From Indigenous Peoples in Brazil
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Indígenas sem aula de ensino médio e sem professores passam de ano no AM
02/06/2025
Fonte: FSP - https://www1.folha.uol.com.br/
Indígenas sem aula de ensino médio e sem professores passam de ano no AM
Tenharins, no sul do estado, e lideranças do Vale do Javari relatam ainda situação precária, com estruturas sob árvore; governo do AM não responde, e MEC diz apoiar escolas
Vinicius Sassine
02/06/2025
Indígenas que vivem em territórios de difícil acesso no Amazonas e que dependem da oferta de educação nas aldeias foram aprovados pelo sistema de ensino do estado mesmo sem terem tido aulas de disciplinas básicas -ou mesmo sem nenhuma aula durante o ano inteiro.
Os casos são relatados por lideranças da terra Tenharim do Igarapé Preto, no sul do Amazonas, e do Vale do Javari, a segunda maior terra indígena do Brasil, na região de tríplice fronteira com Colômbia e Peru.
Os jovens tenharins que cursavam o primeiro ano do ensino médio em 2024 ficaram o ano letivo inteiro sem aulas e sem professores, segundo a associação do povo tenharim do Igarapé Preto. A cidade mais próxima do território é Novo Aripuanã (AM).
Os alunos tiveram a aprovação validada no sistema e passaram para o segundo ano do ensino médio, conforme a associação. Os agora alunos do segundo ano ainda não tiveram aulas no ano letivo de 2025, afirma a entidade.
O governo do Amazonas, responsável pela rede estadual de ensino, não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Em nota, o MEC (Ministério da Educação) afirmou que a oferta de educação básica é responsabilidade de estados e municípios, como determina a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
"Cabe à União a função supletiva e redistributiva, por meio de diretrizes e programas específicos", afirmou o MEC. "O ministério fornece apoio técnico e financeiro aos entes federativos."
A comissão de financiamento aprovou, em 2023, o aumento do fator de ponderação para matrículas indígenas via Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), conforme a pasta. Uma matrícula que valia R$ 6.378,67 passou a valer R$ 7.506, segundo exemplo dado pelo ministério.
Houve ainda repasses de R$ 3,6 milhões a escolas indígenas de municípios do Vale do Javari, cita a nota.
"O MEC apoia a formação continuada de professores indígenas e a produção de material didático específico. No Amazonas, o programa é realizado em parceria com UFAM (Universidade Federal do Amazonas), IFAM (Instituto Federal do Amazonas) e UEA (Universidade do Estado do Amazonas)", disse o ministério.
Os indígenas reivindicam o direito de aprender sem precisar de deslocamentos enormes até aldeias mais próximas. Por isso, segundo Cleudo Alves Tenharim, da associação dos tenharins, o ideal é que o primeiro ano seja feito de fato, com aulas efetivas.
No Vale do Javari, o departamento de educação da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) aponta a ocorrência de problema semelhante em diferentes aldeias do território, onde vivem indígenas de diferentes etnias.
O coordenador do departamento, Kayãshny Marubo, afirma que apenas cinco disciplinas no ensino médio acabam efetivamente preenchidas por professores. Mesmo assim, a passagem de ano escolar é validada pelo sistema de ensino do governo do Amazonas.
Indígenas fizeram protestos em abril e maio contra a situação precária do ensino em aldeias no Vale do Javari.
Faltam merenda, material básico de ensino, orientação pedagógica e estrutura física. Em uma aldeia, as cadeiras e o quadro são dispostos embaixo de uma árvore, por falta de estrutura para o ensino, conforme os indígenas que protestavam.
A associação dos tenharins afirma que, em 2024, houve envio apenas de merenda escolar, e de forma irregular. Um galpão usado pela associação, na aldeia Igarapé Preto Central, foi adaptado para funcionar como sala de aula. O governo do Amazonas forneceu mesas, armários e um quadro branco, mas não houve aulas por falta de professores.
A unidade escolar é formalmente anexada a uma escola de outro território, distante 926 km pela linha dos rios, onde vivem indígenas de outra etnia -os parintintins-, o que dificulta a gestão e a orientação pedagógica.
Os tenharins querem ter uma escola própria, que oferte ensino médio aos indígenas das aldeias. Cerca de 30 estudantes passaram de ano escolar sem terem recebido aulas, conforme a associação.
No Vale do Javari, a precariedade vem provocando um esvaziamento das escolas do território. Antes, uma unidade de ensino era frequentada por cerca de 50 alunos. Hoje, há escolas com dez alunos.
Kayãshny Marubo diz que passou a ser comum que os jovens do território migrem para as cidades -como Guajará (AM), Benjamin Constant (AM), Tabatinga (AM), Atalaia do Norte (AM) e Cruzeiro do Sul (AC)- para estudarem em escolas com ensino médio regular.
"As nossas crianças e os nossos jovens estão migrando em massa aos centros urbanos, o que sinaliza o esvaziamento do território e a extinção das nossas culturas sagradas", diz uma carta de protesto assinada em abril por líderes marubos do alto rio Curuçá, no Vale do Javari. "Nossa integridade cultural entra em vias de esquecimento."
Na aldeia Nova Esperança, dos mayorunas, o material didático distribuído "não apresenta condições adequadas para o desenvolvimento das atividades escolares", segundo outra carta assinada por professores. E na aldeia Lago do Tambaqui, dos kanamaris, foi preciso improvisar uma estrutura embaixo de uma árvore para que fossem dadas as aulas, como mostra vídeo feito pelos indígenas.
