não cansava de repetir que Deus fez a terra para todos e não apenas para os fazendeiros. "Nós sempre vivemos nessa terra. Estou brabo, vou fazer ritual para o sol acabar, acabar com todos. Estou triste, vou acabar com minha vida..." e começou a chorar. É difícil não se emocionar e conter as lágrimas diante de uma cena dessas. Um ancião, depositário de grande sabedoria, vivência religiosa, em constante ritual e contato com o sobrenatural, chegar a uma situação de tamanha dor. É de cortar o coração e se unir ao grito silencioso das lágrimas.
Diante dos homens armados, da polícia federal, crianças, jovens e adultos, não cansavam de dançar o Guachiré e gritar "queremos nossa terra", "chega de despejo, queremos justiça", "demarcação sim, despejo não". E no ritmo da dança e dos gritos ia sendo expressa a certeza de que "do jeito que saímos um dia vamos voltar".
No final dessa primeira Assembléia à beira da estrada, professora Ilda leu a carta escrita.
Não poderia deixar de fazer esse rápido registro relembrando uma frase da música Marçal, feita em homenagem a Tupã'y "Chegará o dia em que o preço dessa covardia será cobrada pelos Guaranis".
CIMI MS
Laranjeira Nhanderu - Campo Grande, 11 de setembro de 2009
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