From Indigenous Peoples in Brazil
News
Liderança indígena do Pará ganha Prêmio Robert F. Kennedy de direitos humanos
12/10/2020
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/ambiente
Liderança indígena do Pará ganha Prêmio Robert F. Kennedy de direitos humanos
Láurea foi entregue a Alessandra Korap por sua luta contra as propostas do governo de legalizar mineração em terras indígenas
Fabiano Maisonnave
Alvo constante de ameaças, a líder mundurucu Alessandra Korap, 36, é a ganhadora deste ano do Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos (EUA). Trata-se de um reconhecimento à sua luta em defesa dos direitos indígenas e contra propostas do governo federal de legalizar mineração e outras atividades com impactos socioambientais em terras indígenas.
"Como liderança, Alessandra defende os direitos indígenas, principalmente na luta pela demarcação dos territórios indígenas e contra grande projetos que afetam terras indígenas e territórios tradicionais na região do Tapajós [Pará e Mato Grosso]", diz o comunicado do prêmio.
Por telefone, Korap disse que o prêmio ajudará a fortalecer o território mundurucu. "A Funai e o próprio presidente [Jair Bolsonaro] negam nosso direito à terra. Os caciques ficaram muito felizes com o prêmio, apesar de tudo o que está acontecendo, das ameaças. É um prêmio coletivo em defesa do território."
É a segunda vez que um brasileiro ganha o prêmio, criado há 37 anos. Em 2001, o advogado Darci Frigo foi homenageado por seu trabalho em favor da reforma agrária.
Outros homenageados incluem o ativista de direitos humanos venezuelano Alfredo Romero (2017), crítico da ditadura encabeçada por Nicolás Maduro, e a militante sul-africana Winnie Mandela (1985), ex-mulher de Nelson Mandela.
O prêmio leva o nome do irmão do presidente democrata John Kennedy, morto em 1963. Procurador-geral e senador por Nova York, Robert também foi assassinado, em 1968.
O vencedor recebe US$ 30 mil (R$ 166 mil). Todo o dinheiro será usado para fortalecer a luta dos mundurucus, diz Korap.
A cerimônia virtual, em 22 de outubro, contará com a participação de John Kerry, ex-secretário de Estado dos EUA e candidato derrotado à Presidência do Partido Democrata.
GARIMPO E DEMARCAÇÃO
Com o território dentro da maior reserva aurífera no país e na área de influência da BR-163 (Cuiabá-Santarém) e da BR-230 (Transamazônica), os mundurucus enfrentam invasões de mineradores, de madeireiros e de grileiros, além do atraso na homologação da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, localizada no médio rio Tapajós.
Na Terra Indígena Munduruku (alto Tapajós), já homologada, a "febre do ouro" vem destruindo vários igarapés e rios e provoca crescentes divisões internas entre indígenas contrários e favoráveis à exploração do ouro, atividade ilegal que Bolsonaro promete regularizar.
Na semana passada, garimpeiros mundurucus e não indígenas fecharam as duas rodovias exigindo a legalização. Uma equipe de TV norte-americana teve seus equipamentos destruídos.
No ano passado, Korap ganhou projeção ao participar de diversos protestos e outras iniciativas contrárias aos planos de Bolsonaro. Em uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), bateu várias vezes na mesa ao falar dos problemas do seu povo e criticar as políticas do governo federal.
A atuação de Korap e de outras lideranças mundurucus contrárias à exploração de ouro tem provocado uma série de ameaças. Em novembro, ela denunciou à polícia que invasores levaram documentos, tablet, celular e o cartão de memória de dentro de sua casa, em Santarém (PA), onde estuda direito.
"Quem defender o rio e o território, é ameaçado. Quando o presidente fala, é venenoso. Então esses ataques vêm do próprio presidente. Ele fala, e as pessoas já fazem aqui embaixo. A gente tem de se cuidar, lutar de uma forma que, muitas vezes, tem de dar passos pra trás. E, quando a gente faz isso, eles se fortalecem com as pessoas a favor da destruição do território. Onde vamos parar?", disse à Folha.
Sobre as preocupações mais urgentes, a líder mundurucu mencionou o Projeto de Lei (PL) 191, proposta por Bolsonaro, que regulariza mineração e projetos hidrelétricos em terras indígenas.
"Se for aprovado, vai servir para todas as TIs. O Ibama já não dá conta, imagina com o PL. Será a morte dos rios, dos peixes. Todo o povo da Amazônia vai sofrer. Não vai ter floresta em pé. É o PL da morte."
