From Indigenous Peoples in Brazil
News
Cartel domina o garimpo
30/05/2005
Autor: CARLOS WAGNER
Fonte: Diário Catarinense-Florianópolis-SC
Caçadores de pedras preciosas perdem a oportunidade de conquistar a independência financeira quando cruzam com organizações de compradores que atuam em vários estados
Ao encontrar uma pedra preciosa, os pobres caçadores de riqueza no Brasil enfrentam um segundo obstáculo no caminho para conquistar uma vida decente: um cartel de compradores pressiona para baixo os diamantes brutos no Brasil. A sociedade informal é composta por cinco compradores, quatro em Minas Gerais e um em Mato Grosso.
Inicialmente eles se uniram para afastar os compradores estrangeiros dos cobiçados diamantes da Terra Indígena Rooselvet, pertencente aos índios cintas-largas, em Rondônia. Vencida a concorrência, agora o cartel impõe o seu preço aos garimpeiros espalhados pelo país. Atua por meio de uma rede de compradores que nasceu nos tempos do Brasil Imperial e se modernizou.
A existência do cartel foi denunciada por cooperativas de garimpeiros em Minas Gerais e em Rondônia. Dois dos seus expoentes seriam Gilmar Campos, de Patos de Minas. A Agência RBS esteve no seu escritório em Patos e ligou 12 vezes para falar sobre o assunto. Ele mandou dizer que não se interessava em falar. O outro é o Hassan Ahmad, de Belo Horizonte, que também não retornou as ligações. O cartel está sendo investigado pela Polícia Federal (PF).
O acordo entre os cinco só funciona para a compra do diamante. Na venda, é cada um por si - eles não são páreos para enfrentar os grandes compradores internacionais. Os diamantes de pequeno valor, conhecidos como chibius, são comprados em lotes. E as pedras raras são vendidas por unidade. O cartel tem o seu trabalho facilitado pelo fato de que 90% da extração, da compra e da venda de diamantes é ilegal no território nacional.
Um estudo feito por empresas multinacionais de mineração estima que a produção do maior e mais produtivo garimpo clandestino do Brasil atualmente, a Terra Indígena Roosevelt, tenha alcançado US$ 20 milhões mensais nos últimos quatro anos.
Um outro cálculo conservador sobre o tamanho do comércio ilegal de diamantes no país estima que seja de 400 mil quilates anuais a quantia exportada, diz Giles Carriconde Azevedo, 44 anos, titular da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia.
Até os diamantes dos cintas-largas entrarem no mercado ilegal, os cinco compradores do cartel agiam de maneira independente. E não era raro o boicote entre eles, explicou o mais velho do grupo, que tem escritório em Belo Horizonte. Mas aconteceu que as pedras dos índios entraram no mercado ilegal em um momento muito especial: os novos ricos da China estavam comprando e os lavadores de dinheiro substituindo grandes somas de dólares por diamantes de valor. A estratégia serve para escapar do monitoramento da movimentação de altas somas feita pelos norte-americanos depois do atentado terrorista de 11 de setembro.
Policial Militar reformado foi preso com 554 diamantes
A qualidade e a fama dos diamantes dos cintas-largas atraiu para o Brasil compradores israelenses, canadenses e belgas. Os israelenses se aliaram com os corretores do Espírito Santo, que têm muitos contatos nas imediações da Roosevelt, por se tratar de uma região colonizada por capixabas. Os canadenses e os belgas uniram-se aos paulistas.
No final do ano passado havia uma guerra declarada entre os compradores pelos diamantes raros de Rondônia. O conflito beneficiou os garimpeiros, que podiam vender para quem pagasse mais, recordou Neri Geraldo Borondi La Roque, em Espigão d´Oeste (RO).
Também a Polícia Federal (PF) se beneficiou, porque pôde fazer apreensões graças a denúncias - como no caso do policial militar reformado Rui Barbosa, 55 anos, pego na BR-365, entre Uberlândia e Tupaciguara, levando 554 diamantes (1,2 mil quilates) de Rondônia para o Espírito Santo. A PF ainda coletou preciosas informações sobre o funcionamento do comércio ilegal de diamantes no Brasil.
Na ocasião, um dos principais membros do cartel chegou a ser investigado pelos federais por lavagem de dinheiro. Nada foi provado contra ele. Em janeiro, em um luxuoso hotel de Belo Horizonte, os cinco se encontraram e fecharam o acordo. Nasceu ali o cartel. O objetivo maior era assegurar a mercadoria do garimpo. O massacre de 29 garimpeiros pelos índios cintas-largas em abril do ano passado acabou abrindo caminho ao grupo, que afastou os corretores de diamantes internacionais. Agora o único comprador com poder suficiente para adquirir pedras de grande valor é o cartel.
