From Indigenous Peoples in Brazil
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Noticias
Tribo do Amazonas só sabe contar até três
20/08/2004
Autor: CRISTINA AMORIM
Fonte: Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
Pesquisa feita por americano com índios pirahãs sugere que língua que se fala pode determinar pensamento
Uma pesquisa feita no Brasil por um cientista americano deve esquentar um debate corrente entre lingüistas: o idioma que se fala determina a natureza e o conteúdo do pensamento?
De acordo com Peter Gordon, da Universidade de Columbia (EUA), que assina o estudo, na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org), a resposta é afirmativa no caso dos pirahãs, índios que levam uma vida seminômade no Amazonas e que mantêm isolamento da sociedade brasileira. Com base em viagens que fez à região, ele tentou definir se pessoas inseridas em sociedades com sistemas numéricos imprecisos, expressos em poucas palavras, conseguem realizar tarefas proporcionalmente complexas.
Muitas culturas usam os dedos das mãos como base para um sistema decimal. Outras se baseiam em uma contagem binária: 1, 2, 1 e 2, 2 e 2, 2 e 2 e 1, assim por diante. Porém, todas as estruturas lingüísticas estudadas do mundo, das mais complexas às mais simples, contêm palavras que indicam quantidades numéricas.
Os pirahãs utilizam um sistema numérico expresso em três palavras: "hói", que significa "um"; "hoí", usado para dois; e "baagi" e "aibai", aplicado para determinar "muitos". "Hói" também pode ser usado para "cerca de um" ou "um punhado".
Na tribo, o pesquisador promoveu uma série de atividades. Em uma das experiências, os participantes (seis homens e uma mulher adultos) tinham de repetir padrões simples: de um lado, Gordon desenhava uma série de linhas ou enfileirava pilhas. Do outro, eles repetiam a ação.
Quando trabalhavam com apenas uma ou duas linhas, os pirahãs cumpriam a tarefa com facilidade. O panorama mudava quando mais itens eram incluídos no jogo. Os pirahãs deixavam não apenas de contar, mas de desenhar também -apesar de se esforçarem para cumprir as tarefas, emitindo suspiros prolongados, como notou o cientista. Mesmo em atividades realizadas diariamente, os índios tiveram dificuldade em diferenciar quatro de cinco peixes, por exemplo.
Na média
Os índios amazônicos cumpriram relativamente bem as tarefas, assim como estudantes do ensino médio se saem bem ao resolver equações acima de seu nível.
A pesquisa de Gordon, no entanto, mostra que os pirahãs fazem "aproximações" para quantidades acima de três -mesmo quando não havia palavras para expressar os números.
O caso dos pirahãs mostra que a linguagem pode ser incomensurável, ou seja, pode conter conceitos impossíveis de ser traduzidos de uma língua para outra. "Essa característica poderia limitar o pensamento, mas também é possível que alguns conceitos sejam independentes", disse Gordon à Folha. De acordo com ele, o mesmo perfil pode ser encontrado em aborígenes na Austrália e em algumas tribos na África.
"Por outro lado, a língua pirahã é particularmente complexa, especialmente com relação à estrutura verbal", afirma. Para o pesquisador, isso significa que o desenvolvimento da cultura não está ligado à complexidade da linguagem, mas que a função cognitiva pode ser reprimida.
"O estudo", diz, "apenas fornece pistas sobre como a quantificação pode estar relacionada a uma vida que exige os números". Em última instância, que as palavras só surgem quando necessárias.
Uma pesquisa feita no Brasil por um cientista americano deve esquentar um debate corrente entre lingüistas: o idioma que se fala determina a natureza e o conteúdo do pensamento?
De acordo com Peter Gordon, da Universidade de Columbia (EUA), que assina o estudo, na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org), a resposta é afirmativa no caso dos pirahãs, índios que levam uma vida seminômade no Amazonas e que mantêm isolamento da sociedade brasileira. Com base em viagens que fez à região, ele tentou definir se pessoas inseridas em sociedades com sistemas numéricos imprecisos, expressos em poucas palavras, conseguem realizar tarefas proporcionalmente complexas.
Muitas culturas usam os dedos das mãos como base para um sistema decimal. Outras se baseiam em uma contagem binária: 1, 2, 1 e 2, 2 e 2, 2 e 2 e 1, assim por diante. Porém, todas as estruturas lingüísticas estudadas do mundo, das mais complexas às mais simples, contêm palavras que indicam quantidades numéricas.
Os pirahãs utilizam um sistema numérico expresso em três palavras: "hói", que significa "um"; "hoí", usado para dois; e "baagi" e "aibai", aplicado para determinar "muitos". "Hói" também pode ser usado para "cerca de um" ou "um punhado".
Na tribo, o pesquisador promoveu uma série de atividades. Em uma das experiências, os participantes (seis homens e uma mulher adultos) tinham de repetir padrões simples: de um lado, Gordon desenhava uma série de linhas ou enfileirava pilhas. Do outro, eles repetiam a ação.
Quando trabalhavam com apenas uma ou duas linhas, os pirahãs cumpriam a tarefa com facilidade. O panorama mudava quando mais itens eram incluídos no jogo. Os pirahãs deixavam não apenas de contar, mas de desenhar também -apesar de se esforçarem para cumprir as tarefas, emitindo suspiros prolongados, como notou o cientista. Mesmo em atividades realizadas diariamente, os índios tiveram dificuldade em diferenciar quatro de cinco peixes, por exemplo.
Na média
Os índios amazônicos cumpriram relativamente bem as tarefas, assim como estudantes do ensino médio se saem bem ao resolver equações acima de seu nível.
A pesquisa de Gordon, no entanto, mostra que os pirahãs fazem "aproximações" para quantidades acima de três -mesmo quando não havia palavras para expressar os números.
O caso dos pirahãs mostra que a linguagem pode ser incomensurável, ou seja, pode conter conceitos impossíveis de ser traduzidos de uma língua para outra. "Essa característica poderia limitar o pensamento, mas também é possível que alguns conceitos sejam independentes", disse Gordon à Folha. De acordo com ele, o mesmo perfil pode ser encontrado em aborígenes na Austrália e em algumas tribos na África.
"Por outro lado, a língua pirahã é particularmente complexa, especialmente com relação à estrutura verbal", afirma. Para o pesquisador, isso significa que o desenvolvimento da cultura não está ligado à complexidade da linguagem, mas que a função cognitiva pode ser reprimida.
"O estudo", diz, "apenas fornece pistas sobre como a quantificação pode estar relacionada a uma vida que exige os números". Em última instância, que as palavras só surgem quando necessárias.
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