From Indigenous Peoples in Brazil
The printable version is no longer supported and may have rendering errors. Please update your browser bookmarks and please use the default browser print function instead.
News
Comunidades Avá-Guarani enfrentam escalada de violência no oeste do Paraná
14/08/2024
Autor: Mayala Fernandes
Fonte: Brasil de Fato - https://www.brasildefatopr.com.br
A expansão territorial das aldeias indígenas é recebida com violência por fazendeiros e milicianos
As comunidades indígenas Avá-Guarani que vivem na região oeste do Paraná têm relatado um aumento de ameaças e ataques violentos promovidos por agricultores e fazendeiros locais. De acordo com uma liderança Avá-Guarani, que preferiu não ser identificada devido a riscos de represálias, os conflitos têm se intensificado com a resistência dos fazendeiros à presença das comunidades.
"Estamos sendo massacrados e as ameaças continuam. Fecharam as entradas e não querem abrir acesso. Não temos apoio de alimentação, lona para moradias e sequer apoio da Funai. É um momento muito difícil e estamos preocupados", relatou a liderança.
As comunidades Avá-Guarani estão distribuídas em 14 aldeias, conhecidas como tekohas, que integram a Terra Indígena Guasu Guavirá, e outras 10 aldeias que formam a Terra Indígena Tekoha Guasu Okoy Jakutinga, situadas às margens do rio Paraná e de seus afluentes.
Em julho, as comunidades iniciaram um movimento de expansão das aldeias e retomada de áreas dentro da TI Tekoha Guasu Guavirá, delimitada pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em 2018, após um longo processo de luta. A terra abrange os municípios de Guaíra, Terra Roxa e Altônia, mas muitos trechos atualmente estão ocupados por fazendas. Segundo um levantamento do Parágrafo 2, 165 produtores rurais dessas localidades possuem cerca de 24 mil hectares dentro da TI.
A região tem registrado uma escalada de violência contra os Avá-Guarani em resposta a essas retomadas, com episódios de ataques a tiros, fogos de artifício e incêndios, resultando em dezenas de feridos.
"É grave o que acontece no Paraná com as comunidades indígenas de Guaíra e Terra Roxa. Os ataques vêm acontecendo diariamente nas retomadas, organizados pelo movimento Invasão Zero, um grupo muito forte de grileiros, fazendeiros e milicianos que bancam esses grupos para fazer ataques contra as comunidades indígenas. Qual é a situação? Não é um conflito, é um massacre", destacou Eloy Nhamdewa, liderança indígena.
As comunidades Avá-Guarani continuam confinadas em pequenas áreas cercadas por monoculturas, enfrentando problemas de saneamento, falta de acesso à água e insuficiência de espaço para manter seu modo de vida tradicional. A Fazenda Brilhante, em Terra Roxa, tem sido um dos focos de violência, onde cerca de 22 famílias montaram acampamento em julho, reivindicando 25% de uma área de 530 hectares.
"As pessoas falam que nós somos invasores, mas não estamos invadindo, apenas retomando o lugar onde nossos antepassados viveram e morreram", explicou uma liderança. "Na retomada da Fazenda Brilhante, vamos construir moradias e queremos permanecer no território enquanto a Itaipu não resolver. O ideal seria a Itaipu comprar esse lugar e dar uma segurança para as comunidades indígenas", acrescentou.
Terras Indígenas do Oeste do Paraná
As Terras Indígenas do oeste do Paraná, parte do território tradicional dos Avá-Guarani que não foi submerso pelo reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu, enfrentam há décadas os efeitos da construção da usina. Durante a ditadura, os guaranis foram expulsos para a construção da hidrelétrica, com áreas sagradas sendo alagadas. Grande parte dos territórios indígenas foi inundada.
"A gente pressiona a Itaipu para que realize essa reparação histórica ao povo Avá-Guarani. Precisamos que a empresa se movimente para garantir uma área que não tenha essas ameaças e violências", disse uma liderança.
Até o momento, nenhuma das terras Avá-Guarani foi demarcada, e as comunidades seguem lutando pelo reconhecimento dos direitos territoriais e por reparação pelos danos causados pela construção da usina. A Itaipu, em nota, comprometeu-se a finalizar a compra de áreas para as comunidades e a garantir a infraestrutura necessária para a ocupação dessas terras.
