From Indigenous Peoples in Brazil
News
Florestas assassinas no Peru
29/11/2014
Autor: SOROS, Alex
Fonte: OESP, Internacional, p. A33
Florestas assassinas no Peru
Mortes de líderes ambientalistas na Amazônia peruana evidenciam crise às vésperas de conferência
ALEX SOROS
PROJECT SYNDICATE
Edwin Chota foi morto na floresta que lutou para proteger. O ativista ambiental peruano pediu ajuda ao governo de seu país depois de receber ameaças de morte de madeireiros ilegais que assolavam a região em torno de sua aldeia, nas profundezas da floresta amazônica. Ainda assim, em setembro, ele e três outros membros da comunidade de Asháninka caíram numa emboscada e foram assassinados na selva, enquanto viajavam para se encontrar com colegas ativistas do Brasil. A viúva de Edwin viajou por seis dias para conseguir chegar à capital regional e comunicar as mortes.
A morte de Edwin chama a atenção para o preço que os ativistas locais em algumas das áreas mais remotas do mundo estão pagando enquanto lutam para defender suas comunidades da exploração e da industrialização. A procura mundial por recursos naturais cresce e os povos indígenas recebem pouca proteção contra aqueles que destroem suas terras, suas florestas e seus rios. Em vez disso, estão sendo assassinados impunemente a um ritmo alarmante, às vezes com a cumplicidade das autoridades.
O Peru é um excelente exemplo. De acordo com um relatório divulgado recentemente pelo grupo militante Global Witness, o país ocupa a quarta posição mundial em assassinatos de ativistas ambientais (depois de Brasil, Honduras e Filipinas), com 58 mortes entre 2002 e 2013. Mais de metade do território peruano ainda é coberta por floresta tropical, mas essas matas estão desaparecendo em ritmo acelerado para satisfazer a voraz procura internacional por madeira e seus derivados.
Apesar de o Banco Mundial estimar que 80% do comércio madeireiro no Peru é ilegal, as autoridades decretaram leis que tornaram mais fácil para investidores assumir projetos agrícolas e de mineração. Apelos feitos por povos indígenas para que o governo reconhecesse sua posse legal das terras caíram no vazio.
Infelizmente, esse fenômeno não se limita ao Peru. Segundo a Global Witness, de 2002 a 2013, mais de 900 pessoas em 35 países morreram na luta pelo ambiente ou pelo direito à terra. O número de mortes aumentou bruscamente nos últimos anos. Em todo o mundo, são assassinados em média dois ativistas por semana. Dado que tais mortes tendem a não ser declaradas, o número real pode ser ainda maior. Em apenas dez casos os autores foram levados à Justiça.
As mortes de ativistas ambientais como a de Edwin não são resultado de disputas obscuras em lugares selvagens e distantes. São consequência direta da procura incessante do mundo desenvolvido por produtos como madeira, óleo de palma, borracha, gás natural e carne - e da regulação pobre dos mercados que fornecem os insumos.
A madeira de uma só árvore de cedro tropical pode ser vendida por US$ 9 mil nos EUA. Uma árvore de mogno pode render US$ 11 mil. Por esse dinheiro, alguns nas regiões rurais e empobrecidas podem matar.
O Peru comprometeu-se a proteger suas florestas, que cobrem cerca de 60% do país e estão entre as maiores e mais bem preservadas do mundo. Atividades relacionadas ao uso de terras e florestas contribuem para cerca de metade das emissões de gases com efeito de estufa do país.
Apesar de acordos assinados para preservação, leis excessivamente permissivas e mal aplicadas, corrupção e direitos fragilizados sobre as terras para 300 mil indígenas do Peru ameaçam frustrar as boas intenções. Garantir os direitos dos indígenas à terra é uma das formas mais eficazes para limitar o desmatamento, mas o governo peruano silencia sobre reivindicações referentes a 20 milhões de hectares.
Essas comunidades precisam de melhor apoio e proteção para poderem continuar a manter suas florestas intactas.
No próximo mês, o Peru será sede de uma importante conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas e espera-se que os esforços para proteger as florestas do mundo ocupem lugar central no evento - precisamente quando aqueles que se colocam fisicamente no percurso do desmatamento estão sendo eliminados. O governo devia reconhecer a vulnerabilidade dos ativistas ambientais e defender seus direitos.
Isso significa intensificar os esforços para combater a derrubada ilegal de árvores e a corrupção, melhorar o manejo das florestas e revogar leis recentes que enfraqueceram a proteção ambiental. Do contrário, o resultado será óbvio: mais mortes nas fronteiras ambientais do Peru.
