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Parecis: Índios vão plantar grãos em lavoura mecanizada

14/09/2003

Autor: Márcia Oliveira

Fonte: Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT



Os índios parecis, moradores do Médio Norte do Estado, devem iniciar o plantio de grãos, com uso inédito da lavoura mecanizada, a partir da segunda quinzena de outubro ou da primeira de novembro, em cerca de 2 mil hectares localizados nos municípios de Sapezal e Campo Novo dos Parecis, 455 e 291 quilômetros da Capital, respectivamente.

O processo será conduzido por 15 famílias, que se organizaram para forçar a Fundação Nacional do Índio (Funai) a lhes garantir condições para conseguir financiamento no Banco do Brasil, em programa similar ao de Agricultura Familiar (Pronaf). A intenção é fazer o uso agrícola profissional de seu território, sem abandonar completamente a lavoura tradicional. Agora, eles negociam os detalhes com o governo do Estado para fechar o apoio técnico com a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Empaer), para fazer os projetos, apresentá-los e conseguir os recursos.

Os valores de empréstimo para cada família ainda não foram definidos. A questão está sendo discutida com o gerente do Banco do Brasil de Campo Novo dos Parecis. Porém, mesmo com toda a vontade dos índios, as negociações podem atrasar. Mas independente de qualquer empecilho, com a iniciativa o grupo traz à tona o óbvio de uma situação, que para eles, já extravasou o limite do tolerável, ou seja, não admitem mais possuírem o direito de uso de seus territórios, sem as mínimas condições de explorá-lo, mesmo para a subsistência. "Eles querem plantar soja, milho, arroz, amendoim, feijão e cana de açucar para aproveitar a vocação natural da terra e sobreviver. Querem produzir o suficiente para a subsistência e um excedente para a comercializar, garantir o pagamento do empréstimo e consumir produtos que necessitam", disse o administrador da Funai em Tangará da Serra, Daniel Mantenho Cabixi, responsável pelos índios de quatro etnias ( incluindo os parecis), divididos em 53 aldeias no Médio Norte de Mato Grosso.

A novidade conduzida pelos parecis é caracterizada por indigenistas da Funai, como uma reação necessária, diante da escassez de caça, pesca, recursos naturais e da grande proximidade entre índios e produtores rurais, acentuada ao longo dos anos. E coloca em pauta uma discussão que, se existia, estava limitada aqueles que lidam diretamente com o problema do índio no Brasil: eles podem ou não conduzir negócios em suas terras? A questão é complexa e merece estudos, ponderação e todos os cuidados.

Extensão do plantio faz da iniciativa fato inédito

O coordenador Geral de Desenvolvimento Comunitário da Funai de Brasília, Ronaldo Lima, explica que a iniciativa dos parecis é inédita no país em função da extensão do plantio que propõem, porém, lembra que hoje os índios, em todo o território nacional, tentam encontrar meios de sobreviver em melhores condições.

As alternativas estariam sempre relacionadas com o modo de produção usado pelo homem branco, territorialmente mais próximo.

Lima também recorda que a Funai conduziu projetos para mecanizar a lavoura em aldeias de Mato Grosso, nas décadas de 70 e 80, porém, por equívocos na condução da política, os projetos não deram certo. "Em 70, o órgão investiu recursos para levar os Xavantes a plantar arroz, em grandes extensões para a época, mas não deu certo. O órgão colocou o branco para operar as máquinas e a tecnificação, os índios não se adaptaram e acabaram voltando para a lavoura tradicional, por sorte", avaliou o indigenista.

Os bacairis também receberam projetos parecidos na década seguinte e além dos umutina, são considerados os mais propensos a usar a tecnologia para o plantio, em todo o Estado.

Lima deixa claro que a condução desse processo ocorre atualmente muito mais pela vontade do índio, que por planejamento da Funai. "Não existem estudos e nem mesmo uma política clara para conduzir a questão no país. O que se sabe é que os grupos indígenas estão cada vez mais cientes de que precisam sobreviver e que precisam de projetos específicos, como ocorre com outros grupos", disse Lima.
 

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