From Indigenous Peoples in Brazil

News

MPF conclui que disparo da PF matou índio em desocupação em MS

19/10/2016

Fonte: G1- http://g1.globo.com



Procedimento administrativo do Ministério Público Federal (MPF) concluiu que o tiro que matou o índio terena Oziel Gabriel, de 36 anos, no dia 30 de maio de 2013, durante um confronto entre indígenas e policiais no cumprimento da ordem judicial de reintegração de posse da fazenda Buriti, em Sidrolândia, a 64 quilômetros de Campo Grande, foi disparado pela Polícia Federal (PF).

A assessoria de imprensa da Superintendência da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul foi procurada pelo G1 na manhã desta quarta-feira (19) para se manifestar sobre o assunto, mas até o fechamento da matéria não havia se pronunciado sobre o caso.

Um inquérito que a própria Polícia Federal havia instaurado em 2013 para apurar a morte do terena e a tentativa de homicídio contra os policiais durante o conflito foi inconclusivo. As investigações terminaram no fim de 2013 e na época a PF informou que não havia sido possível apurar a autoria e a materialidade da morte de Oziel porque o projétil que o vitimou não foi localizado, o que impediria a identificação de qual arma partiu o disparo.

O MPF aponta que a sua investigação foi baseada em três procedimentos sobre a desocupação da fazenda. O próprio "inquérito policial" da PF sobre a morte do indígena e as tentativas de homicídio contra os policiais, o "termo circunstanciado" da PF que apura o suposto crime de resistência por parte dos índios e ainda a "sindicância investigativa" abertura pela Corregedoria da PF que apura eventuais irregularidades cometidas pelos policiais durante a operação de reintegração de posse..

Com base neste material, o Ministério Público Federal aponta que apesar da conclusão que o tiro que matou o indígena ter partido de uma arma utilizada pela Polícia Federal, como não foi localizada a munição para identificar o policial que foi o autor do tiro, não restou outra alternativa que não fosse o arquivamento do inquérito policial que apurou a morte de Oziel.

No procedimento, o MPF ressalta que a operação de reintegração de posse da fazenda foi fracassada e teve graves erros, que resultaram além da morte de Oziel, em 35 pessoas feridas, sendo seis por disparos de arma de fogo (quatro policiais e dois indígenas), nove por pedradas (todos policiais) e 19 por balas de borracha (todos indígenas), e teve eficácia zero, já que duas horas após finalizada a ação a fazenda foi reocupada.

O Ministério Público Federal aponta que mesmo com esses resultados, a "sindicância investigativa" aberta pela PF e que foi coordenada por uma delegada que era esposa de um dos comandante da operação chegou a conclusão que não houve irregularidades na ação e deu parecer para o arquivamento da investigação, que foi seguido pela Superintendência da Polícia Federal.

Em razão deste contexto e pelo fato da policial não ter se declarado impedida de elaborar o parecer, por ser esposa de um dos principais envolvidos na investigação, o MPF aponta que a delegada cometeu ato de improbidade e determinou a abertura de uma ação contra ela.

O procedimento administrativo do MPF também recomenda a PF medidas para evitar a violência em desocupações de áreas indígenas e requisita a Corregedoria da Polícia Federal a abertura de uma nova sindicância para apurar a reintegração de posse da fazenda Buriti e a conduta da delegada.


Confronto


Os terena ocuparam a área no dia 15 de maio de 2013 e se recusaram a deixar a área. Segundo a PF, durante a reintegração de posse, eles reagiram com armas de fogo.

Policiais militares da antiga Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais (Cigcoe) usaram balas de borracha e bombas de efeito moral para controlar e retirar os indígenas, que estavam armados com lanças e pedras.

Em entrevista ao G1 no dia 30 de maio de 2013, lideranças indígenas disseram que foram surpreendidos pelas equipes da polícia. Já a PF disse que tentou negociar a saída dos terena antes da reintegração.


Briga judicial


A Terra Indígena Buriti foi reconhecida em 2010 pelo Ministério da Justiça como de posse permanente dos índios da etnia terena. A área, localizada entre Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia, foi delimitada em portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU) e abrange 17.200 hectares.

Após a declaração, o processo segue para a Casa Civil, para a homologação da presidência da República, o que ainda não foi feito. Durante nove anos, as comunidades indígenas aguardaram a expedição da portaria declaratória. O relatório de identificação da área foi aprovado em 2001 pela presidência da Funai, mas decisões judiciais suspenderam o curso do procedimento demarcatório.

Em 2004, a Justiça Federal declarou, em primeira instância, que as terras pertenciam aos produtores rurais. A Funai e o Ministério Público Federal recorreram e, em 2006, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) modificou a primeira decisão e declarou a área como de ocupação tradicional indígena.

No entanto, os produtores rurais entraram com recurso de embargos de infringentes e conseguiram decisão favorável em junho de 2012.



http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2016/10/mpf-conclui-que-disparo-da-pf-matou-indio-em-desocupacao-em-ms.html
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source