From Indigenous Peoples in Brazil
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News
Milho guarani volta a ser cultivado e vira alimento para 'corpo e alma' de crianças indígenas
26/10/2017
Fonte: G1 g1.globo.com
Tradicionais alimentos pertencentes à culinária indígena e que tinham se perdido no passado voltaram a ser cultivados nas aldeias de Itanhaém, no litoral de São Paulo. O milho guarani retornou as plantações e agora serve de alimento para as crianças nas escolas. Além de nutrir, ele é considerado um alimento sagrado, já que remete a um resgate da cultura e da vida saudável dos indígenas. Depois do milho, o cultivo de outros tipos de batatas, originárias da agricultura indígena, também estão voltando para o 'cardápio' dos índios.
A ideia se desenvolveu a partir do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que estados e municípios invistam 30% dos recursos recebidos na compra direta de produtos de agricultores familiares. Desta forma, a Prefeitura de Itanhaém implantou a política pública de inclusão do milho guarani (avaxi ete'i) na merenda das escolas indígenas da Cidade.
A coordenadora do Banco de Alimentos de Itanhaém, Luciana de Melo, conta que o planejamento do projeto nasceu em 2013 com o objetivo de resgatar a cultura e a culinária desse povo. "Fizemos um trabalho com a Fundação Nacional do Índio (Funai), que buscou as sementes para que voltasse a produção de alguns alimentos. Primeiro, veio à questão do plantio, para que os indígenas se tornassem agricultores e a gente pudesse incluí-los no programa. Foi, ao mesmo tempo, um resgate cultural", explica Luciana.
Os índios das aldeias Rio Branco e Tangará receberam orientação para poderem virar agricultores familiares e cultivarem o milho e outros alimentos de forma correta. Dentro das reservas indígenas, foram delimitadas as zonas de plantio. A colheita do milho guarani começa em setembro e vai até fevereiro. Ele tem uma aparência diferente do milho verde, já que é todo colorido. "Tem fibra, vitamina B, óleos, amido. Porém, vem com a carga cultural da etnia guarani", comenta Luciana.
Com a produção em alta, a administração municipal pode começar a comprar o milho guarani e serví-lo na merenda nas escolas indígenas. A primeira compra ocorreu em 2016. Após a colheita, o milho sai das aldeias e é levado para o Banco de Alimentos de Itanhaém. Lá, é verificado se está em condições de consumo e volta para a aldeia para ser manipulado e consumido pelas crianças na escola em forma de pamonha, beiju e bolo.
Além do milho, um tradicional ritual voltou a acontecer. Segundo a Funai, para os índios, alimentar-se com o milho guarani tem poder curativo e fortalecedor do corpo e do espírito. Eles utilizam o milho para o ritual de batismo Nimongarai, momento em que são revelados e distribuídos os nomes em língua guarani às crianças da aldeia e que simbolizam suas verdadeiras almas. Os pais levam a criança à casa de rezas junto com elementos como o ombojapé, um tipo de alimento preparado com farinha de milho guarani e água, assado nas cinzas de uma fogueira.
As aldeias de Itanhaém passaram a produzir cerca de 60 quilos de milho guarani por mês para abastecer as escolas da Aldeia Rio Branco e da aldeia Tangará. Elas são unidades estaduais, mas o município faz a gestão da alimentação escolar, que é diferenciada.
"Há restrições na alimentação. Não comem berinjela, alguns tipos de tubérculos. O que a gente busca é resgatar um produto deles. Eles estão em uma aldeia no meio do mato, a resistência deles é outra. Eles adoecem mais com a nossa alimentação. Com a alimentação regular deles, volta à saúde. São hábitos que influenciam na questão alimentar", diz ela.
Os indígenas produtores passaram a ter o Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (SIPAF), uma ferramenta de visibilidade e valorização dos agricultores familiares, criada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). O objetivo é de promover a sustentabilidade, a responsabilidade social e ambiental e valorizar a cultura local.
Além da compra do milho guarani, a administração municipal também está adquirindo das aldeias indígenas alimentos como mandioca e a banana para serem servidos em outras escolas do município. Em 2017, alimentos como a batata amarela, batata mandioca, batata abóbora, entre outras, que não eram cultivadas pelos indígenas, voltaram a ser plantados.
"A Funai foi buscar sementes nos povos da Argentina, povos oriundos da América do Sul. São ramas de batatas que estavam extintas na nossa região. É bem possível que elas estejam sendo cultivadas em 2018 e que possam ser passadas para as escolas. Na nossa região, trabalho com isso há 10 anos e há mais de 10 anos que não se plantava esse tipo de alimento aqui", afirma Luciana.
A política pública de inclusão do milho guarani na merenda das escolas rendeu o 1o lugar no Prêmio Josué de Castro de Combate à Fome e à Desnutrição, do Governo do Estado, por meio do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (CONSEA). A cerimônia de entrega do premio aconteceu em outubro deste ano, em São Paulo.
