From Indigenous Peoples in Brazil

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Apesar de proibida, pacientes recorrem à vacina do sapo

03/11/2005

Autor: TATIANA DINIZ

Fonte: Folha de S. Paulo-São Paulo-SP



Os índios katukinas, no Acre, são os detentores do conhecimento tradicional da vacina do sapo, o kambô. A palavra é usada tanto para se referir ao anfíbio Phylomedusa bicolor quanto ao etnofármaco obtido da secreção desse animal.

"Para os índios, o kambô é um remédio que tira a "panema", o estado de espírito negativo que causa doenças", comenta Bruno Filizola, coordenador técnico do Programa Brasileiro de Bioprospecção do Ministério do Meio Ambiente.

O programa concentra esforços para chegar à regulamentação do uso da vacina do sapo, hoje aplicada indevidamente em capitais brasileiras.

No mês passado, a digitadora S.F., 28, fez uma aplicação da substância em Brasília. "Soube que um índio do Acre estava na cidade e fui procurá-lo", conta. "O índio recomendou que eu tomasse quatro copos de água e fez cinco furinhos na batata da minha perna direita. Com a ponta de um canivete, passou a secreção do sapo em cada furinho e me mandou sentar numa cadeira num gramado. Comecei a sentir uma pressão muito grande na cabeça. Meus olhos se encheram de lágrimas e meu nariz começou a escorrer. Senti um mal-estar horrível. Na hora, cheguei a me arrepender de ter feito aquilo. Vomitei várias vezes durante aproximadamente 20 minutos. Depois estava me sentindo muito bem. Saí de lá mais leve e hoje, duas semanas depois, tenho muito mais disposição para fazer tudo que preciso", diz.

Embora já bastante difundido nos centros urbanos do país, o uso do kambô é proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). E, enquanto o Ministério do Meio Ambiente busca desenvolver pesquisas para o desenvolvimento de remédios a partir da secreção do sapo, mais de 20 pedidos de patente da substância já foram feitos por laboratórios estrangeiros. Há rumores que, em 2004, um laboratório norte-americano chegou a vender a vacina pela internet.

"Estamos buscando uma forma justa, ética e segura de transformar o kambô em algo sustentável. Qualquer remédio que apareça baseado no conhecimento tradicional deve levar à repartição de benefícios com a comunidade detentora desse conhecimento", ressalta Bruno Filizola.
 

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