From Indigenous Peoples in Brazil

News

A parceria estratégica Brasil-China deve colocar o desmatamento no centro das atenções

18/11/2024

Autor: MILANI, Carlos R. S.

Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/



A parceria estratégica Brasil-China deve colocar o desmatamento no centro das atenções
Recentes incêndios florestais, secas prolongadas e enchentes históricas ressaltam a urgência de proteger as florestas brasileiras

Carlos R. S. Milani
Professor Titular de Relações Internacionais no IESP-UERJ, Coordenador do Observatório Interdisciplinar das Mudanças Climáticas e Senior Fellow do CEBRI

18/11/2024

Em sua tentativa de posicionar o Brasil como líder global na ação climática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o compromisso ambicioso de acabar com o desmatamento até 2030. Essa meta representa um passo fundamental diante dos desafios relativos à economia política da degradação ambiental e do desmatamento.

Recentes incêndios florestais, secas prolongadas e enchentes históricas ressaltam a urgência de proteger as florestas brasileiras. Com mais da metade de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) relacionadas ao uso da terra e ao desmatamento, o Brasil precisa alcançar essa meta em prol de seu futuro socioambiental e para o bem de todo o planeta. Apesar dos progressos feitos sob a administração Lula, particularmente em 2023, os desafios permanecem enormes.

Essa questão não é de interesse exclusivo do Brasil; é também de grande importância para a China, o maior parceiro comercial do Brasil e principal comprador de suas exportações agrícolas, como soja e carne bovina. Para a China, a estabilidade da produção agrícola brasileira é crucial para garantir sua própria segurança alimentar.

A China já demonstrou um compromisso em apoiar as iniciativas de sustentabilidade do Brasil. Em 2023, surpreendentes 72% dos investimentos chineses no Brasil foram destinados a projetos de energia renovável e sustentabilidade.

À medida que o Brasil trabalha para cumprir seu compromisso para 2030, a China tem a oportunidade de se tornar uma parceira transformadora nas relações bilaterais com o Brasil -aspecto que ganha envergadura após os resultados das eleições presidenciais nos EUA. Aqui apresento três áreas críticas nas quais a China pode desempenhar papel mais ativo.

Primeiro, tanto o Brasil quanto a China já expressaram o compromisso com a "eliminação da extração ilegal de madeira e do desmatamento" em suas declarações oficiais conjuntas sobre o clima, mas discussões concretas ainda não foram realizadas no subcomitê de Meio Ambiente e Clima do Cosban (Comitê de Coordenação e Cooperação de Alto Nível China-Brasil). Discutir o desmatamento neste subcomitê é uma necessidade urgente, dado o papel fundamental que o desmatamento desempenha no perfil de emissões do Brasil.

Em segundo lugar, algumas empresas chinesas já começaram a demonstrar interesse em adquirir produtos livres de desmatamento, uma tendência que, se apoiada por políticas mais amplas do governo chinês, poderia gerar uma mudança significativa em todo o setor. Esse compromisso poderia ser ainda mais fortalecido por políticas governamentais chinesas que incentivem as empresas a priorizar práticas de fornecimento sustentável. Com o imenso poder de compra da China, uma mudança setorial em direção a produtos livres de desmatamento teria efeitos significativos nas cadeias de suprimentos do Brasil, potencialmente acelerando a transição para práticas mais sustentáveis no agronegócio.

Terceiro, transparência e rastreabilidade são essenciais para garantir que produtos agrícolas que entram na China provenientes do Brasil não estejam vinculados à destruição ambiental ou a danos sociais. Os dois países devem trabalhar juntos para estabelecer sistemas robustos de rastreabilidade, aproveitando as iniciativas nacionais já existentes no Brasil. Brasil e China podem garantir que o comércio de produtos agrícolas esteja alinhado com o compromisso comum de sustentabilidade forte.

O Brasil tem de abraçar estratégias de adaptação climática e de transformação de seu agronegócio. Com o apoio da China, esse objetivo pode se tornar realidade, beneficiando ambas as nações e o mundo. Juntos, Brasil e China podem mostrar ao mundo que o desenvolvimento sustentável não é apenas possível, mas também alcançável por meio de alianças estratégicas e compromissos compartilhados com a saúde do nosso planeta.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/latinoamerica21/2024/11/a-parceria-estrategica-brasil-china-deve-colocar-o-desmatamento-no-centro-das-atencoes.shtml
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source