From Indigenous Peoples in Brazil

News

Mulheres e meninas indígenas e rurais protagonizam a ciência

07/05/2025

Autor: Alice Sales

Fonte: Econordeste - agenciaeconordeste.com.br



Mulheres e meninas indígenas e rurais dos Vales dos rios Curu e Aracatiaçu, no Ceará, serão incentivadas ao engajamento nas ciências exatas, engenharias e computação, por meio do projeto "Nexus Água-Energia-Alimento para Inclusão Produtiva e Acadêmico-Científica de Mulheres e Meninas". A iniciativa é uma ação da Embrapa Agroindústria Tropical com fomento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao todo, serão ofertadas 47 bolsas destinadas ao público feminino alvo das atividades, nos municípios de Paraipaba e Itapipoca.

As ações, que serão realizadas ao longo dos próximos três anos, visam transformar a realidade de comunidades vulneráveis e têm como cerne a necessidade de integrar as temáticas relacionadas à água, energia e alimento - áreas de extrema relevância para a sustentabilidade das comunidades de agricultura familiar e indígenas da região atendida.

A proposta também busca melhorar a gestão dos recursos naturais por meio da promoção de práticas mais sustentáveis, em um esforço para fortalecer a segurança alimentar, minimizar os impactos socioambientais e incentivar soluções tecnológicas para a gestão dos recursos hídricos e o consumo e produção de energia nas comunidades dessas mulheres e meninas.

No município de Paraipaba, o projeto tem como foco ações integradas à educação das estudantes de escolas da rede pública de ensino, especialmente das unidades escolares: Escola Estadual de Educação Profissional Flávio Gomes Granjeiro, Escola de Ensino Médio de Tempo Integral Francisco Figueiredo de Paula Pessoa, Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Paulo Silva dos Santos e Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Complexo Escolar (Setor B).

Já em Itapipoca, a comunidade indígena Tremembé da Barra do Mundaú será o foco das ações do projeto, com um direcionamento especial ao público da Escola Indígena Brolhos da Terra, a fim de garantir a participação ativa das mulheres indígenas nas iniciativas de fortalecimento de suas atividades produtivas.

Protagonismo feminino em comunidades tradicionais

O povo Tremembé da Barra do Mundaú, que já possui experiência significativa com relação ao protagonismo das mulheres indígenas, recebeu a proposta do Projeto Nexus com muita alegria. No território, as mulheres são organizadas em coletivos, como o Grupo de Mulheres Cunhã Porã. Dentro desse coletivo, também estão incluídas as meninas jovens, que são preparadas e formadas politicamente e socialmente para dar continuidade à herança de gestão territorial. Atualmente, o território é liderado por mulheres, e o desejo é manter essa sucessão para que as próximas gerações também sejam lideradas por elas.

"A chegada desse projeto da Embrapa ao território fortalece essa trajetória, valorizando um trabalho que já é realizado de forma intensa e responsável, sempre pensando no futuro da gestão territorial. O projeto traz reconhecimento para essa prática e fortalece a luta já existente. Além disso, vem para ajudar a desmistificar a ideia de que as ciências exatas são exclusivamente para homens. Enquanto escola e território indígena, queremos mostrar, por meio do projeto, o protagonismo das meninas também nessa área, especialmente na gestão territorial e na produção de alimentos de forma sustentável", destaca Cleidiane de Castro Tremembé, professora da Escola Indigena Brolhos da Terra.

Além disso, a professora indigena ressalta que essas ações certamente influenciarão o futuro dessas meninas Tremembé, pois promoverão autonomia, formação acadêmica, fortalecimento cultural e protagonismo na luta e defesa do território, indo além das propostas iniciais ao estabelecer um espaço de diálogo com outros objetivos e possibilidades, uma experiência única para essas jovens.

"As meninas se sentem valorizadas, reconhecidas, e passam a se enxergar como importantes. Antes, éramos só nós que dizíamos isso; agora, com o projeto, outras pessoas também olham com bons olhos para essas ações. Isso precisa ser fortalecido e visibilizado", enfatiza.

A Escola Indigena Brolhos da Terra, assim como o território da Barra do Mundaú, já tem diversas experiências que dialogam com a proposta do Projeto Nexus, tanto na produção de alimentos quanto em temas como energia e enfrentamento à violência provocada por certos meios de geração energética, que afetam os territórios indígenas e comunidades tradicionais. A escassez de água também é uma pauta importante para a realidade da comunidade.