De acordo com a Itaipu, a quantidade da área não é aleatória, mas definida a partir de pedidos anteriores dos grupos que reivindicam terras. "Usamos como referência documentos do acervo da usina, em que constam cartas de lideranças indígenas indicando o número como o devido pela Itaipu aos povos originários da região do reservatório", explicou o diretor jurídico da Usina, Luiz Fernando Delazari.
No momento a Funai, Incra e Ministérios dos Povos Indígenas estão conversando diretamente com a Itaipu Binacional para identificar as áreas e as comunidades interessadas para que a empresa possa fazer a aquisição, conforme orientação desses órgãos federais.
Hamilton Serighelli, conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, afirmou que a Funai tem um prazo estabelecido até esta sexta-feira (16) para a definição do território que será adquirido pela Itaipu.
"A Itaipu tem que fazer uma proposta viável que resolva esse problema de território. O confronto entre os agricultores e os indígenas não é uma solução", destacou Serighelli.
Governo estadual piora clima de ameaças
A situação das comunidades Avá-Guarani foi agravada pelas declarações do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que criticou a demora do governo federal para executar reintegrações de posse determinadas pela Justiça Federal. O governador declarou que, se a União não agir, o governo estadual tomará as providências necessárias para desocupar as áreas em retomada.
"O que acontece na fronteira é que a reintegração é de competência do governo federal, da Polícia Federal. Mas deixei claro ontem ao governo federal que, se eles não fizerem as reintegrações, o Estado vai ser obrigado a entrar na Justiça Federal para ter o direito de fazer a reintegração de posse. Porque nós não vamos admitir que índios paraguaios invadam terras privadas aqui no Paraná", afirmou ele, durante entrevista à imprensa no dia 30 de julho, no Palácio Iguaçu.
As declarações de Ratinho se referem a pedidos de reintegração de posse que foram expedidos a partir de 19/07 e determinam a expulsão das comunidades Avá-Guarani das áreas em retomada nas cidades de Guaíra e Terra Roxa. As decisões judiciais afetam cerca de 550 pessoas, entre crianças, mulheres e idosos do povo Avá-Guarani. As retomadas ocorreram em áreas já reconhecidas como tradicionalmente indígenas e que aguardam a conclusão do processo de demarcação.
Edição: Pedro Carrano
https://www.brasildefatopr.com.br/2024/08/14/comunidades-ava-guarani-enfrentam-escalada-de-violencia-no-oeste-do-parana
As comunidades indígenas Avá-Guarani que vivem na região oeste do Paraná têm relatado um aumento de ameaças e ataques violentos promovidos por agricultores e fazendeiros locais. De acordo com uma liderança Avá-Guarani, que preferiu não ser identificada devido a riscos de represálias, os conflitos têm se intensificado com a resistência dos fazendeiros à presença das comunidades.
"Estamos sendo massacrados e as ameaças continuam. Fecharam as entradas e não querem abrir acesso. Não temos apoio de alimentação, lona para moradias e sequer apoio da Funai. É um momento muito difícil e estamos preocupados", relatou a liderança.
As comunidades Avá-Guarani estão distribuídas em 14 aldeias, conhecidas como tekohas, que integram a Terra Indígena Guasu Guavirá, e outras 10 aldeias que formam a Terra Indígena Tekoha Guasu Okoy Jakutinga, situadas às margens do rio Paraná e de seus afluentes.
Em julho, as comunidades iniciaram um movimento de expansão das aldeias e retomada de áreas dentro da TI Tekoha Guasu Guavirá, delimitada pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em 2018, após um longo processo de luta. A terra abrange os municípios de Guaíra, Terra Roxa e Altônia, mas muitos trechos atualmente estão ocupados por fazendas. Segundo um levantamento do Parágrafo 2, 165 produtores rurais dessas localidades possuem cerca de 24 mil hectares dentro da TI.
A região tem registrado uma escalada de violência contra os Avá-Guarani em resposta a essas retomadas, com episódios de ataques a tiros, fogos de artifício e incêndios, resultando em dezenas de feridos.
"É grave o que acontece no Paraná com as comunidades indígenas de Guaíra e Terra Roxa. Os ataques vêm acontecendo diariamente nas retomadas, organizados pelo movimento Invasão Zero, um grupo muito forte de grileiros, fazendeiros e milicianos que bancam esses grupos para fazer ataques contra as comunidades indígenas. Qual é a situação? Não é um conflito, é um massacre", destacou Eloy Nhamdewa, liderança indígena.