"Foi muito compensador. Esse prêmio é extremamente importante porque vem um selo do Josué de Castro, que é um médico sanitarista pioneiro em toda a questão de segurança alimentar. Acho que o nosso diferencial foi a segurança alimentar, que hoje prima pelo conceito de trazer os hábitos e cultivos perdidos. É o renascimento de um hábito alimentar. Esse conceito do alimento com qualidade foi o diferencial. Buscamos alguma coisa que estava esquecida", finaliza.
https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/mais-saude/noticia/milho-guarani-volta-a-ser-cultivado-e-vira-alimento-para-corpo-e-alma-de-criancas-indigenas.ghtml
A ideia se desenvolveu a partir do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que determina que estados e municípios invistam 30% dos recursos recebidos na compra direta de produtos de agricultores familiares. Desta forma, a Prefeitura de Itanhaém implantou a política pública de inclusão do milho guarani (avaxi ete'i) na merenda das escolas indígenas da Cidade.
A coordenadora do Banco de Alimentos de Itanhaém, Luciana de Melo, conta que o planejamento do projeto nasceu em 2013 com o objetivo de resgatar a cultura e a culinária desse povo. "Fizemos um trabalho com a Fundação Nacional do Índio (Funai), que buscou as sementes para que voltasse a produção de alguns alimentos. Primeiro, veio à questão do plantio, para que os indígenas se tornassem agricultores e a gente pudesse incluí-los no programa. Foi, ao mesmo tempo, um resgate cultural", explica Luciana.
Os índios das aldeias Rio Branco e Tangará receberam orientação para poderem virar agricultores familiares e cultivarem o milho e outros alimentos de forma correta. Dentro das reservas indígenas, foram delimitadas as zonas de plantio. A colheita do milho guarani começa em setembro e vai até fevereiro. Ele tem uma aparência diferente do milho verde, já que é todo colorido. "Tem fibra, vitamina B, óleos, amido. Porém, vem com a carga cultural da etnia guarani", comenta Luciana.
Com a produção em alta, a administração municipal pode começar a comprar o milho guarani e serví-lo na merenda nas escolas indígenas. A primeira compra ocorreu em 2016. Após a colheita, o milho sai das aldeias e é levado para o Banco de Alimentos de Itanhaém. Lá, é verificado se está em condições de consumo e volta para a aldeia para ser manipulado e consumido pelas crianças na escola em forma de pamonha, beiju e bolo.
Além do milho, um tradicional ritual voltou a acontecer. Segundo a Funai, para os índios, alimentar-se com o milho guarani tem poder curativo e fortalecedor do corpo e do espírito. Eles utilizam o milho para o ritual de batismo Nimongarai, momento em que são revelados e distribuídos os nomes em língua guarani às crianças da aldeia e que simbolizam suas verdadeiras almas. Os pais levam a criança à casa de rezas junto com elementos como o ombojapé, um tipo de alimento preparado com farinha de milho guarani e água, assado nas cinzas de uma fogueira.
As aldeias de Itanhaém passaram a produzir cerca de 60 quilos de milho guarani por mês para abastecer as escolas da Aldeia Rio Branco e da aldeia Tangará. Elas são unidades estaduais, mas o município faz a gestão da alimentação escolar, que é diferenciada.
"Há restrições na alimentação. Não comem berinjela, alguns tipos de tubérculos. O que a gente busca é resgatar um produto deles. Eles estão em uma aldeia no meio do mato, a resistência deles é outra. Eles adoecem mais com a nossa alimentação. Com a alimentação regular deles, volta à saúde. São hábitos que influenciam na questão alimentar", diz ela.
Os indígenas produtores passaram a ter o Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (SIPAF), uma ferramenta de visibilidade e valorização dos agricultores familiares, criada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). O objetivo é de promover a sustentabilidade, a responsabilidade social e ambiental e valorizar a cultura local.
Além da compra do milho guarani, a administração municipal também está adquirindo das aldeias indígenas alimentos como mandioca e a banana para serem servidos em outras escolas do município. Em 2017, alimentos como a batata amarela, batata mandioca, batata abóbora, entre outras, que não eram cultivadas pelos indígenas, voltaram a ser plantados.
"A Funai foi buscar sementes nos povos da Argentina, povos oriundos da América do Sul. São ramas de batatas que estavam extintas na nossa região. É bem possível que elas estejam sendo cultivadas em 2018 e que possam ser passadas para as escolas. Na nossa região, trabalho com isso há 10 anos e há mais de 10 anos que não se plantava esse tipo de alimento aqui", afirma Luciana.
A política pública de inclusão do milho guarani na merenda das escolas rendeu o 1o lugar no Prêmio Josué de Castro de Combate à Fome e à Desnutrição, do Governo do Estado, por meio do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (CONSEA). A cerimônia de entrega do premio aconteceu em outubro deste ano, em São Paulo.
"Foi muito compensador. Esse prêmio é extremamente importante porque vem um selo do Josué de Castro, que é um médico sanitarista pioneiro em toda a questão de segurança alimentar. Acho que o nosso diferencial foi a segurança alimentar, que hoje prima pelo conceito de trazer os hábitos e cultivos perdidos. É o renascimento de um hábito alimentar. Esse conceito do alimento com qualidade foi o diferencial. Buscamos alguma coisa que estava esquecida", finaliza.
https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/mais-saude/noticia/milho-guarani-volta-a-ser-cultivado-e-vira-alimento-para-corpo-e-alma-de-criancas-indigenas.ghtml
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