"Essa é uma forma de valorizar mulheres que historicamente foram desvalorizadas, invisibilizadas e violentadas. O projeto traz um impacto importante para dentro e fora da escola. O objetivo é fortalecer e ampliar essas ações, envolver desde as crianças até as jovens do ensino médio. Fortalecer essa visão é essencial, pois permitirá que as estudantes comecem a enxergar possibilidades diferentes, oportunidades que, por exemplo, eu, enquanto professora não tive", frisa Cleidiane Tremembé.
Ações voltadas para a realidade local

Por meio de ações como oficinas, capacitações, palestras e atividades práticas, essas mulheres serão qualificadas para aplicar tecnologias em suas rotinas de cultivo e produção de alimentos, além de serem incentivadas a explorar áreas como a computação, automação e robótica. Joel Cardoso, pesquisador da Embrapa e membro do projeto, destaca que a iniciativa apresenta toda uma demanda de estudo e envolvimento para realizar atividades que fazem parte do calendário escolar, além de propor outras atividades às escolas.

"Nosso foco é permitir que estudantes e professoras sejam apoiadas com bolsas e contribuam e se envolvam nas ações voltadas ao desenvolvimento de suas comunidades. Pensamos em ações que mitiguem problemas com relação à oferta hídrica, como o uso consciente da água. Quanto à questão energética, a ideia é pensar em soluções para reduzir custos com energia elétrica, com a possibilidade de conversão para outras fontes menos onerosas como a energia fotovoltaica, por exemplo", enfatiza Cardoso.

Uma das abordagens do projeto Nexus é a utilização de quintais produtivos e agroindústrias como "laboratórios vivos". Esses espaços serão usados para aplicar conhecimentos adquiridos nas salas de aula e criar soluções para problemas locais. Entre as ações a serem realizadas destaca-se a criação de plataformas digitais para o planejamento de quintais produtivos, um sistema baseado em tecnologia da informação que ajudará as mulheres do campo a otimizarem as condições de cultivos a partir das características ambientais e dos recursos disponíveis.

Esses quintais e agroindústrias, liderados por mulheres, oferecem um ambiente ideal para o desenvolvimento de soluções para questões como a escassez de água, a segurança alimentar e a necessidade de diversificação da produção. A colaboração com as comunidades locais, especialmente com as mulheres agricultoras e indígenas, são essenciais para garantir que as soluções propostas pelo projeto sejam realmente eficazes e aplicáveis à realidade das participantes.

Expectativas

Além de contribuir com a capacitação e inserção de meninas e mulheres no universo acadêmico e científico, espera-se que o projeto tenha um impacto duradouro nas comunidades envolvidas, reduza a evasão escolar, colabore para a redução da desigualdade social, e ainda fortaleça de forma sustentável a economia local.

A professora Mazé Carvalho de Castro, que é mulher trans, engenheira de alimentos, geógrafa e diretora da escola municipal de tempo integral Francisco Figueiredo de Paula Pessoa, no município de Paraipaba, destaca que a comunidade escolar recebeu o projeto com grande entusiasmo dada a importância de iniciativas educacionais que envolvam estudantes de escolas públicas.

"Focar em mulheres incentiva a busca pela igualdade de espaços representativos na sociedade. Essas parcerias são momentos ímpares, que abrem um leque de oportunidades para que essas estudantes possam desbravar a ciências e mostrarem seus potenciais. O projeto não só irá influenciar na permanência das meninas na escola e abrir portas para o ensino superior ou técnico, como também será instrumento de acesso a laboratórios, às pesquisas e aos conhecimentos tecnológicos", ressalta a diretora.

Mazé destaca também que a gestão da escola sonha com a construção de laboratórios de ciências para estudantes do ensino fundamental: "assim irão sentir o prazer que é trabalhar com a ciência. Também temos projetos para envolvermos nossos alunos em ações de educação ambiental, sustentabilidade e reciclagem. Um laboratório fará toda a diferença para o conhecimento prévio na vida dessas alunas".

Na fase inicial, o projeto está sendo implementado com a seleção de bolsistas e ações voltadas à sensibilização das comunidades escolares. As ações seguem em andamento, com atividades práticas sendo realizadas nas escolas e nas comunidades produtivas. Nos próximos meses novas etapas de capacitação serão realizadas, incluindo workshops e treinamentos sobre temas como o uso de tecnologias para otimização de recursos naturais, e o desenvolvimento de soluções inovadoras para a produção alimentar.

Parcerias
Além da Embrapa Agroindústria Tropical, o projeto conta com a parceria da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador e a Trabalhadora (Cetra), situados no Ceará; e da instituição alemã Karlsruhe Institute of Technology (KIT). O projeto conta também com o apoio das escolas de ensino fundamental e médio dos municípios de Paraipaba e Itapipoca.

https://agenciaeconordeste.com.br/povos-tradicionais/mulheres-e-meninas-indigenas-e-rurais-protagonizam-as-ciencias-exatas-e-tecnologicas/
 

The news items published by the Indigenous Peoples in Brazil site are researched daily from a variety of media outlets and transcribed as presented by their original source. ISA is not responsible for the opinios expressed or errors contained in these texts. Please report any errors in the news items directly to the source