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/10/lideranca-indigena-do-para-ganha-premio-robert-f-kennedy-de-direitos-humanos.shtml
Láurea foi entregue a Alessandra Korap por sua luta contra as propostas do governo de legalizar mineração em terras indígenas
Fabiano Maisonnave
Alvo constante de ameaças, a líder mundurucu Alessandra Korap, 36, é a ganhadora deste ano do Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos (EUA). Trata-se de um reconhecimento à sua luta em defesa dos direitos indígenas e contra propostas do governo federal de legalizar mineração e outras atividades com impactos socioambientais em terras indígenas.
"Como liderança, Alessandra defende os direitos indígenas, principalmente na luta pela demarcação dos territórios indígenas e contra grande projetos que afetam terras indígenas e territórios tradicionais na região do Tapajós [Pará e Mato Grosso]", diz o comunicado do prêmio.
Por telefone, Korap disse que o prêmio ajudará a fortalecer o território mundurucu. "A Funai e o próprio presidente [Jair Bolsonaro] negam nosso direito à terra. Os caciques ficaram muito felizes com o prêmio, apesar de tudo o que está acontecendo, das ameaças. É um prêmio coletivo em defesa do território."
É a segunda vez que um brasileiro ganha o prêmio, criado há 37 anos. Em 2001, o advogado Darci Frigo foi homenageado por seu trabalho em favor da reforma agrária.
Outros homenageados incluem o ativista de direitos humanos venezuelano Alfredo Romero (2017), crítico da ditadura encabeçada por Nicolás Maduro, e a militante sul-africana Winnie Mandela (1985), ex-mulher de Nelson Mandela.
O prêmio leva o nome do irmão do presidente democrata John Kennedy, morto em 1963. Procurador-geral e senador por Nova York, Robert também foi assassinado, em 1968.
O vencedor recebe US$ 30 mil (R$ 166 mil). Todo o dinheiro será usado para fortalecer a luta dos mundurucus, diz Korap.
A cerimônia virtual, em 22 de outubro, contará com a participação de John Kerry, ex-secretário de Estado dos EUA e candidato derrotado à Presidência do Partido Democrata.
GARIMPO E DEMARCAÇÃO
Com o território dentro da maior reserva aurífera no país e na área de influência da BR-163 (Cuiabá-Santarém) e da BR-230 (Transamazônica), os mundurucus enfrentam invasões de mineradores, de madeireiros e de grileiros, além do atraso na homologação da Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, localizada no médio rio Tapajós.
Na Terra Indígena Munduruku (alto Tapajós), já homologada, a "febre do ouro" vem destruindo vários igarapés e rios e provoca crescentes divisões internas entre indígenas contrários e favoráveis à exploração do ouro, atividade ilegal que Bolsonaro promete regularizar.
Na semana passada, garimpeiros mundurucus e não indígenas fecharam as duas rodovias exigindo a legalização. Uma equipe de TV norte-americana teve seus equipamentos destruídos.
No ano passado, Korap ganhou projeção ao participar de diversos protestos e outras iniciativas contrárias aos planos de Bolsonaro. Em uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), bateu várias vezes na mesa ao falar dos problemas do seu povo e criticar as políticas do governo federal.
A atuação de Korap e de outras lideranças mundurucus contrárias à exploração de ouro tem provocado uma série de ameaças. Em novembro, ela denunciou à polícia que invasores levaram documentos, tablet, celular e o cartão de memória de dentro de sua casa, em Santarém (PA), onde estuda direito.
"Quem defender o rio e o território, é ameaçado. Quando o presidente fala, é venenoso. Então esses ataques vêm do próprio presidente. Ele fala, e as pessoas já fazem aqui embaixo. A gente tem de se cuidar, lutar de uma forma que, muitas vezes, tem de dar passos pra trás. E, quando a gente faz isso, eles se fortalecem com as pessoas a favor da destruição do território. Onde vamos parar?", disse à Folha.
Sobre as preocupações mais urgentes, a líder mundurucu mencionou o Projeto de Lei (PL) 191, proposta por Bolsonaro, que regulariza mineração e projetos hidrelétricos em terras indígenas.
"Se for aprovado, vai servir para todas as TIs. O Ibama já não dá conta, imagina com o PL. Será a morte dos rios, dos peixes. Todo o povo da Amazônia vai sofrer. Não vai ter floresta em pé. É o PL da morte."
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/10/lideranca-indigena-do-para-ganha-premio-robert-f-kennedy-de-direitos-humanos.shtml
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source