Como funciona o esquema
Um cartel montado por cinco grandes negociantes controla com a seguinte estrutura a cotação da pedra:
1 - As pedras brutas de diamantes de pouco valor são negociadas em lotes, e as raras, por unidade.
2 - Há a figura do comprador, que tem diferentes designações dependendo da região de garimpo: capangueiro, em Minas Gerais, picareta, em Rondônia, e corretor, no Paraná. Seu principal requisito é ter "olho bom", ou seja, saber avaliar uma pedra. Ele é ligado a um comprador regional, por sua vez vinculado a um dos cinco integrantes do cartel, conectados aos grandes compradores do Exterior.
3 - Sempre que um garimpeiro descobre uma pedra rara, procura o capangueiro. Fechado o negócio, as duas partes lacram o diamante - enrolando-o em um papel preso com fita adesiva. O capangueiro dá uma quantia em dinheiro como sinal e ganha 72 horas para pagar o restante. Se não o fizer, perde a quantia dada com sinal.
4 - Se a pedra for rara e valiosa e não houver acerto entre o capangueiro e o garimpeiro, o diamante é "queimado" pelo cartel, em uma operação simples: os compradores combinam entre si um preço, geralmente abaixo daquele oferecido inicialmente pelo capangueiro, espalham a notícia de que o garimpeiro rompeu um diamante lacrado. Com isso, atiram sobre o vendedor a desconfiança. Como se trata de um negócio em que a palavra é o único documento, encurralam o garimpeiro e acabam comprado a mercadoria pelo preço que estipularam.
5 - A moeda usada na compra do diamante é o dólar. Não são aceitas ordens de pagamento nem quaisquer outros títulos que não sejam dinheiro. Concretizada a transação, um homem conhecido como "contador" entrega os dólares e pega a pedra lacrada.
6 - O comprador internacional é o que mais lucra no negócio. Veja no gráfico quanto cada personagem da cadeia produtiva abocanhou do preço que uma pedra rara alcançou depois de lapidada:
- Garimpeiro: 5%
- Capangueiro: 3%
- Comprador regional: 12%
- Membro do cartel: 20%
- Comprador internacional: 60%
Ao encontrar uma pedra preciosa, os pobres caçadores de riqueza no Brasil enfrentam um segundo obstáculo no caminho para conquistar uma vida decente: um cartel de compradores pressiona para baixo os diamantes brutos no Brasil. A sociedade informal é composta por cinco compradores, quatro em Minas Gerais e um em Mato Grosso.
Inicialmente eles se uniram para afastar os compradores estrangeiros dos cobiçados diamantes da Terra Indígena Rooselvet, pertencente aos índios cintas-largas, em Rondônia. Vencida a concorrência, agora o cartel impõe o seu preço aos garimpeiros espalhados pelo país. Atua por meio de uma rede de compradores que nasceu nos tempos do Brasil Imperial e se modernizou.
A existência do cartel foi denunciada por cooperativas de garimpeiros em Minas Gerais e em Rondônia. Dois dos seus expoentes seriam Gilmar Campos, de Patos de Minas. A Agência RBS esteve no seu escritório em Patos e ligou 12 vezes para falar sobre o assunto. Ele mandou dizer que não se interessava em falar. O outro é o Hassan Ahmad, de Belo Horizonte, que também não retornou as ligações. O cartel está sendo investigado pela Polícia Federal (PF).
O acordo entre os cinco só funciona para a compra do diamante. Na venda, é cada um por si - eles não são páreos para enfrentar os grandes compradores internacionais. Os diamantes de pequeno valor, conhecidos como chibius, são comprados em lotes. E as pedras raras são vendidas por unidade. O cartel tem o seu trabalho facilitado pelo fato de que 90% da extração, da compra e da venda de diamantes é ilegal no território nacional.
Um estudo feito por empresas multinacionais de mineração estima que a produção do maior e mais produtivo garimpo clandestino do Brasil atualmente, a Terra Indígena Roosevelt, tenha alcançado US$ 20 milhões mensais nos últimos quatro anos.
Um outro cálculo conservador sobre o tamanho do comércio ilegal de diamantes no país estima que seja de 400 mil quilates anuais a quantia exportada, diz Giles Carriconde Azevedo, 44 anos, titular da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia.