É FUNDADOR DA FUNDAÇÃO ALEXANDER SOROS, QUE RECONHECE DEFENSORES DO AMBIENTE COM UM PRÊMIO ANUAL
OESP, 29/11/2014, Internacional, p. A33
Mortes de líderes ambientalistas na Amazônia peruana evidenciam crise às vésperas de conferência
ALEX SOROS
PROJECT SYNDICATE
Edwin Chota foi morto na floresta que lutou para proteger. O ativista ambiental peruano pediu ajuda ao governo de seu país depois de receber ameaças de morte de madeireiros ilegais que assolavam a região em torno de sua aldeia, nas profundezas da floresta amazônica. Ainda assim, em setembro, ele e três outros membros da comunidade de Asháninka caíram numa emboscada e foram assassinados na selva, enquanto viajavam para se encontrar com colegas ativistas do Brasil. A viúva de Edwin viajou por seis dias para conseguir chegar à capital regional e comunicar as mortes.
A morte de Edwin chama a atenção para o preço que os ativistas locais em algumas das áreas mais remotas do mundo estão pagando enquanto lutam para defender suas comunidades da exploração e da industrialização. A procura mundial por recursos naturais cresce e os povos indígenas recebem pouca proteção contra aqueles que destroem suas terras, suas florestas e seus rios. Em vez disso, estão sendo assassinados impunemente a um ritmo alarmante, às vezes com a cumplicidade das autoridades.
O Peru é um excelente exemplo. De acordo com um relatório divulgado recentemente pelo grupo militante Global Witness, o país ocupa a quarta posição mundial em assassinatos de ativistas ambientais (depois de Brasil, Honduras e Filipinas), com 58 mortes entre 2002 e 2013. Mais de metade do território peruano ainda é coberta por floresta tropical, mas essas matas estão desaparecendo em ritmo acelerado para satisfazer a voraz procura internacional por madeira e seus derivados.
Apesar de o Banco Mundial estimar que 80% do comércio madeireiro no Peru é ilegal, as autoridades decretaram leis que tornaram mais fácil para investidores assumir projetos agrícolas e de mineração. Apelos feitos por povos indígenas para que o governo reconhecesse sua posse legal das terras caíram no vazio.
Infelizmente, esse fenômeno não se limita ao Peru. Segundo a Global Witness, de 2002 a 2013, mais de 900 pessoas em 35 países morreram na luta pelo ambiente ou pelo direito à terra. O número de mortes aumentou bruscamente nos últimos anos. Em todo o mundo, são assassinados em média dois ativistas por semana. Dado que tais mortes tendem a não ser declaradas, o número real pode ser ainda maior. Em apenas dez casos os autores foram levados à Justiça.
As mortes de ativistas ambientais como a de Edwin não são resultado de disputas obscuras em lugares selvagens e distantes. São consequência direta da procura incessante do mundo desenvolvido por produtos como madeira, óleo de palma, borracha, gás natural e carne - e da regulação pobre dos mercados que fornecem os insumos.
A madeira de uma só árvore de cedro tropical pode ser vendida por US$ 9 mil nos EUA. Uma árvore de mogno pode render US$ 11 mil. Por esse dinheiro, alguns nas regiões rurais e empobrecidas podem matar.
O Peru comprometeu-se a proteger suas florestas, que cobrem cerca de 60% do país e estão entre as maiores e mais bem preservadas do mundo. Atividades relacionadas ao uso de terras e florestas contribuem para cerca de metade das emissões de gases com efeito de estufa do país.
Apesar de acordos assinados para preservação, leis excessivamente permissivas e mal aplicadas, corrupção e direitos fragilizados sobre as terras para 300 mil indígenas do Peru ameaçam frustrar as boas intenções. Garantir os direitos dos indígenas à terra é uma das formas mais eficazes para limitar o desmatamento, mas o governo peruano silencia sobre reivindicações referentes a 20 milhões de hectares.
Essas comunidades precisam de melhor apoio e proteção para poderem continuar a manter suas florestas intactas.
No próximo mês, o Peru será sede de uma importante conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas e espera-se que os esforços para proteger as florestas do mundo ocupem lugar central no evento - precisamente quando aqueles que se colocam fisicamente no percurso do desmatamento estão sendo eliminados. O governo devia reconhecer a vulnerabilidade dos ativistas ambientais e defender seus direitos.
Isso significa intensificar os esforços para combater a derrubada ilegal de árvores e a corrupção, melhorar o manejo das florestas e revogar leis recentes que enfraqueceram a proteção ambiental. Do contrário, o resultado será óbvio: mais mortes nas fronteiras ambientais do Peru.
É FUNDADOR DA FUNDAÇÃO ALEXANDER SOROS, QUE RECONHECE DEFENSORES DO AMBIENTE COM UM PRÊMIO ANUAL
OESP, 29/11/2014, Internacional, p. A33
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