From Indigenous Peoples in Brazil
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News

Promessas atraíram brancos e mentiras expulsaram índios

13/08/2005

Autor: RODRIGO VARGAS

Fonte: Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT



Escrito há quase 50 anos, o livro "A Sociedade Xavante", do antropólogo britânico David Maybury-Lewis, relata a existência e a localização exata da ocupação xavante de Marãiwatsede. A presença da etnia na região é relatada também por Bartolomeu Giaccaria, em trecho de "Xavante, reserva de Brasilidade".

"Marãiwatsede significa mata medonha, pois se tratava de uma região de floresta preservada", explica Aquilino Tsereubuô, um estudioso do processo que levou à retirada dos xavantes de seu território durante a década de 1960.

Segundo ele, ali não havia brancos até meados da década anterior. A região somente passou a ser cobiçada a partir da chegada dos grandes projetos de integração nacional. Promessas de investimento e riqueza atraíram, a princípio, apenas pequenos agricultores. Mas não tardariam a inspirar objetivos ousados.

A área inteira foi adquirida pelo colonizador Ariosto da Riva que, em 1962, a revendeu à família Ometto, de São Paulo. Chamada de Suiá-Missu (por conta do rio de mesmo nome que corta a região e deságua no Xingu), a propriedade tinha 658 mil hectares e iria abrigar a maior criação de gado do mundo.

Antes que isso se tornasse possível, no entanto, seria preciso resolver a situação dos xavantes - que ainda mantinham aldeamentos na área da fazenda. A princípio aproveitados como mão de obra barata na construção de estradas, pontes e pistas de pouso, os índios haviam tornado uma presença incômoda ao projeto.

Em agosto de 1966, após acordo dos novos proprietários com o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) - e com o auxílio de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) - foi iniciada a transferência dos cerca de 300 remanescentes para Missão Salesiana São Marcos, 400 quilômetros ao sul de Marãiwatsede.

Aquilino diz que os xavantes só aceitaram a medida pacificamente porque foram enganados. "O argumento era que, ficando na região, os xavantes iriam acabar por conta de doenças. Mas isso não era verdade", relata.

Entre os mais velhos, a transferência é uma ruptura que jamais será esquecida. "A terra onde cresci era livre, tinha floresta, porque o índio preservava. E não havia nenhum branco ainda", relembra o cacique Damião, que tinha 11 anos quando foi levado para São Marcos. "Depois que saímos, foi a perdição. Nunca mais encontramos um lugar nosso de verdade".
 

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