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Índios Ashaninka realizam encontro binacional

06/10/2005

Fonte: Amazônia.org.br-São Paulo-SP



Encontro deve iniciar nova etapa nas relações de fronteira Brasil -Peru

Aconteceu no mês de setembro, na aldeia Apiwtxa, município de Marechal Thaumaturgo, um encontro que reuniu dezenas de lideranças indígenas e ribeirinhos do Brasil e Peru. Esta foi a quarta reunião do Grupo de Trabalho Transfronteiriço que se reúne de desde o ano passado com uma agenda paralela à agenda oficial entre os dois países.

O objetivo do GT Trans fronteiriço é debater as ques- tões ambientais e indígenas na fronteira, para que o assunto não seja esquecido pelas autoridades. Além das lideranças indígenas, participam do GT repre- sentantes de ONGs como a Comissão Pró-Índio, a SOS Amazônia e a WWF .

Invasões
Há cerca de dois anos, os índios Ashaninka da aldeia Apiwtxa, no Rio Amônia, denunciam a invasão de madeireiras peruanas em suas terras, e conseqüentemente no território brasileiro. Em 2002, o problema tomou proporções maiores quando o avanço das madeireiras destruiu o habitat de índios isolados que vivem na região de fronteira. Como conseqüência, os índios isolados, invadiram a terra ashaninka e atacaram com flechas membros da comunidade indígena.

Desde o trágico episódio, que resultou na morte de uma mulher da tribo, os ashaninka vem procurando chamara a atenção das autoridades brasileiras sobre o problema das invasões na fronteira. Um dos resultados práticos foi o envio de um destacamento permanente do exército no rio Amônia, a fim de fiscalizar o trafico de madeira ilegal. Alem isso, operações conjuntas do Exército, Ibama e Policia Federal já conseguiram capturar somente neste anos, cerca de trinta peruanos que atuavam ilegalmente no lado brasileiro da fronteira.

Escravidão
No entanto, o problema é bem mais complexo do que parece. Se no Brasil os Ashaninka somam cerca de mil pessoas, no Peru, a população desta etnia é estimada em até cem mil. Espalhados por vários departamentos, é no Ucaially contudo, que a situação dos Ashaninka peruanos parece ser a mais grave. Isto porque através de pressão, suborno ou mesmo convencimento, muitas lideranças indígenas aceitam que empresas madeireiras atuem dentro de seu território. Algumas lideranças deram um depoimento dramático durante o encontro, como foi o caso do líder Edwin Valera, do Alto Rio Tamaia "os jovens são recrutados para o serviço nas madereiras, para um trabalho de semi-escravidão, nós não temos acesso à educação nem a saúde pública, a maioria dos índios é analfabeto. E assim, nossa floresta, junto com a vida comunitária estão desaparecendo" Até na vestimenta, o contraste entre os ashaninka é gritante, enquanto alguns se vestem com as tradicionais "cuzmas" que tão bem os identificam, alguns usam as botas com as meias vestidas por cima das calças jeans, que caracterizam os empregados da indústria madeireira. Segundo as lideranças, o pagamento para os índios é ínfimo: uma muda de roupa, ferramentas e comida. Apesar disso, romper com madeireiras parece quase impossível: histórias de lideranças ameaçadas ou mesmo assassinadas foi o que mais se ouviu durante o encontro.

" A atuação das madeireiras na região do Ucaially não apenas uma questão social, política e econômica, e sim, um problema criminal", explica Margot Quisper, da Defensoria Del Pueblo. O órgão, que funciona de maneira semelhante ao nosso Ministério Público, tem sido o desaguadouro de críticas e denúncias não apenas dos índios, mas também de dezenas de comunidades mestiças que vivem na região de fronteira. Margot explicou que existem diferentes situações na região do Ucaially: desde madeireiras que possuem as concessões para atuar dentro da lei até madeireiras ilegais que atuam mediante subornos e ameaças. A maior parte destas madeireiras também não é peruana. Em geral são empresas asiáticas ou norte-americanas que empregam os peruanos como mão-de-obra barata.

Alternativa
O maior sucesso dos Ashaninka da Apiwtxa é o fato de que a comunidade vem implantando, com sucesso, novas experiências de desenvolvimento sustentável. Eles que na década de oitenta viviam da criação de gado, hoje, optaram por uma economia diversificada, baseada principal- mente nos recursos da floresta e no artesanato. A área onde antes era o pasto, hoje se transformou numa agro-floresta, dezenas de espécies de árvores frutíferas crescem dando alimento para os 450 moradores da comunidade. No entanto, a "menina-dos-olhos" dos ashaninka da Apiwtxa, parece ser mesmo a criação e manejo de quelônios. O rio, antes farto de Tracajás, espécie apreciada pela carne e pelos ovos, havia pratica- mente desaparecido. Hoje o rio Amônia já começa a ser repovoado que os ashaninka criaram em cativeiro no último verão.

Durante o encontro, os Ashaninka da Apiwtxa tentaram passar um pouco desta experiência para seus parentes peruanos. "A experiência da Apiwtxa pode ajudar nosso parentes a encontra uma forma melhor de viver, sem necessidade de destruir a floresta", disse Moisés Pianko, presidente da Associação Ashaninka do rio Amônia.

Documento
Os quatro dias de encontro na comunidade Apiwtxa resultaram num documento, com pontos em comum a serem defendidos dos dois lados da fronteira. Uma das premissas básicas do documento, é que o limite entre os dois países deverá ser respeitado.

Os outros pontos do documento tratam do fortalecimento do movimento indígena no Peru, a fim de que direitos básicos à cidadania, saúde, educação e principalmente o direito à terra sejam respeitados pelo governo peruano. O documento deverá ser encaminhado à ONU e poderá trazer implicações mais amplas principalmente ao governo do departamento de Ucaially, onde se concentram a maior parte dos problemas. Ao fim de tudo o que se espera é que as comunidades indígenas ou não, possam viver em paz e com seus direitos assistidos, dos dois lados da fronteira.

Leandro Altheman
Colaboração para o Amazonia.org.br
 

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