Até os diamantes dos cintas-largas entrarem no mercado ilegal, os cinco compradores do cartel agiam de maneira independente. E não era raro o boicote entre eles, explicou o mais velho do grupo, que tem escritório em Belo Horizonte. Mas aconteceu que as pedras dos índios entraram no mercado ilegal em um momento muito especial: os novos ricos da China estavam comprando e os lavadores de dinheiro substituindo grandes somas de dólares por diamantes de valor. A estratégia serve para escapar do monitoramento da movimentação de altas somas feita pelos norte-americanos depois do atentado terrorista de 11 de setembro.
Policial Militar reformado foi preso com 554 diamantes
A qualidade e a fama dos diamantes dos cintas-largas atraiu para o Brasil compradores israelenses, canadenses e belgas. Os israelenses se aliaram com os corretores do Espírito Santo, que têm muitos contatos nas imediações da Roosevelt, por se tratar de uma região colonizada por capixabas. Os canadenses e os belgas uniram-se aos paulistas.
No final do ano passado havia uma guerra declarada entre os compradores pelos diamantes raros de Rondônia. O conflito beneficiou os garimpeiros, que podiam vender para quem pagasse mais, recordou Neri Geraldo Borondi La Roque, em Espigão d´Oeste (RO).
Também a Polícia Federal (PF) se beneficiou, porque pôde fazer apreensões graças a denúncias - como no caso do policial militar reformado Rui Barbosa, 55 anos, pego na BR-365, entre Uberlândia e Tupaciguara, levando 554 diamantes (1,2 mil quilates) de Rondônia para o Espírito Santo. A PF ainda coletou preciosas informações sobre o funcionamento do comércio ilegal de diamantes no Brasil.
Na ocasião, um dos principais membros do cartel chegou a ser investigado pelos federais por lavagem de dinheiro. Nada foi provado contra ele. Em janeiro, em um luxuoso hotel de Belo Horizonte, os cinco se encontraram e fecharam o acordo. Nasceu ali o cartel. O objetivo maior era assegurar a mercadoria do garimpo. O massacre de 29 garimpeiros pelos índios cintas-largas em abril do ano passado acabou abrindo caminho ao grupo, que afastou os corretores de diamantes internacionais. Agora o único comprador com poder suficiente para adquirir pedras de grande valor é o cartel.
Como funciona o esquema
Um cartel montado por cinco grandes negociantes controla com a seguinte estrutura a cotação da pedra:
1 - As pedras brutas de diamantes de pouco valor são negociadas em lotes, e as raras, por unidade.
2 - Há a figura do comprador, que tem diferentes designações dependendo da região de garimpo: capangueiro, em Minas Gerais, picareta, em Rondônia, e corretor, no Paraná. Seu principal requisito é ter "olho bom", ou seja, saber avaliar uma pedra. Ele é ligado a um comprador regional, por sua vez vinculado a um dos cinco integrantes do cartel, conectados aos grandes compradores do Exterior.
3 - Sempre que um garimpeiro descobre uma pedra rara, procura o capangueiro. Fechado o negócio, as duas partes lacram o diamante - enrolando-o em um papel preso com fita adesiva. O capangueiro dá uma quantia em dinheiro como sinal e ganha 72 horas para pagar o restante. Se não o fizer, perde a quantia dada com sinal.
4 - Se a pedra for rara e valiosa e não houver acerto entre o capangueiro e o garimpeiro, o diamante é "queimado" pelo cartel, em uma operação simples: os compradores combinam entre si um preço, geralmente abaixo daquele oferecido inicialmente pelo capangueiro, espalham a notícia de que o garimpeiro rompeu um diamante lacrado. Com isso, atiram sobre o vendedor a desconfiança. Como se trata de um negócio em que a palavra é o único documento, encurralam o garimpeiro e acabam comprado a mercadoria pelo preço que estipularam.
5 - A moeda usada na compra do diamante é o dólar. Não são aceitas ordens de pagamento nem quaisquer outros títulos que não sejam dinheiro. Concretizada a transação, um homem conhecido como "contador" entrega os dólares e pega a pedra lacrada.
6 - O comprador internacional é o que mais lucra no negócio. Veja no gráfico quanto cada personagem da cadeia produtiva abocanhou do preço que uma pedra rara alcançou depois de lapidada:
- Garimpeiro: 5%
- Capangueiro: 3%
- Comprador regional: 12%
- Membro do cartel: 20%
- Comprador internacional: 60%
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