As comunidades Avá-Guarani continuam confinadas em pequenas áreas cercadas por monoculturas, enfrentando problemas de saneamento, falta de acesso à água e insuficiência de espaço para manter seu modo de vida tradicional. A Fazenda Brilhante, em Terra Roxa, tem sido um dos focos de violência, onde cerca de 22 famílias montaram acampamento em julho, reivindicando 25% de uma área de 530 hectares.
"As pessoas falam que nós somos invasores, mas não estamos invadindo, apenas retomando o lugar onde nossos antepassados viveram e morreram", explicou uma liderança. "Na retomada da Fazenda Brilhante, vamos construir moradias e queremos permanecer no território enquanto a Itaipu não resolver. O ideal seria a Itaipu comprar esse lugar e dar uma segurança para as comunidades indígenas", acrescentou.
Terras Indígenas do Oeste do Paraná
As Terras Indígenas do oeste do Paraná, parte do território tradicional dos Avá-Guarani que não foi submerso pelo reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu, enfrentam há décadas os efeitos da construção da usina. Durante a ditadura, os guaranis foram expulsos para a construção da hidrelétrica, com áreas sagradas sendo alagadas. Grande parte dos territórios indígenas foi inundada.
"A gente pressiona a Itaipu para que realize essa reparação histórica ao povo Avá-Guarani. Precisamos que a empresa se movimente para garantir uma área que não tenha essas ameaças e violências", disse uma liderança.
Até o momento, nenhuma das terras Avá-Guarani foi demarcada, e as comunidades seguem lutando pelo reconhecimento dos direitos territoriais e por reparação pelos danos causados pela construção da usina. A Itaipu, em nota, comprometeu-se a finalizar a compra de áreas para as comunidades e a garantir a infraestrutura necessária para a ocupação dessas terras.
De acordo com a Itaipu, a quantidade da área não é aleatória, mas definida a partir de pedidos anteriores dos grupos que reivindicam terras. "Usamos como referência documentos do acervo da usina, em que constam cartas de lideranças indígenas indicando o número como o devido pela Itaipu aos povos originários da região do reservatório", explicou o diretor jurídico da Usina, Luiz Fernando Delazari.
No momento a Funai, Incra e Ministérios dos Povos Indígenas estão conversando diretamente com a Itaipu Binacional para identificar as áreas e as comunidades interessadas para que a empresa possa fazer a aquisição, conforme orientação desses órgãos federais.
Hamilton Serighelli, conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, afirmou que a Funai tem um prazo estabelecido até esta sexta-feira (16) para a definição do território que será adquirido pela Itaipu.
"A Itaipu tem que fazer uma proposta viável que resolva esse problema de território. O confronto entre os agricultores e os indígenas não é uma solução", destacou Serighelli.
Governo estadual piora clima de ameaças
A situação das comunidades Avá-Guarani foi agravada pelas declarações do governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que criticou a demora do governo federal para executar reintegrações de posse determinadas pela Justiça Federal. O governador declarou que, se a União não agir, o governo estadual tomará as providências necessárias para desocupar as áreas em retomada.
"O que acontece na fronteira é que a reintegração é de competência do governo federal, da Polícia Federal. Mas deixei claro ontem ao governo federal que, se eles não fizerem as reintegrações, o Estado vai ser obrigado a entrar na Justiça Federal para ter o direito de fazer a reintegração de posse. Porque nós não vamos admitir que índios paraguaios invadam terras privadas aqui no Paraná", afirmou ele, durante entrevista à imprensa no dia 30 de julho, no Palácio Iguaçu.
As declarações de Ratinho se referem a pedidos de reintegração de posse que foram expedidos a partir de 19/07 e determinam a expulsão das comunidades Avá-Guarani das áreas em retomada nas cidades de Guaíra e Terra Roxa. As decisões judiciais afetam cerca de 550 pessoas, entre crianças, mulheres e idosos do povo Avá-Guarani. As retomadas ocorreram em áreas já reconhecidas como tradicionalmente indígenas e que aguardam a conclusão do processo de demarcação.
Edição: Pedro Carrano
https://www.brasildefatopr.com.br/2024/08/14/comunidades-ava-guarani-enfrentam-escalada-de-violencia-no-oeste-do-parana
The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source