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2025/06/indigenas-sem-aula-de-ensino-medio-e-sem-professores-passam-de-ano-no-am.shtml
Tenharins, no sul do estado, e lideranças do Vale do Javari relatam ainda situação precária, com estruturas sob árvore; governo do AM não responde, e MEC diz apoiar escolas
Vinicius Sassine
02/06/2025
Indígenas que vivem em territórios de difícil acesso no Amazonas e que dependem da oferta de educação nas aldeias foram aprovados pelo sistema de ensino do estado mesmo sem terem tido aulas de disciplinas básicas -ou mesmo sem nenhuma aula durante o ano inteiro.
Os casos são relatados por lideranças da terra Tenharim do Igarapé Preto, no sul do Amazonas, e do Vale do Javari, a segunda maior terra indígena do Brasil, na região de tríplice fronteira com Colômbia e Peru.
Os jovens tenharins que cursavam o primeiro ano do ensino médio em 2024 ficaram o ano letivo inteiro sem aulas e sem professores, segundo a associação do povo tenharim do Igarapé Preto. A cidade mais próxima do território é Novo Aripuanã (AM).
Os alunos tiveram a aprovação validada no sistema e passaram para o segundo ano do ensino médio, conforme a associação. Os agora alunos do segundo ano ainda não tiveram aulas no ano letivo de 2025, afirma a entidade.
O governo do Amazonas, responsável pela rede estadual de ensino, não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Em nota, o MEC (Ministério da Educação) afirmou que a oferta de educação básica é responsabilidade de estados e municípios, como determina a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
"Cabe à União a função supletiva e redistributiva, por meio de diretrizes e programas específicos", afirmou o MEC. "O ministério fornece apoio técnico e financeiro aos entes federativos."
A comissão de financiamento aprovou, em 2023, o aumento do fator de ponderação para matrículas indígenas via Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), conforme a pasta. Uma matrícula que valia R$ 6.378,67 passou a valer R$ 7.506, segundo exemplo dado pelo ministério.
Houve ainda repasses de R$ 3,6 milhões a escolas indígenas de municípios do Vale do Javari, cita a nota.
"O MEC apoia a formação continuada de professores indígenas e a produção de material didático específico. No Amazonas, o programa é realizado em parceria com UFAM (Universidade Federal do Amazonas), IFAM (Instituto Federal do Amazonas) e UEA (Universidade do Estado do Amazonas)", disse o ministério.
Os indígenas reivindicam o direito de aprender sem precisar de deslocamentos enormes até aldeias mais próximas. Por isso, segundo Cleudo Alves Tenharim, da associação dos tenharins, o ideal é que o primeiro ano seja feito de fato, com aulas efetivas.
No Vale do Javari, o departamento de educação da Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) aponta a ocorrência de problema semelhante em diferentes aldeias do território, onde vivem indígenas de diferentes etnias.
O coordenador do departamento, Kayãshny Marubo, afirma que apenas cinco disciplinas no ensino médio acabam efetivamente preenchidas por professores. Mesmo assim, a passagem de ano escolar é validada pelo sistema de ensino do governo do Amazonas.
Indígenas fizeram protestos em abril e maio contra a situação precária do ensino em aldeias no Vale do Javari.
Faltam merenda, material básico de ensino, orientação pedagógica e estrutura física. Em uma aldeia, as cadeiras e o quadro são dispostos embaixo de uma árvore, por falta de estrutura para o ensino, conforme os indígenas que protestavam.
A associação dos tenharins afirma que, em 2024, houve envio apenas de merenda escolar, e de forma irregular. Um galpão usado pela associação, na aldeia Igarapé Preto Central, foi adaptado para funcionar como sala de aula. O governo do Amazonas forneceu mesas, armários e um quadro branco, mas não houve aulas por falta de professores.
A unidade escolar é formalmente anexada a uma escola de outro território, distante 926 km pela linha dos rios, onde vivem indígenas de outra etnia -os parintintins-, o que dificulta a gestão e a orientação pedagógica.
Os tenharins querem ter uma escola própria, que oferte ensino médio aos indígenas das aldeias. Cerca de 30 estudantes passaram de ano escolar sem terem recebido aulas, conforme a associação.
No Vale do Javari, a precariedade vem provocando um esvaziamento das escolas do território. Antes, uma unidade de ensino era frequentada por cerca de 50 alunos. Hoje, há escolas com dez alunos.
Kayãshny Marubo diz que passou a ser comum que os jovens do território migrem para as cidades -como Guajará (AM), Benjamin Constant (AM), Tabatinga (AM), Atalaia do Norte (AM) e Cruzeiro do Sul (AC)- para estudarem em escolas com ensino médio regular.
"As nossas crianças e os nossos jovens estão migrando em massa aos centros urbanos, o que sinaliza o esvaziamento do território e a extinção das nossas culturas sagradas", diz uma carta de protesto assinada em abril por líderes marubos do alto rio Curuçá, no Vale do Javari. "Nossa integridade cultural entra em vias de esquecimento."
Na aldeia Nova Esperança, dos mayorunas, o material didático distribuído "não apresenta condições adequadas para o desenvolvimento das atividades escolares", segundo outra carta assinada por professores. E na aldeia Lago do Tambaqui, dos kanamaris, foi preciso improvisar uma estrutura embaixo de uma árvore para que fossem dadas as aulas, como mostra vídeo feito pelos indígenas.
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2025/06/indigenas-sem-aula-de-ensino-medio-e-sem-professores-passam-de-ano-no-am.shtml
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