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Em meio a ataques químicos, indígenas conseguem permanência no tekoha

20/01/2016

Autor: Izabela Sanchez

Fonte: TopMídia News (Campo Grande - MS) - www.campograndenews.com.br



Tey'i Juçu, tekoha indígena na região de Caarapó (distante cerca de 270 quilômetros de Campo Grande), que em guarani significa "aquilo que já foi grande", tem a perspectiva de voltar a ser a ser grandioso, já que uma liminar concedida no último dia 15 pelo Supremo Tribunal Federal, suspendeu a reintegração de posse da terra tradicional Guarani e Kaiowá por parte de fazendeiros, que aconteceria nesta quarta-feira (20).

Mas a comunidade enfrenta obstáculos diários para sobreviver no tekoha, lugar onde se é, e desenvolver a vida dos indígenas com qualidade. Isso porque Tey'i Juçu, muitas vezes, parece um cenário de guerra, onde os venenos que um dia já foram usados como armas químicas em conflitos como a guerra do Vietnã, hoje tornaram-se prática diária no uso inseticidas do agronegócio, além de serem despejados na comunidade entre as plantações, casas e o córrego, por aviões e maquinários agrícolas.

Cerca de 30 pessoas resistem na ocupação de Tey'i Juçu, que fica ao lado da reserva Tey'ikue onde vivem mais de 6000 Guaranis e Kaiowás. Os dois locais são interligados através de uma estrada. "Na segunda (18) estava sobrevoando o mesmo avião que jogou veneno e voltou pra informar os fazendeiros, porque depois bloquearam a estrada". O episódio é contado por Elson, liderança do tekoha.

A comunidade realizou uma festa tradicional da cultura Guarani e Kaiowá e convidou entidades e movimentos parceiros da causa indígena. Entre eles, alunos e professores do campus da Unesp (Universidade estadual paulista) de Araraquara, que puderam conhecer a vivência dos indígenas e presenciar a violência sofrida pelo povo diariamente. Elson explicou que os visitantes presenciaram o avião sobrevoando as terras. Eles foram embora na segunda-feira a noite, e na terça (19), Elson contou que os jagunços bloquearam a estrada que liga Tey'i Juçu a Tey'ikue.

"Fizemos uma festa tradicional do povo Guarani e Kaiowá e convidamos algumas entidades, alunos da Unesp Araraquara e UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). Teve palestra, exibição de vídeos. E na segunda-feira a noite eles foram embora. Na terça-feira, às 15h, uma Hilux veio e bloqueou a divisa entre Tey'i Juçu e Tey'ikue. O que eu penso é que isso tem dois lados: ou queriam pegar os não indígenas ou preparar um ataque. Depois foram embora, a gente ia pra reserva e acabamos voltando pra Tey'i Juçu, e aí saíram do caminho", contou Elson.

Um militante da causa indígena* que acompanha a vivência em Tey'i Juçu, explicou que os ataques e uso de venenos são frequentes desde a retomada das terras no final de 2014. "Despejos químicos de veneno começaram logo na primeira ocupação, usavam um maquinário agrícola e despejavam na plantação. Os indígenas tentaram plantar e o veneno era despejado sobre os alimentos, destruía as casas, borrifando veneno nas casas. No episódio do dia da entrada, cerca de 40 caminhonetes estavam no local e abriram fogo de maneira indiscriminada", contou.


ataques químicos em tey jusu


Além dos pistoleiros, os indígenas também denunciam a posição da DOF (Departamento de Operações de Fronteira) em ataques de pistoleiros. Outra questão, é o desaparecimento de uma mulher indígena no episódio da retomada. Elson contou que ela foi levada por uma caminhonete em meio ao tiroteio e não foi mais vista. "Os carros cercaram e foi uma questão de segundos. E não conseguimos dar andamento na denúncia porque falaram que ela não tinha documentos", contou.


Agrotóxicos nos rios e saúde precária


Assim como os indígenas da comunidade Kurussu Ambá, próximo a Coronel Sapucaia, denunciam a ausência de atendimento da Sesai (Secretaria especial de saúde indígena), Tey'i Juu também sofre do mesmo problema.

Os Guaranis e Kaiowás ocupam uma área de cerca de 60 hectares, conforme explicou Elson, ocupada no entorno de um córrego, cuja água abastece a comunidade. Ainda assim, plantações de soja dos fazendeiros com uso de agrotóxicos no local, e os ataques químicos com maquinários e aviões, contaminam a água e deixam as pessoas doentes. "A questão da saúde está precária, já mandamos documentos para o Ministério Público. Já tem mais de um ano que estamos aqui e não temos atendimento da Sesai. Ficam nesse jogo de jogar pro município ou falar que não tem ordem pra ir. Estamos tomando água da mina que o fazendeiro jogou veneno na nascente. Meu filho de quatro anos e meu sobrinho estão doentes. Em volta das minas é cercado por soja, chove e o veneno vai pra água".


Aquilo que já foi grande


"[...] Ante o exposto, defiro liminarmente a medida requerida e determino a suspensão da reintegração deferida na Ação de Reintegração de Posse 0000617-49.2015.4.03.6002. Comunique-se, com urgência, ao Presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, para imediato cumprimento desta decisão. Publique-se."

Enquanto isso, uma decisão que ocupa pouco menos de 4 linhas em um texto, significa a perpetuação da vida para uma comunidade. Perpetuação que depende do ciclo do tempo e daquilo que nasce da terra, na espera de que as colheitas de arroz, feijão, mandioca, batata e abóbora (só para citar alguns alimentos) deem à terra o antigo valor de troca e subsistência entre seres vivos. Uma espera para que Tey'i Juçu volte a ser, novamente, "aquilo que já foi grande".


*o nome foi ocultado para preservar a identidade da fonte

http://www.topmidianews.com.br/interior/noticia/em-meio-a-ataques-quimicos-indigenas-conseguem-permanencia-no-tekoha
 

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